Entrevista

Árbitro do Ca-Ju fala sobre a expectativa de apitar o clássico

Vinícius Costa da Costa também é técnico de handebol

Foto: Porthus Junior

28/08/2010 - Quando não está correndo pelo gramado para apitar algum jogo, Vinícius Costa da Costa usa o apito para comandar seus alunos nas aulas do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, em Pelotas, onde mora. Nessas horas ele é técnico de handebol, modalidade que ensina para adolescentes com idades entre 15 e 17 anos.

O árbitro do Ca-Ju deste domingo é também professor de Educação Física e está sempre de olho nos sites da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). É preciso acompanhar os sorteios que definem a arbitragem de cada partida e estar pronto para viajar.

— A gente sabe da importância dessa competição e da situação vivida no momento pelas equipes, mas o clássico é uma festa do futebol. A gente espera que isso seja mostrado em campo e tomara que a arbitragem nem apareça.

– Quando o jogo é perto, vou a Porto Alegre no sábado e fico hospedado na casa de

Juiz apita seu terceiro Ca-Ju neste domingo

familiares. No fim da manhã de domingo, viajo até o local da partida, de carro, junto com a equipe de arbitragem. Almoçamos no caminho. Depois do jogo tem a súmula e em seguida mais algumas horas de viagem. Será assim no Ca-Ju. Chegarei a Pelotas por volta da meia-noite e segunda de manhã cedo já tenho que dar aula – descreve Costa, 42 anos.

Este será o terceiro Ca-Ju da carreira dele. Costa lembra bem dos outros dois na entrevista a seguir:

Pioneiro: Como o senhor se prepara para apitar um clássico?

Vinícius Costa:
Claro que a gente sabe da importância do Ca-Ju, mas a preparação é igual à dos outros jogos. Só para se ter uma idéia: segunda-feira, eu estava no sorteio de um jogo da Série B e perdi. A preparação vai de árbitro para árbitro. Estamos sempre na berlinda de ir para um jogo ou não. A condição física para nós é fundamental. Sou professor de Educação Física, então tenho minha rotina alimentar controlada e treino pelo menos três a quatro vezes por semana corridas ou musculação.

Pioneiro: O senhor lembra dos Ca-Jus que apitou em 2003?

Costa:
Foram dois jogos muito importantes na minha carreira, porque me levaram a apitar a final do Campeonato Gaúcho daquele ano, que foi entre 15 de Campo Bom e Inter. Aquele campeonato foi atípico. Eram duas chaves, em uma só dupla Gre-Nal e dupla Ca-Ju e na outra com 14 clubes do interior, já que as duplas Gre-Nal e Ca-Ju jogavam o Brasileiro das Séries A e B naquela época. Fui muito bem naqueles dois Ca-Jus, graças a Deus. Atípico foi só o resultado do segundo jogo, de 5 a 3, que não é comum em um clássico. Teve até uma brincadeira que eu iria me mudar para Caxias, porque apitei os dois Ca-Jus e também Caxias e Internacional no Centenário. Eram seis rodadas do quadrangular, apitei três.

Pioneiro: Como será apitar um clássico num momento decisivo para os dois clubes?

Costa:
A gente sabe da importância dessa competição e da situação vivida no momento pelas equipes, mas o clássico é uma festa do futebol. A gente espera que isso seja mostrado em campo e tomara que a arbitragem nem apareça. As estrelas do espetáculo são os jogadores.

Pioneiro: O senhor se informa do noticiário dos clubes?

Costa:
Eu acompanho direto, ainda mais agora com a internet. As escalações das equipes, como estão jogando, qual a situação... Claro que não interfere em nada no trabalho, mas a gente sabe da realidade em que estamos inseridos. A preparação é como se fosse para qualquer jogo, mas é óbvio que não é qualquer jogo. O clássico Ca-Ju é o segundo em importância no Rio Grande do Sul. É diferenciado, e a arbitragem está inserida em um contexto muito grande. Então tem que se cercar de informações para não cair de pára-quedas.

Pioneiro: Saber das informações ajuda na hora de apitar?

Costa:
Me interessa saber mais ou menos como as equipes jogam, quem são os jogadores, a característica de alguns. Classificação é curiosidade. Tem árbitros que podem te dizer o contrário, que preferem se isolar. Há 15 dias fui apitar um jogo em Minas Gerais e tinha poucas informações do Duque de Caxias. No noticiário do Rio se consegue dos outros clubes, mas do Duque de Caxias é difícil. Para o jogo em si não causa grandes problemas não saber, mas eu gosto de conhecer, de tratar os jogadores pelo nome, ser uma pessoa educada. Nós da arbitragem somos imprescindíveis para o jogo. Então temos que estar incluídos no mundo do futebol.

Pioneiro: Como é a atualização de um árbitro?

Costa:
O livro de regras eu tenho como livro de cabeceira. Leio o jornal do dia, vejo alguma situação e olho no livro de regras. É uma leitura diária. A gente é muito cobrado, não só em campo, mas nas avaliações periódicas de Federações, de CBF. E aí é prova teórica mesmo. Se não está atualizado, daqui a pouco erra um detalhe em uma questão e isso pode prejudicar. Às vezes ocorre um fato inusitado no primeiro tempo e no intervalo a gente busca lá a informação (no livro).

Pioneiro: O que o senhor pensa sobre o uso da tecnologia?

Costa:
Acho importante e isto foi levantado principalmente na Copa do Mundo, em dois gols. Aquele da Inglaterra, que a bola quicou dentro e não foi validado (contra a Alemanha), e o outro da Argentina (diante do México), em que o jogador estava em posição de impedimento. No lance da Argentina não tem tecnologia que resolveria. Foi um erro grosseiro do assistente. O outro lance, de bola dentro ou fora, aquele sim foi complicado. Os árbitros acabam sendo execrados e no campo é outra história. Talvez se tivesse um monitor para o quarto árbitro resolveria. No Gauchão, a gente trabalha com comunicação de fones, o que não ocorre no Brasileiro. Não sei direito como se iria operacionalizar (o uso de monitores). Ia parar quando, somente em lances discutíveis? Mas isso aí não é para a minha geração. Acho difícil, até porque a Fifa é extremamente conservadora na alteração de regras. O que será feito para agora é a inclusão de mais dois árbitros.

Fonte: Fernanda Fedrizzi - Pioneiro

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