08/06/2015    14:07hs

Ex-árbitra forma novos árbitros em Mato Grosso

Elizângela Almeida, diretora da Escola Mato-grossense de Arbitragem de Futebol – Emaf já formou e qualificou mais de 500 árbitros

 

Diretora pedagógica da Escola Mato-grossense de Arbitragem de Futebol – Emaf, a professora de Educação Física Elizângela Almeida, especializada como Técnica de Futebol de Campo, deixou de lado uma carreira promissora como árbitro para se dedicar exclusivamente à formação de juízes de futebol em Mato Grosso. São quase oito anos executando esse trabalho que pelas peculiaridades da função de quem exerce a atividade, é muito mais difícil do que imagina o torcedor que vai aos estádios ou simples campos varzeanos mais preocupado em xingar a mãe do juiz do que com o futebol.

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Desde 1999 no quadro de árbitros nacional da CBF, Elizângela foi a primeira mulher no Brasil a atuar, em 2001, como árbitro assistente em um campeonato de 1ª divisão. Além de jogos do campeonato mato-grossense, atuou também no Campeonato Brasileiro das Séries B e C, Copa do Brasil, campeonato brasileiro feminino e outros. Desde 2014 ela vem se preparando para um possível retorno aos gramados. Muitas mulheres que tentam se tornar árbitros de futebol, acabam desistindo quando descobrem que nessa atividade não é fácil ganhar fama, virar estrela, posar para revistas... – afirma Elizângela em entrevista ao 'Olho no Esporte'.

OE: Quantos candidatos a juiz de futebol já passaram pela Escola Mato-grossense de Arbitragem de Futebol “Ismar Gomes da Silva” nos seus oito anos de existência? Antes da criação dessa escola especializada na formação de juízes de futebol, como o Departamento de Árbitros da Federação Mato-grossense de Futebol escolhia os trios de arbitragem para apitar jogos dos campeonatos oficiais da entidade, incluindo os grandes clássicos entre Dom Bosco, Mixto e Operário?

Elizângela: A Emaf possui duas modalidades de curso: Curso de Qualificação Técnica com 20 horas ou 40 horas (com o intuito de aprimorar árbitros de ligas esportivas para quadros de árbitros amadores de todo o estado) e Curso de Formação (requisito básico para fazer parte do quadro de árbitros da FMF com estrutura curricular padronizado nacionalmente). Diante dessas modalidades, a Emaf formou desde sua fundação em 2008 mais de 500 árbitros no Curso de Qualificação em todo o estado e em torno de 80 árbitros no Curso de Formação. Mesmo com esta demanda nem todos os formados se dedicam à arbitragem. Antes da criação da escola, o atual instrutor da mesma e também diretor geral Ismar Gomes, já ministrava curso desde 1982 e hoje todos os árbitros da FMF foram formados por ele.

OE: Para se candidatar a ser juiz de futebol o interessado passa antes por uma avaliação para se identificar se tem realmente tendência para exercer essa difícil profissão ou geralmente são pessoas que já têm experiência na atividade?

Elizângela: Todos que tiverem interesse em aprender sobre regras de jogo serão bem-vindos no curso de formação, no entanto para fazer parte do quadro de árbitros depois de ter concluído o curso, o candidato precisa preencher os requisitos básicos que são relacionados a idade (mínimo de 18 anos e máximo de 45 anos) e escolaridade (para quadro estadual, 2º grau completo e quadro nacional, 3º grau completo); é necessário também ser aprovado em avaliação teórica e física.

Durante 5º Encontro de Escolas de Arbitragem — em Manaus.

OE: Quais juízes que passaram pela Emaf e conseguiram projeção em nível estadual, nacional e até internacional?

Elizângela: Hoje a FMF possui em torno de 40 árbitros em seu quadro local e destes, dez fazem parte da Relação Nacional de Árbitros de Futebol (CBF). Entre esses dez estão Silvio André Lima (árbitro), Joadir Leite Pimenta (árbitro assistente) e Marcelo Grando (árbitro assistente) que foram alunos da Emaf.

OE: Além de Wagner Reway, que ocupa a honrosa 20ª posição no ranking da Relação Nacional de Árbitros de Futebol – Renaf, de aspirantes da Fifa, existem outros juízes de Mato Grosso na lista de 600 candidatos a árbitro internacional da entidade máster do futebol mundial?

Elizângela: Apenas dois árbitros em Mato Grosso conseguiram alcançar a honrosa posição de aspirante a Fifa: atualmente Wagner Reway e nas décadas de 80/90, Joelmes Jesus da Costa.

OE: Quantos profissionais e quais suas respectivas especialidades são recrutados para ministrar os cursos anuais da Emaf?

Elizângela: O Curso de Formação da Emaf segue uma estrutura curricular padronizada nacionalmente. Com isso é obrigatório que possua disciplinas como Nutrição, Primeiros Socorros, Legislação, Inglês, Espanhol, Português, Preparação Física, Psicologia e disciplinas voltadas diretamente para a preparação teórica e prática do árbitro de futebol. Todas as disciplinas são ministradas por especialistas na área.

OE: Há casos de pretendentes a se tornarem juiz de futebol que desistem da carreira durante o curso? Por que? O curso é muito puxado? Descobrem que não têm tendência para a profissão?

