O FIFA Marcelo de Lima Henrique, o melhor árbitro
carioca na atualidade já tinha entrado para a historia da arbitragem
gaúcha em 2011 quando apitou o Gre-Nal 388, disputado no Olímpico.
Nove clássicos depois ele voltou a ser escalado, desta vez, no 398
que foi válido pela 30ª rodada do Campeonato Brasileiro e disputado
no Estádio Centenário em Caxias do Sul em virtude do gigante do
Beira Rio estar em reformas para a Copa de 2014.
Na primeira vez que o juizão
carioca esteve no comando do clássico também pelo Brasileirão, Celso
Roth era treinador do Grêmio que derrotou o Inter, por 2 x 1, com
gols de Marquinhos e Douglas (pênalti). Índio fez para a equipe
colorada, do técnico Dorival Júnior.
O clássico foi o quarto
disputado nesta temporada, com duas vitórias do Internacional e dois
empates. O Inter também leva vantagem nos 398 confrontos ao longo da
historia, foram 149 vitórias contra 125 do Grêmio e 124 empates.
Antes do famoso clássico, De
Lima deu entrevista por e-mail para o Zero Hora onde falou da
importância em apitar o clássico pela segunda vez.
Acompanhe abaixo a
entrevista na integra.
Marcelo de Lima Henrique, juiz do Gre-Nal,
cresceu ouvindo o nome da mãe ser homenageada em coro em jogos do
futebol carioca. Seu pai, José Henrique Neto, era árbitro, quase
duas décadas de atividade. Com cinco anos, o pequeno e assustado
Marcelo saiu de um estádio enfurecido no inóspito interior de um
camburão da polícia. A cena o marcou.
Como o futebol ocupava a rotina da família,
jornais, rádio e TV sempre sintonizados no esporte, Marcelo não deu
atenção aos apitos (e os pitos) que recebia do pai na adolescência.
Calçou luvas e foi ser goleiro. Passou por Flamengo, Bangu, América
e Operário-MS. A carreira não avançou como todos imaginavam e
torciam. José Henrique arrastou o filho ao curso de árbitros da
Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ). Sem dinheiro, ganhou
uma bolsa, o velho quitou o restante. O goleiro sobrevivia nas
peladas, nas brincadeiras, enquanto o futuro e sério árbitro tomava
forma.
Apesar da boa relação do pai, o começo do filhão
não foi Fifa, seu endereço atual, aos 42 anos, 18 de arbitragem. Ele
só estreou na Série A do Brasileirão em 2007. Ralou nas ligas
menores, entre amadores, nos campeonatos de bairros de campo de chão
batido e no pegado futebol de praia, a areia de Copacabana como um
dos cenários.
Vestia dois uniformes, o primeiro era da Polícia Militar, hoje, 25
anos depois, é primeiro-sargento dos Fuzileiros Navais.
Tentou no ano passado um terceiro, o de nobre
vereador da sua cidade, a desconhecida Itaboraí, na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, pelo Partido Verde (PV), mas levou
cartão vermelho dos habitantes locais. Recebeu 226 votos chorados em
meio a uma carente população de quase 220 mil habitantes.
Marcelo não é nada político em campo. É um
árbitro severo. Os jogadores dizem que ele trabalha com as duas
fardas sobrepostas, não raro com a militar em primeiro plano,
sombreando o escudo da Fifa que carrega no peito desde 2008.
Ele já confessou que abomina atletas, dirigentes
e jornalistas que opinam (ou agem) sem conhecer as verdadeiras
regras do futebol. Incrimina os jogadores que simulam, os cai-cai da
vida, dá duro neles.
Dorme mal quando vê e revê na TV lances nos quais
errou. Sofre com as criminosas redes sociais que o acusam de torcer
pelo Flamengo – especialmente após uma vitória sobre o Botafogo (2 a
1) na final da Taça Guanabara, em 2008. A polêmica arbitragem levou
o então técnico Cuca a chamá-lo de “filho da p....”. Uma foto com
Marcelo de camisa rubro-negra corre na internet desde então. Era
falsa. Mas até desvendar a tramóia, o estrago estava feito.
"O árbitro é anti-herói, carrega uma rejeição.
No meu caso, é maior, pelo meu jeito militar. Não sou de ficar
sorrindo" – disse na época.
Torcedor não sabe, não crê, que a paixão por um
time de futebol é incapaz de afetar o julgamento de uma arbitragem,
assim como não muda o tom do comentário de um jornalista
profissional.
Com o apito na mão, Marcelo
sonhava com a Copa. Não será possível. Estará aposentado no Mundial
de 2018. Poderá levar como um troféu de carreira o clássico Uruguai
3x2 Argentina, jogo de terça passada pelas Eliminatórias. Contará
aos netos da importância de apitar um dos maiores jogos do
continente. Não revelará que, pelo seu trabalho em Montevidéu, o
descalibrado jornal Olé o classificou de “Brasileiro ratón” que, na
Argentina, significa “Brasileiro falcatrua”. O que o sério juiz
Fifa, o árbitro que quase nunca sorri, não é mesmo.
Desde o Rio de Janeiro, a voz firme do árbitro carioca Marcelo de
Lima Henrique é também clara ao celular no começo de uma tarde. Ele
atendeu depois de quatro toques. Avisou.
– Só dou entrevistas por
escrito. Envie as questões para o meu e-mail.
A coluna mandou seis perguntas
ao árbitro do clássico Gre-Nal número 398. Recebeu as repostas no
final deste mesmo dia e na hora acertada. São curtas, diretas e sem
floreios. Leia.
Zero Hora – O senhor
vive no Rio, está distante da rivalidade gaúcha. Qual a sensação de
trabalhar num Gre-Nal?
Marcelo de Lima Henrique –
Sou do futebol, e sei bem o que é um Gre-Nal, arbitrei o 388
(Grêmio, 2 a 1).
ZH – O Gre-Nal é mesmo
o jogo mais difícil de ser apitado no Brasil? Há outros?
Marcelo – Gre-Nal está
no mesmo nível de Flamengo e Vasco, Bahia e Vitória, Cruzeiro e
Atlético, Sport e Náutico... Grandes clássicos que arbitrei algumas
vezes com torcidas muito apaixonadas e vibrantes.
ZH – Qual a rotina de um árbitro
experiente, com nome na Fifa, antes das grandes partidas? Estuda os
jogadores, assiste a vídeos dos jogos, conversa com colegas?
Marcelo – Uso todas as ferramentas que
posso para tentar fazer o melhor para a partida.
ZH – Por ser um militar, os jogadores o
respeitam mais?
Marcelo – O respeito se conquista dentro
da carreira, o respeito é mútuo, independe de profissão.
ZH – Um clássico no Interior, numa cidade
como Caxias do Sul, na serra gaúcha, distante da Capital, requer
mais cuidados com a sua segurança pessoal?
Marcelo – A Brigada Gaúcha é extremamente
competente, de extrema confiança e sabe trabalhar.
ZH – Como o senhor analisaria a arbitragem
brasileira dos nossos dias. Está entre as melhores do mundo? Qual a
escola de arbitragem que o senhor mais admira?
Marcelo – A arbitragem brasileira sempre
estará no topo da pirâmide, arbitramos no país PENTACAMPEÃO DO MUNDO
(a grafia em letras maiúsculas é do entrevistado).