Marca da Cal: Imaginaste que um dia serias presidente do
SAFERGS?
Carlos Castro: Eu nunca tive esta ambição. Quando o Carlos
Simon presidiu o SAFERGS me convidou para concorrer como candidato a
presidente. Na época recusei, porque não tinha esta ambição e
também, na ocasião, o Ciro Camargo se lançava candidato e eu jamais
iria concorrer contra o Ciro, somos amigos e e prezo muito as
amizades.
MC: O que mudou?
CC: O que acontece é que as coisas evoluem. Logo após a
eleição do Ciro eu comecei a pesquisar nomes que poderiam concorrer
à sua sucessão com chances de vitória. E aí, sem falsa modéstia, não
encontrei nomes com aceitação suficiente para concorrer com
possibilidades reais de vitória. O meu nome foi o que pareceu mais
apto a concorrer com chance. Não foi uma decisão pessoal motivada
pelo desejo de ser presidente do Sindicato. Foi a intenção de dar
continuidade a um trabalho do qual participo há 13 anos. A minha
geração está dirigindo o Sindicato desde 2001. Acho que está na hora
da gente passar o bastão.
MC: E como se faz isto?
CC: Acredito, sem modéstia, que ninguém melhor do que eu tem
condições de preparar uma nova geração para assumir a entidade. O
Sindicato não é como um carro que você tira uma peça velha, coloca
uma nova e ele sai funcionando. É muito complexo. Não dá para tirar
uma diretoria inteira e colocar uma diretoria inteiramente nova. Até
ela se encontrar, familiarizar se com a engrenagem, vai passar no
mínimo 1 ano. Então, me propus a preparar uma nova geração de
dirigentes.
MC: Serás o presidente da transição?
CC: Serei o presidente da transição em vários aspectos. Na
composição da chapa, com exceção do Paulo Margal, nenhum dos
companheiros participou da direção do Sindicato.
MC: E a formação da chapa?
CC: Em princípio, estabeleci quatro critérios. O primeiro foi
a idoneidade moral, a lisura de comportamento na atuação dentro e
fora do universo da arbitragem. O segundo foi o comprometimento com
as coisas que se propõe a fazer. O terceiro foi a disponibilidade de
tempo para fazer. E por fim, o quarto, mas não menos importante, foi
a compatibilidade entre os integrantes da chapa. A partir destes
critérios convidei companheiros como o Alduino Mocelin, que conheço
há mais de 20 anos. O Julinho Espinoza, outra pessoa fabulosa. O
Jorge Cardoso, que todo mundo sabe do comprometimento que tem com as
coisas que se propõe a fazer. Marco Magalhães que é um jovem árbitro
com uma personalidade muito marcante e responsável. Procurei, enfim,
reunir pessoas das quais eu tenho conhecimento e também
disponibilidade para trabalhar.
MC: Quais as prioridades da gestão?
CC: Temos que levar em conta que estamos vivendo uma outra
transição, que abrange toda a arbitragem brasileira. Com o advento
da profissionalização, sancionada pela presidente Dilma, muita coisa
vai mudar. Antes éramos um Sindicato sem categoria. Agora somos
oficialmente uma categoria profissional. Hoje, a arbitragem
brasileira tem nas mãos um canhão potente. Mas este canhão só vai
propiciar mudanças para melhor se tiver atrás de si a união da
categoria. Se não houver coesão dos associados este canhão estará
sem munição. A diretoria do Sindicato tem o poder de acionar esta
arma, mas a munição é o associado. Comparo a situação criada pela
lei que regulamentou a arbitragem com a lei que tornou obrigatório o
uso do cinto de segurança. É uma medida boa, justa e acertada.
Agora, tem que “pegar”. Tem que ser acionada para virar realidade.
MC: E isto passa pela criação da Federação Brasileira dos
Árbitros de Futebol, a FEBRAF)?