Elizângela: Geralmente a primeira pergunta feita pelo candidato é em quanto tempo ele será um árbitro Fifa. A maioria acredita que qualquer um pode pegar o apito e sair comandando jogos, mas ser árbitro de futebol exige muito mais e durante o curso muitos desistem depois de aprender que não é só chegar no estádio, apitar ou bandeirar e tchau!. No curso, ele aprende que é preciso chegar ao estádio com algumas horas de antecedência para cumprir as tarefas burocráticas e após a partida o árbitro deverá redigir um relatório sobre o jogo. É um trabalho com datas e horários irregulares, ou seja, é necessário ter disponibilidade, uma agenda flexível e contar com treinamento físico e técnico diário para alcançar um bom desempenho. Depois de conhecer a realidade por trás do espetáculo só permanecem aqueles que realmente querem levar a sério a atividade e que possuem muita garra para se dedicar a arbitragem.

 

OE: O que leva uma pessoa a decidir ser juiz de futebol se ela sabe que vai ser “xingada” o tempo todo, principalmente por diretores de clubes e torcedores, com ofensas à sua mãe?

Elizângela: Mesmo xingados, hostilizados por todos os amantes do esporte, existe cada vez mais pessoas se preparando para serem árbitros. Somente quem é ou já foi sabe o quanto é difícil deixar a arbitragem, muitos continuam desenvolvendo trabalhos ligados a atividade mesmo depois de deixar as quatro linhas. No final das contas só é árbitro de futebol quem realmente ama o que faz ou aquele que acaba se apaixonando pela função no decorrer de sua trajetória.

OE: Quais são os requisitos básicos para uma pessoa virar juiz profissional de futebol? Ou essa atividade ainda não é reconhecida como profissão?

Elizângela: Hoje a arbitragem de futebol no Brasil por lei é reconhecida como uma profissão, mas infelizmente na prática não é tão fácil e financeiramente seria inviável para nossa federação e para o árbitro se tornar assalariado. Acredito que a renda alcançada pelo árbitro daqui seria bem menor, diferente dos grandes centros que possuem equipes milionárias e federações com grande poder aquisitivo. Levando-se em consideração que quanto maior a federação maior o seu quadro de árbitros, o valor a ser pago a um árbitro ou ao quadro de árbitros profissionais (com carteira assinada) seria descomunal, o que nos leva a crer que a arbitragem de futebol como profissão vai estar fora da realidade brasileira ainda por muitos anos.

Durante Copa Mato Grosso Sub-17 2012 - com Wilson Baé Pinheiro Medrado e Luciano Conceição Moreira

OE: Em Mato Grosso já existem árbitros que vivem exclusivamente do futebol ou apitar, mesmo com todos os riscos que ainda correm, é apenas um “bico”?

Elizângela: Em Mato Grosso não há nenhum árbitro que viva exclusivamente do futebol, pois existe uma exigência em nível nacional que o mesmo comprove que possui um emprego fora dos gramados, porque a CBF acredita que com isso é assegurada uma arbitragem isenta de pressões pelo fato do juiz de futebol não depender financeiramente da taxa paga pela função exercida. Acredito que se a dedicação fosse exclusiva, o árbitro teria maior tranqüilidade para cumprir bem o papel que lhe cabe de dar uma maior qualidade aos espetáculos, pois para ele é necessário treinamento específico, preparo físico e psicológico constante, além de atualização e estudo. E isso demanda tempo.

OE: Que normas ou critérios as federações estaduais de futebol, a CBF, a Conmebol seguem para fixar o pagamento dos árbitros? Eles são pagos por jogos que apitam? Por temporadas? Assinam contratos anuais, semestrais?

Elizângela: O pagamento dos árbitros em Mato Grosso segue os mesmos critérios adotados pelas competições realizadas pela CBF. Existe uma taxa fixada de acordo com o grau de dificuldade da competição e além desta taxa são pagos transporte e diária para os árbitros de fora da cidade-sede do jogo. É importante lembrar que o pagamento da arbitragem é assegurado pelo Estatuto do Torcedor no artigo 30: “É direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões.”, e o parágrafo único diz que “A remuneração do árbitro e de seus auxiliares será de responsabilidade da entidade de administração do desporto ou da liga organizadora do evento esportivo.” Apesar de existir este estatuto os próprios torcedores desconhecem os direitos que possuem.

OE: Pelos riscos a que estão sujeitos, os árbitros de futebol tem seguro de vida?

Elizângela: Sim e isso também é assegurado pelo Estatuto do Torcedor no artigo 31: “A entidade detentora do mando do jogo e seus dirigentes deverão convocar os agentes públicos de segurança visando a garantia da integridade física do árbitro e de seus auxiliares.” E o artigo 31-A reza: “É dever das entidades de administração do desporto contratar seguro de vida e acidentes pessoais, tendo como beneficiária a equipe de arbitragem, quando exclusivamente no exercício dessa atividade.”

OE: Existe em Mato Grosso mulheres que já ganham dinheiro como árbitro de futebol?

Elizângela: Mato Grosso já possuiu tempos atrás um quadro feminino significativo. Estive a frente dele até 2008 quando me afastei para fundar a escola de arbitragem e a partir daí outras desistiram por muitos motivos, mas a renovação se tornou difícil mesmo porque a maioria infelizmente procurou a arbitragem, acreditando que se tornariam estrelas, alcançariam sucesso, posariam para revistas, etc... e assim prejudicando todo o trabalho que já havia sido feito e a conseqüência de tudo isso foi a arbitragem feminina voltar a estaca zero. Hoje estamos lutando para reerguê-lo através de três árbitras assistentes que estão em fase de teste no campeonato sub-19 local.

Olho no esporte MT

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