Entrevista

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Sérgio Cristiano Nascimento

Entrevista realizada em 2004. Última atualização: Julho/2005. 

 
- Em 2003, aos 45 anos, foi considerado por Armando Marques o árbitro revelação da temporada. Logo após, teve que pendurar o apito e virou instrutor de arbitragem. Com exclusividade para o Cartão Vermelho, Sérgio Cristiano Nascimento fala sobre a carreira de juiz de futebol e a nova empreitada como instrutor de árbitros.

Carioca, 47 anos (08/04/1958), 1.85m, 82 Kg, empresário, professor de Educação Física, morador do Rio de Janeiro, casado, pai de 3 filhos, Sérgio Cristiano Nascimento foi árbitro por 24 anos (da FERJ durante 24 anos e da CBF por 17 anos).

Foi quando cursava Educação Física na Universidade Castelo Branco, em 1979, que o aluno bolsista e atleta de futebol da faculdade, teve a oportunidade de apitar sua primeira partida de futebol. Ele estava se

Sergio Cristiano de camisa verde na CoafRJ

recuperando de uma contusão e como não podia treinar, foi colaborar com professor Jorginho. “Fui bem e o professor me sugeriu que fizesse o Curso de árbitro de Futebol da FERJ no ano seguinte”, conta Sérgio Cristiano. Desse modo, estava encerrada a carreira de jogador e iniciava-se a carreira do árbitro.

SE POUPANDO? “As vezes ouço: Estava me poupando no primeiro tempo. Cascata! Tem jogo que se decide em 10 minutos!”. Sérgio Cristiano.

Após entrar para o quadro da FERJ, seu primeiro jogo no estádio do Maracanã foi Flamengo 2 x 0 Botafogo, pelo Campeonato Carioca de Juniores de 1984. Sua estréia nos profissionais foi numa partida entre Madureira e Olaria, em Conselheiro Galvão, no mesmo ano. A partir daí, começou a alcançar destaque, entrando para o quadro da CBF no ano de 1986. Sua estréia em jogos da Série A do Campeonato Brasileiro aconteceu em 1988, no Beira-Rio, com os assistentes Vander de Carvalho e Ediel Rios, no jogo Internacional 2 x 1 Palmeiras.Sérgio Cristiano apitou vários jogos importantes dentre os quais destaca a final da Taça Guanabara de 1992, Vasco 1 x 1 Flamengo, Vasco campeão em São Januário (naquele ano o Maracanã estava interditado em função da tragédia ocorrida na final do Campeonato Brasileiro). Outro jogo marcante foi um Fla 0 x 0 Flu em 1991, quando expulsou Junior Baiano por atingir o jogador Renato, do Fluminense, com uma ‘tesoura voadora’. “Naquela época não era muito comum expulsar jogadores em clássicos”, ressalta.

No ano de 1995 Sérgio Cristiano foi designado como Árbitro Aspirante à FIFA, porém uma falha de comunicação acabou atrapalhando o seu objetivo. Ele fora escalado para fazer um jogo da Série C em Araçatuba e não recebeu o recado a tempo para se deslocar para a cidade paulista. Acabou chegando ao estádio com 8 minutos de atraso e o então Diretor de Arbitragem da CBF, Ives Mendes, não o perdoou, tirando-lhe o escudo de Aspirante à FIFA, mesmo tendo sido absolvido pelo Tribunal. “Naquela época eu não tinha o aspecto tático-geográfico que o árbitro precisa ter e paguei por isso. Por esse motivo houve o declínio da minha carreira”, analisa.

MELHOR FASE: 91-96 “Nesse período tive a oportunidade de apitar todos os clássicos cariocas”. Sérgio Cristiano.

Ivens Mendes o deixou permanentemente na ‘geladeira’ e só a saída do diretor poderia mudar este panorama. Foi o que aconteceu, Armando Marques o substituiu no comando da Comissão de Arbitragem da CBF em 1997. “Não me conformava por nunca ter sido perdoado pela falha ocorrida em 1995, mas faltava uma oportunidade para superar o ocorrido”, lamenta. Foi quando teve a idéia de editar uma fita com todos os seus bons jogos. “A fita acabou ficando pequena”, sorri. “A fita tinha um jogo televisionado de 1992, onde Armando foi o comentarista da Rede Manchete e eu tinha ido muito bem, sendo muito elogiado por ele no final da transmissão”, revela. Vendo a fita mostrada pela secretária Helenice, Armando acabou ficando impressionado como o árbitro daquele jogo teria ‘desaparecido’ do futebol brasileiro.

Outra pessoa que ajudou Sérgio a se reciclar foi o ex-árbitro Oscar Roberto Godói. “O Godói sempre me elogiava quando via meus jogos ou quando tínhamos oportunidade de nos falar”, garante. “Ele me ensinou muita coisa, inclusive o deslocamento lateral”, completa.

