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Patrícia Reis - Crédito: FBF |
Denúncia de assédio na arbitragem não
é novidade para ninguém, na ultima sexta-feira (5) surgiu mais uma. Desta
vez o fato teria ocorrido no estado da Bahia, onde a assistente
Patrícia dos Reis, do quadro da FBF (Federação Bahiana de Futebol) e
CBF (Confederação Brasileira de Futebol), denunciou ter sido
assediada por Belmiro da Silva, ex-árbitro, atual membro da CEAF
baiana e instrutor de arbitragem da CBF.
Em contato com o Portal baiano
Galáticos
Online,
Patrícia disse que o assedio ocorreu no fim de 2012 e inicio do ano
seguinte e que depois, com sua recusa, virou perseguição. Para
piorar a situação, Patrícia relatou que chegou a levar o caso para
Vidal Cordeiro, presidente da comissão de arbitragem, no entanto,
não recebeu apoio e chegou a ser orientada a esquecer o assunto para
não prejudicar a carreira dela e a do seu noivo, Emerson Ricardo,
que também é árbitro da FBF e CBF.
"Tudo começou em 2012 e 2013, onde
ele (Belmiro) me fazia ligações quase todas as noites pedindo para
ter reuniões privadas comigo, que me levaria em casa independe da
hora, pois ele tinha coisas muito importantes para tratar sobre
minha carreira profissional" - disse Patrícia ao Galáticos e
acrescentou:
“Nos treinamentos
que participava ele fazia piadas baixas e trocadilhos comigo na
frente dos árbitros”.
A Árbitra relatou que na ocasião
assumiu o namoro, hoje são noivos, que mantinha com um colega
da arbitragem (Emerson Ricardo) para ver se terminava o assédio que
se transformou em raiva.
“Com tanta
perturbação dele eu e o Emerson decidimos assumir o namoro para ver
se aquilo parava. Dali em diante eu passei a ser uma árbitra
ineficiente, sem preparo e ele fez questão de falar mal de mim na
comissão e também do meu parceiro”.
A árbitra disse que sentiu aliviada
quando Belmiro saiu da FBF, mas que tudo mudou, para pior, com a
volta dele no inicio deste ano. Patrícia faz questão de frisar que
todos os árbitros do quadro nacional sabiam do assédio.
“Todos os árbitros do quadro
nacional sabem desse fato, pois eu mesma fiz questão de deixar
sempre bem claro, pra que ninguém falasse que não sabia
posteriormente”.
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Belmiro Silva (óculos) durante curso da CBF ao
lado do instrutor Conmebol Jorge Larrionda - Crédito:
FBF |
Patrícia relata também que informou o
presidente da Comissão de Arbitragem e que este em vez de tomar
providencias pediu para ela se acalmar e ficar quieta.
“Ao saber do que estava
acontecendo, vi no presidente da comissão uma forma do assédio
parar. Mas, para minha surpresa, ele pediu para que meu noivo
mandasse eu me acalmar e ficar quieta, pois isso era algo muito
sério e era melhor deixar quieto” – disse a arbitra que previu o
fim da sua carreira.
“Ali eu vi que ele iria acabar com
minha carreira, pois nem o presidente da comissão me apoiou” -
frisou a assistente.
Patrícia estava convocada para o curso RAP-FIFA (Abreviação da
expressão em inglês Referees Assistance Programme ou Programa de
Assistência para Árbitros), mas na ultima quarta-feira (3) foi
surpreendida com a exclusão do seu nome sendo informada através do
WhatsApp. Após ficar sabendo que não iria participar do curso,
procurou a FBF e foi informada que o motivo seria não ter
participado de todos os treinos no mês anterior. No entanto, ele
revela que o real motivo para exclusão do curso foi pessoal e
motivado por Belmiro Silva.
“Todas as ligações
podem ser verificadas com uma simples quebra de sigilo telefônico, e
tudo ficará as claras, para que homens como esse entendam que não
somos mercadorias, ou propriedade deles. Basta! Eu não queria me
expor, nunca quis assim, mas agora eu terei a certeza que Ednaldo e
Ricardo sabem”.
Desesperada, sem saber a quem recorrer
e temendo pelo fim da carreira, a assistente, aos prantos, gravou
áudio relatando todo ocorrido e denunciando o assedio (Ouça abaixo).
