Deu na UOL: Cartola do
apito é acusado de assédio sexual, falsificações e desperdício
Portal revela o mar de lama que vive a arbitragem paulista
O presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São
Paulo, Arthur Alves Junior (foto), é um homem na berlinda. No dia 2 de
dezembro do ano passado, ele foi demitido do cargo que ocupava há
dez anos na FPF (Federação Paulista de Futebol) após ter sido
acusado de assédio moral e sexual pela árbitra Fifa Regildênia de
Holanda Moura. A corregedoria da federação analisou a denúncia e
acabou por recomendar a demissão de Junior, que nega ter feito
qualquer coisa.
De lá para cá, mais mulheres relataram ao UOL Esporte que teriam
sofrido assédio sexual por parte do dirigente. Além disso,
o próprio vice-presidente do sindicato (Safesp), Leonardo Schiavo Pedalini,
afirma que Arthur Alves utiliza o dinheiro da entidade para fins
pessoais e que impede a diretoria a ter acesso às contas da
entidade. Já um dos membros do Conselho Fiscal do sindicato diz que
Arthur o compeliu a assinar o relatório de contas do ano passado sem
ter tido acesso às notas correspondentes aos custos anunciados.
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Finalmente, conforme mostra documento a que o UOL Esporte teve
acesso, Arthur Alves dirigiu uma assembleia do sindicato no dia 30
de setembro do ano passado e forjou a presença de 59 árbitros e
auxiliares que, na realidade, não estavam lá, mas que tiveram suas
assinaturas incluídas na ata da assembleia dias ou até semanas após
a realização do encontro.
Veja, abaixo, os detalhes de cada uma das denúncias que pesam contra
Arthur Alves Junior.
-
Fraude em ata de Assembleia Geral
Ata de assembleia afirma que 163 associados estiveram
presentes, mas 59 deles não estavam e foram "convidados"
a assinar posteriormente
No dia 30 de setembro do ano passado, Arthur Silva conduziu uma
Assembleia Geral Extraordinária no sindicato dos árbitros. Nela, foi
decidido, entre outras coisas, que a entidade iria adquirir um
aparelho IPhone 6, "para uso da presidência". Também foi definida a
proposta de dissídio salarial coletivo para categoria que seria
levada para negociação com o sindicato patronal, além de ter sido
apresentado e aprovado o relatório de atividades da diretoria no
ano.
Conforme consta na ata, 163 árbitros e auxiliares estiveram
presentes. Na realidade, porém, apenas 104 pessoas atenderam à
reunião. Os 59 profissionais restantes tiveram seus nomes e
assinaturas incluídos posteriormente.
A ata da assembleia geral, a que o UOL Esporte teve acesso, é
acompanhada de cinco folhas de assinaturas. Os presentes assinam em
ordem, cada um na linha abaixo ao anterior. A quarta folha de
assinaturas tem início com o árbitro assistente Bruno Salgado Rizo,
como mostra a imagem abaixo.
Auxiliar de arbitragem Bruno Rizo assina presença em
Assembleia realizada em São Paulo no dia 30 de setembro
de 2015
Ocorre porém, que, na mesma data e hora (a assembleia teve início às
15h, e assim foi convocada, embora conste o horário de 17h na ata),
Rizo estava na Vila Belmiro, em Santos, apitando uma partida
amistosa do time da casa contra o Luverdense:
Conforme mostra documento da Federação Paulista de
Futebol, Bruno Salgado Rizo apitava jogo na Vila
Belmiro, em Santos, no mesmo horário da Assembleia Geral
do sindicato dos árbitros de SP
Em conversa gravada com o UOL Esporte, o auxiliar de arbitragem
admitiu a fraude, mas disse que "não teria por que contar" o motivo
de ter feito isso. "Assinei depois, sim. Ele (Arthur Alves Junior)
me mostrou a ata e eu assinei."
Outro auxiliar em condição semelhante é Miguel Cataneo Ribeiro da
Costa. Seu nome consta na lista de presença da assembleia, mas no
mesmo dia da reunião ele estava atuando em uma partida em São José
do Rio Preto, cidade do interior paulista a 454 quilômetros da
capital.
Perguntado pela reportagem sobre como isso seria possível, ele
disse: "Dessas coisas eu não quero falar. Eu sou do interior, não
gosto disso de política." O repórter insistiu, disse não se tratar
de política, apenas de explicar como ele poderia ter estado presente
simultaneamente em dois eventos que ocorreram em cidades distantes
mais de 400 quilômetros uma da outra. A resposta: "Não vou comentar
nada."
