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 05/04/2019    07:01hs

Donas do apito e das bandeiras

Quadro de arbitragem da Federação do Espírito Santo tem maior participação feminina dos últimos cinco anos, com 13 árbitras

Duas gerações da arbitragem: Vanessa Guijansque e a tia Neide (Foto: Kadidja Fernandes)
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"Quando vesti esse uniforme me deu uma nostalgia e as lágrimas vieram aos olhos". A confissão é da ex-árbitra Neide Guijansque, de 60 anos, uma das primeiras mulheres a atuar no futebol profissional no Espírito Santo. Neide fez o curso de arbitragem no fim da década de 1980 e trabalhou como árbitra central e bandeirinha, chegando ao quadro da CBF. Para chegar lá, venceu a desconfiança e o machismo de dirigentes e jogadores.

A luta dela e de outras companheiras fez crescer o interesse das mulheres pela arbitragem. Tanto que, atualmente, a Federação de Futebol (FES) tem 13 mulheres em seu quadro de arbitragem. Todas atuam como bandeirinhas em jogos profissionais.

O secretário da Comissão de Arbitragem da FES, Carlos Eduardo Depizzol, afirmou que esse número tem aumentado a cada ano. Em 2014, eram apenas três árbitras. Nos anos de 2015 e 2016, passou para cinco. Em 2017 e 2018, subiu para 11 mulheres.

“Tentamos dar todas as oportunidades e garantias para que essas mulheres possam vir não só para o futebol, mas para a arbitragem” - disse Depizzol.

No último dia 10, foi formada mais uma turma do curso de arbitragem. Dos 39 alunos aprovados, três são mulheres.

Sobrinha de Neide, Vanessa Guijansque, 33 anos, é uma das árbitras recém-formadas. Ela espera continuar um legado da família na arbitragem, que começou com o pai, Robson, e ainda teve o tio Cláudio e o irmão, Rafael.

“Meu primeiro contato com a arbitragem foi aos 12 anos, quando fiz um curso com meu irmão, que tinha 13 anos, e meu pai era o professor. Atuávamos em jogos infantis, mas cheguei a trabalhar como bandeirinha em um jogo festivo de funcionários de uma empresa” - contou Vanessa.

A bandeirinha diz se espelhar na tia e quer chegar longe da mesma forma do que Neide.

“Já faz tempo que ela saiu da arbitragem, mas, ainda hoje, minha tia é lembrada e reconhecida com mérito. Isso me traz orgulho e me incentiva a fazer o mesmo” - frisou ela.

Por conta de sua experiência na arbitragem, Neide aconselha a sobrinha: “Ela tem que ter muita força e determinação”.

Katiúscia apita no amador

Katiúscia Berger - Crédito: futura Press

Há 19 anos no quadro de arbitragem da Federação de Futebol do Espírito Santo (FES), a bandeirinha Katiúscia Berger, de 41 anos, é a árbitra há mais tempo em atividade no Estado.

A árbitra assistente está no quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desde 2003. Ela fez parte do quadro da FIFA, entre 2007 e 2015, atuando em três Mundiais Femininos — Militar, em 2010; Universitário, em 2011; e sub-17, em 2014 —, além de 14 competições sul-americanas.

“Ter chegado à FIFA é muito gratificante. Me sinto muito realizada”, comemora Katiúscia, que prefere mesmo é apitar jogos, paixão que ela realiza hoje em partidas de campeonato amador.

“Eu iria fazer a prova para árbitra central, mas para a mulher chegar apitando é mais complicado. Para ser assistente é mais fácil por conta das escalas”, contou Katiúscia.

Já a também bandeirinha Thays Passos Santos, de 31 anos, está entre as novatas do quadro da FES.

Ela se formou na turma que terminou o curso em 10 de março deste ano e aguarda pelas primeiras escalas, mas já sonha um dia chegar ao quadro da CBF.

“No final do meu primeiro jogo no amador, parei e pensei: 'Não acredito que consegui!'. Me senti realizada”, lembrou Thays.

Marido fez curso para incentivar

Thays recebeu o apoio do marido para entrar na arbitragem (Foto: Kadidja Fernandes/AT)

Semelhante ao caso de Vanessa Guijansque, que teve o exemplo dentro da família para seguir o caminho da arbitragem, a bandeirinha Thays Passos Santos, de 31 anos, também teve em casa o incentivo. Mas, no caso dela, o apoio veio do marido, Antônio Araújo da Cruz.

