30/07/2014    07:38hs
 

Bráulio Machado: "Como todo ser humano gosto de receber elogios, mas somente os elogios derrubam um homem"

Maior revelação da arbitragem catarinense dos últimos anos fala com o Apitonacional

Ele nasceu em Laguna, um pequeno, mas famoso município com cerca de 50 mil habitantes que fica encravado no litoral catarinense à 120 quilômetros da capital Florianópolis. Além das belas praias, Laguna tem a fama de ser a terra natal de Anita Garibaldi, personagem importante da história no sul do país por ter sido esposa do revolucionário Giuseppe Garibaldi, também conhecido como "herói de dois mundos", devido à sua participação em conflitos na Europa e na América do Sul lutando na Revolução Farroupilha.

Mas se nasceu em Laguna, o destino fez com que Bráulio Machado (foto) se tornasse um dos filhos mais ilustre da também praiana e pequena Imbituba, município com cerca de 40 mil habitantes. A cidade possui praias importantes como a Praia do Rosa, considerada uma das 30 baías mais bonitas do mundo e a Praia da Vila, que além da beleza encantadora, possui uma das maiores e melhores ondas do Brasil para a prática

do surf, sendo palco principal do WCT - campeonato mundial de surf, desde 2003.

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Imbituba também sedia etapas do campeonato brasileiro de Windsurf e do de Kitesurf que são realizadas na Lagoa de Ibiraquera, considerada um dos melhores locais para a prática do esporte no país.

Filho de pai catarinense e mãe gaúcha, a fatalidade da vida bateu a sua porta quando ainda garotinho, tinha apenas quatro aninhos, perdeu o pai em um acidente de moto e teve que mudar de cidade na companhia da mãe e de um irmão que ainda estava por nascer em busca do amparo familiar.

No bairro de itapirubá, viveu sua infância sob os conselhos do avô de quem herdou o nome. Vovô Bráulio lhe passou sabedoria, ensinou a ser uma pessoa justa e educada, mas as coisas não foram fáceis e as dificuldades que foram grande, serviu para que aprendesse os verdadeiros valores da vida e para ter consciência de que quem busca, quem merece, um dia será recompensado.

No aprendizado da vida fez de tudo um pouco, ajudou o avô em uma mercearia da família, tentou o futebol, um sonho que não virou realidade, estudou, formou-se em educação física e hgoje é professor no Centro Educacional Porto Seguro onde começou a sua historia com a arbitragem se formando árbitro em 2009 na Escola de arbitragem Gilberto Nahas da Federação Catarinense de Futebol - FCF.

Hoje a vida tem sido bem melhor, pois ele surfa, canta, joga tênis, mergulha em alto mar, joga futebol com os amigos e esta sempre que pode ao lado dos familiares e da bela namorada, a  cirurgiã dentista Priscila Zeferino com quem esta de casamento marcado para o final deste ano.

Bráulio Machado gastando seu tempo livre em atividades fora do trabalho e da arbitragem

Paralelamente ao cotidiano de um professor de educação física existe o árbitro de futebol, há três anos é destaque na arbitragem estadual onde sua partida mais importante foi o confronto de ida da decisão do estadual deste ano entre Joinville e Figueirense.

A nível nacional fez sua estréia em 2012 na partida Santo André (SP) 1x1 Tupi (MG) pela série C do campeonato brasileiro. No ano passado (2013) estreou na Copa do Brasil na partida Brasil de Pelotas (RS) 0x1 Atlético Paranaense (PR) e na série B no confronto Paraná (PR) 0x0 São Caetano (SP). Este ano fez sua estréia na série A do brasileiro na partida Criciúma (SC) 1x0 Figueirense (SC).

A boa performance nos campos de Santa Catarina já lhe rende frutos, foi escolhido o segundo melhor árbitro da campeonato deste ano (Top da Bola) e foi agraciado em sua cidade com o titulo de cidadão Honorário de Ibituba, pelas relevantes atividades realizadas em favor do município.