CC: A criação da Federação é uma imposição, porque a ANAF
(Associação Nacional dos Árbitros de Futebol) não é reconhecida
juridicamente perante o Ministério do Trabalho. Já a Federação sim.
Ela tem força jurídica. A evolução da ANAF para Federação já está
sacramentada. Definimos isto no Congresso da arbitragem realizado em
Belém do Pará. A FEBRAF já está criada. Agora, é tratar da sua
regulamentação.
MC: Quais os próximos passos?
CC: Atualmente temos oito ou nove sindicatos regularizados
junto ao Ministério do Trabalho, número que já seria suficiente para
criar a FEBRAF. Porém, temos mais dezenove sindicatos sem carta
sindical. Diante deste quadro, decidimos no Congresso estabelecer um
prazo até o final do mês de fevereiro, quando teremos uma reunião de
trabalho em Maceió – uma comissão da qual eu faço parte –, para que
os demais sindicatos providenciem e dêem entrada na documentação no
Ministério do Trabalho.
MC: Uma questão suscitada pela regulamentação da profissão:
quem paga a conta?
CC: Isto aí é como a questão das melancias: no andar da
carroça elas se ajeitam. Atualmente o árbitro é um prestador
autônomo de serviço. Na minha visão ele vai continuar sendo, num
primeiro momento. Não tem como fazer uma mudança radical logo de
início. Aí entra em ação a lei do mercado. Nós, como Sindicato,
podemos
propor algumas coisas. Por exemplo, no dia 13 de dezembro temos a
assembléia de previsão orçamentária. Logo após vou convocar todos os
árbitros da letra A para juntos discutirmos. Vou transmitir o que
sei sobre o assunto e as decisões do Congresso da ANAF. Minha idéia
é, junto com os associados, construir, elaborar um acordo coletivo
de trabalho para encaminhar para a Federação.
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MC: E a
relação com a categoria?
CC: A diretoria do Sindicato cuida da
organização. É claro que temos algumas idéias de coisas
que pretendemos fazer. Mas a diretoria precisa ser
também alimentada. É uma estrada de duas mãos, nós
propomos coisas para a categoria e ela também deve
apresentar propostas para a diretoria. Nos 13 anos que
estou no Sindicato não conquistei aprovação unânime, mas
não fiz inimigos, muito pelo contrário. Esta facilidade
de relacionamento com as pessoas será favorável no trato
com os associados.
MC: Como conhecedor do funcionamento do
Sindicato, planejas alguma mudança nesta área?
CC: O funcionamento do Sindicato será totalmente
automatizado. Quero que a secretaria seja integrada com
o site, onde será criada uma área específica para o
associado, na qual ele poderá atualizar seus dados
cadastrais sem precisar vir ao Sindicato. A parte
financeira também será informatizada. |
MC: Como será a relação
com a FGF?
CC: Eu sempre tive uma
relação muito boa com o Francisco Novelletto (presidente da FGF) e
com o Luiz Fernando Moreira (diretor de Arbitragem da FGF). Levei
para a Federação a proposta de fazer uma pré-temporada para todos os
árbitros do Rio Grande do Sul, e não apenas os da letra A. Este foi
um dos pontos que defendi durante a campanha eleitoral. Já conversei
sobre isto com o Luiz Fernando e ele abraçou a idéia. Como 2014 será
um ano atípico, no primeiro semestre teremos quase que somente a
Copa do Mundo e o Gauchão, voltaremos a conversar sobre o assunto na
metade do Campeonato Gaúcho. Possivelmente esta pré-temporada
acontecerá no início do segundo semestre. Está praticamente certo
que ela se realizará. Assim haveria uma padronização estadual da
arbitragem, a partir da orientação da Comissão Estadual de
Arbitragem de Futebol.
MC: O que achas da iniciativa da FGF que este ano promoveu
vários campeonatos regionais?
