Entrevista

Lilian Fernandes Bruno

Segundo a assistente "hoje para as mulheres estarem aptas devem se enquadrar cada vez mais no padrão masculino"

01/11/2010 - A assistente Lilian Fernandes Bruno é carioca de São Gonçalo, formada em Educação Física e apaixonando pela arbitragem, a qual tem como sua segunda profissão.

Lilian conta as dificuldades no mundo da arbitragem, revelando que ser mulher nessa “profissão” é algo que exige muito mais do que coragem e determinação. O sacrifício, a pressão, a cobrança, o preconceito e o pouco reconhecimento são ingredientes na vida de quem escolheu representar as regras do jogo. "Embora, na verdade, não seja nem considerada uma profissão, ainda que sejamos exigidas como se fossemos". Disse Lilian recentemente em uma das varias entrevista que concedeu após ingressar na arbitragem.

Na adolescência, jogava futebol e veio a frustração por não ter dado seqüência por falta de apoio ao futebol feminino na época, mesmo assim, não desistiu do esporte, "sabia que eu iria trabalhar com algo relacionado ao futebol, tanto que quando fiz a faculdade eu falava que iria ser treinadora, até que surgiu a arbitragem. Eu posso dizer que 70% da minha vida é tomada pela arbitragem, os outros 30% eu divido no meu trabalho, família e lazer. Completa a assistente.

O apitonacional teve acesso a duas entrevista dadas pela assistente aos veículos de comunicação centralesportiva e beladabola, as quais fizemos uma mescla e reproduzimos para leitura de todos.

Acompanhe abaixo os trechos principais da entrevista.

A primeira entrevista do Espaço Árbitro em homenagem ao profissional da arbitragem é com a assistente Lilian da Silva Fernandes Bruno, que aos 29 anos, faz parte do quadro da CBF e almeja chegar na FIFA.

Em entrevista ao repórter Júnior Alves, editor do Portal Central Esportiva, Lílian fala de sua carreira, sonhos e muito mais.

Quem é a Lilian Fernandes?

R: Uma mulher determinada, guerreira que vive intensamente o que faz.

Fale um pouco sobre sua carreira?

R: Eu me formei em 2005, entrei para a Federação em 2007 e no quadro profissional em 2008. Já em 2009 ingressei na CBF. A comissão de futebol do Estado do Rio de Janeiro dá oportunidade para todos. Tivemos que passar por testes físicos e provas escritas também. Durante o ano, fazemos isso de três em três meses. O que pesa mesmo são os testes físicos, algumas amigas nem conseguiram passar. Nós, mulheres, fazemos o mesmo teste que o masculino, porque para participar de competições masculinas temos que fazer o mesmo teste que os homens. No ano passado, somente três meninas passaram no Brasileiro.

Você sempre quis ser árbitra ou foi algo que descobriu recentemente?

R: Sou formada em Educação Física e na minha turma de faculdade tinham dois árbitros que me incentivavam a fazer o curso porque eles sabiam que eu gostava muito de futebol. Eu fiz o curso e acabei me apaixonando pela profissão, embora, na verdade, não seja nem considerada uma profissão, ainda que sejamos exigidas como se fosse.

Que análise você faz do desempenho dos árbitros e principalmente da mulher no futebol?

R: Hoje o desempenho dos árbitros é considerado muito bom e está buscando melhorar cada dia mais. E quanto as mulheres, hoje para estarmos aptas devemos se enquadrar cada vez mais no padrão masculino.

De que maneira se concretizou seu ingresso na carreira de arbitragem?

R: Foi na faculdade, onde conclui o curso de Educação Física. Meus amigos Marcos Santos e Sulani de Souza foram meus maiores incentivadores.

Qual foi a reação da família quando soube de sua decisão de entrar para arbitragem e hoje em dia como lidam com esse situação?

R: Minha mãe é a minha base, a minha estrutura. Ela me apóia em tudo o que eu faço. No início, ela ficou um pouco espantada, mas depois me apoiou porque sempre soube que eu gostava de futebol e ela vinha meu empenho e me dava força. Ela vem nos testes físicos e vai aos jogos em que sou escalada com meus amigos e minhas sobrinhas. O meu pai é falecido, mas eu tenho certeza que se ele estivesse aqui, também estaria feliz por mim. Apoio total, hoje são meus principais fãs....rs!

Por acaso já sofreu algum preconceito ou discriminação?

R: A gente sempre escuta uma piada aqui ou ali. Uma partida de futebol com mulheres bandeirando ou apitando, é diferente. Isso é notório. Quando você erra a visibilidade, o questionamento é muito maior. Por ser mulher a cobrança é bem maior. Eles podem não admitir, porque é velado, mas é diferente.

Você já passou algum apuro ou ameaça?

R: Graças a Deus não. Mas alguns amigos já tiveram uma experiência de estar no mercado e sofrer alguma retaliação. Até bate um medo, mas faz parte, o que eu posso fazer? Podemos receber elogios tanto quanto criticas e se você não estiver preparada para isso, então você não está preparada para o futebol.

Você acha que falta reconhecimento ao trabalho de vocês?

R: A mídia infelizmente é assim. Só se fala do árbitro quando ele vai mal, quando ele vai bem ninguém fala. Nos mulheres quando fazemos o jogo e se ele foi televisionado, até tudo bem, um ou ouro reconhece.

