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Wilson
Seneme, durante uma palestra sobre o uso do VAR — Foto:
Lucas Figueiredo/CBF |
Um dos últimos atos de José Maria
Marin como presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF),
antes de ser investigado e preso em 2015, foi indicar o ex-árbitro
brasileiro Wilson Luiz Seneme para comandar o Comitê de Arbitragem
da Conmebol. Seneme está no cargo até hoje e, se especula nos
bastidores, sofre pressão para deixar o comando. O recente episódio
da liberação de Dedé para jogar a partida de volta contra o Boca
Juniors após ter sido expulso na partida de ida revoltou os
argentinos que vem, há tempos, trabalhando para colocar o
compatriota Horacio Elizondo no lugar do brasileiro. A AFA
(Associação do Futebol Argentino) conta com o apoio dos clubes
daquele país.
O movimento ganhou força depois do
erro do árbitro paraguaio Eber Aquino e do árbitro assistente de
vídeo Mário Díaz de Vivar na partida disputada em La Bombonera, que
prejudicou o Cruzeiro, mas favoreceu também a corrente argentina
pró-Elizondo.
Mas este não é o único motivo. Os
argentinos tem outros pelos quais tentam derrubar Seneme. Em um
deles, o diário esportivo "Olé" acusa o brasileiro de ter sido o
responsável por uma suspensão de quatro jogos que a FIFA impôs ao
craque Lionel Messi, em março de 2017. Segundo o jornal publicou na
época, Seneme teria enviado à FIFA um vídeo denunciando Messi por
ofensas ao assistente brasileiro Emerson de Carvalho, durante a
vitória da Argentina sobre o Chile, pelas eliminatórias da
Copa-2018. As ofensas não haviam sido citadas na súmula do árbitro
Sandro Meira Ricci, tampouco no relatório do inspetor da partida, o
uruguaio Jorge Larrionda. Mais tarde, em maio de 2017, o Comitê de
Apelação da FIFA retirou a suspensão de Messi, que cumpriu apenas
uma partida de afastamento, diante da Bolívia, em La Paz. Seneme
negou o envio do vídeo.
A demissão de Seneme seria também uma
retaliação da Conmebol ao voto do Coronel Nunes, atual presidente da
CBF, à candidatura de Marrocos à Copa do Mundo de 2026. Acordo da
entidade sul-americana com as confederações nacionais previa voto de
todos os países do continente na candidatura conjunta de Estados
Unidos-México-Canadá. Apenas o Brasil não seguiu as orientações da
Conmebol.
Dirigentes de grandes clubes
brasileiros se manifestaram em sentido contrário, entendendo que a
Conmebol não chegaria ao cúmulo de prejudicar os times do Brasil na
Libertadores por causa do voto contrário do Coronel Nunes. Mas, ao
mesmo tempo, são unânimes em reconhecer que falta representatividade
de fato do futebol brasileiro na Conmebol, uma certa omissão da CBF
em defesa de seus clubes.
Seneme, de 48 anos, dirige o Comitê de
Arbitragem da Confederação Sul-Americana de Futebol desde fevereiro
de 2016, com ascensão meteórica. Logo após se aposentar como árbitro
internacional do quadro da FIFA, em fevereiro de 2014, o paulista de
São Carlos foi nomeado coordenador de instrução da CBF e convidado a
integrar a Comissão de Arbitragem da Conmebol, por indicação do
então presidente da CBF, José Maria Marin. O mentor dele, hoje, está
preso nos Estados Unidos, condenado por seis crimes e envolvimento
no FIFA Gate.
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Horacio
Elizondo é o atual Diretor de Arbitragem Nacional da
Argentina - Crédito: José Almeida |