isso apontou a utilização de
árbitros profissionais mencionado a experiência que fez com 20
árbitros na FPF que não tiveram o resultado esperado.
Leia abaixo a entrevista na íntegra
O palmeirense Marco Polo Del Nero, 73 anos, vai assistir à Copa do
Mundo do Brasil ainda como presidente da Federação Paulista de
Futebol, mas já pensando e agindo como o homem que comandará de fato
e de direito o futebol brasileiro a partir do ano que vem. Eleito
para substituir José Maria Marin na presidência da CBF, Del Nero é
uma espécie de herdeiro da dinastia iniciada por João Havelange na
década de 50. Indicado por Ricardo Teixeira para assumir seu lugar
no Comitê Executivo da Fifa em 2012, Del Nero seria o sucessor
natural do ex-genro de Havelange, não fosse a avalanche de acusações
que precipitaram a queda do polêmico ex-presidente da CBF.
Agora, prestes a assumir a Confederação Brasileira de Futebol, tem
como principal desafio enfrentar um movimento de jogadores
insatisfeitos com os rumos do futebol no Brasil e que ganhou o apoio
da presidenta Dilma Rousseff. “A presidenta não conhece muito bem o
que a CBF tem feito pelo futebol brasileiro. Quando ela souber, vai
ter outra opinião”, disse ele nesta entrevista concedida à ISTOÉ na
véspera da abertura da Copa do Mundo de 2014.
- Em
seu pronunciamento à nação nesta semana, a presidenta Dilma Rousseff
falou que o Brasil precisa modernizar a estrutura do futebol. A fala
dela foi uma declaração de guerra à CBF?
MARCO POLO DEL NERO - Não penso assim. Penso que ela tem direito,
porque está num país democrático. Isso chama a atenção para o fato
de que todos nós devemos ficar preparados para o melhor do futebol
brasileiro. Ela quer o melhor, como eu e o presidente Marin. Não
vejo nada tão significativo que possa abalar a nossa relação com o
governo.
-
Como o Sr. enxerga a aproximação da presidenta com o movimento Bom
Senso F.C.?
MARCO POLO DEL NERO - Como presidenta da República, ela tem até
obrigação de ouvir todos os setores da sociedade. E a gente tem de
respeitar isso, a vontade da presidenta de conhecer os problemas,
conversar com jogadores. Provavelmente, ela vai receber sindicatos,
querer ouvir a CBF. Isso faz parte do sistema democrático.
- Mas
o Sr. não acha que essa aproximação é um apoio aos jogadores que se
posicionam contra a CBF?
MARCO POLO DEL NERO - Acho que temos de mostrar para o governo o que
nós temos feito pelo futebol. Quando mostrarmos isso, o governo vai
entender um pouco mais a nossa posição. Acho que tem muita coisa a
ser feita. Temos que evoluir muito. Mas esse não é um problema da
CBF, que sabe comandar muito bem. É um problema dos clubes e da
legislação.
- E
como o Sr. vê uma presidenta da República se posicionando sobre
futebol?
MARCO POLO DEL NERO - A presidenta da República também é uma
torcedora como outra qualquer. É uma torcedora mais ilustre, mais
importante, pelo cargo que exerce, mas não deixa de ser uma
torcedora. E às vezes tem uma opinião sem conhecer como funciona a
CBF, como funcionam os clubes. Às vezes a gente fala como torcedor,
e aí é mais complicado. A CBF está fomentando o futebol de uma
maneira que nunca foi feita anteriormente.
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Marco Polo posa pra foto ao lado da presidente Dilma
Rousseff após conquista da Copa das Confederações |
- A
CBF sofre muitas críticas por falta de transparência. O Sr. pretende
fazer uma devassa nas contas da entidade? O que fazer para dar mais
credibilidade a ela?
MARCO POLO DEL NERO - A CBF tem sua credibilidade. O balanço dela é
aprovado por auditores, pagamos todos os impostos. Não vejo que não
seja transparente, porque é feito e publicado o balanço anualmente,
existe fiscalização da Receita Federal e estamos sempre sujeitos a
ela.
- E
em relação ao que o Ricardo Teixeira fez na CBF, ficou no passado?
Passou e ponto?
MARCO POLO DEL NERO - As contas foram aprovadas e, se assim foram, é
porque mereceram ser. Ele não aprovou as contas dele sozinho, mas
com uma posição do conselho fiscal e da auditoria. Não temos o que
fazer com o que ele fez. Se foi aprovado... Poderíamos discutir se
não tivesse sido aprovado. Mas acho que está tudo em ordem, porque
foi tudo aprovado, né?
- O
que o Sr. pensa da declaração do Ronaldo Nazário, que disse que
sentia vergonha da organização da Copa do Brasil?
MARCO POLO DEL NERO - Não concordo com o Ronaldo. Mesmo com todas as
dificuldades que o País enfrentou, ele teve a coragem de fazer uma
Copa e o presidente Lula foi um baluarte, uma pessoa
superimportante. O legado da Copa, como disse a presidenta, o que
estamos fazendo, não será levado pelo estrangeiro, mas ficará aqui
para o povo brasileiro. E também é importante o que o estrangeiro
irá deixar aqui. Há países, como a Espanha, que praticamente vivem
de turismo. Estamos trazendo milhões de pessoas para conhecer o
Brasil. Há atrasos, dificuldades, mas sentir vergonha? Não concordo.
