89 e Santo André – Campeão da Copa do
Brasil de 2004-, mais longe de trazê-la de volta ao estrelato como
estava acostumada.Resumindo:
as constantes reprovações nos testes físicos masculinos a impediram de
ser escalada nos grandes jogos onde ganhava dinheiro e fama. Desdenhou
ao não aceitar ser escalada em jogos menores como afirma na entrevista
abaixo. Com a imagem arranhada pelos erros no clássico paulista entre
Corinthians e Palmeiras de 2006 quando anulou sem nenhum motivo
aparente um golaço do atacante alvinegro Tevez e os erros cometidos na
Copa do Brasil, viu o fim de sua carreira se aproximando, motivo pelo
qual aceitou posar nua para a revista Playboy vivendo ali seus últimos
momentos sob os holofotes. Com as fotos, devido a fama conquistada nos
campos como assistente, ganhou muito dinheiro e foi cobiçada ainda
mais por vários dirigentes poderosos que tudo fizeram para prolongar
sua carreira e terem a musa sob suas abas. Pena para eles que o
sistema atual de testes físicos e a fiscalização da imprensa não
permite mais que beleza seja um pré-requisito mais importante do que o
físico.
Acompanhe abaixo a entrevista da
ex-musa do apito.
Ser e ter. Palavras que se diferem por apenas uma letra, separadas por
um abismo de significado e que resumem bem a vida de uma paulistana de
34 anos. Ana Paula Oliveira tem fama, beleza e um dos recordes de
venda da revista Playboy, com 334.277 exemplares. Mas ela prefere ser.
Foi a primeira mulher a participar de uma final de Campeonato
Paulista, em 2003 – repetiu o feito mais duas vezes. De uma decisão de
Copa do Brasil, em 2006. É a primeira brasileira eleita árbitra
revelação dos Jogos Olímpicos, em Atenas-2004. Isso sem contar
Libertadores, Sul-Americana...
Diante de um currículo invejável para
muito marmanjo, ela pode se dar ao luxo de abandonar um sonho para ser
o que sempre quis. Ainda com lenha para queimar, Ana Paula até tem
condições de voltar ao futebol profissional, mas enche a boca para
dizer: é a mais nova aposentada do mundo da bola.
Filiada ao quadro de árbitros da
Federação Paulista de Futebol (FPF) até dezembro deste ano, a
bandeirinha mais famosa do Brasil guardou por muito tempo o sonho de
representar o país na Copa do Mundo de 2014. Mas hoje, como tantos
outros atacantes flagrados por ela em quase uma década de carreira,
está impedida de realizar o desejo. Apesar de manter a paixão pelo
esporte, sua cabeça agora está em outro lugar. Lugares...
A ex-bandeirinha tem várias ocupações.
Virou estudante – cursa pós-graduação em jornalismo esportivo na
PUC-Campinas e será aluna especial da Unicamp em breve; comentarista –
participa de um programa de esportes em uma televisão de Belo
Horizonte; empresária – possui uma agência de comunicação e trabalha
como editora de uma revista digital de esportes. Ou seja: futebol
segue na veia da garota criada entre Sumaré e Hortolândia e que deu os
primeiros passos da carreira aos 14 anos. Mas não mais na lateral do
campo.
– Para mim, chega. Aposento-me
oficialmente este ano. Não quero mais. Eu poderia voltar. A Federação
Paulista me deu todas as condições possíveis para voltar. Mas não
basta voltar, tem que saber que você será aproveitada, que não passará
por boicote. E hoje não tenho essa segurança. Tenho 34 anos e, se eu
demorar muito para me decidir, não vou ter tempo de me fixar em outra
profissão, de amadurecer como jornalista. Para ser assistente, precisa
de tempo de estudo, de aprendizado, de prática. Se eu demorar nesta
decisão, não vou ter tempo para crescer.
Começo na várzea, consagração nos
campos
Crescimento, aliás, é algo que Ana Paula está mais do que acostumada.
