Entrevista

Ricardo Teixeira não tem chance de presidir a Fifa

Andrew Jennings é um jornalista renomado que revela as sujeiras do universo do futebol mundial

foto: Patrick Szymchek

  01/08/2010 - Ricardo Teixeira é tido no Brasil como virtual sucessor de Joseph Blatter na presidência da Fifa a partir de 2015. Em 2014, Teixeira deixará a Confederação Brasileira de Futebol, ao completar um quarto de século na presidência e se focará na reta final da eleição para a presidência da entidade internacional, sucedendo aquele que, em 1998, sucedeu a seu então sogro João Havelange.

Para Andrew Jennings, essa visão nada mais é do que uma "ilusão". Para Jennings, as chances de Teixeira podem ser explicadas pelo fato de que seu nome jamais é comentado na Europa.

Jornalista inglês que fez fama fazendo reportagens de profundidade e incomodando instituições poderosas como a Scotland Yard, o COI e a Fifa, Jennings é hoje o jornalista mais odiado por Joseph Blatter, a quem acusa de governar em seu próprio interesse.

No Brasil, como convidado de honra de um congresso de jornalismo investigativo, Jennings deu esta entrevista em duas partes, em dias consecutivos, num boteco e num restaurante da Zona Sul de São Paulo.

Andrew Jennings é uma pedra nos sapatos de Ricardo Teixeira e Joseph Blatter
Com um estilo informal e afirmativo, disse sem rodeios que Teixeira, Havelange e Blatter formam a turma do mal do futebol.

Qual é a chance de Ricardo Teixeira se tornar presidente da Fifa em 2015?
2015? Haverá uma eleição em 2011 e não é certo que Blatter sobreviva a ela.

Por que não?
É muito possível que haja um candidato da Ásia nas eleições de maio de 2011, ou Mohammed Bin Hammam (Qatar), ou Chung Mong-Joon (Coreia do Sul). E quem concorrer será um forte candidato, porque ambos são bilionários. Sendo assim, não se pode comprá-los. Eles é que poderiam comprar.

Comprar votos? Isso acontece mesmo na Fifa?
Desde que (João) Havelange chegou à Fifa, em 1974, isso acontece. (Joseph) Blatter fez isso. Aliás, o próprio Bin Hammam era quem comprava votos para Blatter. Desta vez, se o fizer, será para ele próprio. Se alguém derrubar Blatter em 2011, vai ficar em 2015.

Se Blatter vencer, qual seria a chance de Teixeira em 2015?
Essa tema me surpreendeu muito ao chegar no Brasil. Na Europa, o nome dele nunca é citado. Teixeira não é uma pessoa muito conhecida no mundo do futebol. Dizendo melhor, todos sabem quem ele é, mas Teixeira não tem muito relacionamento, não é carismático. Além disso, representa a Conmebol, uma federação que tem dez votos num universo de 208. É quase nada para quem precisa de 105.

Que votos você calcula que Teixeira terá?
Teixeira terá os votos da Conmebol, dez. Pode conseguir os 35 da Concacaf, se Warner (Jack, presidente da confederação) continuar por mais quatro anos e meio. Pode conseguir alguns votos nos Bálcãs (sudeste da Europa) e alguns na África, mas poucos.

Mas Havelange se elegeu com muitos votos na África...
Naquela época, os africanos estavam se libertando da Europa e não gostavam de Stanley Rous, que era honesto, mas muito conservador. Apoiava o neocolonialismo e o apartheid na África do Sul. Agora, existe uma conexão. A Europa apoia países africanos com programas de desenvolvimento.

Quem é sua aposta para 2015?
Platini, Platini, Platini. É um homem inteligente, cativante e honesto. Além disso foi um grande jogador. É conhecido no mundo inteiro e está fazendo um bom trabalho na Uefa, implantando os controles financeiros sobre os clubes, para evitar que eles quebrem.

Como Platini pode ser um homem honesto se ele só se tornou presidente da Uefa graças ao apoio de Blatter, que o senhor qualifica de corrupto?
Em primeiro lugar, Blatter não conhecia Platini direito. Achava que poderia controlá-lo. Em segundo, Blatter queria se vingar de Lennart Johannsson, que o desafiou na Fifa em 1998. Blatter não aceita ser desafiado. Quem o faz, ele tenta destruir.

Como Platini poderia se eleger sem comprar votos se diz que as eleições têm sido desonestas?
Há um cansaço geral sobre os métodos da Fifa. Os dirigentes querem um tempo novo. Por exemplo, Bin Hammam propôs que o presidente da Fifa ficasse só dois mandatos de quatro anos. Isso teria influencia sobre o mundo do futebol. Warner está na Concacaf desde 1979.

Você é reconhecido pelas críticas aos métodos de administração de Havelange e Blatter. Que provas você tem de que são corruptos?
Quando a ISL faliu, seus documentos foram analisados pelos promotores do caso. Neles ficou claro que os dois mais Ricardo Teixeira, entre outros, participavam de esquemas de propinas.

O que veio a público de fato?
No julgamento dos diretores da ISL, eles passaram quase o tempo todo dizendo "não sei, não me lembro, não participei". O juiz chegou a dar uma bronca neles dizendo que estavam fazendo pouco da Justiça. Quando perguntou se a ISL tinha pago 100 milhões em comissões para conseguir contratos, todos mexeram a cabeça concordando. Foi um tremendo choque!

