Ana Paula Oliveira: O desabafo da ex-musa do apito!

Musa do futebol brasileiro por um bom tempo, fala dos momentos marcantes da carreira e do sonho perdido: Copa de 2014

29/08/2012 - A ex-musa do apito Ana Paula Oliveira deu uma entrevista para o Globo.com onde mostra as verdadeiras garras de uma gata. A matéria narra sua carreira onde ela aborda vários assuntos, entre eles como afirmamos varias vezes que ela nunca fez teste físico de verdade, somente os protocolares.

Na matéria, ela diz que desta vez se aposenta de verdade mas se esquece de lembrar que sua aposentadoria foi traçada em pelo menos três etapas que foram: os erros cometidos na final da Copa do Brasil, o ensaio para a revista Playboy e finalmente o principal, quando a CBF adotou o teste físico padrão FIFA e determinou que as mulheres que quisessem trabalhar em competições masculinas, teriam que passar nos testes físicos masculinos. A decisão da CBF foi justa, equiparou as qualidades dos árbitros e assistentes que passaram então a serem escalados pelos pré-requisitos técnicos e físicos em vez da beleza em primeiro lugar como era até então.

A musa comete indelicadezas quando diz que comprava água nos intervalos das partidas e que só trabalhava em jogos pequenos. A primeira parte da resposta não é verdadeira pelo simples motivo que os clubes disputavam a preferência de terem a musa escalada em seus jogos como foi afirmado varias vez pelos dirigentes do apito. Quando isso ocorria, eles a tratavam como uma verdadeira deusa e principal atração da partida, capaz de trazer publico e colocar a cidade na mídia. A segunda parte reflete a realidade da ocasião, ela trabalhou em quatro partidas da série A1, mas fez vários jogos nas séries A2, A3 e B, onde tinha varias equipes que já foram da primeira divisão do futebol paulista, como São José – vice campeão paulista de

89 e Santo André – Campeão da Copa do Brasil de 2004-, mais longe de trazê-la de volta ao estrelato como estava acostumada.

Resumindo: as constantes reprovações nos testes físicos masculinos a impediram de ser escalada nos grandes jogos onde ganhava dinheiro e fama. Desdenhou ao não aceitar ser escalada em jogos menores como afirma na entrevista abaixo. Com a imagem arranhada pelos erros no clássico paulista entre Corinthians e Palmeiras de 2006 quando anulou sem nenhum motivo aparente um golaço do atacante alvinegro Tevez e os erros cometidos na Copa do Brasil, viu o fim de sua carreira se aproximando, motivo pelo qual aceitou posar nua para a revista Playboy vivendo ali seus últimos momentos sob os holofotes. Com as fotos, devido a fama conquistada nos campos como assistente, ganhou muito dinheiro e foi cobiçada ainda mais por vários dirigentes poderosos que tudo fizeram para prolongar sua carreira e terem a musa sob suas abas. Pena para eles que o sistema atual de testes físicos e a fiscalização da imprensa não permite mais que beleza seja um pré-requisito mais importante do que o físico.

Acompanhe abaixo a entrevista da ex-musa do apito.

Ser e ter. Palavras que se diferem por apenas uma letra, separadas por um abismo de significado e que resumem bem a vida de uma paulistana de 34 anos. Ana Paula Oliveira tem fama, beleza e um dos recordes de venda da revista Playboy, com 334.277 exemplares. Mas ela prefere ser. Foi a primeira mulher a participar de uma final de Campeonato Paulista, em 2003 – repetiu o feito mais duas vezes. De uma decisão de Copa do Brasil, em 2006. É a primeira brasileira eleita árbitra revelação dos Jogos Olímpicos, em Atenas-2004. Isso sem contar Libertadores, Sul-Americana...

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Diante de um currículo invejável para muito marmanjo, ela pode se dar ao luxo de abandonar um sonho para ser o que sempre quis. Ainda com lenha para queimar, Ana Paula até tem condições de voltar ao futebol profissional, mas enche a boca para dizer: é a mais nova aposentada do mundo da bola.

Filiada ao quadro de árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF) até dezembro deste ano, a bandeirinha mais famosa do Brasil guardou por muito tempo o sonho de representar o país na Copa do Mundo de 2014. Mas hoje, como tantos outros atacantes flagrados por ela em quase uma década de carreira, está impedida de realizar o desejo. Apesar de manter a paixão pelo esporte, sua cabeça agora está em outro lugar. Lugares...

