16/06/2014    15:47hs

Marco Polo Del Nero: "Meu primeiro ato na CBF será melhorar a arbitragem brasileira"

Futuro comandante da CBF minimiza críticas da presidenta à organização do futebol  no Brasil e diz que vai lutar para Felipão permanecer na Seleção após a Copa

No ultimo dia 14 de junho, o presidente eleito da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero (foto), deu entrevista a Revista Isto É onde vários assuntos foram abordados.  Como não poderia ser diferente, as respostas sobre Copa do Mundo, CBF e arbitragem  chamaram a atenção.

O futuro comandante da CBF minimizou as críticas da presidente à organização do futebol no Brasil e disse que Dilma Rousseff é uma torcedora como outra qualquer.
 
Del Nero também disse não concordar com as criticas do astro Ronaldo Nazario sobre a Copa, pois segundo o presidente, não se pode achincalhar as pessoas.

O atual presidente da Federação Paulista de Futebol afirmou que seu primeiro ato à frente à CBF será melhorar a qualidade da arbitragem no Brasil. Para

isso apontou a utilização de árbitros profissionais mencionado a experiência que fez com 20 árbitros na FPF que não tiveram o resultado esperado.

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Leia abaixo a entrevista na íntegra
 
O palmeirense Marco Polo Del Nero, 73 anos, vai assistir à Copa do Mundo do Brasil ainda como presidente da Federação Paulista de Futebol, mas já pensando e agindo como o homem que comandará de fato e de direito o futebol brasileiro a partir do ano que vem. Eleito para substituir José Maria Marin na presidência da CBF, Del Nero é uma espécie de herdeiro da dinastia iniciada por João Havelange na década de 50. Indicado por Ricardo Teixeira para assumir seu lugar no Comitê Executivo da Fifa em 2012, Del Nero seria o sucessor natural do ex-genro de Havelange, não fosse a avalanche de acusações que precipitaram a queda do polêmico ex-presidente da CBF.
 
Agora, prestes a assumir a Confederação Brasileira de Futebol, tem como principal desafio enfrentar um movimento de jogadores insatisfeitos com os rumos do futebol no Brasil e que ganhou o apoio da presidenta Dilma Rousseff. “A presidenta não conhece muito bem o que a CBF tem feito pelo futebol brasileiro. Quando ela souber, vai ter outra opinião”, disse ele nesta entrevista concedida à ISTOÉ na véspera da abertura da Copa do Mundo de 2014.
 
- Em seu pronunciamento à nação nesta semana, a presidenta Dilma Rousseff falou que o Brasil precisa modernizar a estrutura do futebol. A fala dela foi uma declaração de guerra à CBF?
 
MARCO POLO DEL NERO - Não penso assim. Penso que ela tem direito, porque está num país democrático. Isso chama a atenção para o fato de que todos nós devemos ficar preparados para o melhor do futebol brasileiro. Ela quer o melhor, como eu e o presidente Marin. Não vejo nada tão significativo que possa abalar a nossa relação com o governo.
 
- Como o Sr. enxerga a aproximação da presidenta com o movimento Bom Senso F.C.?
 
MARCO POLO DEL NERO - Como presidenta da República, ela tem até obrigação de ouvir todos os setores da sociedade. E a gente tem de respeitar isso, a vontade da presidenta de conhecer os problemas, conversar com jogadores. Provavelmente, ela vai receber sindicatos, querer ouvir a CBF. Isso faz parte do sistema democrático.
 
- Mas o Sr. não acha que essa aproximação é um apoio aos jogadores que se posicionam contra a CBF?
 
MARCO POLO DEL NERO - Acho que temos de mostrar para o governo o que nós temos feito pelo futebol. Quando mostrarmos isso, o governo vai entender um pouco mais a nossa posição. Acho que tem muita coisa a ser feita. Temos que evoluir muito. Mas esse não é um problema da CBF, que sabe comandar muito bem. É um problema dos clubes e da legislação.

- E como o Sr. vê uma presidenta da República se posicionando sobre futebol?
 
MARCO POLO DEL NERO - A presidenta da República também é uma torcedora como outra qualquer. É uma torcedora mais ilustre, mais importante, pelo cargo que exerce, mas não deixa de ser uma torcedora. E às vezes tem uma opinião sem conhecer como funciona a CBF, como funcionam os clubes. Às vezes a gente fala como torcedor, e aí é mais complicado. A CBF está fomentando o futebol de uma maneira que nunca foi feita anteriormente.

Marco Polo posa pra foto ao lado da presidente Dilma Rousseff após conquista da Copa das Confederações

- A CBF sofre muitas críticas por falta de transparência. O Sr. pretende fazer uma devassa nas contas da entidade? O que fazer para dar mais credibilidade a ela?
 
MARCO POLO DEL NERO - A CBF tem sua credibilidade. O balanço dela é aprovado por auditores, pagamos todos os impostos. Não vejo que não seja transparente, porque é feito e publicado o balanço anualmente, existe fiscalização da Receita Federal e estamos sempre sujeitos a ela.
 
- E em relação ao que o Ricardo Teixeira fez na CBF, ficou no passado? Passou e ponto?
 
MARCO POLO DEL NERO - As contas foram aprovadas e, se assim foram, é porque mereceram ser. Ele não aprovou as contas dele sozinho, mas com uma posição do conselho fiscal e da auditoria. Não temos o que fazer com o que ele fez. Se foi aprovado... Poderíamos discutir se não tivesse sido aprovado. Mas acho que está tudo em ordem, porque foi tudo aprovado, né?

- O que o Sr. pensa da declaração do Ronaldo Nazário, que disse que sentia vergonha da organização da Copa do Brasil?
 