CC: Estas competições deram mais vida às rivalidades
regionais e também promoveram uma distribuição melhor de trabalho
para os árbitros daquelas regiões. Porém, acho que há o risco de
desvalorização. O que acontece: hoje um árbitro da letra A, ou um
árbitro FIFA ou aspirante FIFA, é solicitado para trabalhar um jogo
do campeonato regional e a taxa que ele recebe é inferior aquela que
lhe é paga no Campeonato Gaúcho. Para que haja uma valorização do
árbitro qualificado para a letra A ele tem que ser compensado para
apitar um jogo da letra C. Independente da competição que apita, o
árbitro deve ter o seu valor reconhecido. Se isto acontecer, os
dirigentes clubes vão pensar duas vezes antes de solicitar árbitros
da letra A. Desta forma, amplia-se o espaço para os árbitros de
outras categorias.
MC: Qual o maior desafio da gestão?
CC: Hoje em dia com as facilidades de comunicação
proporcionadas pela informática, as pessoas estão se afastando umas
das outras. Cada um vive no seu mundinho perfeito das redes sociais,
especialmente o facebook. As pessoas se relacionam muito
superficialmente. O árbitro não foge deste contexto. Pela natureza
da sua atividade, a arbitragem deve ser um grupo mais unido. Quando
a equipe de arbitragem entra, seja um quarteto, um quinteto ou um
sexteto, tem que ser um só, tem que ter unidade. E esta unidade tem
que ser construída através do convívio pessoal, da troca de opiniões
e informações. Precisamos resgatar a integração entre a categoria.
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Currículo do
presidente
Depois de atuar no futebol de salão, Castro iniciou na arbitragem de
futebol tardiamente, com 37 anos, apitando competições do futebol
amador, tendo feito o curso do Departamento de Árbitros da Capital.
Em 1990 fez o curso da Federação Gaúcha de Futebol. Nos nove anos
seguintes orgulha-se de ter trabalhado como árbitro assistente em
todos os clássicos do futebol gaúcho, auxiliando nomes consagrados
como Carlos Martins, Renato Marsiglia, Carlos Simon Leonardo Gaciba
e Leandro Vuaden, todos do quadro FIFA.
Neste período, o árbitro mais completo que viu atuar foi Leonardo
Gaciba. “Ele não fazia força para apitar. O seu abandono foi uma
grande perda para a arbitragem nacional”, lamenta. Castro deixou de
percorrer as laterais dos gramados em 1999 e em 2001 entrou para o
Sindicato como tesoureiro na chapa liderada por José Mocellin, cargo
ao qual renunciou para ingressar no quadro funcional do SAFERGS como
secretário. Nesta condição, juntamente com José Mocellin,
reestruturou a parte administrativa do Sindicato e continuou
aprimorando-a ao longo do período em que esteve a frente da
secretaria e vivenciou como poucos o funcionamento da estrutura
administrativa do Sindicato e sobre as questões trabalhistas e
institucionais relativas ao ofício da arbitragem de futebol.
Diretoria - 2014/2016
No dia 25 de outubro de 2013, com 122 votos a chapa 1 venceu as
eleições do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Rio Grande do Sul,
contra a chapa 2, que obteve 95 votos do eleitorado. A nova gestão,
eleita para o triênio 2014/2016, está assim configurada:
Presidente: Carlos
Alberto Nunes de Castro.
1º Vice-presidente:
Paulo Margal Miranda.
2º Vice-presidente:
Paulo Jassin Gutierrez.
1º Secretário: Marco
Aurélio Magalhães.
2º Secretário: Jorge
Luis Cardoso da Silva.
1º Tesoureiro: Alduino
Mocelin;
2º Tesoureiro: Júlio C.
Espinoza de Freitas.
Suplentes: Nairon
Oberto da Silva e Juliano Orestes da Silva.
Delegados Representantes:
Wilson Luiz Mastella e Paulo Roberto Silva Marcolino.