“Vivemos um período de crise
financeira e política no país. Sem solução, sem alternativa, eu
tinha que suprir as necessidades da minha família. Eu me encaixo
entre as pessoas que precisam de uma fonte de renda dentro de casa.
O que me restava era a arbitragem, mas a porta se fechou e não posso
ficar criando ilusão de que ainda vou trabalhar. Minha fonte secou"
- disse Dibert ao UOL.
Dibert Pedrosa Moisés tem 47 anos
(06/03/1971), é árbitro desde 1993 e faz parte do quadro da
Federação Carioca de Futebol. Fora da arbitragem trabalhava como
corretor de seguros na corretora Seguralta, em Petrópolis-RJ, sua
cidade natal. Também trabalhou como representante de venda da
Gavina, empresa de alimento e bebidas também localizada na cidade
Imperial.
Pertence ao quadro de árbitros
assistentes da CBF desde 1997 e foi integrante do quadro
internacional da FIFA entre 2008 2011. Atuou em partidas importantes
como a semifinal da Copa Libertadores de 2012, entre Santos e
Corinthians e a partida de ida da final da Copa do Brasil de 2008 em
que o Corinthians venceu o Sport por 3 a 1 além de atuações na
Sul-Americana e Eliminatórias da Copa do Mundo.
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Agasalho de arbitragem da FIFA foi um
dos itens comercializados na internet -
Reprodução/Facebook |
Uma carreira recheada por grandes
momentos que já não acontecem mais. Hoje, apesar de ser do quadro
especial da CBF, só atuou até agora em um jogo do Campeonato
Brasileiro da Série B e cinco da Série C e amarga ausências nas
escalas há três meses. Tem compensado atuando pela Liga Municipal de
Magé, em partidas de futebol amador onde a taxa não chega a 10% das
que recebe no profissional.
"Não posso ficar aguardando
segunda-feira, terça, quarta, e nunca ser escolhido para trabalhar.
Semana passada eu solicitei dispensa até 31 de dezembro, tenho que
dar sentido à minha vida” - desabafou o veterano ao UOL Esporte.
Uma das formas de "dar sentido à vida"
é equilibrar as contas em seu primeiro ano de pouco destaque na
arbitragem. Ele conseguiu com a venda de sua coleção de camisas de
futebol. Os itens foram presenteados por clubes ao longo dos últimos
anos e vendidos em um grupo de amantes de futebol no Facebook.
Dibert se desfez de camisas de times como Vitória, Chapecoense,
Sport e Coritiba, além de camisas e agasalhos de arbitragem, com
logotipos da CBF e até da FIFA. Os valores variaram entre R$ 70 e R$
400, e vão ajudar a família Pedrosa ter um fim de ano de menos
aperto financeiro.
Crédito: Reprodução/Facebook |
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Dibert Pedrosa com a esposa e filhos |
"Uma das camisas que mais doeu
vender foi da seleção da Itália, quando trabalhei em um amistoso
Fluminense x Itália pré-Copa do Mundo. Mas não tive o que fazer. Sem
solução, sem alternativa, eu tinha que suprir as necessidades da
minha família” - disse Dibert.
Além do futebol amador, Dibert Pedrosa
Moisés espera voltar a trabalhar com futebol no Campeonato Carioca
de 2019. Até lá, a renda das camisas e um trabalho freelancer em uma
empresa de seguros ajudarão nas despesas.
A consultora de RH e carreiras,
Jacqueline Resch, faz ressalvas: "O primeiro ponto é que trata-se
de uma carreira em que a pessoa não depende só de talento e
investimento para ter retorno. Depende do fator sorte. Hoje, as
pessoas não têm uma única atuação. A outra alternativa é o grupo
(arbitragem) se fortalecer para reivindicar outros critérios que não
só o sorteio. Mas é um caminho coletivo. No individual, é preciso o
pé na realidade" - diz a consultora.
Boa parte dos árbitros trabalha
paralelamente. São autônomos, funcionários públicos, donos dos
próprios negócios. É o que Dibert está fazendo.
"Estou tentando me recolocar porque
arbitragem toma muito tempo. Qual dono de empresa aceita que seu
funcionário saia para ficar dois ou três dias fora do emprego para
ter um ganho extra? Quem é esse patrão? Se não tem como ter rotina,
o cara fica estagnado" - diz o assistente que cita uma viagem de
30 dias que fez ao Chile, a trabalho pelo futebol, como razão para
poucas oportunidades fora do esporte.
Crédito: Reprodução/Facebook |
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Dibert mantém a forma para trabalhar
no Carioca de 2019 |
Currículo
O assistente considera ter quase 30
anos de carreira como árbitro porque coloca na soma um período ainda
na adolescência. Ele era jogador de vôlei na época de escola, fã da
geração de Montanaro, Renan e Bernard. Criou amizade com os
responsáveis pela arbitragem de competições esportivas em
Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ainda jovem, passou a trabalhar como
mesário, cronometrista e anotador em esporte amador - inclusive no
futebol. Entrou para os quadros da Federação Carioca em 1993. A
estréia na elite estadual foi em 1996, com jogo entre Fluminense e
Barreira.
Após mais de 200 partidas na Primeira
Divisão do Campeonato Brasileiro e quatro temporadas na elite do
futebol sul-americano, como árbitro FIFA, hoje ele se considera
"rebaixado". Deixou o quadro internacional por razões físicas e acha
que o esquecimento em grandes torneios nacionais se deve a um erro
na partida entre Vitória e Chapecoense, no ano passado e não
trabalhou na Série A no ano seguinte.
"Eles me pararam" - critica
Pedrosa.
Desempregado e sem sua principal fonte
de renda, ele sente pelo momento: "O que me restava era a
arbitragem, mas a porta se fechou e não posso ficar criando ilusão
de que ainda vou trabalhar." Segundo Dibert, a remuneração da
CBF aos árbitros hoje em dia é boa e está melhorando, com cada vez
mais conquistas do setor.
"Mas e quando você perde tudo, como
faz? E aí?" - indaga o assistente.
Crédito: Reprodução/Facebook |
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Dibert é o primeiro da direita para a
esquerda antes de partida do Campeonato Carioca |
"Isso é viciante,
vira uma cachaça. A arbitragem acaba se tornando uma paixão, e o
árbitro, por muitas vezes, também se ilude com o meio, que é
fantástico, mas ilusório. Você vai para essa ilusão. Quando você
entra em um estádio, uma arena de Copa do Mundo, se não tiver um
alicerce você se encanta com tudo, fantasia, vive um sonho. Tem que
viver esse sonho, sim, respirar esse sonho. Mas botar o pé no chão e
voltar à realidade." - Encerra
Dibert.
Com informações: Gabriel Carneiro -
UOL - SP