Bráulio Machado, a maior revelação da arbitragem catarinense dos últimos anos fala um pouco da sua vida, das dificuldades que encontrou, das falsas amizades, da atualidade da nossa arbitragem com a profissionalização e do que espera para o futuro.

Confira abaixo a entrevista completa.

Apitonacional: Fale da sua infância?

Bráulio Machado: Nasci em Laguna, mas aos quatro anos de idade, eu e minha mãe (Sirlei Regina da Silva Monteiro), grávida de 4 meses do meu irmão, fomos morar em itapirubá. Um bairro da cidade vizinha Imbituba, motivados por uma enorme fatalidade em nossa família, que foi a perda de meu pai (Jorge Luiz Machado), em um acidente automobilístico. 

Itapirubá é um pequeno bairro do litoral de SC, colonizado por pescadores, tendo uma média de 300 habitantes,  lá vivi toda minha infância. Nesse local tive todas as vivencias necessárias para aprender a ser um homem mais justo, educado, e através das dificuldades aprendi os verdadeiros valores de nossa vida. 

Recebendo o titulo de cidadão Honorário de Ibituba,

Aos 10 anos já ajudava meu avô a cuidar da pequena mercearia que tinha, estudava de manhã e trabalhava a tarde. Aos 16 anos fui fazer um teste no Tubarão F.C., passei e fiquei lá até os 18 anos, porém as dificuldades enfrentadas por ser um clube pequeno e a falta de oportunidades me fizeram desistir desse sonho e voltar pra casa.  Voltei a trabalhar com meu avô, no entanto os invernos sempre foram difíceis, por morarmos em uma comunidade de veraneio. Assim nos invernos trabalhava de auxiliar de pedreiro, pintor, pescador, sempre para com o intuito de ajudar na renda de casa. Até que um dia recebi a oportunidade de trabalhar como monitor em uma academia de musculação na qual mantinha a forma. Esse foi um divisor de águas em minha vida, a partir dai iniciei na Universidade de Educação Física e minha historia na arbitragem.

Nota da redação: Bráulio é formado em Educação Física na Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL e Pós graduado no Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Apito: Como a arbitragem apareceu na sua vida?

Bráulio: Meu primeiro contato com arbitragem ocorreu na Universidade, onde os professores convidavam os acadêmicos para apitar jogos estudantis e fazer cursos em diversas disciplinas. Entretanto a arbitragem no futebol de campo apareceu em minha vida quando comecei a fazer parte de uma associação no bairro onde morava, lá realizavam jogos de veteranos aos sábados a tarde, como voluntário comecei a apitar.

Nessa mesma época eu era instrutor de musculação em um clube no centro da cidade, dando aulas das 14h00 às 20h00, e após o horário de trabalho decidi me arriscar apitando os peladões (jogos realizados pelos sócios do clube) que eram realizados das 20h00 às 22h00, nas segundas, quintas e sextas.

Nesse mesmo ano após ser observado pelos árbitros da liga, recebi um convite para integrar o quadro da Liga Imbitubense, apitando jogos no campeonato municipal.

Com o avô senhor Bráulio e o irmão Daniel Machado

Apito: Sendo do interior, teve muitas dificuldades para realizar o curso?

Bráulio: Sim, apesar de morar no litoral, minha cidade é afastada dos grandes polos comerciais. A vontade de fazer o curso veio após receber alguns elogios e o desejo de se aprimorar. Então decidi pesquisar na internet se havia algum curso de especialização, logo encontrei, teria inicio em meados de 2009, a Escola de Arbitragem Gilberto Nahas, não tive dúvidas, imprimi o boleto e me inscrevi.

O próximo passo foi um pouco mais difícil, o curso seria realizado na sede da FCF, que fica em Balneário Camboriú,  e eu nunca tinha ido em nenhum dos dois lugares. Então procurei informação com "amigos da arbitragem" que já eram do quadro da Federação Catarinense, se eles tinham conhecimento e iriam fazer o curso, como o intuito de dividirmos os gastos e pedir uma carona, tendo em vista que não tinha carro na época. Como todos que liguei disseram que não iriam fazer o curso, fui logo pesquisar onde ficava a FCF, e ver se conseguia um carro emprestado com algum amigo.

