Após ser excluído do quadro de
árbitros da FIFA, Gutemberg acusou duramente o presidente da
Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf), Sérgio Corrêa, de
corrupção. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, na época, o árbitro
disse que Corrêa era “mariquinha, mentiroso e corrupto”.
“Isso é uma perseguição. Não
existe nada tecnicamente que me tire da FIFA, mas perdi o cargo por
não aceitar a interferência do Sérgio. Não atendo aos anseios dele”
- afirmou Fonseca.
Denúncia
O ex-árbitro afirmou que o então
presidente do Conaf (foto acima) beneficiava clubes em troca de
favores políticos e até mesmo dinheiro. Para “armar o esquema”,
Gutemberg disse que Sérgio Corrêa obrigava os árbitros a ligarem
para o dirigente para repassar as escalações e, assim, receber as
“recomendações” de Corrêa.
“Ele inventou a situação de
que quando o árbitro recebe a escala, deve ligar para ele e receber
recomendações. Eu tenho provas para que essa sujeirada seja lavada”
- afirmou Gutemberg à Jovem Pan.
“Eu, por exemplo, fui
escalado para um jogo entre Corinthians e Goiás, em que o
Corinthians ganhou por 5 a 1. E antes do jogo, ele disse assim: ‘Vai
lá, boa sorte. Vai apitar o jogo do Timão, hein’. O que eu posso
entender disso? Que se o Corinthians não ganha eu podia, para o
resto da vida, não ser escalado. Ser punido e ficar fora. Tem muito
mais coisa, tudo fundamentado e documentado, com provas. A nossa
relação começou a se acirrar porque parei de ligar” - disse se
referindo a uma partida que apitou no Campeonato Brasileiro de 2010.
O árbitro não parou por aí, já que
o profissional afirmou que a escalação do árbitro era feita com uma
promessa de nova escala caso o juiz atuasse bem.
“Entendo isso como
corrupção. Antes do jogo, o Sérgio já promete algo ao juiz. Não
aprovo isso e fiquei por muito tempo sem falar com ele neste ano”
- disse.
Repercussão mundial
Com tão grave acusação, a FIFA
imediatamente se pronunciou, dizendo que iria investigar os fatos.
Na época, a entidade organizou uma operação mundial contra
corrupção.
“Estamos interessados em
saber mais sobre essa denúncia” - indicou o chefe de segurança da
FIFA, Chris Eaton.
Na época, o profissional disse não
se surpreender com as acusações.
“Há muito dinheiro no
futebol e os criminosos querem esse dinheiro” - afirmou Eaton.
Por sua vez, Gutemberg afirmou que
comunicou os seus advogados que estaria à disposição da FIFA durante
as investigações.
Telhado de vidro
Mas esta lama da arbitragem não
atingiu apenas Corrêa. No mesmo ano da explosão do escândalo, a ESPN
divulgou uma matéria onde árbitros não identificados (foto acima)
acusavam Gutemberg de ter manipulado resultados em jogos da série B,
em 2009. Os colegas afirmaram que Gutemberg manipulou os rumos de
partidas “em troca de prestígio político, de escalas para jogos
maiores e até mesmo pagamento em dinheiro”.
A reportagem cita como o “caso
mais impressionante” uma partida entre Brasiliense e América de
Natal, em 2009, onde o árbitro ligou para a CBF do centro-oeste,
forçando o resultado:
“Tem que dar Brasiliense,
vamos lá, vamos trabalhar para a gente fazer a nossa vida, pra gente
ser melhor escalado” - disse Gutemberg, segundo um dos árbitros
denunciantes.
Para muitos, Gutemberg só teria
exposto o que sabe, depois da exclusão do quadro da FIFA.
“Eu tenho um documento
protocolado por ele em que eu peço, em 2007, para que todas as
minhas denúncias sejam publicadas no site da CBF. E elas não foram”
- disse Gutemberg.
Toma lá, dá cá
Mas “o buraco é mais embaixo”. Há
rumores que a expulsão do árbitro foi por conta de sua participação
no projeto de construção de um CT para arbitragem em Jacarepaguá, no
Rio de Janeiro. O projeto trazia um espaço moderno, com direito a
mini-hotel e projeto para jovens carentes da região.
O projeto era do Sindicato dos
Árbitros de Futebol do Rio de Janeiro e teve o vereador Fernando
Moraes (PR) como padrinho. Inclusive, Gutemberg era assessor de
Moraes na Câmara Municipal, na época. O terreno seria doado pela
prefeitura e a construção ficaria por conta do sindicato. A acusação
é que o projeto só existiu para Gutemberg ganhar o escudo da FIFA
durante 2011.
“O que não falam é que eu
tentei o escudo de 2007, e fui só conseguir em 2010 [para exercer em
2011]” - defendeu-se.
E não se fala mais nisso!
O que se tem até o momento é que
Gutemberg (foto acima) permanece atuando na política, já que nas
eleições de 2022 se tornou deputado federal suplente pelo PL.
Já Sérgio Corrêa atuou como líder
do Departamento de Arbitragem/Projeto VAR por 17 anos, até abril
último. Demitido da Confederação, afirmou que “a arbitragem
brasileira é honesta, não tenho dúvida disso (…)”.