Crédito: Arquivo pessoal |
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A assistente mineira Fernanda Nandrea
é, nos últimos 20 anos, a quarta mulher da Federação
Mineira que conseguiu chegar à Fifa |
Há pouco mais de um mês, a árbitra
assistente mineira Fernanda Nandrea recebeu uma ligação que lhe
trouxe uma grande notícia. Do outro lado da linha, falava Leonardo
Gaciba, presidente da comissão de Arbitragem da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), informando que ela acabara de ser
promovida ao quadro de árbitros da Federação Internacional de
Futebol (Fifa) - entidade sediada na Suíça, que comanda o esporte
criado na Inglaterra em 1863 e trazido ao Brasil pelo britânico
Charles Miller em 1884.
Se o sonho de todo jogador é ser convocado para a seleção de seu
país, o topo da carreira dos árbitros é carregar o escudo da Fifa em
seu uniforme, afinal, isso os credencia a trabalhar em jogos
internacionais, incluindo a Copa do Mundo, além de garantir um
aumento no valor que recebem por seu trabalho, mesmo em jogos
nacionais. "Sempre sonhei com isso. Me preparei e me dediquei para
essa oportunidade, mas foi uma grande surpresa acontecer esse ano",
comemora Fernanda Nandrea, em entrevista à Encontro.
Aos 28 anos de idade, a assistente já possui oito de carreira. Assim
como ocorre com a maioria dos brasileiros, a paixão pelo futebol
surgiu na vida de Fernanda Nandrea bem antes disso. Ela começou
mostrar admiração pelo esporte ainda na infância, incentivada pelo
pai, a ponto de acompanhá-lo nas "peladas" de final de semana.
E foi num desses jogos recreativos que
a profissão bateu em sua porta. "Meu pai e os amigos me chamaram
para apitar uma partida deles. Ao final, me disseram que fui muito
bem na função e me incentivaram a fazer um curso de arbitragem.
Segui o conselho e amei! Desde então, não parei mais", conta a
árbitra assistente da Federação Mineira de Futebol e, agora, também
da Fifa.
Apesar de já ter sido comunicada da promoção ao quadro de árbitros
internacional, ela só passará a ostentar o escudo da entidade máxima
do futebol a partir de 1º de janeiro de 2020.
A mineira admite que ainda não sabe tudo o que mudará em sua vida
com a subida de patamar na carreira, mas tem a consciência da
pressão que é ser uma árbitra Fifa: "Com isso, sei que virão grandes
responsabilidades. Vou me dedicar, estudar e treinar mais, para
sempre estar em alto nível", garante Fernanda Nandrea.
Assédio e machismo
Não é só no Brasil. No mundo todo, a mesma história se repete: ao
ver uma ou mais mulheres integrando a equipe de arbitragem de um
jogo de futebol, muitos torcedores reverberam a cultura machista
ainda muito presente na sociedade.
Nos jogos, não é raro ver alguém xingando árbitras e assistentes
utilizando palavras que jamais seriam dirigidas a homens. Ou seja,
os xingamentos ocorrem pelo único motivo de serem do sexo feminino.
Outro problema recorrente para mulheres que trabalham com o futebol
é o assédio.
Fernanda Nandrea diz que trabalha
bastante o lado psicológico para que isso não afete sua profissão e
sua vida: "Assédio e preconceito são duas coisas entristecedoras e
revoltantes. Escutamos de tudo dentro do campo. Por isso, é
necessário ter um alto nível de concentração no jogo para que tudo
passe despercebido. Já não me afeta mais", afirma ela lembrando que
desde o começo da carreira aprendeu a ignorar esse tipo de situação.
"Lógico que gostaria de nunca mais ouvir essas coisas, mas sabemos
que tudo vem de uma cultura errada", completa.
Como os árbitros chegam à
Fifa?
Não é possível um árbitro se candidatar a esse cargo.
Frequentemente, esses profissionais passam por testes físicos e
avaliação de seus trabalhos nos jogos. No caso do Brasil, isso é
analisado pelas comissões de arbitragem estaduais e pela CBF. Os que
obtém os melhores resultados são indicados à Fifa pela Comissão
Nacional de Arbitragem e, deste modo, podem passar a integrar o
quadro internacional.
Mas é preciso manter o bom desempenho para seguir trabalhando com o
escudo da entidade máxima do futebol, pois os árbitros que o possuem
podem perdê-lo caso seu desempenho não seja mais satisfatório.