Motivado pelo confronto entre Corinthians e Ponte Preta, o
assistente Bruno Boschilia conversou com seu pai durante a última
semana sobre o finado Dulcídio Wanderley Boschilia. ‘Herdeiro’ do
árbitro responsável por dirigir a polêmica final do Campeonato
Paulista 1977, ele crê na honestidade do antecessor e sonha com a
Copa do Mundo 2022.
Luiz Boschilia, pai de Bruno, é primo em primeiro grau de Dulcídio e
também apitou, especialmente no estado do Paraná. Influenciado por
ambos, o jovem decidiu abortar a carreira de jogador de futebol para
apostar na arbitragem, seguindo a vocação familiar.
“Tentei jogar bola e cheguei a treinar em categorias de base, mas
não segui. Passei para a arbitragem e, nesse começo, houve grande
influência familiar. Quando entrei, por causa do sobrenome, o
pessoal acabava perguntando e foi uma motivação a mais” - contou
Bruno Boschilia à Gazeta Esportiva.
Um dos principais árbitros do país na época, Dulcídio Wanderley
Boschilia apitou o primeiro e o terceiro jogo da final do Campeonato
Paulista 1977. Quarenta anos depois, a expulsão do ponte-pretano Ruy
Rey logo na etapa inicial da partida decisiva ainda é colocada em
dúvida por alguns.
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Dulcídio Wanderley Boschilia apitou terceiro e decisivo
jogo da final do Paulista 1977 (F: Gazeta Press) |
“Falam muito, mas é só conversa. Não tem nada provado. É só
polêmica e não acho que a reputação do Dulcídio seja colocada em
xeque. Digamos que faz parte do folclore do futebol” - rebateu
Bruno Boschilia, calmamente. “Ele é uma referência para a família”,
acrescentou.
Bruno tem 34 anos de idade e não chegou a conhecer pessoalmente
Dulcídio, falecido em 1998. Satisfeito com a condição de assistente,
ele não tem planos de atuar como árbitro e mantém um estilo bem
diferente do temperamental primo em segundo grau.
“Eu sou mais discreto, até por atuar como assistente. Na verdade,
a arbitragem mudou muito nesses 40 anos, inclusive no perfil dos
árbitros. O Dulcídio trabalhou em uma outra época, com uma outra
cultura de futebol. Não cheguei a conhecê-lo, mas escuto as
histórias e, pelo que ouço, ele era uma referência” - contou
Bruno.
Formado em Educação Física, Bruno Boschilia tem mestrado na área e,
em 2014, passou a integrar o quadro da FIFA, feito que Dulcídio
jamais alcançou. Em parceria com Heber Roberto Lopes e Kleber Lúcio
Gil, ele atuou na final da Copa América 2016, vencida nos pênaltis
pelo Chile sobre a Argentina de Lionel Messi.
“Só participar de um campeonato internacional desse nível já
seria algo grande. Quando fomos indicados para a final, ficou melhor
ainda. Posso dizer que é o grande momento da minha carreira. A
realização de um sonho” - afirmou o ‘herdeiro’ de Dulcídio.
Atualmente, além de atuar como assistente pela Federação Paranaense
de Futebol, Bruno Boschilia trabalha na Secretaria de Esportes de
Curitiba. Animado pela oportunidade de participar da decisão da Copa
América 2016, ele sonha com a possibilidade de trabalhar no Mundial
2022, a ser disputado no Catar.
“O sonho existe. Na verdade, acho que todo o mundo que está na
carreira de nível FIFA internacional tem esse sonho. É a cereja do
bolo, a coroação de uma carreira, e a gente trabalha para isso. Se
vier, veio. Mas, se não vier, também somos felizes” - declarou,
com a trajetória Dulcídio, marcado pela final de 1977, como exemplo.
“O bom profissional é aquele que não é comentado. Arbitragem é no
fio da navalha e você pode se cortar muito facilmente em um jogo,
algo que a gente sabe desde o começo, então faz parte da profissão.
Aprendemos a lidar com isso e sempre entramos em campo para tentar
fazer o melhor” - afirmou.
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Bruno não tem contato com Gabriel Boschilia,
sobrinho-neto de Dulcídio (Foto: Sergio Barzaghi) |
JOGO DO SÃO PAULO TEVE DOIS
BOSCHILIAS EM CAMPO
A vitória por 3 a 1 do Atlético-MG sobre o São Paulo, pela edição de
2015 do Campeonato Brasileiro, teve dois representantes da família
Boschilia em campo. Bruno atuou como assistente, enquanto Gabriel
substituiu Luis Fabiano durante a etapa complementar.
O meia Gabriel Boschilia, atual jogador do Mônaco, é sobrinho-neto
de Dulcídio Wanderley Boschilia. A escalação de Bruno Boschilia como
assistente no jogo entre São Paulo e Atlético-MG causou polêmica na
época, mas ambos praticamente não se conhecem, segundo o
bandeirinha.
“A imprensa levantou essa situação, mas no jogo não teve nada de
excepcional. Nem chegamos a conversar e nunca tivemos contato fora
do campo” - disse Bruno Boschilia sobre a partida disputada no
Mineirão, decidida com três gols do hoje são-paulino Lucas Pratto.
Fonte: Gazeta Esportiva