O mata-mata do Campeonato
Brasileiro Feminino A1 começou neste domingo (18), após uma primeira
fase com menos transmissões em TV aberta e na internet do que em
edições anteriores, situações de descaso de clubes como Ceará e Real
Ariquemes e muitos erros de arbitragem que evidenciam a grande
discrepância com que a CBF trata um aspecto tão importante no
futebol feminino.
Na Série A1 feminina, a equipe de arbitragem é da cidade do time
mandante e a diária paga é 6 vezes menor do que o valor pago na
Série A do Brasileiro masculino, e 5 vezes menor do que na Série B.
Enquanto um árbitro FIFA recebe R$
6.600,00 e um básico R$ 4.760,00 para apitar uma partida do
Campeonato Brasileiro da Série A, no feminino os mesmos
profissionais recebem R$ 1.030,00 e R$ 950,00 respectivamente por
jogo.
Veja abaixo trechos de documentos
oficiais da CBF sobre as taxas.
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Taxas Serie A e Feminino A1 do Brasileiro
- Crédito: Marçal |
O
Apitonacional conversou com Salmo Valentim, presidente da
ANAF - Associação Nacional dos Árbitros de Futebol - e o dirigente
disse que a entidade que preside busca a anos a equiparação das
taxas e diárias. O dirigente entende que um árbitro FIFA tem que
receber taxa da sua categoria em qualquer competição que atuar assim
como os das demais categorias. Assim, os profissionais receberiam
pela importância que cada um tem conquistada ao longo da sua
carreira. Em relação as diárias Salmo disse que os hotéis e
restaurantes não tem valores diferenciados conforme importância de
cada cliente e todos pagam o mesmo valor estipulado pelo
estabelecimento.
O
Apitonacional tentou falar com Marcelo Carvalho Van
Gasse, presidente da Abrafut - Associação Brasileira dos árbitros de
Futebol da CBF. O dirigente não respondeu as perguntas, mas uma
pessoa próxima disse que Van Gasse, por ser árbitro atuante, não
falara sobre qualquer assunto que possa trazer problemas para ele
com a CBF.
Seria bom que o dirigente da nova
associação falasse o que a entidade pensa do assunto, sendo que a
discrepância nos valores são diretamente sobre taxas dos associados
da entidade formada por árbitros exclusivamente do quadro CBF.
Era momento de unir forças, mas
infelizmente perde a categoria, perde a arbitragem e especialmente
os representados pela ABRAFUT, que nasceu muda e se calara sempre em
momentos de reivindicações por ter dirigentes subservientes aos
mandos do patrão.
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Marcelo Van Gasse - Presidente da Abrafut
é prestador de serviços para o patrão dos árbitros (CBF) -
Crédito: Lucas Figueiredo |
São campeonatos com realidades
distintas, mas o Brasileirão feminino atualmente é apresentado pela
CBF como de grande importância. Então, por que existe tamanha
discrepância até hoje? Conforme o posicionamento da CBF, “o valor da
diária é menor porque a arbitragem é local e sem despesas
adicionais, como hospedagem com pensão completa”.
Mas a própria CBF atenta para a
“necessidade da não concentração regional” na seleção de árbitros,
árbitras e assistentes. Segundo as Diretrizes para a classificação
nacional dos árbitros, a arbitragem local pode “ensejar dificuldade
para as designações” e, por isso, está entre os elementos que podem
e devem ser considerados para a seleção nas competições organizadas
pela entidade.
Tanto é que o futebol masculino
nunca tem árbitros locais apitando os jogos das séries A e B e da
Copa do Brasil, por exemplo.
“Entendemos também que, da
forma como vem ocorrendo, é possível dar oportunidades aos árbitros
locais, proporcionando maior desenvolvimento à categoria” -
ponderou um membro da Comissão de Arbitragem da CBF. Mas será mesmo
que a primeira divisão de um Campeonato Brasileiro é o contexto
ideal para se aplicar essa política?
Na prática, é muito comum ter
equipes de arbitragem começando a apitar jogos da Série A1 feminina
com pouquíssima experiência se comparado a outras competições
nacionais, geralmente acumulada em campeonatos de categoria de base
e, em alguns casos, nas Séries A2 e A3 femininas. O que acontece,
inclusive, em jogos de maior destaque e rivalidade. Segundo a CBF,
“a Comissão de Arbitragem considera que os árbitros escalados têm
condições de apresentar bom rendimento nas competições”.