Com o endereço na mão e a disponibilidade de um amigo para me emprestar seu carro, comecei meu grande projeto de chegar um dia ao quadro da FCF. As dificuldades só estavam por vir, isso foi nítido, quando consegui encontrar a FCF e me acomodar na sala de aula, observei as mesmas pessoas que falaram que não fariam o curso entrar porta a dentro, e ao me ver nem vermelho ficaram. Mesmo assim pedi carona para os próximos dias de aula, tendo em vista que fiz o curso todo ou pedindo carro emprestado a amigos e familiares ou carona, e a resposta ficou gravado até hoje em minha cabeça: "não coloco cinco pessoas no meu carro".

Isso foi só o começo, mas já faz parte do passado, somente servindo como aprendizado. Muitas outras coisas boas aconteceram, pois esse tipo de pessoas são a grande minoria em nosso meio. E com essas e outras conclui com êxito meu curso, ingressando no quadro na FCF no final de 2009.

Apito: Você tem se destacado nos últimos anos em Santa Catarina, como tem lidado com isso?

Bráulio: Sempre mantendo o pés no chão, pois tenho a consciência que hoje estou árbitro, mas não o serei por minha vida toda. Como todo ser humano gosto de receber elogios, mas somente os elogios derrubam um homem. Por isso procuro sempre manter os treinos em dia, assistir as gravações de todos os jogos que apito, e sempre manter o contato com instrutores físicos e técnicos de meu estado. 

O violão é um dos passatempos predileto

Apito: Como esta sendo a reação dos familiares e amigos com essa fama repentina?

Bráulio: Muito boa. Todos assistem aos jogos, comentam, e agora torcem pelo árbitro.

Apito: Como você concilia seu trabalho com a arbitragem?

Bráulio: Não é nada fácil, mas sempre procuro fechar meus horários de aula em dias que provavelmente não teremos rodadas nos campeonatos estaduais e nacionais. Às vezes não conseguimos os horários desejados, e quando as aulas coincidem com as datas de jogos ou viagens, que são sempre no dia anterior a partida, entro em contato com o colégio para acionar o professor substituto ou remanejar a aula.

Apito: Como viu e como espera o futuro com a aprovação da profissionalização da arbitragem?

Bráulio: Esse foi um passo muito importante que demos, depois de concretizado teremos mais tempo para os treinos e estudos, com isso uma dedicação total a esta atividade. No entanto somos sabedores que muita coisa há por vir até que esse projeto vire realidade e possamos assim nos tornarmos verdadeiros profissionais de arbitragem.

Apito: Você largaria seu emprego para ser tornar árbitro profissional?

Bráulio: Sim.

Apito: Como é a relação da Federação Catarinense com os árbitros?

Bráulio: Muito boa. Nosso presidente sempre se mostra muito interessado na qualificação dos árbitros, promove cursos, seminários, reuniões e treinamentos, em conjunto com o SINAFESC e ANAF. Está sempre presente, demonstrando muito interesse na melhora do nível técnico, físico, social e psicológico da arbitragem catarinense. Todos os outros setores estão atentos e disponíveis a fim de esclarecer ou informar qualquer situação que venhamos a necessitar.

Apito: Como você vê o trabalho do seu sindicato local e em que aspectos precisam melhorar?

Bráulio: Vejo com bons olhos, o nosso Sindicato. Tem uma importância fundamental para o desenvolvimento da arbitragem Catarinense, fornecendo material para os árbitros (agasalhos, camisetas calções, meiões e cartões para os jogos e treinamentos), disponibilizando ainda treinamentos, seminários, palestras, com hospedagem e refeições, tendo ainda advogado sem custos, para caso algum integrante do quadro de arbitragem seja citado no TJD. Além disso, passa todas as informações pertinentes aos árbitros por e-mails ou mesmo por telefone, tendo sua sede física em Florianópolis para sempre que se fizer necessário o árbitro pessoalmente sane suas duvidas.