O que eles disseram
O Apitonacional
procurou as pessoas citadas na matéria para que falassem sobre as
denuncias.
Belmiro Silva
“Não existe nada disso e posso
garantir que é mentira, declarações tendenciosas com o intuito de
atacar a FBF (Federação Bahiana de Futebol). Eu nunca a perseguir
ninguém nessa Federação, muito pelo contrário, sempre orientei a
todos que comparecer aos encontros semanais e aos treinos e dessa
forma mostrando o quanto era importante a capacitação profissional
só e mais nada. Deixo claro também que não foi eu que tirei ela
(Patrícia Reis) do curso não. De maneira alguma” – disse
Belmiro.
Vidal
Cordeiro
"Eu juntamente com minha comissão
só tomamos conhecimento desses fatos narrados pela assistente no
dia 03/10/2018, as 20 hs , onde estava havendo uma reunião da
comissão para tratar de assuntos relacionados a detalhes técnicos da
arbitragem bahiana, foi quando a mesma chegou na FBF chorando muito
e adentrou a sala da comissão, foi quando a assistente trouxe a tona
a situação" – disse Vidal que acrescentou:
"Iremos
nos pronunciar assim que apurarmos os fato" – encerrou o
dirigente.
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Vidal Cordeiro - Crédito: FBF |
Jucimar Dias
"Liguei para Emerson assim como
ligo para vários árbitros para falar dos assuntos da arbitragem.
Jamais falei em nome de Belmiro ou disse que ele seria presidente da
comissão, pois assim como sou amigo de Belmiro, também sou de Vidal
e não é minha índole agir dessa maneira e nem minha função que
procuro desempenhar da melhor maneira possível independente de quem
seja o presidente da comissão. Não entendo o porque a Patrícia
envolveu meu nome nesta denuncia" – disse o assistente por
telefone.
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"Não
entendo o porque a Patrícia envolveu meu nome nesta
denuncia" |
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SINBAF - Sindicato
Baiano dos Árbitros de Futebol
O sindicato dos árbitros, que publicou
nota de apoio à árbitra em sua pagina oficial, disse que, apesar da
assistente não estar em dia com suas contribuições financeiras com a
entidade, prestara todo apoio tanto jurídico como psicológico, assim
como cobrará uma posição da FBF.
Nota do Apitonacional
Se verdadeira a denuncia, o fato é
algo inadmissível, que precisa de apuração rigorosa e uma pronta
resposta dos órgãos competentes da FBF, com acompanhamento dos
representantes da arbitragem tanto estadual como nacional, no caso a
Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF) por se tratar de
uma assistente do quadro nacional.
Lamentável que fatos como relatado ainda
ocorra em situações como essa onde pessoas em cargo de chefia usam o
poder para perseguir, intimidar e cometerem assedio, não só sexual,
mas como moral.
Constantemente recebemos relatos e
denuncias de situações como essa sendo praticadas em vários estados, mas
sem provas não podemos publicar e acabam caindo no esquecimento. Por vez, caso como
esse ocorrido na Bahia, onde um dos envolvidos, acuado, sem saída e
nada a perder, toma coragem e faz a denuncia mesmo sabendo que
com isso esta decretando o fim da carreira, pois o meio é
corporativista e os dirigentes um protege o outro sabendo que o
próximo denunciado pode ser ele.
Isso lamentavelmente ocorre até mesmo
nas entidades de classe que tem obrigação de defender o árbitro, mas
se calam preferindo jogar a sujeira cometida por seus dirigentes
para debaixo do tapete.
Obs.
Na checagem das informações, fomos informados que Belmiro Silva
teria um comportamento não recomendado com a função que exerce, que
a denuncia não teria sido a primeira, que o mesmo estaria tentando
nos bastidores uma forma de assumir a comissão de arbitragem e que
teria sido dispensado desta mesma função em 2015
justamente por supostamente dizer a quem quisesse ouvir, nos
bastidores, que seria o futuro presidente da comissão.
Já as informações sobre Patrícia
Reis dão conta que ele tem temperamento explosivo, questiona tudo
com regularidade e não
respeita hierarquia.
Procurada para esclarecer essas
informações, a assistente não respondeu até a publicação desta
matéria.