Para o vice-presidente do Safesp, Leonardo Schiavo Pedalini, que
rompeu com o presidente da entidade no meio do ano passado, os
árbitros foram coagidos a assinar a lista de presença. "Acontece que
o Arthur Alves tinha um cargo na comissão de arbitragem da FPF e
influenciava nas escalas de árbitros para os jogos oficiais. Então,
os árbitros assinaram a ata temendo serem prejudicados na confecção
das escalas caso não o fizessem."
Em entrevista ao UOL Esporte concedida na última quarta-feira,
Arthur Alves Junior não soube explicar o que teria acontecido. "Quem
assinou, estava presente", resumiu-se a dizer. A reportagem
insistiu, dizendo que isso não era possível, pois dezenas de
árbitros estavam atuando fora da cidade, e alguns deles admitiram
que assinaram a ata posteriormente. A resposta: "Se assinaram,
estavam presentes."
- Ocultação de documentos contábeis
Arthur Alves Junior também é acusado de esconder os documentos
referentes à prestação de contas de 2015 do Safesp e de ter feito
com que um dos três membros do conselho fiscal da entidade assinasse
as contas mesmo sem ter tido acesso às notas fiscais que
comprovariam as movimentações financeiras descritas.
Quem admite ter assinado a aprovação de contas sem tê-las visto é o
próprio membro do conselho, Márcio Jacob. "Ele me chamou um dia na
sala da FPF, onde também trabalhava, e me falou para assinar a
aprovação de contas, disse que precisava mandar urgente para o
Ministério do Trabalho. Eu disse que não tinha visto as notas
referentes aos gastos que constavam ali, mas ele disse que estava
tudo certinho. Eu fiquei intimidado, ele já tinha me ajudado
bastante, me escalado para muitos jogos naquele ano, senti que não
poderia recusar, e acabei assinando."
Já o vice-presidente Pedalini acusa Arthur Alves de esconder os
gastos da entidade porque ali constariam contas particulares do
presidente que teriam sido pagas com o cartão corporativo da
empresa. "Ele pagava bebidas, jantares e até festas com dinheiro do
sindicato. Se tivermos acesso às contas, isso será provado", afirma
o vice-presidente, que já foi à Justiça para que Arthur Alves seja
obrigado a apresentar a prestação de contas. A decisão deverá sair
no mês que vem.
Ao UOL Esporte, Arthur Alves afirmou que não há qualquer
irregularidade nas contas da entidade. Disse também que as notas
referentes aos gastos da entidade estão à disposição de quem quiser
consultá-las. Perguntado sobre qual teria sido a motivação do
vice-presidente Pedalini em notificar judicialmente a presidência do
sindicato para que apresentasse as tais notas, ele disse não saber.
- Farras bancadas pelo sindicato, assédio moral
e sexual
Arthur Alves Silva também é acusado de assédio moral e sexual. Sua
demissão no final do ano passado se deu em virtude de uma acusação
da árbitra Fifa Regildênia de Holanda Moura. Ela disse à
corregedoria da Federação Paulista de Futebol que era assediada por
Arthur, disse que o presidente do sindicato queria ser seu amante,
que montaria uma casa para ela, e disse também que estaria sendo
perseguida por Arthur Alves por não ceder a suas propostas.
Procurada pelo UOL Esporte, ela confirmou todas as denúncias que fez
à corregedoria, mas que não falaria mais sobre o assunto: "O que eu
tinha para dizer, eu já disse."
Uma ex-secretária do sindicato dos árbitros, que pediu para não ter
seu nome revelado, disse que também era assediada por Arthur, e que
efetivamente chegou a se tornar sua amante e ir com ele a motéis,
cujas contas seriam pagas com o cartão corporativo do sindicato.
Além disso, ela afirma que recebia pelo tempo que passava com ele no
motel como se fossem horas extras de trabalho, pagas pelo sindicato,
conforme se pode ouvir no áudio abaixo, que foi primeiramente
publicado no site jornalístico
Blog
do Marçal.
Sob a condição de não ter seu nome publicado, a ex-funcionária
explicou porque teria cedido aos desejos do presidente do sindicato.
"Eu sabia que meu emprego estava em jogo, que se eu não cedesse,
seria mandada embora, e eu dependia desse dinheiro", disse. Segundo
ela, sua demissão ocorreu quando a mulher de Arthur Alves teria
descoberto o "romance". "Ela foi no sindicato, gritou com ele,
brigou muito. Depois que ela foi embora, ele me chamou em sua sala e
me demitiu."