Criada no meio do futebol de várzea, a garota de 14 anos sempre
acompanhou o pai, árbitro amador, em jogos de bairros nos fins de
semana. A paixão virou profissão. Apesar de ter feito duas faculdades
(administração e jornalismo), ela entrou no esporte para valer em
2001, quando se filiou à Federação Paulista de Futebol e fez sua
estréia no Estadual.
|
Depois
de superar o preconceito do próprio pai, que não queria a filha
trabalhando no futebol profissional, ela atingiu o auge em 2003,
naquele que considera o maior ano de sua carreira. Bandeirou a
final do Campeonato Paulista entre Corinthians e São Paulo,
vencida pelo Timão. Depois disso, virou figurinha carimbada em
grandes jogos até o primeiro semestre de 2007, não só do
Paulistão, mas também de Brasileiro e competições
internacionais. – Eu fiz
tudo que uma mulher poderia fazer na minha carreira. Eu fiz três
finais de Paulistão (2003, 2004 e 2007), o Superpaulistão
(2002), final da Copa do Brasil de 2006, mais todos os clássicos
do Brasil, desde Ba-Vi até todos os de São Paulo. Fui aplaudida
de pé em um |
Gre-Nal, fui para a Libertadores da
América, Olimpíadas... Se parar para analisar, só faltou no meu
currículo a Copa. Tem gente com 25 anos de carreira que não fez
o que eu fiz na minha trajetória profissional. |
Erros na Copa do Brasil, insultos e
ensaio nu aumentam a fama
Dois mil e sete era o ano para alavancar a carreira de Ana Paula.
Depois de representar o país nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004,
ela teria um bom tempo para focar no maior sonho profissional: a Copa
do Mundo de 2014, que acabara de ser confirmada para o Brasil. Mas a
temporada para consolidar a principal assistente do futebol brasileiro
acabou manchando sua trajetória.
Tudo começou em maio, mais especificamente no dia 23, no Maracanã, em
uma das semifinais da Copa do Brasil. No maior templo esportivo do
país, Ana Paula Oliveira virou uma das protagonistas da eliminação do
Botafogo para o Figueirense. O time carioca venceu por 3 a 1, mas teve
dois gols anulados pela bandeirinha. A saída precoce da competição
irritou os cartolas botafoguenses, especialmente o vice de futebol
Carlos Augusto Montenegro, que disparou contra a assistente.
– Ela é totalmente despreparada. Errou
dois lances seguidos. Não vejo mulher em Copa do Mundo, não vi mulher
na final da Liga dos Campeões, nem nas decisões mais importantes do
mundo, mas colocaram uma mulher hoje, justo contra o Botafogo, que nos
deu um prejuízo de R$ 2,5 milhões, além da tristeza e sofrimento da
torcida e abatimento dos jogadores – disse o cartola.
Cinco anos depois, Ana Paula admite a noite ruim no Maracanã, que a
tornou a principal personagem da derrota do Botafogo.
– Aquele episódio não foi nada mais do
que uma noite infeliz da assistente Ana Paula Oliveira. Eram dois
lances muito complicados para o auxiliar. Fiz as escolhas e tudo
aconteceu, mas não houve nada premeditado. O Montenegro, depois da
partida, se exaltou um pouco, mas depois até pediu desculpas.
Abatida pelos erros na semifinal, Ana Paula decidiu aceitar a sétima
investida da Playboy para tê-la em sua capa na edição de julho. Depois
de seis recusas, a paulista pediu licença de dois meses para a
Federação e a CBF e fez o ensaio, que lhe rendeu uma boa quantia.
– A Playboy me deu dinheiro, mas a
Federação Paulista e a CBF, não. Claro que eles me deram
reconhecimento, mas isso só foi possível porque eu fui competente.
Quantas mulheres não vieram antes e depois da Ana Paula e não
conseguiram uma seqüência? Foi uma soma boa para as duas partes –
explica, anos depois, sem se arrepender pelo ensaio.
– Certamente faria de novo. Não tenho vergonha do que conquistei, do
que alcancei. Para quem já foi feirante, camelô, vendeu laranja...
