minutos, porque o público de pé aplaudia o rei do futebol e
Olten Aires de Abreu não teve outra alternativa a não ser também bater
palmas.
Formou-se em
educação física e Direito,
mas na
verdade, o nome de Olten Ayres chegou às alturas no noticiário esportivo, no
período em que atuou como árbitro do quadro principal da Federação Paulista
de Futebol e, posteriormente, do Fifa. Curiosamente, apesar de
norte-rio-grandense,
apitou
apenas uma partida na capital, sua ausência no Rio
Grande do
Norte
é pelo
fato de não haver ainda Campeonato Brasileiro
nos anos
sessenta.
Era raro um
árbitro do Rio ou São
Paulo
atuar no Nordeste. Só é possível fazer uma análise da personalidade de Olten
Ayres, quem com ele conviver durante algum tempo. Voz tonitroante,
boa
estatura para os padrões nordestinos (1,85m), ótimo biotipo para a prática
do atletismo, Olten acabou optando pela arbitragem no futebol. Era o
preferido da Federação Paulista para os clássicos considerados quentes,
sujeitos a muita tensão no gramado.
Moeda em pé
Olten Ayres
é
são paulino declarado, porém uma vez apitando jogo do time da camisa
tricolor, a paixão clubística era temporariamente arquivada. Certa vez, em
1943, numa reunião na sede da Federação Paulista – conta Olten, presentes
diretores do Corinthians e do Palmeiras, alguém sugeriu que se jogasse uma
moeda no chão: se caísse com a “cara” pra cima ia dar Corinthians, se caísse
a “coroa”, dava Palmeiras. E aí Olten indagou: e o São Paulo, nada? Só se a
moeda cair em pé, gozou um dos presentes. Jogada a moedinha, ela rolou,
rolou e não virou. Ficou em pé. Coincidentemente, deu São Paulo naquele ano.
Olten guarda essa moeda até hoje.
O JOGO DO SÉCULO
Um dos orgulhos
de Olten Ayres é ter sido convidado para apitar o chamado jogo do século,
envolvendo Santos do Brasil e Inter de Milão, no Yankee Stadium. Eram os
dois times mais fortes naquela oportunidade. Os italianos abriram o placar,
e aí que começou uma verdadeira briga campal envolvendo os 22 jogadores. Até
Olten levou um chute, mas deu o troco no agressor. Depois de muita
discussão, o jogo foi reiniciado sem expulsões porque ninguém identificou
ninguém. Ainda houve 20 minutos de jogo, terminando com vitória italiana por
1x0.
Brasil comprou o árbitro
Olten havia sido
convocado para a Copa de 62, no Chile, como titular, mas numa jogada desleal
de Paes Leme, acabaram jogando-o para suplente, abrindo uma brecha para o
veterano João Etzel Filho. Naquele Mundial, Olten testemunhou a forma como
João Etzel deu “sumiço” ao bandeira uruguaio Esteban Marino, que seria
testemunha da agressão de Garrincha no julgamento do camisa 7 do Brasil.
Etzel desapareceu de Santiago com esse bandeirinha, e na hora do julgamento,
não havia testemunha ocular da agressão de “Mané”, que acabou absolvido.
Falam em US$ 10 mil dólares. Com isso, Garrincha pode participar da final
contra os tchecos, o Brasil bicampeão mundial. Recentemente, Olten voltou ao
assunto dando uma entrevista à Rede Globo, com repercussão bem menor.
Afinal, já se passam quase 50 anos.
Olten Ayres de Abreu mora em São Paulo e foi presidente do
Sitrefesp (Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estado de São Paulo)
por 10 anos. Ainda
é advogado e conselheiro do São Paulo Futebol Clube. |