15/12/2014    10:47hs

Entrevista: Marcelo Rogério

Árbitro conta que decidiu tentar a sorte na arbitragem por influência do pai Gustavo Caetano, ex-diretor da Escola de Árbitros da Federação Paulista

Árbitro de futebol é uma das profissões mais ingratas que vem a nossa mente. Uma decisão errada do homem do apito poderá trazer sérios problemas a carreira. Torcedores, jogadores e dirigentes questionarão a idoneidade. Os mais exaltados vão xingar a mãe do “juiz”. O Torcedores.com ouviu com exclusividade o árbitro Marcelo Rogério (foto), que já está há bastante tempo no ramo, tendo apitado vários jogos importantes como os clássicos Corinthians x Palmeiras e Santos x São Paulo.

Por que escolheu ser árbitro de futebol?

O paulista de 43 anos contou que decidiu tentar a sorte no futebol por influência do pai Gustavo Caetano Rogério, ex-diretor da Escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol.

“Eu o acompanhava nas palestras e nos cursos, e não entendia nada. Então quis fazer o curso a título de conhecimento para saber o que se passava na arbitragem. Apitei a primeira partida como estagiário

e acabei pegando gosto pela coisa. Foi meio que sem querer e hoje a arbitragem faz parte totalmente da minha vida”, disse Marcelo, que apitou o seu primeiro jogo oficial no dérbi entre Portuguesa Santista e Santos, pelo Campeonato Paulista Sub-20, em 1998.

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Histórias curiosas e momentos tensos da carreira

O árbitro contou várias histórias curiosas vivenciadas em sua carreira. Uma das mais marcantes ocorreu no jogo entre Corinthians e São Caetano pelo Campeonato Paulista de 2013. Ele estava como (árbitro) adicional ao lado da baliza defendida pelo goleiro do time do ABC Paulista. Em um lance de ataque do Corinthians, Emerson Sheik não conseguiu frear no gramado molhado do Pacaembu e viu o seu joelho atingir uma das pernas de Rogério. O choque custou caro ao árbitro.

“Tive rompimento total do tendão magno do músculo adutor da coxa. Fiquei 60 dias afastado dos gramados fazendo fisioterapia de manhã e noite”, afirmou Marcelo.

Ruptura parcial dos adutores na partida Corinthians e São Caetano em 2013

Outro momento tenso ocorreu no jogo entre Nacional Atlético Clube x Rio Preto, no estádio Nicolau Alayon, em uma edição da Copa Paulista.

“Sofri uma tentativa de agressão por parte do presidente do Nacional. Ele, por ser diretor da Federação Paulista, achou que poderia conduzir qualquer árbitro que chegasse lá. Dizia que se eu não apitasse a favor do time dele seria prejudicado. Comigo não tem essa. O erro faz parte, mas a má fé de forma alguma. Para felicidade dele, o Nacional ganhou porque teve méritos, mas ele ficou muito bravo porque não acatei a determinação”, disse. O caso foi parar na delegacia.

A partida mais difícil da carreira

Apitar Corinthians x Palmeiras, um dos clássicos de maior rivalidade do futebol mundial, é missão para poucos. E Marcelo teve o privilégio de arbitrar o dérbi paulista pelo Campeonato Paulista de 2012.

“Foi o jogo mais emocionante da minha carreira. O Palmeiras vinha de uma série de partidas sem perder. O Corinthians precisava ganhar. Foi um jogo nervoso e difícil. Luiz Felipe Scolari de um lado e Tite do outro (os dois treinadores haviam trocado farpas em duelos anteriores). Jogo chato, que tinha tudo para dar errado, mas acabou dando tudo certo”, afirmou o árbitro. O Timão venceu de virada por 2 a 1, com gols de Paulinho e Márcio Araújo (contra).

Alegria e tristeza

Ganhar o prêmio como um dos melhores árbitros do Paulistão de 2009 foi o momento mais feliz da carreira. No entanto, Marcelo ainda não engoliu o fato de ter seu nome retirado do quadro de arbitragem da CBF.