Polêmicas e fim do sonho
Fim da divulgação da revista, volta aos campos. O trajeto parecia
fácil, mas foi aí que tudo na vida profissional de Ana Paula se
complicou. Para retornar ao quadro de árbitros, a musa foi submetida a
testes físicos, protocolo que, segundo ela, nunca foi feito com
ninguém. Sem muito tempo para treinar e convivendo com uma lesão, Ana
Paula foi reprovada e amargou meses de inatividade. Sem a bandeira, o
jeito foi se apegar à fama da revista e aproveitar para fazer
dinheiro.
O retorno ao futebol profissional
aconteceu no Campeonato Paulista de 2008. Aprovada nos exames, ela
participou de quatro jogos e foi indicada para bandeirar a semifinal
entre Guaratinguetá e Ponte Preta, na qual o time de Campinas se
classificou à decisão. O bom desempenho fez Ana Paula cumprir uma
promessa feita a amigos: tatuar uma fênix na parte direita do quadril.
Mas a ressurreição não estava completa. Para recuperar o escudo FIFA,
a bandeirinha precisava ser aprovada no teste físico marcado para
junho.
– Prometeram que, se eu passasse neste
teste, voltaria em 2009 com o escudo da FIFA. Aí não teve jeito: eu
parei minha vida neste ano por causa do teste. Treinava de madrugada,
de manhã, à noite, quase não dormia. Além disso, paguei para trabalhar
em 2008, porque só me escalaram em jogos pequenos, em estádios sem
vestiário ou estrutura nenhuma. Para ter uma idéia, tinha que comprar
minha própria água no intervalo.
Na semana da bateria da FIFA, uma
surpresa: Ana Paula estava escalada para bandeirar a final do
Campeonato Paraense, entre Remo e Paysandu. O jogo em Belém era num
domingo e o teste, na segunda-feira, no Rio de Janeiro. A paulista,
para não perder a chance, se desdobrou. Fez a decisão, pegou o
primeiro vôo à Cidade Maravilhosa, dormiu poucas horas e partiu para
os exames. Era hora da prova real.
– Os árbitros precisavam dar 20 voltas
em um campo oficial. Na 13ª, juro que pensei em desistir. Não
agüentava mais. Não sei de onde tirei força para mostrar que não
estava machucada como tinham falado. Só sei que completei o percurso e
saí de lá aplaudida.
O que era para ser o retorno ao futebol, virou novo motivo de
frustração. A partir desse teste, a CBF oficializou uma nova regra, de
que as mulheres deveriam ser submetidas aos testes masculinos. Só
assim teriam condição de bandeirar ou apitar jogos do Campeonato
Brasileiro. Com a nova legislação, Ana Paula não se enquadrou. Fez os
testes, mas, reprovada, abriu mão de continuar a carreira.
"Até dava para voltar, mas..."
O fim da passagem da mais bela bandeirinha do futebol brasileiro pelos
gramados resultou no início de uma nova trajetória. Ana Paula
continuou com o esporte na veia, mas virou árbitra de jogos festivos
(apitou uma edição do jogo das Estrelas, anualmente realizado por Zico
no Brasil) e amadores. Assim, ganhou tempo para estudar: se formou em
jornalismo, abriu um site, editou a revista LivrEsporte (que chegou a
ser premiada no Intercom), participou de um reality show, virou
comentarista e apresentadora... parada, ela nunca fica.
Mas o gosto amargo ainda está nas
palavras de Ana Paula. Ao lembrar de toda a carreira – desde os bons
tempos e as finais que participou, até o que considera o “processo de
fritura” a partir de 2007 –, ela não se mostra arrependida de nada,
mas sabe que poderia chegar mais longe, se houvesse mais apoio. Como
sempre, na vida da paulista que saiu da várzea para embelezar os
estádios, o ter e o ser estiveram presentes.
– Se tivessem acreditado um pouco mais
na garota, talvez nosso país teria escrito história, mais do que já
escreveu. Se a CBF me convidasse hoje, daria para ir para a Copa. Mas
teriam que apostar em mim como fazem com um atleta de ponta. Teria que
ter ajuda de custo, um treinador específico e o apoio necessário, que
nunca houve. O Brasil poderia ser o primeiro país que colocaria uma
mulher competente em uma Copa do Mundo. Mas não deu. Acho que não era
para ser.
Com informações
e fotos: Globo.com - Por
Murilo Borges e Guto
Marchiori
Hortolândia, SP