A ex-bandeirinha tem várias ocupações. Virou estudante – cursa pós-graduação em jornalismo esportivo na PUC-Campinas e será aluna especial da Unicamp em breve; comentarista – participa de um programa de esportes em uma televisão de Belo Horizonte; empresária – possui uma agência de comunicação e trabalha como editora de uma revista digital de esportes. Ou seja: futebol segue na veia da garota criada entre Sumaré e Hortolândia e que deu os primeiros passos da carreira aos 14 anos. Mas não mais na lateral do campo.

– Para mim, chega. Aposento-me oficialmente este ano. Não quero mais. Eu poderia voltar. A Federação Paulista me deu todas as condições possíveis para voltar. Mas não basta voltar, tem que saber que você será aproveitada, que não passará por boicote. E hoje não tenho essa segurança. Tenho 34 anos e, se eu demorar muito para me decidir, não vou ter tempo de me fixar em outra profissão, de amadurecer como jornalista. Para ser assistente, precisa de tempo de estudo, de aprendizado, de prática. Se eu demorar nesta decisão, não vou ter tempo para crescer.

Começo na várzea, consagração nos campos
Crescimento, aliás, é algo que Ana Paula está mais do que acostumada. Criada no meio do futebol de várzea, a garota de 14 anos sempre acompanhou o pai, árbitro amador, em jogos de bairros nos fins de semana. A paixão virou profissão. Apesar de ter feito duas faculdades (administração e jornalismo), ela entrou no esporte para valer em 2001, quando se filiou à Federação Paulista de Futebol e fez sua estréia no Estadual.

Depois de superar o preconceito do próprio pai, que não queria a filha trabalhando no futebol profissional, ela atingiu o auge em 2003, naquele que considera o maior ano de sua carreira. Bandeirou a final do Campeonato Paulista entre Corinthians e São Paulo, vencida pelo Timão. Depois disso, virou figurinha carimbada em grandes jogos até o primeiro semestre de 2007, não só do Paulistão, mas também de Brasileiro e competições internacionais.

– Eu fiz tudo que uma mulher poderia fazer na minha carreira. Eu fiz três finais de Paulistão (2003, 2004 e 2007), o Superpaulistão (2002), final da Copa do Brasil de 2006, mais todos os clássicos do Brasil, desde Ba-Vi até todos os de São Paulo. Fui aplaudida de pé em um

Gre-Nal, fui para a Libertadores da América, Olimpíadas... Se parar para analisar, só faltou no meu currículo a Copa. Tem gente com 25 anos de carreira que não fez o que eu fiz na minha trajetória profissional.

Erros na Copa do Brasil, insultos e ensaio nu aumentam a fama
Dois mil e sete era o ano para alavancar a carreira de Ana Paula. Depois de representar o país nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, ela teria um bom tempo para focar no maior sonho profissional: a Copa do Mundo de 2014, que acabara de ser confirmada para o Brasil. Mas a temporada para consolidar a principal assistente do futebol brasileiro acabou manchando sua trajetória.
Tudo começou em maio, mais especificamente no dia 23, no Maracanã, em uma das semifinais da Copa do Brasil. No maior templo esportivo do país, Ana Paula Oliveira virou uma das protagonistas da eliminação do Botafogo para o Figueirense. O time carioca venceu por 3 a 1, mas teve dois gols anulados pela bandeirinha. A saída precoce da competição irritou os cartolas botafoguenses, especialmente o vice de futebol Carlos Augusto Montenegro, que disparou contra a assistente.

– Ela é totalmente despreparada. Errou dois lances seguidos. Não vejo mulher em Copa do Mundo, não vi mulher na final da Liga dos Campeões, nem nas decisões mais importantes do mundo, mas colocaram uma mulher hoje, justo contra o Botafogo, que nos deu um prejuízo de R$ 2,5 milhões, além da tristeza e sofrimento da torcida e abatimento dos jogadores – disse o cartola.
Cinco anos depois, Ana Paula admite a noite ruim no Maracanã, que a tornou a principal personagem da derrota do Botafogo.

– Aquele episódio não foi nada mais do que uma noite infeliz da assistente Ana Paula Oliveira. Eram dois lances muito complicados para o auxiliar. Fiz as escolhas e tudo aconteceu, mas não houve nada premeditado. O Montenegro, depois da partida, se exaltou um pouco, mas depois até pediu desculpas.
Abatida pelos erros na semifinal, Ana Paula decidiu aceitar a sétima investida da Playboy para tê-la em sua capa na edição de julho. Depois de seis recusas, a paulista pediu licença de dois meses para a Federação e a CBF e fez o ensaio, que lhe rendeu uma boa quantia.