“Me tiraram por uma decisão política. Não foi por falhas técnicas ou problemas físicos. A pessoa que está até hoje no comando não tinha afinidade nem comigo e nem com meu pai. Preferiu me tirar do quadro com uma simples canetada. Foi o momento mais triste da minha carreira”, desabafou Marcelo Rogério.

Nota da redação: Em 2009 o árbitro Wilson Luis Seneme (FIFA), conquistou o prêmio de melhor árbitro do Paulistão, Rodrigo Martins Cintra (CBF), ficou com a segunda colação e Marcelo Rogério (FPF), ficou com o terceiro lugar.

A profissionalização da arbitragem

A profissionalização também foi tema da conversa. Marcelo vê a questão com bons olhos, mas não mostra muito otimismo quanto à implementação nos próximos anos.

“Seria um bem muito grande para a arbitragem ter um profissional 24 horas à sua disposição para treinamento, parte técnica, física, nutricional e cardiológica, porém o custo é muito alto. Só na FPF há em torno de 560 árbitros entre categoria especial,1, 2, 3, 4 e 5, e estagiários. A pergunta que fica é: Quem vai pagar a conta?”. No entanto, ele viu melhorias para a categoria nos últimos anos, sobretudo a partir da sanção da lei 10/10/2013, que dá o poder ao arbitro de “organizar-se em associações profissionais e sindicatos” e lutar por vários direitos como prestar serviços às entidades de administração, ligas e entidades futebolísticas do país.

Próximo desafio

O árbitro já visa preparativos para apitar os jogos do Campeonato Paulista 2015. Aprovado nos testes físicos no início de dezembro, ele aguarda o resultado da prova oral. A FPF divulgará nos próximos dias a lista dos 20 árbitros e 40 assistentes, que vão estar aptos para apitar os jogos do Estadual. Marcelo mostra otimismo em integrar a relação.

“Pelo tempo que tenho de arbitragem, pelas notas que venho tendo nos jogos, por ter feito as quartas de final do Paulistão 2014 entre Santos x Penapolense com uma ótima atuação, acredito que não deva ter problemas e vou seguir para mais um Estadual”, disse.

Rogério conversa com Fabão após anular gol do Linense em 2012

Aposentadoria da arbitragem

A Fifa estipula que um árbitro de futebol pode apitar até aos 45 anos, ou seja, Marcelo tem apenas mais dois anos de carreira, porém, qualquer federação pode alterar o limite para 48 ou 50 anos.

“Já existem conversas na FPF para aumentar a idade. Entendo que se o árbitro foi bem nos jogos, na prova oral e nos testes físicos, não há motivos para não prolongar a carreira dele”, revelou.

Nota da redação: A FIFA decidiu retirar a partir de 2016 o limite de idade para árbitro de futebol. A carreira será limitada pelas condições físicas e técnicas.

Remuneração

Questionado se um árbitro da FPF consegue sobreviver só com a remuneração da arbitragem, Marcelo disse que essa questão depende da sorte.

”Um árbitro de futebol ganha bruto R$ 2.500,00 para apitar um jogo da primeira divisão e com os descontos de ISS, INSS, Sindicato, Cooperativa e Imposto de Renda, recebe em torno de RS 1.400,00 e R$ 1.500,00. Se você for ver pelo lado de apitar toda semana, vive apenas da arbitragem, mas se depender do sorteio não vive dela. Pode ser que a bolinha caia e você apite toda rodada, como também pode ser que ela não caia e fique sem apitar”, explicou.

 

A maioria dos árbitros tem um segundo ou terceiro rendimento. Marcelo está incluído nesse grupo. Desde 1988 é proprietário de um comércio na zona Sul de São Paulo.

O futuro

Marcelo também atua analisando árbitros que estão abaixo de sua categoria e dá aulas em associações e sindicatos. Quando pendurar o apito, pretende continuar no futebol, ensinando o tema a um clube profissional.

Fonte: torcedores.com

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