Com a noiva Priscila Zeferino

Apito: Como você vê o trabalho da ANAF, descreva o presidente Marco Martins.

Bráulio: A ANAF vem realizando um ótimo trabalho, sempre lutando por melhorias em todos os sentidos na qualidade de nossa arbitragem. O Marco é um grande batalhador pela melhoria da arbitragem nacional, não se priva de tempo para buscar a excelência para arbitragem em todos os sentidos, inclusive encabeçando nosso maior projeto que é a profissionalização. É um cara sincero, alegre, parceiro e muito dedicado.

Apito: Conte para nós alguma curiosidade que viveu nesses anos de arbitragem.

Bráulio: Entre várias, uma que marcou minha vida e levo como estimulo. Quando cheguei à Escola de árbitros, entre uma conversa informal, nos conhecendo, uma situação me deixou chateado. Foi quando me apresentei falando meu nome e que era de Imbituba, uma pessoa falou: "Imbituba não tem nem time rapaz, como vai ter árbitro".

Essa é uma das tantas frases que trago comigo, hoje Imbituba não só tem um árbitro no cenário estadual, como também tem um árbitro de Imbituba que representa o estado a nível nacional.

Apito: Deixe algum recado para aqueles que estão iniciando na carreira.

Bráulio: Deus dá a você o que você precisa quando o momento é difícil, basta ter Fé! Igualmente, planeje suas ações, tenha dedicação, não espere as oportunidades aparecerem para se preparar, prepare-se todos os dias, mesmo que sua oportunidade nunca chegue, mas se ela chegar você estará pronto para qualquer desafio. Respeite as etapas a serem cumpridas, aproveitando todas às vivencias como experiência.

No Couto Pereira na partida Coritiba-PR x Nacional-AM ao lado de Carlos Berkenbrock e Neuza Inês Back

Currículo

Bráulio da Silva Machado nasceu no dia 18/05/1979 em Laguna-SC, tem dois irmãos (Daniel Machado e Djaifer Fernandes,), mede 1,83 e pesa 86 kg, formou-se árbitro em 2009, estreou na categoria Juvenil (Próspera 1 x 1 Marcílio Dias), em turvo, na divisão especial na partida Camboriú 1 x 0 Próspera e no profissional na partida Concórdia 3 x 4 Avaí, disputada no dia 12/02/2011.

Indicado à CBF em 2012 estreou na Copa do Brasil Sub-20 na partida  Avaí (SC)  2X2  Corinthians (SP). Também em 2012 fez sua estréia na série C do Brasileiro na partida Santo André (SP) 1x1 Tupi (MG). No ano passado (2013) estreou na Copa do Brasil na partida Brasil de Pelotas (RS) 0x1 Atlético Paranaense (PR) e na série B no confronto Paraná (PR) 0x0 São Caetano (SP). Finalmente fez sua estréia na série A do brasileiro neste ano na partida Criciúma (SC) 1x0 Figueirense (SC).

Recebeu o prêmio Top da Bola em 2012 (bronze) e em 2014 (prata). Apitou a primeira partida da final do estadual catarinense deste ano.

 

Jogo rápido:

Defina Bráulio Machado na sua visão: Um cara livre e de bons costumes, que não se deixa abater por situações adversas, dedicado em tudo que faz, adora estar com amigos e principalmente com a família. 

Moto: Perigo

Filme: Lincoln 

Cantor: Jorge & Matheus / Lázaro

Cantora: Paula Fernandes / Aline Barros

Musica: Lazaro - DEUS vai fazer

Perfume: Jean Paul Gaultier Kokorico

Um sonho: Chegar ao quadro internacional (FIFA).

Religião: Católico

Agradecimentos: A todas pessoas que sempre estiveram ao meu lado, independente de situação.

Apitonacional, compromisso só com a verdade!

 

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