que participou, os 20 clássicos entre Grêmio e
Internacional e o seu jogo de despedida no Engenhão, na última rodada do
Brasileiro de 2010. Em meio a tantos números positivos, a decepção fica por
conta de não ter comandado uma decisão do torneio de futebol mais importante
do mundo.
Confira, na íntegra, a entrevista com o ex-árbitro, de 46 anos, formado em
Jornalismo e pós-graduado em Ciência da Saúde e do Esporte pela PUC-RS.
Como está sendo esse primeiro ano
longe de jogos oficiais?
É difícil, não é uma barbada, foram 27 anos, que não são 27 meses, nem 27
dias. Apitei nos últimos dez anos todas as competições: Brasileiro,
Sul-Americana, Libertadores, todas as finais ou jogos da ponta de cima,
então, você sente falta dos principais jogos. Lógico que sinto falta.
Você se preparou para parar? Acha que parou no auge?
Me preparei para parar. Ano passado, eu fiz 31 jogos. A CBF, nesta semana,
me entregou um relatório com todos os jogos onde eu tive a média mais alta
de todos os árbitros com 9.20. Nesses 31 jogos, eu tive dez notas 10, então,
veja bem, é encerrar uma carreira por cima, no auge. Foi um ano que, a meu
ver, teve uma Copa do Mundo onde eu, o Altemir (Hausmann) e o (Roberto)
Braatz arrebentamos a boca do balão na África. Apitei Inglaterra x EUA,
Alemanha x Gana e todos os árbitros, como o Oscar Ruiz (colombiano), diziam
para mim: “Você vai fazer a final do campeonato”. Mas, infelizmente, não
fizemos por questões que estão a par da arbitragem. No conceito dos
árbitros, o trio brasileiro foi o melhor da Copa, isso é um orgulho. Eu
sabia que ia largar (a arbitragem), por ter 45 anos de idade, mas encerrei
realmente por cima.
A ausência de uma final de Copa do Mundo foi sua grande lacuna na
carreira?
Claro, faltou a final. Foram três Copas do Mundo, não tenho nada que me
queixar, mas nós nos preparamos bem e estávamos voando. Todo mundo dizia que
iríamos apitar e, por surpresa, não apitamos. Mas de qualquer forma encerrei
a carreira com o peito aberto e por cima.
O que está fazendo atualmente?
Hoje, estou como Coordenador Executivo da Copa do Mundo pelo governo do
estado do Rio Grande do Sul, estou como instrutor de árbitros da FIFA, tenho
projeto para 2014, preparação de árbitros e tal e apitando jogos
beneficentes. Tenho aproveitado bastante com a família, viajando bastante
para o interior, a família está super contente. Tenho recebido muitas
homenagens do Estado do Rio Grande do Sul, medalhas, títulos. É um
reconhecimento bonito.
Vejo que você anda dando muitos autógrafos e tirando fotos com os
torcedores. Isso sempre foi normal ou acontece só agora, depois de ter
parado?
Aconteceu muitas vezes. Foto, autógrafo...por onde quer que eu vá, isso
rola. É claro, que quando você está apitando, ouve-se uma ou outra piadinha,
mas é normal. No último ano em que eu apitei, saía dos estádios,
principalmente no Norte e Nordeste e, às vezes, também no Sudeste, com o
pessoal dando presentes, cartões e pedindo fotos. Nesse ano que eu parei de
apitar, muitas pessoas vêm pedindo um abraço, dizem que faço falta, que
torcida por mim, isso é legal, pois estou fora da mídia, só apitando jogos
beneficentes. O juiz é valorizado.
Alguém já chegou para você dizendo que quer ser árbitro?
Outro dia, um garoto me disse que queria ser árbitro. Isso é um
reconhecimento a um árbitro que participou de três Copas do Mundo, algo que
ninguém tinha feito no Brasil, uma carreira bonita, vitoriosa e sempre com
respeito. Cometi meus equívocos, mas, com certeza, em 1197 jogos, cometi
mais acertos do que erros
Qual foi o jogo mais inesquecível?
Todos os da Copa do Mundo. Foram sete em três copas, é difícil apontar um,
além dos 20 clássicos Gre-Nais e das seis finais de Brasileiro.
Mas não digo apenas o mais importante, e sim, aquele que técnica e
disciplinarmente você se considerou impecável.
O último Gre-Nal que apitei, no Olímpico, o 2 a 2, a imprensa toda deu nota
10. Os observadores da CBF me deram nota dez. Foi um grande jogo.
E o mais emocionante?
A final do Brasileiro de 2010, Fluminense e Guarani, quando saí ovacionado
do Engenhão. Não vou esquecer nunca do estádio todo gritando o meu nome.
E qual foi o jogo para esquecer?
Teve aquele erro que cometi no Maracanã, quarta de final da Copa do Brasil,
entre Botafogo e Atlético-MG. Já estávamos aos 92 minutos de jogo e não vi o
pênalti, pois tinha um cara na minha frente. Só depois acabei vendo na
televisão. Não marquei, pois na hora não achei. É um lance que as pessoas
comentam e que ficou marcado. (NR: Era a segunda partida das quartas de
final da Copa do Brasil de 2007 e o Botafogo vencia por 2 a 1. Entre o
minuto 46 e 47, Tchô, do Galo, recebeu uma bola na área e foi atingido por
Juninho, zagueiro do Bota. Caso o Atlético-MG fizesse o gol, se
classificaria, pois no primeiro jogo, no Mineirão, o placar havia sido 0 a
0).
O que está achando da arbitragem brasileira?
Está passando por um processo de renovação e por isso, acho que, tem que se
apoiar mais, acabar com o sorteio, regulamentar a profissão, porque o
árbitro é um abnegado, faz porque gosta mesmo. Torço para os companheiros da
arbitragem. Eu soube que o Sálvio Spínola parou de apitar tendo mais dois
anos para contribuir e depois de ter vindo de uma final de Copa América.
Sair assim da arbitragem é uma perda. Infelizmente, essas coisas acontecem.
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