Só assim, depois de anos, aconteceu seu retorno aos gramados. “Só tive a oportunidade de retornar bem em 2002, com o Armando Marques”, conta.

E o retorno foi emocionante. Sérgio dirigiu a final Brasil 5 x 0 Bolívia do Mundialito Sub-17 disputado em 2002, no Estádio Godofredo Cruz, em Campos dos Goytacazes. Os auxiliares foram Manoel do Couto Pires e Márcio Dutra Veloso. “Foi um grande honra ter apitado esta final”, orgulha se. “Senti o que é um jogo de seleção, jogadores perfilados para o hino e toda a importância de um jogo desses”, diz emocionado, com os olhos marejados. Na época, Carlos Alárcon e membros da cúpula da CBF queriam saber quem era o árbitro. “Acabei conquistando a confiança da CBF e o respeito do Brasil”, acredita.

O ano de 2003 foi o último ano de sua carreira como árbitro da CBF tendo sido, no final da temporada, citado como um dos destaques do Campeonato Brasileiro por Armando Marques, por ter feito uma arbitragem moderna. Durante a competição dirigiu jogos de peso como: Corinthians x Internacional, Internacional x Santos, Santos x Vitória, São Paulo x Coritiba e Corinthians x Goiás. Seu último jogo foi Coritiba 2 x 0 Criciúma, valendo vaga para a Copa Libertadores da América, com os assistentes Vilmar Raul e Marcos Peniche

Já em 2004 dirigiu seu último jogo com o escudo da FERJ, sendo auxiliado por Nélson Santiago, Sérgio Oliveira Santos e César Felisberto, Portuguesa 0 x 1 Flamengo. “Tenho certeza que tinha condições de ter ido mais além e poderia, inclusive, ter sido árbitro internacional”, acredita. “Ainda tenho muita vontade de apitar futebol, mas entendo que, chegando aos 45 anos, o árbitro deve mesmo parar para não atrapalhar o processo de renovação”, opina.

Sérgio Cristiano fala das finais que dirigiu, do reconhecimento da imprensa e do Mundialito Sub-17 como as maiores alegrias que a arbitragem lhe proporcionou. “O Sub-17 serviu para coroar minha carreira e o Brasileiro de 2003 serviu para me aproximar mais do Armando e do Alárcon”, resume Em 2002 Sérgio Cristiano fez o Curso de Instrutor de Arbitragem patrocinado pela Confederação Sul Americana e CBF, no Rio de Janeiro, com duração de 3 dias. Em 2003 foi ao Paraguai para participar do curso de 15 dias para instrutores de arbitragem, realizado pela Confederação Sul Americana. No curso foi selecionado por Alárcon como promessa de bom instrutor, por responder determinadas questões de maneira diferente e mais completa.

MITO “Quem falou que o árbitro não pode entrar na área?”. Sérgio Cristiano.

Segundo Sérgio Cristiano, 80% dos árbitros brasileiros carecem de algum tipo de acompanhamento. Sabendo disso, como instrutor de arbitragem da CBF, ele tem procurado assistir muitos jogos pela TV, além de ir a campo buscando orientar e observar novas revelações da arbitragem. Atualmente está procurando desenvolver um trabalho inédito na arbitragem nacional, sobre a importância do deslocamento lateral para os árbitros. “A diagonal está morta, é uma herança dos anos 70 e 80. O árbitro deve estar sempre que possível de 6 a 12 metros e do lado esquerdo da jogada, utilizando, em deslocamento lateral, a figura geométrica de um quadrado”, ensina. Os outros dois instrutores de arbitragem da CBF são Antônio Pereira (GO) e Roberto Perassi (SP).

Fora das quatro linhas, os árbitros devem estar atentos aos fatores como o clima da cidade, as condições do tempo no local, como jogam os times, as condições do estádio, etc. “Os árbitros devem estar antenados!”, orienta. “O Simon é um cara que está preparado. Ele estuda esquema tático, pesquisa condições do tempo... isso é o que eu chamo de se preparar taticamente”, elogia.

Sérgio Cristiano guarda com carinho várias fotos de sua carreira e uma carta muito especial, meio amarelada pelo envelhecimento, assinada por Carlos Alárcon, Presidente da Comissão de Arbitragem da Confederação Sul Americana de Futebol. O texto agradece e parabeniza Sérgio Cristiano pelo trabalho que fizera durante a fase final da Copa América de 1989, disputada no Maracanã, quando cronômetrou tempo de bola em jogo e tempo perdido com arremessos laterais, substituição, atendimentos médicos, etc.

Para os mais novos, Sérgio Cristiano deixa a seguinte mensagem: “No campo, faça uma arbitragem diferente! Esteja próximo, perto, mas nunca em cima do lance, pois você pode se atrapalhar”. E para aqueles que estão em plena atuação, um lembrete. “O árbitro bom marca a falta, o excelente dá a vantagem”.

Cartão Vermelho

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