E trabalhar com futebol exige muito também, não é?

R: Na vida, quando você quer uma coisa, você tem que se entregar. Você pode ser mais ou menos em várias coisas, mas se você quer ser muito boa na arbitragem, você terá que se dedicar. O meu sonho é atingir ao ápice que, no caso, é a FIFA. Eu já abri mão de muita coisa e estou batalhando para isso. No dia 17 de abril, teremos um teste físico, então até lá, você fica na expectativa, fica concentrada, com a alimentação regrada, evita fazer muitas coisas. Senão amar o que faz, você não vai conseguir. Futebol assusta mesmo.

Para viver assim, só amando mesmo, então...

R: Futebol é uma paixão nacional. Quem vive nesse meio tem que se entregar. Veja o que os jogadores, treinadores abrem mão para estarem ali. Agora, imagina nós árbitros, que não ganhamos tanto assim, que nem é uma profissão legalizada? Nós sentimos uma responsabilidade maior do que a do jogador. Quando ele entra em campo, ele tem direito de imagem, plano de saúde, nutricionista para ele, enquanto que nós temos que pagar as coisas. Tudo é por nossa conta, a não ser o preparador físico que a Federação dá. Somos uns loucos apaixonados por estar aqui. As pessoas não têm essa noção de como as coisas são.

Já que é tão difícil, o que é mais gostoso no trabalho que você faz?

R: Você abrir o site e ver o seu nome na escala. É a melhor coisa que tem. Ser escalado é sinal de que seu trabalho está tendo reconhecimento. Também é prazeroso você terminar o jogo e saber que teve boa atuação. As pessoas não entendem, tem dias que você está bem, tem dias que você não está... O jogador pode errar, mas árbitro nunca pode.

Como lidar com a pressão que o futebol exerce. (Durante uma partida)?

R: Trabalhar sempre com calma, concentração e esquecer a torcida.

Como não perder controle durante a partida?

R: Confesso que tem dias estressantes, mas isso é tanto para homem, quanto para mulher. Independente de qualquer coisa, tem que se controlar sempre. Comigo, ninguém tentou agredir. Agora, têm xingamentos sim. Eu conto até dez, rezo, peço força ao papai do céu. Se você falar com o árbitro e expulsar todos não terá jogo. Tem que ter um trabalho psicológico bem feito para suportar essas situações.

Alguma vez errou durante uma partida? Como lida com algum equívoco?

R: Erros todos cometemos, somos humanos e estamos sujeito a erros. Me cobro muito, procuro aprender quando eles acontecem e fico muito triste, fico uns dias pensando naquilo, mas tem que colocar na cabeça que faz parte e tentar não fazer isso de novo.

Qual foi o seu jogo mais importante?

R: Todos os jogos são importantes, mas o mais marcante foi o quarteto feminino porque só tinha mulheres na arbitragem (Quarteto Feminino, jogo da Globo, ao vivo, Campeonato carioca 2008). Falaram muito durante a semana toda na imprensa e, graças a Deus correu tudo bem. O pessoal do Flamengo até nos homenageou com placas e flores. Foi maravilhoso, inesquecível. Primeiro quarteto da história no futebol profissional (O quarteto foi assim formado: Árbitra: Simone Xavier de Paula e Silva. Assistentes: Fernanda Lisboa da Silva e Lilian da Silva Fernandes Bruno. Quarta Árbitra: Sulanir Silva de Souza (foto ao lado).

Qual a relação entre árbitro x imprensa na sua opinião?

R: Podem te levar do céu ao inferno em segundos...

Qual sua análise sobre a Copa do Mundo no Brasil?

R: Muito esperada por todos nós, ficarei na torcida pelo nosso Hexa!

Que dicas você dá para quem esta começando?

R: Coragem e perseverança. E antes disso, amar o que faz, tem que amar estar aqui. Não adianta estar aqui só porque é legal, porque é gostoso, ou porque as pessoas vão falar com você. Quando você se deparar com uma situação difícil, um erro, ou um teste físico grande, se você não amar o que você faz, não terá força para continuar. Então pensar muito antes de escolher. Se não tiver muita dedicação, esforço e empenho, você não consegue se manter na arbitragem. Tem que estar sempre treinando, sempre à disposição da sua entidade.

De primeira...

Nome na profissão: Lilian Fernandes

Idade: 29 anos (28/04/1981)

Sonho realizado: Chegar ao quadro da CBF (Atual nº 151 no ranking de árbitros assistente da CBF)

Sonho que ainda não realizou: Chegar ao quadro Internacional (FIFA)

Jogo à ser esquecido: Não tenho, todos eu guardo com muito carinho.

Se não atuasse na arbitragem seria... não sei

Passatempo predileto: Estar com a família

Qual a sua principal virtude dentro de campo: Concentração.

Ídolo no esporte: Ayrton Senna

Além do futebol, acompanha algum outro esporte: Futsal

Comida: Massas em geral

Uma saudade: Meu Pai

Um desejo: Me aperfeiçoar no que faço

E para terminar escale um time com seu esquema tático preferido e com jogadores que acreditar ser os melhores de todos os tempos.

R: Não sou boa nisso...rs

Fonte: www.centralesportiva.com.br - www.beladabola.com.br

Publicidade

 

Copyright © 2009 - www.apitonacional.com.br ® Todos os direitos reservados