– A Playboy me deu dinheiro, mas a Federação Paulista e a CBF, não. Claro que eles me deram reconhecimento, mas isso só foi possível porque eu fui competente. Quantas mulheres não vieram antes e depois da Ana Paula e não conseguiram uma seqüência? Foi uma soma boa para as duas partes – explica, anos depois, sem se arrepender pelo ensaio.
– Certamente faria de novo. Não tenho vergonha do que conquistei, do que alcancei. Para quem já foi feirante, camelô, vendeu laranja...

Polêmicas e fim do sonho
Fim da divulgação da revista, volta aos campos. O trajeto parecia fácil, mas foi aí que tudo na vida profissional de Ana Paula se complicou. Para retornar ao quadro de árbitros, a musa foi submetida a testes físicos, protocolo que, segundo ela, nunca foi feito com ninguém. Sem muito tempo para treinar e convivendo com uma lesão, Ana Paula foi reprovada e amargou meses de inatividade. Sem a bandeira, o jeito foi se apegar à fama da revista e aproveitar para fazer dinheiro.

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O retorno ao futebol profissional aconteceu no Campeonato Paulista de 2008. Aprovada nos exames, ela participou de quatro jogos e foi indicada para bandeirar a semifinal entre Guaratinguetá e Ponte Preta, na qual o time de Campinas se classificou à decisão. O bom desempenho fez Ana Paula cumprir uma promessa feita a amigos: tatuar uma fênix na parte direita do quadril. Mas a ressurreição não estava completa. Para recuperar o escudo FIFA, a bandeirinha precisava ser aprovada no teste físico marcado para junho.

– Prometeram que, se eu passasse neste teste, voltaria em 2009 com o escudo da FIFA. Aí não teve jeito: eu parei minha vida neste ano por causa do teste. Treinava de madrugada, de manhã, à noite, quase não dormia. Além disso, paguei para trabalhar em 2008, porque só me escalaram em jogos pequenos, em estádios sem vestiário ou estrutura nenhuma. Para ter uma idéia, tinha que comprar minha própria água no intervalo.

Na semana da bateria da FIFA, uma surpresa: Ana Paula estava escalada para bandeirar a final do Campeonato Paraense, entre Remo e Paysandu. O jogo em Belém era num domingo e o teste, na segunda-feira, no Rio de Janeiro. A paulista, para não perder a chance, se desdobrou. Fez a decisão, pegou o primeiro vôo à Cidade Maravilhosa, dormiu poucas horas e partiu para os exames. Era hora da prova real.

– Os árbitros precisavam dar 20 voltas em um campo oficial. Na 13ª, juro que pensei em desistir. Não agüentava mais. Não sei de onde tirei força para mostrar que não estava machucada como tinham falado. Só sei que completei o percurso e saí de lá aplaudida.
O que era para ser o retorno ao futebol, virou novo motivo de frustração. A partir desse teste, a CBF oficializou uma nova regra, de que as mulheres deveriam ser submetidas aos testes masculinos. Só assim teriam condição de bandeirar ou apitar jogos do Campeonato Brasileiro. Com a nova legislação, Ana Paula não se enquadrou. Fez os testes, mas, reprovada, abriu mão de continuar a carreira.

"Até dava para voltar, mas..."
O fim da passagem da mais bela bandeirinha do futebol brasileiro pelos gramados resultou no início de uma nova trajetória. Ana Paula continuou com o esporte na veia, mas virou árbitra de jogos festivos (apitou uma edição do jogo das Estrelas, anualmente realizado por Zico no Brasil) e amadores. Assim, ganhou tempo para estudar: se formou em jornalismo, abriu um site, editou a revista LivrEsporte (que chegou a ser premiada no Intercom), participou de um reality show, virou comentarista e apresentadora... parada, ela nunca fica.

Mas o gosto amargo ainda está nas palavras de Ana Paula. Ao lembrar de toda a carreira – desde os bons tempos e as finais que participou, até o que considera o “processo de fritura” a partir de 2007 –, ela não se mostra arrependida de nada, mas sabe que poderia chegar mais longe, se houvesse mais apoio. Como sempre, na vida da paulista que saiu da várzea para embelezar os estádios, o ter e o ser estiveram presentes.

– Se tivessem acreditado um pouco mais na garota, talvez nosso país teria escrito história, mais do que já escreveu. Se a CBF me convidasse hoje, daria para ir para a Copa. Mas teriam que apostar em mim como fazem com um atleta de ponta. Teria que ter ajuda de custo, um treinador específico e o apoio necessário, que nunca houve. O Brasil poderia ser o primeiro país que colocaria uma mulher competente em uma Copa do Mundo. Mas não deu. Acho que não era para ser.

Com informações e fotos: Globo.com - Por Murilo Borges e Guto Marchiori Hortolândia, SP

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