Para quem foram pagas essas propinas?
Foi para pessoas da Fifa, com certeza. Mas eles não disseram nem nomes, nem datas, nem locais.

Foram condenados?
Não. Naquela época, isso não era proibido pelas leis da Suíça. Por causa desse caso, a lei foi mudada.

E desde então, que provas você tem de atos de corrupção envolvendo a Fifa, Blatter e Teixeira? Você tem documentos?
Desde então, apenas o esquema da ISL foi substituído por outro. Documentos, não, a Fifa é uma entidade fechada. Mas tenho fontes.

Qual é o poder de Teixeira na Fifa?
Pessoas da Fifa me dizem que, aos poucos, o poder dos brasileiros sobre as grandes decisões da entidade está diminuindo. Teixeira e sua turma estão descontentes, mas não podem reclamar pelo que fizeram.

Quando a ISL quebrou, qual foi a empresa que a substituiu? A Match?
Não, a Match é apenas uma subsidiária. A empresa principal se chama Infront. É ela que deteve os direitos de TV das Copas de 2002 e 2006. E sabe quem é o presidente da Infront? Philippe Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, que não tem filhos.

Como a Infront conseguiu os contratos com a Fifa?
Você acha que houve concorrência? É claro que não. O Blatter diz que não favoreceu o sobrinho, mas você acredita nisso?

Na Fifa, existe oposição? Não é estranho que não se vê ninguém - são 208 presidentes de federação, mais dezenas de outras pessoas nos comitês - fazendo críticas abertas a Blatter?
Pois é. Na Grã-Bretanha ou no Brasil, é normal haver debates sobre os atos do governo. Isso faz parte da democracia. Mas, na Fifa, as coisas não funcionam assim. O que existe de divergência é tratado internamente. Aquilo funciona como uma família - a família do futebol. E Blatter trata bem seus companheiros. Se você viaja a serviço da Fifa, não importa se reunião das comissões ou a eleição do presidente, a Fifa paga, além de passagem e hospedagem, US$ 200 por dia para gastar como quiser. Não é preciso nem apresentar nota! E, se você for do comitê executivo, só viaja de primeira classe e recebe uma diária de US$ 500!

Qual é o tamanho do patrimônio de Blatter?
Não se pode afirmar. Mas acho que está em alguns milhões de dólares.

Mas, voltando à eleição, Teixeira não poderia se aliar a Bin Hammam ou Chung e obter os votos da Ásia?
Nenhuma chance. Nenhum dos dois votaria em Teixeira. Além disso, nem com todos os votos da Ásia, Teixeira chegaria aos 105 votos que precisa para vencer.

Havelange não poderia ajudar? Qual é seu poder?
Essa é uma grande questão. Acho que ninguém sabe. Mas ele teve um papel fundamental na escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos. Foi muito mais importante do que Lula. O mundo do esporte é uma família e as coisas se resolvem internamente.

O que significaria a eleição de Teixeira?
Significaria a continuidade do período de sujeira na Fifa, que começou com a eleição de Havelange, em 1974. Isso faz 25 anos, portanto.

Por fim, você diz que Rous e Platini são honestos, Bin Hammam e Chung, mais ou menos e Blatter, Teixeira,Warner e Havelange, desonestos. Isso não cheira a preconceito contra o Terceiro Mundo?
Não. Não defendo Rous porque ele é inglês. Sei que existe muita corrupção no meu país. E já fiz várias reportagens mostrando isso. E Blatter é suíço.

Teixeira não comenta acusação de Andrew Jennings

O presidente da CBF e do comitê organizador da Copa-14, Ricardo Teixeira, não respondeu ao LANCE! para comentar as acusações feitas pelo jornalista Andrew Jennings na entrevista de domingo do diário.

O LANCE!, que entrevistou Jennings nas últimas quarta e quintas-feiras, procurou o assessor de imprensa da CBF e braço-direito de Teixeira, Rodrigo Paiva, nos dois dias e também na sexta. Nesse mesmo dia, diante da falta de resposta de Paiva, o LANCE! procurou o advogado de Teixeira, Francisco Mussnich, explicou a sua secretária em detalhes o motivo do contato e aguardou a resposta do advogado, em vão.

O silêncio não surpreende. Teixeira não dá nenhuma declaração nem responde a qualquer pergunta do LANCE! há mais de quatro anos.

De qualquer forma, como as acusações de Jennings não são novas, Teixeira, em outras oportunidades, já declarou que elas são infundadas e que o jornalista não tem provas.

Joseph Blatter, presidente da Fifa, também já rebateu a acusação de Jennings.

Fonte: Marcelo Damato - Lancepress

Abaixo veja o vídeo da ESPN Brasil dividido em 8 partes em que o jornalista britânico Andrew Jennings afirma que Ricardo Teixeira e João Havelange receberam suborno.

Assistam e saibam mais sobre esta história escrabosa.

Parte 1

 

Parte 2

 

Parte 3

 

Parte 4

 

Parte 5

 

Parte 6

 

Parte 7

 

Parte 8

 

Publicidade

 

Copyright © 2009 - www.apitonacional.com.br ® Todos os direitos reservados