O UOL Esporte ouviu de mais duas árbitras que também teriam sido
assediadas pelo cartola do apito. Ambas, no entanto, preferiram não
dar qualquer declaração oficial, afirmando que temem sofrer
represálias.
O motorista
O "Gustavo" referido nas falas da
ex-funcionária é Gustavo Hirosse, ex-assessor da presidência no
sindicato. Ele confirma o que diz a ex-funcionária, e acrescenta:
"Ele
bebia bebida alcoólica e ele ficava sem condições de dirigir, porque
eram diversas coisas que ele bebia, muita cerveja, ele não tinha
condições nenhuma de voltar pra casa. Uma das vezes, ele me ligou,
eu não estava com ele, eu tive que buscá-lo em uma casa noturna
porque ele não tinha condições de retornar para a residência."
Gustavo Hirosse e Arthur Alves Junior durante a
cerimônia de posse do segundo mandato
"Eu
fazia todos os pagamentos de tudo isso aí, a pedido dele. Ele
fornecia a senha, e tudo pago com o cartão corporativo do sindicato,
o cartão é do banco Itaú, no cartão tem o nome dele, porém mas é um
cartão corporativo, com o nome do sindicato dos árbitros de futebol
do Estado de São Paulo. Ele gastava valores consideráveis por noite,
R$ 700, R$ 800. Costumava ir de quinta, sexta, alguns finais de
semana. Costumava ir muito a boate que fica localizada na região do
bairro do Ipiranga, chamada Musas Night Club."
Sob a condição de não ter seu nome
publicado, a ex-funcionária explicou o porquê de ter cedido aos
desejos do presidente do sindicato. "Eu sabia que meu emprego estava
em jogo, que se eu não cedesse, seria mandada embora, e eu dependia
desse dinheiro", disse. Segundo ela, sua demissão ocorreu quando a
mulher de Arthur Alves teria descoberto o "romance". "Ele me
demitiu, sem nenhum motivo profissional. Depois, a mulher dele foi
no sindicato, gritou com ele, brigou muito."
OUOL
Esporteouviu
de mais duas árbitras que também teriam sido assediadas pelo cartola
do apito. Ambas, no entanto, preferiram não dar qualquer declaração
oficial, afirmando que temem sofrer represálias.
Arthur Alves nega todas as
acusações. "Este áudio é uma fraude, uma montagem. Essa moça quer me
prejudicar porque foi mandada embora, tanto que está movendo uma
ação trabalhista contra o sindicato", afirmou. Sobre a denúncia da
árbitra Fifa Regildênia de Holanda Moura, Arthur Alves disse se
tratar de nova invenção, e que ela estaria "querendo aparecer".
Arthur Alves nega todas as acusações. "Este áudio é uma fraude, uma
montagem. Essa moça quer me prejudicar porque foi mandada embora,
tanto que está movendo uma ação trabalhista contra o sindicato",
afirmou. Sobre a denúncia da árbitra Fifa Regildênia de Holanda
Moura, Arthur Alves disse se tratar de nova invenção, e que ela
estaria "querendo aparecer".
Nota do apitonacional
O
Apitonacional
parabeniza os jornalistas
Vanderlei Lima e Vinícius Segalla do UOL São Paulo pela brilhante
matéria que revelou, assim como estamos fazendo desde 2009, um pouco
da lama que se envolveu a arbitragem paulista. Mas entendemos que
por não ter conhecimento do dia a dia da arbitragem, deixaram de
abordar assuntos tão importantes quanto os acima relatados que são:
A árbitra Regildênia Moura
relatou o assedio ao Cel. Marinho em 2009 com testemunho da
ex-árbitra FIFA Silvia Regina de Oliveira.
Árbitros importantes como Raphael
Claus, Leandro Bizzio, Miguel Cataneo, Vinicius Furlan entre outros
que atuam na primeira divisão do futebol brasileiro também assinaram
a ata de forma irregular e precisam no mínimo explicar o porque
praticaram este ato que mancha a imagem deles, pois quem assina ata
sem estar presente na reunião esta suscetível a qualquer tipo de
irregularidade.
A assembleia foi realizada também para ser
entregue ao Ministério Publico que investiga a entidade, o que torna
o ocorrido ainda maias grave.
Veja abaixo a ata com todas as assinaturas que a
partir da 105 supostamente foram colocadas no documento de forma
irregular.