MARCO POLO DEL NERO - Não concordo com o Ronaldo. Mesmo com todas as dificuldades que o País enfrentou, ele teve a coragem de fazer uma Copa e o presidente Lula foi um baluarte, uma pessoa superimportante. O legado da Copa, como disse a presidenta, o que estamos fazendo, não será levado pelo estrangeiro, mas ficará aqui para o povo brasileiro. E também é importante o que o estrangeiro irá deixar aqui. Há países, como a Espanha, que praticamente vivem de turismo. Estamos trazendo milhões de pessoas para conhecer o Brasil. Há atrasos, dificuldades, mas sentir vergonha? Não concordo. Tenho muita honra do nosso povo, dos nossos governantes. Não podemos achincalhar as pessoas sem saber o porquê de o governo estar com dificuldade. Sinto orgulho de ter uma Copa no Brasil. A Copa vai rolar, caminhar bem, vai dar tudo certo. Sou muito idealista, otimista, penso muito no meu povo.
 
- O presidente da CBF, José Maria Marin, disse que só uma hecatombe pode fazer o Brasil deixar de ser campeão. O Sr. pensa assim também?
 
MARCO POLO DEL NERO - Eu acho que temos uma grande seleção. Uma seleção que está a altura de ser campeã. É o que nós esperamos. Há outras boas seleções, como Alemanha, Chile, Argentina, Colômbia. Todas têm condições de chegar à final.
 
- O Sr. irá apoiar a reeleição do presidente da Fifa, Joseph Blatter?
 
MARCO POLO DEL NERO - Vamos apoiar o Blatter.
 
- A Uefa é extremamente crítica à gestão de Blatter e defende profundas reformas na entidade. O Sr. discorda dessa posição?
 
MARCO POLO DEL NERO - Não podemos pensar só nos ricos. A Uefa está pensando nos ricos, nos clubes poderosos. A Fifa tem de pensar nos pobres e nos ricos, nas competições onde há pobreza e riqueza.
 
- A Fifa pensa nos pobres?
 
MARCO POLO DEL NERO - Ela, de certa forma, pensa nos países menos ricos.
 
- Poderia dar um exemplo?
 
MARCO POLO DEL NERO - Na própria África, nas dificuldades da África, da Concacaf. A Fifa manda dinheiro para esses países mais pobres. A Fifa fomenta competições lá. À medida que você fomenta competição, surge o futebol e o futebol é jogado. E isso é importante: o futebol ser jogado. Além do grande trabalho (da Fifa) na transparência da sua administração. Ela tem trabalhado bastante nesse sentido com discussões em seus comitês executivos. A Fifa tem evoluído bastante.
 
- E as acusações recorrentes de compra de votos para levar a Copa de 2022 para o Catar?
 
MARCO POLO DEL NERO - Isso tem de ser comprovado, né? São especulações. Há um lado político que especula porque não conseguiu ter a Copa em seu país. Precisa ver bem tudo isso.
 
- O Sr. é a favor de a Copa ser transferida do Catar, onde muitos funcionários morreram nas construções de estádios?
 
MARCO POLO DEL NERO - Se o comitê executivo votou a favor do Catar é porque mereceu. Aqui no Brasil também morreram funcionários.

 

- O Sr. é a favor de “descer o cacete” nos manifestantes violentos que tentem impedir a realização da Copa, como disse Ronaldo Nazário?
 
MARCO POLO DEL NERO - Se temos uma competição que é o maior evento do planeta, a segurança pública tem de dar a sua assistência. Se a manifestação é pacífica, não há problema. Mas não sou a favor de descer o cacete. Tem de se respeitar o ser humano. Agora, se o ser humano vai lá depredar, a polícia o detém para que ele responda na Justiça. Se a gente não respeitar a nossa Constituição, fecha a casa!
 
- Qual seria o seu primeiro ato como presidente da CBF?
 
MARCO POLO DEL NERO - Melhorar a arbitragem nacional. Temos de preparar os árbitros à altura. Profissionalizar os árbitros. Fizemos uma experiência na Federação Paulista de Futebol com 20 árbitros. Pagamos salários a eles por um determinado tempo e a qualidade da arbitragem não melhorou. O que fizemos aqui foi dar assistência psicológica e técnica e prepará-los. Penso em termos trios de arbitragens fixos. Acredito que assim eles vão se entender melhor. Trabalhar junto por muito tempo dará a eles um entrosamento melhor. E o segundo ato é fomentar o futebol da melhor forma possível. Criou-se uma comissão de clubes dentro da CBF. O presidente Marin autorizou a criação de um departamento de marketing para os clubes.

Marco Polo ao lado de José Maria Marin e dos dirigentes da ANAF Marco Martins e Salmo Valentim

- Felipão já disse que vai sair depois da Copa. Quem você vai escolher para substituí-lo?
 
MARCO POLO DEL NERO - Não posso pensar em hipóteses. Se ele sair, aí a gente vai pensar. Eu quero que ele fique. Eu vou lutar para ele ficar. Vou pedir para ele ficar. Por isso, nem passa pela minha cabeça outro nome. Nem o Marin nem eu pensamos em outro nome. Nossa expectativa é que ele continue.
 
- Que nota o Sr. daria para a sua gestão na Federação Paulista de Futebol?
 
MARCO POLO DEL NERO - Sete. Na CBF, vou procurar corresponder aos clubes e federações que me elegeram. Vou ter de lutar para ser melhor do que fui na FPF. Vai ser muito mais difícil. Mas sou idealista, gosto de desafios e acho que posso fazer muita coisa para o futebol, mas ouvindo todos os segmentos.

Fonte: Rodrigo Cardoso e Yan Boechat - Revista Isto É - Edição:  2325

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