Thays explicou que Antônio já é árbitro de competições amadoras há cerca de 10 anos,como árbitro central. Entretanto, ele decidiu fazer o último curso de arbitragem junto da mulher para incentivá-lo no conhecimento.

“Eu acompanhava ele e acabei me interessando. Teve esse curso e ele perguntou se eu não tinha interesse em participar. Meu marido me incentivou e me acompanhou no curso, apesar de já trabalhar como árbitro”, contou ela.

Os dois foram aprovados e, agora, esperam pelas primeiras escalas para trabalhar nas competições como árbitros da federação. A previsão é que isso aconteça nos próximos meses.

Nesses jogos, ela pretende levar para campo as dicas que o marido já passou para que ela não se incomode com os insultos que vêm da arquibancada.

“Ele mesmo já falou comigo para não dar ouvidos. Disse que vou ouvir muita crítica e vai ficar muita gente me xingando, mas que não era para dar ouvidos, fazer meu trabalho e fingir que não estou escutando nada”, revelou.

Curso de formação no Estado dura até oito meses
O secretário da Comissão de Arbitragem da Federação de Futebol do Espírito Santo (FES), Carlos Eduardo Depizzol, adiantou que mudanças serão feitas na formação dos novos árbitros e também na capacitação daqueles que já atuam.

Para ingressar no quadro de árbitros da FES, árbitras e bandeirinhas precisam passar pelo curso de formação da Escola de Árbitros Gabino Rios (Esagrios).

“O curso tem duração de sete a oito meses. Porém, estamos reformulando a escola e montando uma nova grade de conteúdos. Provavelmente, a partir de agosto, quando a nova turma deve ser iniciada, o curso terá duração de um ano”.

Também serão feitas avaliações escritas e práticas com os árbitros em campo em competições de base para que sejam avaliados.

Já os árbitros formados vão passar por encontros semanais para receberem orientações sobre a aplicação das novas regras, além de analisar e debater vídeos de jogadas de partidas dos Estaduais.

ANÁLISE
Ana Paula Oliveira, diretora do Curso Nacional de Formação de Arbitragem da CBF

Ana Paula - Crédito: Lucas Figueiredo/CBF

“Maior desafio ainda é lutar contra o preconceito”

“Entendo que estamos vivendo um novo momento da arbitragem feminina. Hoje, no quadro nacional, possuímos 80 mulheres entre árbitras e assistentes. O trio brasileiro foi convocado para o Mundial Feminino, na França.

A participação de assistentes na primeira e segunda divisão do Brasileiro e o trabalho de desenvolvimento da arbitragem feminina estão contribuindo para o interesse de mulheres que gostam de esporte e, em especial de futebol, para se tornarem árbitras e assistentes.

O maior desafio das mulheres ainda é lutar contra o preconceito e pela igualdade profissional. Entendo que, aos poucos, essas barreiras estão sendo superadas. Ser árbitro de futebol é saber trabalhar com pressão o tempo todo e, no caso das mulheres, além da pressão normal, há também a questão do machismo” -
disse Ana Paula.

As 13 mulheres da arbitragem capixaba:
Katiúscia Berger, 41 anos
Marcielly Netto, 26 anos
Natiele Jaretta, 24 anos
Mayara Eller, 29 anos
Fabiola Muniz, 35 anos
Risolena de Sousa, 32 anos
Sandy Teixeira, 23 anos
Márcia Maretto, 40 anos
Mayara Locateli, 23 anos
Luzinete Gonçalves, 48 anos
Vanessa Guijansque, 33 anos
Ana de Oliveira Mota, 26 anos
Thays Passos Santos, 31 anos

Curso de arbitragem
Os cursos da Escola de Árbitros Gabino Rios são divulgados no site da Federação de Futebol do Espírito Santo (FES) no endereço www.futebolcapixaba.com e na página da entidade nas redes sociais. A previsão é de que a próxima turma seja aberta em agosto, já que a escola passa por uma reformulação da grade de conteúdos. Para participar é necessário ter, pelo menos, 16 anos de idade. Há o pagamento de taxa na inscrição, mas o valor ainda será definido.

Mais informações: 3038-7816
 

Fonte: Tribunaonline - Por Leone Oliveira

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