Antes de tomar o celular de um
jornalista na zona mista do Mineirão, o técnico Abel Ferreira tentou
presentear com uma camisa o quarto árbitro do empate do Palmeiras
com o Atlético-MG, Ronei Candido Alves. O treinador disse que a
cortesia era pela "paciência" que o membro da arbitragem teve com
ele à beira do campo.
Ronei Candido Alves afirmou que
não poderia pegar a camisa naquele momento, por estar em público,
mas que depois pediria para alguém buscar e o agradeceria (veja no
vídeo abaixo).
O Superesportes conversou com
ex-árbitros e apurou com clubes sobre a prática. Não há qualquer
impedimento legal da CBF sobre os presentes dados aos membros da
arbitragem nos bastidores do estádio, tanto antes quanto após as
partidas. A cortesia, inclusive, é comum em praticamente todos os
jogos envolvendo clubes da elite do futebol brasileiro.
Ronei Candido Alves recusa camisa das
mãos de Abel Ferreira - foto: Reprodução/Twitter
"Posso afirmar que em 90% das
partidas realizadas no Brasil a equipe mandante presenteia a equipe
de arbitragem com camisas. E não é só uma camisa para o árbitro, e
sim uma camisa para cada membro da arbitragem. Normalmente essas
camisas são enviadas aos vestiários dos árbitros pelas pessoas que
representam o clube. É mais difícil ser entregue por técnico ou
jogador" - contou o ex-árbitro Marcelo Marçal.
"É uma coisa natural, sempre
aconteceu. É absolutamente normal. Isso não muda qualquer tipo de
decisão do árbitro" - acrescentou ele, que foi árbitro pela
Federação Paulista de Futebol (FPF) de 1993 a 2005.
Marcelo Marçal foi árbitro da FPF de 1993
a 2005 - Foto: arquivo pessoal
Fabrício Neves Correa, árbitro
pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF) de 1996 a 2016, também
afirmou que costumava receber diversas cortesias dos clubes. E ainda
disse já ter ganhado até camisa personalizada com seu próprio nome.
"É muito normal, às vezes nem sabemos o que vamos receber. Não vou
mentir: apitei 20 anos pela FGF e 15 anos pela CBF e eu tinha duas
malas completas de camisas, meiões e calções. É uma relação tão
próxima, de tanto respeito que tem entre arbitragem, jogador e
diretor que eles oferecem" - comentou Fabrício Neves Correa.
Normalmente, o encarregado pela
entrega das camisas à arbitragem é o supervisor dos times. O agrado
costuma ocorrer antes ou depois das partidas, na hora da entrega das
carteirinhas dos jogadores e da assinatura da súmula.
É por isso que o caso de Abel chamou atenção, até por ter acontecido
na zona mista do Mineirão, com a presença de jornalistas. Após
tentar dar a camisa, o treinador tomou o celular de um produtor da
Rede Globo que filmava a discussão do diretor de futebol Anderson
Barros com o quarto árbitro.
Abel Ferreira reclama de
arbitragem
Em entrevista coletiva depois do empate no Mineirão, Abel Ferreira
admitiu que o quarto árbitro teve "paciência". O treinador reclamou
muito durante a partida das decisões do árbitro Bráulio da Silva
Machado.
"Em relação ao quarto árbitro, ele teve paciência comigo. A
transição do Artur, que era amarelo e não deu. Aquela entrada no
Veiga, que era para amarelo e não deu. E na primeira falta do
Menino, deu amarelo. Sobre o gol, não vou falar. Falo dos últimos
dez minutos, no lance em cima do Vanderlan, que para mim é amarelo" -
disse Abel.