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No colo da mãe, Paulo César de
Oliveira, ex-árbitro FIFA - Créditos: Matheus Meyohas/CBF |
Falta pouco para o
início do jogo. Os 22 jogadores se perfilam na entrada dos
vestiários. Ao som ensandecido das torcidas, entram em campo. São
eles os astros da partida que está prestes a começar. Pelo menos,
para a maioria das pessoas. Para Dona Tereza, contudo, as estrelas
não estão defendendo nenhum dos dois times.
E não é para menos. Tereza é mãe de dois árbitros de futebol: mais
velho, Paulo César de Oliveira já se aposentou. O caçula, Luiz
Flávio, pertence ao quadro da FIFA e trabalha em alguns dos jogos
mais importantes do nosso futebol. É tanta pressão que ela nem vê
mais os jogos de seus filhos. E se justifica: fica nervosa demais e
não entende muito bem as regras do jogo.
- Eu só vejo eles entrarem no campo. Depois eu não assisto, que eu
não entendo de futebol. Eu não torço para nenhum time, então eu
torço para eles, quando eles tão apitando. Eles estão fazendo a
coisa que gostam. A torcida xinga, mas isso não me incomoda. Ser mãe
de árbitro é muito bom - contou, em entrevista exclusiva à CBF TV.
Arbitragem, caso de família
A paixão pela arbitragem surgiu cedo na família de Dona Tereza.
Quando tinha 17 anos de idade, Paulo César foi convidado para
completar o trio de árbitros em um campeonato regional de Cruzeiro,
no interior de São Paulo. Ainda dividindo a função com o sonho de
ser jogador, ele pegou gosto pela coisa.
"A torcida
xinga, mas isso não me incomoda. Ser mãe de árbitro é muito
bom"
A paixão ao
primeiro apito ficou ainda mais forte meses depois. Jogando futebol,
Paulo sofreu uma lesão e acabou apostando em seu futuro na
arbitragem. Dos campos de várzea foi para as aulas na Federação
Paulista, se tornou árbitro do quadro da CBF e da FIFA. Apitou por
cerca de 20 anos. A escolha, obviamente, deu muito certo. E tem um
ponto essencial para isso: Dona Tereza.
- O dia mais difícil foi quando o Paulo César começou a ir para São
Paulo para estudar para ser árbitro. Era muito difícil. Às vezes ele
estava sem dinheiro, eu ficava preocupada com a viagem, porque ele
chegava tarde em casa. Mas eu dava o maior apoio. Sempre dei a maior
força, preparei as roupas tudo direitinho. Quando ele ia, já estava
tudo arrumado. Nunca falei para ele desistir - lembrou.
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O agradecimento sincero de Paulo
César a Dona Tereza - Créditos: Matheus Meyohas/CBF |
O caçula entre
11
Com o espelho dentro de casa, o caminho para a arbitragem se
apresentou para o caçula de uma família de 11 irmãos: Luiz Flávio.
Mas o destino tornou as coisas ainda mais complicadas para ele e
Dona Tereza. Com apenas quatro anos de idade, perdeu o pai, e viu
sua mãe se desdobrar. Sozinha, foi praticamente pai e mãe, e
sustentou o crescimento de dez homens dentro de casa.
Apesar de tudo isso, Tereza e Luiz Flávio conseguiram superar as
barreiras impostas pela vida. Seguindo o exemplo de Paulo César,
Luiz tornou-se árbitro pela Federação Paulista. Atualmente, integra
o quadro da FIFA e é um dos árbitros brasileiros que também
trabalham fora do país. Ainda assim, sempre faz questão de se
encontrar com a mãe antes de cada jogo.
- Eu não consigo fazer nenhum jogo, todas as minhas escalas,
nacionais ou internacionais, antes de passar na minha casa, pedir a
benção, a proteção. Avisá-la para onde estou indo, quando eu retorno
- revelou.
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Dona Tereza recebendo homenagem pelo
dia das mães do filho Luiz Flávio - Crédito: reprodução
CBF/TV |
Ser mãe nunca foi
uma tarefa fácil. Disso, Dona Tereza sabe bem. Principalmente para
ela, que foi mãe, pai, conselheira, professora e tudo mais que
pudesse ser para os seus filhos. Hoje, a cada passo que Luiz Flávio
e Paulo César dão em suas respectivas carreiras, está a marca de
Tereza. A marca de uma brasileira. De, como o próprio Paulo César
definiu, uma mulher guerreira, companheira, que nunca se cansa em
ajudar seus filhos. Em outras palavras: a marca de uma mãe.