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Duas gerações da arbitragem: Vanessa
Guijansque e a tia Neide (Foto: Kadidja Fernandes) |
"Quando vesti esse uniforme me deu
uma nostalgia e as lágrimas vieram aos olhos". A confissão é da
ex-árbitra Neide Guijansque, de 60 anos, uma das primeiras mulheres
a atuar no futebol profissional no Espírito Santo. Neide fez o curso
de arbitragem no fim da década de 1980 e trabalhou como árbitra
central e bandeirinha, chegando ao quadro da CBF. Para chegar lá,
venceu a desconfiança e o machismo de dirigentes e jogadores.
A luta dela e de outras companheiras fez crescer o interesse das
mulheres pela arbitragem. Tanto que, atualmente, a Federação de
Futebol (FES) tem 13 mulheres em seu quadro de arbitragem. Todas
atuam como bandeirinhas em jogos profissionais.
O secretário da Comissão de Arbitragem da FES, Carlos Eduardo
Depizzol, afirmou que esse número tem aumentado a cada ano. Em 2014,
eram apenas três árbitras. Nos anos de 2015 e 2016, passou para
cinco. Em 2017 e 2018, subiu para 11 mulheres.
“Tentamos dar todas as oportunidades e garantias para que essas
mulheres possam vir não só para o futebol, mas para a arbitragem”
- disse Depizzol.
No último dia 10, foi formada mais uma turma do curso de arbitragem.
Dos 39 alunos aprovados, três são mulheres.
Sobrinha de Neide, Vanessa Guijansque, 33 anos, é uma das árbitras
recém-formadas. Ela espera continuar um legado da família na
arbitragem, que começou com o pai, Robson, e ainda teve o tio
Cláudio e o irmão, Rafael.
“Meu primeiro contato com a arbitragem foi aos 12 anos, quando
fiz um curso com meu irmão, que tinha 13 anos, e meu pai era o
professor. Atuávamos em jogos infantis, mas cheguei a trabalhar como
bandeirinha em um jogo festivo de funcionários de uma empresa” -
contou Vanessa.
A bandeirinha diz se espelhar na tia e quer chegar longe da mesma
forma do que Neide.
“Já faz tempo que ela saiu da arbitragem, mas, ainda hoje, minha
tia é lembrada e reconhecida com mérito. Isso me traz orgulho e me
incentiva a fazer o mesmo” - frisou ela.
Por conta de sua experiência na arbitragem, Neide aconselha a
sobrinha: “Ela tem que ter muita força e determinação”.
Katiúscia apita no amador
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Katiúscia Berger - Crédito: futura
Press |
Há 19 anos no quadro de arbitragem da
Federação de Futebol do Espírito Santo (FES), a bandeirinha
Katiúscia Berger, de 41 anos, é a árbitra há mais tempo em atividade
no Estado.
A árbitra assistente está no quadro da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) desde 2003. Ela fez parte do quadro da FIFA, entre
2007 e 2015, atuando em três Mundiais Femininos — Militar, em 2010;
Universitário, em 2011; e sub-17, em 2014 —, além de 14 competições
sul-americanas.
“Ter chegado à FIFA é muito gratificante. Me sinto muito realizada”,
comemora Katiúscia, que prefere mesmo é apitar jogos, paixão que ela
realiza hoje em partidas de campeonato amador.
“Eu iria fazer a prova para árbitra central, mas para a mulher
chegar apitando é mais complicado. Para ser assistente é mais fácil
por conta das escalas”, contou Katiúscia.
Já a também bandeirinha Thays Passos Santos, de 31 anos, está entre
as novatas do quadro da FES.
Ela se formou na turma que terminou o curso em 10 de março deste ano
e aguarda pelas primeiras escalas, mas já sonha um dia chegar ao
quadro da CBF.
“No final do meu primeiro jogo no amador, parei e pensei: 'Não
acredito que consegui!'. Me senti realizada”, lembrou Thays.
Marido fez curso para
incentivar
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Thays recebeu o apoio do marido para
entrar na arbitragem (Foto: Kadidja Fernandes/AT) |
Semelhante ao caso de Vanessa
Guijansque, que teve o exemplo dentro da família para seguir o
caminho da arbitragem, a bandeirinha Thays Passos Santos, de 31
anos, também teve em casa o incentivo. Mas, no caso dela, o apoio
veio do marido, Antônio Araújo da Cruz.