Tenho muita honra do nosso povo, dos nossos governantes. Não podemos
achincalhar as pessoas sem saber o porquê de o governo estar com
dificuldade. Sinto orgulho de ter uma Copa no Brasil. A Copa vai
rolar, caminhar bem, vai dar tudo certo. Sou muito idealista,
otimista, penso muito no meu povo.
- O
presidente da CBF, José Maria Marin, disse que só uma hecatombe pode
fazer o Brasil deixar de ser campeão. O Sr. pensa assim também?
MARCO POLO DEL NERO - Eu acho que temos uma grande seleção. Uma
seleção que está a altura de ser campeã. É o que nós esperamos. Há
outras boas seleções, como Alemanha, Chile, Argentina, Colômbia.
Todas têm condições de chegar à final.
- O
Sr. irá apoiar a reeleição do presidente da Fifa, Joseph Blatter?
MARCO POLO DEL NERO - Vamos apoiar o Blatter.
- A
Uefa é extremamente crítica à gestão de Blatter e defende profundas
reformas na entidade. O Sr. discorda dessa posição?
MARCO POLO DEL NERO - Não podemos pensar só nos ricos. A Uefa está
pensando nos ricos, nos clubes poderosos. A Fifa tem de pensar nos
pobres e nos ricos, nas competições onde há pobreza e riqueza.
- A
Fifa pensa nos pobres?
MARCO POLO DEL NERO - Ela, de certa forma, pensa nos países menos
ricos.
-
Poderia dar um exemplo?
MARCO POLO DEL NERO - Na própria África, nas dificuldades da África,
da Concacaf. A Fifa manda dinheiro para esses países mais pobres. A
Fifa fomenta competições lá. À medida que você fomenta competição,
surge o futebol e o futebol é jogado. E isso é importante: o futebol
ser jogado. Além do grande trabalho (da Fifa) na transparência da
sua administração. Ela tem trabalhado bastante nesse sentido com
discussões em seus comitês executivos. A Fifa tem evoluído bastante.
- E
as acusações recorrentes de compra de votos para levar a Copa de
2022 para o Catar?
MARCO POLO DEL NERO - Isso tem de ser comprovado, né? São
especulações. Há um lado político que especula porque não conseguiu
ter a Copa em seu país. Precisa ver bem tudo isso.
- O
Sr. é a favor de a Copa ser transferida do Catar, onde muitos
funcionários morreram nas construções de estádios?
MARCO POLO DEL NERO - Se o comitê executivo votou a favor do Catar é
porque mereceu. Aqui no Brasil também morreram funcionários.
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- O
Sr. é a favor de “descer o cacete” nos manifestantes violentos que
tentem impedir a realização da Copa, como disse Ronaldo Nazário?
MARCO POLO DEL NERO - Se temos uma competição que é o maior evento
do planeta, a segurança pública tem de dar a sua assistência. Se a
manifestação é pacífica, não há problema. Mas não sou a favor de
descer o cacete. Tem de se respeitar o ser humano. Agora, se o ser
humano vai lá depredar, a polícia o detém para que ele responda na
Justiça. Se a gente não respeitar a nossa Constituição, fecha a
casa!
-
Qual seria o seu primeiro ato como presidente da CBF?
MARCO POLO DEL NERO - Melhorar a arbitragem nacional. Temos de
preparar os árbitros à altura. Profissionalizar os árbitros. Fizemos
uma experiência na Federação Paulista de Futebol com 20 árbitros.
Pagamos salários a eles por um determinado tempo e a qualidade da
arbitragem não melhorou. O que fizemos aqui foi dar assistência
psicológica e técnica e prepará-los. Penso em termos trios de
arbitragens fixos. Acredito que assim eles vão se entender melhor.
Trabalhar junto por muito tempo dará a eles um entrosamento melhor.
E o segundo ato é fomentar o futebol da melhor forma possível.
Criou-se uma comissão de clubes dentro da CBF. O presidente Marin
autorizou a criação de um departamento de marketing para os clubes.
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Marco Polo ao lado de José Maria Marin e dos dirigentes
da ANAF Marco Martins e Salmo Valentim |
-
Felipão já disse que vai sair depois da Copa. Quem você vai escolher
para substituí-lo?
MARCO POLO DEL NERO - Não posso pensar em hipóteses. Se ele sair, aí
a gente vai pensar. Eu quero que ele fique. Eu vou lutar para ele
ficar. Vou pedir para ele ficar. Por isso, nem passa pela minha
cabeça outro nome. Nem o Marin nem eu pensamos em outro nome. Nossa
expectativa é que ele continue.
- Que
nota o Sr. daria para a sua gestão na Federação Paulista de Futebol?
MARCO POLO DEL NERO - Sete. Na CBF, vou procurar corresponder aos
clubes e federações que me elegeram. Vou ter de lutar para ser
melhor do que fui na FPF. Vai ser muito mais difícil. Mas sou
idealista, gosto de desafios e acho que posso fazer muita coisa para
o futebol, mas ouvindo todos os segmentos.
Fonte: Rodrigo
Cardoso e Yan Boechat - Revista Isto É - Edição: 2325