A CBF usa um quadro de pontuação
para árbitros e árbitras em que atribui pesos diferentes às
competições. Nele, um jogo de competições de futebol feminino
corresponde a apenas 1 ponto, igual a competições de categoria de
base. Essa é a menor pontuação possível. Um jogo de Copas Regionais
ou da Série D designa 4 pontos ao profissional de arbitragem;
enquanto na Série C são 6 pontos, na Série B são 10 pontos; e na
Série A são 20 pontos.
Essa é uma classificação que,
associada à discrepância dos valores pagos pelas diárias para
atuação em jogos da Série A1 do feminino, provoca um movimento de
desmobilização na busca por mais qualidade nas atuações das
arbitragens dentro de campo. Questionada, a CBF afirma que as
diretrizes da arbitragem estão sendo atualizadas e as distorções
serão corrigidas e vão constar da nova publicação: “Com a
atualização destas diretrizes, serão feitas alterações desses
conceitos, buscando diminuir as diferenças na pontuação”.
Reclamações
antigas, problema atual
A maneira como a CBF tem lidado
com a arbitragem não acompanha o ritmo do crescimento e da
profissionalização do futebol feminino no país. Há avanços, sim, mas
em um ritmo ainda lento para o Campeonato Brasileiro Feminino.
Reivindicação muito frequente entre clubes e profissionais da área,
o VAR será usado em toda a fase mata-mata do Brasileirão feminino A1
pela primeira vez neste ano. Antes, a tecnologia de vídeo só era
usada a partir das semifinais.
Em 2022, a atacante Cristiane
cobrou a CBF por um tratamento igual ao masculino e o uso de VAR na
modalidade após entender que teve um pênalti não marcado sobre ela
no jogo entre Santos e Palmeiras.
“Já que vocês (CBF) estão
profissionalizando a modalidade, então faz o bagulho direito” -
declarou a artilheira.
Naquele mesmo ano, a ex-jogadora
Rosana, então treinadora do Red Bull Bragantino, também cobrou uma
melhor arbitragem para a modalidade.
“Ao longo dos anos, o futebol
feminino encontrou muitas dificuldades e sem dúvidas evoluímos
muito, mas precisamos falar de algo que ainda está muito distante do
aceitável: a arbitragem” - postou a treinadora, que também falou
da importância do VAR.
Essas reclamações são do ano
passado, mas continuam atuais. Na penúltima rodada do Brasileiro
feminino, o Grêmio era o 9º colocado, com 19 pontos, um a menos do
que o Cruzeiro, na 8ª posição. O clube ainda lutava pela
classificação às quartas de final, mas tinha pela frente uma
pedreira: o Palmeiras, que estava na briga pela liderança, fora de
casa. Nos acréscimos do jogo, as gremistas perdiam por 2 x 1 quando
Raquel Fernandes marcou o que seria o gol de empate, aos 51 minutos.
Mas um erro grosseiro de arbitragem marcou impedimento da atacante
que estava em posição legal.
Os erros foram muito frequentes
nas 15 rodadas da primeira fase do Brasileirão feminino deste ano.
Pela rodada de abertura, o Grêmio empatou com o Cruzeiro, por 1 x 1,
com um pênalti “não existente” marcado para o time gaúcho, conforme
o comentarista Sandro Meira Ricci, da TV Globo, confirmou na
transmissão. No futebol feminino, as melhorias exigem muita
reivindicação. A CBF afirma que não encontrou crescimento de
reclamações nos registros. Nos casos de erros de arbitragem, os
clubes também precisam ser ativos e registrá-los na CBF, assim como
fazem com frequência no masculino.
Os clubes estão investindo cada
vez mais nos times femininos e é preciso que a CBF trate a primeira
divisão do Brasileiro feminino com mais profissionalismo. Não dá pra
tratar a Série A1 como “escola de arbitragem”. Isso pode valer para
as séries A2 e A3, mas na primeira divisão seria importante contar
com arbitragem mais experiente e avaliação constante da comissão de
arbitragem da CBF sobre possíveis erros, assim como acontece no
masculino.
Outro aspecto a ser revisto, é a
diferença exorbitante entre as diárias pagas às equipes de
arbitragem. São mercados distintos mas essa diferença acaba inibindo
que árbitros mais experientes tenham interesse em apitar jogos
femininos.
Com informações dibradoras.com