Thays explicou que Antônio já é árbitro de competições amadoras há
cerca de 10 anos,como árbitro central. Entretanto, ele decidiu fazer
o último curso de arbitragem junto da mulher para incentivá-lo no
conhecimento.
“Eu acompanhava ele e acabei me interessando. Teve esse curso e ele
perguntou se eu não tinha interesse em participar. Meu marido me
incentivou e me acompanhou no curso, apesar de já trabalhar como
árbitro”, contou ela.
Os dois foram aprovados e, agora, esperam pelas primeiras escalas
para trabalhar nas competições como árbitros da federação. A
previsão é que isso aconteça nos próximos meses.
Nesses jogos, ela pretende levar para campo as dicas que o marido já
passou para que ela não se incomode com os insultos que vêm da
arquibancada.
“Ele mesmo já falou comigo para não dar ouvidos. Disse que vou ouvir
muita crítica e vai ficar muita gente me xingando, mas que não era
para dar ouvidos, fazer meu trabalho e fingir que não estou
escutando nada”, revelou.
Curso de formação no Estado
dura até oito meses
O secretário da Comissão de Arbitragem da Federação de Futebol do
Espírito Santo (FES), Carlos Eduardo Depizzol, adiantou que mudanças
serão feitas na formação dos novos árbitros e também na capacitação
daqueles que já atuam.
Para ingressar no quadro de árbitros da FES, árbitras e bandeirinhas
precisam passar pelo curso de formação da Escola de Árbitros Gabino
Rios (Esagrios).
“O curso tem duração de sete a oito meses. Porém, estamos
reformulando a escola e montando uma nova grade de conteúdos.
Provavelmente, a partir de agosto, quando a nova turma deve ser
iniciada, o curso terá duração de um ano”.
Também serão feitas avaliações escritas e práticas com os árbitros
em campo em competições de base para que sejam avaliados.
Já os árbitros formados vão passar por encontros semanais para
receberem orientações sobre a aplicação das novas regras, além de
analisar e debater vídeos de jogadas de partidas dos Estaduais.
ANÁLISE
Ana Paula Oliveira, diretora do Curso Nacional de Formação de
Arbitragem da CBF
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Ana Paula - Crédito: Lucas
Figueiredo/CBF |
“Maior desafio ainda é lutar contra o preconceito”
“Entendo que estamos vivendo um
novo momento da arbitragem feminina. Hoje, no quadro nacional,
possuímos 80 mulheres entre árbitras e assistentes. O trio
brasileiro foi convocado para o Mundial Feminino, na França.
A participação de assistentes na primeira e segunda divisão do
Brasileiro e o trabalho de desenvolvimento da arbitragem feminina
estão contribuindo para o interesse de mulheres que gostam de
esporte e, em especial de futebol, para se tornarem árbitras e
assistentes.
O maior desafio das mulheres ainda é lutar contra o preconceito e
pela igualdade profissional. Entendo que, aos poucos, essas
barreiras estão sendo superadas. Ser árbitro de futebol é saber
trabalhar com pressão o tempo todo e, no caso das mulheres, além da
pressão normal, há também a questão do machismo” - disse Ana
Paula.
As 13 mulheres da
arbitragem capixaba:
Katiúscia Berger, 41 anos
Marcielly Netto, 26 anos
Natiele Jaretta, 24 anos
Mayara Eller, 29 anos
Fabiola Muniz, 35 anos
Risolena de Sousa, 32 anos
Sandy Teixeira, 23 anos
Márcia Maretto, 40 anos
Mayara Locateli, 23 anos
Luzinete Gonçalves, 48 anos
Vanessa Guijansque, 33 anos
Ana de Oliveira Mota, 26 anos
Thays Passos Santos, 31 anos
Curso de arbitragem
Os cursos da Escola de Árbitros Gabino Rios são divulgados no site
da Federação de Futebol do Espírito Santo (FES) no endereço
www.futebolcapixaba.com e na página da entidade nas redes sociais. A
previsão é de que a próxima turma seja aberta em agosto, já que a
escola passa por uma reformulação da grade de conteúdos. Para
participar é necessário ter, pelo menos, 16 anos de idade. Há o
pagamento de taxa na inscrição, mas o valor ainda será definido.
Mais informações: 3038-7816
Fonte:
Tribunaonline - Por Leone Oliveira