A FIFA e a International Football Association Board (IFAB), órgão que
regulamenta as regras do futebol, deram no ultimo sábado (05/03)
sinal verde para testar o uso de imagens de vídeo para auxiliar
árbitros em partidas. A decisão é histórica para o futebol e, caso
seja adotada, promoverá o maior impacto nas regras da modalidade em
mais de cem anos.
A entrada do uso de imagens de vídeo no futebol foi a principal
questão discutida no 130º encontro anual da IFAB, em Cardiff, no
País de Gales. As avaliações começarão nos próximos meses e devem
ser realizadas por, no mínimo, dois anos. Em um primeiro momento,
não serão realizadas em jogos oficiais.
"Tomamos uma decisão realmente histórica para o futebol", disse o
recém-eleito presidente da FIFA, Gianni Infantino, em Cardiff.
"Mostramos que estamos ouvindo o apelo de fãs, jogadores e do
futebol em si. Estamos aplicando o senso comum. É claro que temos
que ser cautelosos, mas também estamos abertos a tomar medidas
concretas." – frisou Infantino.
A IFAB autorizou testes nos quais os árbitros poderão recorrer ao
auxílio eletrônico em quatro momentos determinantes numa partida –
gols, cartões vermelhos, penalidades e identificação de um jogador.
O procedimento envolverá um assistente de vídeo, que poderá ou
revisar a jogada a pedido do árbitro ou avisá-lo sobre algum lance
que tenha passado despercebido. A IFAB rejeitou a idéia de permitir
que os treinadores possam pedir a revisão de certas cenas, como é
habitual no futebol americano (NFL).
Outras mudanças
Além do uso de imagens de vídeo, o encontro em Cardiff também
discutiu outras mudanças nas regras do futebol. Entre elas, que a
bola não precisará mais ser tocada para frente no apito inicial; que
um jogador lesionado após uma falta de cartão amarelo ou vermelho
não precisará mais deixar o campo para ser atendido, já que esta
medida teoricamente dá vantagem numérica ao time adversário.
O órgão também admitiu que a chamada "punição tripla", quando um
jogador é expulso por cometer um pênalti, poderá ser revista. A IFAB
ainda considera permitir uma quarta substituição em partidas que
forem à prorrogação.
Acelerar
o processo
Entidade máxima do futebol deseja fazer testes
apenas em 2017, mas presidente da Comissão de Arbitragem, Sérgio
Corrêa, está disposto ''a acelerar esse processo''. O limite dado
peça entidade internacional para o início dos testes foi agosto de
2017, mas a CBF não quer perder tempo e pretende aplicar tudo um ano
antes.
"Serão necessários cinco meses, a partir de
agora, de pré-testes e de treinamento dos técnicos e assistentes.
Acreditamos que poderemos usar ainda este ano, no segundo semestre",
declarou Sérgio Corrêa, chefe do departamento de arbitragem da CBF.
Sérgio Corrêa, aguarda o documento da
International Board (IFAB) com o cronograma oficial elaborado. No
entanto, diz que a CBF já está preparada para a implementação neste
ano.
"Nos reunimos em Londres, pedimos para
tentar iniciar os testes em maio, mas entenderam que não seria
possível. Pelo que nos foi passado após essa reunião, a IFAB quer
fazer uma ampla divulgação, trabalhar com calma, treinar os
instrutores e árbitros, explicar para os clubes e torcida. Mas
estamos dispostos a acelerar esse processo e tentar para agosto.
Pelo que foi divulgado, a intenção da FIFA é fazer os testes somente
a partir do ano que vem. Temos que aguardar o documento da FIFA com
as orientações” – declarou Sérgio.
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Da esquerda
para a direita: Manoel Serapião, autor do projeto
"Árbitro de vídeo", Lukas Brud e David Elleray, da
International Board, e Sérgio Corrêa, em reunião em
Londres no último dia 23 de fevereiro (Foto: CBF) |
Segundo Corrêa, o projeto idealizado pela
FIFA, chamado de Vídeo Assistant Referees (Árbitro assistente de
vídeo, em português), é inspirado no “Árbitro de vídeo”, proposta
criada pelo ex-árbitro Manoel Serapião Filho. A entidade máxima do
futebol apenas acrescentou alguns detalhes e estipulou mais regras.
O primeiro pedido da CBF à International Board para o uso de vídeo
na arbitragem ocorreu em setembro do ano passado, mas a IFAB vetou.
Após o veto, o secretário-geral da instituição, Lukas Brud, disse,
em entrevista que levaria o projeto para votação.
Custos
A CBF já levantou custos, fez estudos com
empresas de tecnologia de imagens que trabalham em outros esportes e
estimou que precisa de um orçamento entre R$ 12 milhões e R$ 15
milhões para implantação da estrutura técnica em todos estádios da
Série A, com até oito câmeras específicas exclusivas para o árbitro
de vídeo. Entre os próximos dias 15 e 17 de março, a Comissão de
Arbitragem, já com o cronograma da FIFA em mãos, reunirá os árbitros
e assistentes e dará detalhes sobre seus planos.
"Já estamos com tudo engatilhado. Se fosse
liberado para maio, teríamos que acelerar o processo, mas já estamos
preparados. Temos que escolher um grupo de árbitros e grupo de
assistentes, ter um treinamento específico e escolher bem quais
serão essas pessoas que atuarão como árbitro de vídeo. Temos reunião
já agendada de 15 a 17 no Rio para preparar toda essa situação
técnica. A própria CBF já procurou várias empresas, fizemos reuniões
informais para tratar do assunto da geração de imagens. Vamos fazer
em todos os estádios" - informou o presidente da CA-CBF,
Detalhes
do projeto
O recurso do vídeo será permitido somente em
quatro ocasiões: para determinar se um gol foi marcado, em casos de
expulsão, marcações de pênalti e para identificar um determinado
jogador, caso haja suspeita de punição equivocada a um atleta. A
tecnologia não servirá para lances de impedimento, a menos que seja
uma clara situação de gol. Segundo Corrêa, técnicos, jogadores ou
qualquer membro de comissão técnica não poderão requisitar a revisão
de um lance. A decisão partirá apenas do árbitro principal.
"Em campo, ninguém pode fazer indagação ao
árbitro. Somente o árbitro central pode pedir revisão. Nenhum
jogador, nem treinador, ninguém pode pedir o uso de vídeo. Os
assistentes podem recomendar ao árbitro, mas também não podem pedir.
Outra coisa que foi bem colocada pela IFAB e pela FIFA é que o
assistente técnico e o árbitro de vídeo não poderiam receber o áudio
das imagens. O árbitro de vídeo teria, em tese, o mesmo olhar do
juiz principal, mas com vantagem do corte" – avaliou Sérgio.
O experimento será feito da seguinte forma:
haverá um assistente com acesso aos vídeos e, caso o árbitro o chame
em lances duvidosos, ele vai parar para assistir aos replays. Ele
terá poder também de chamar o juiz, caso o mesmo não tenha observado
alguma determinada infração. Os órgãos responsáveis ainda vão
escolher uma universidade para conduzir o experimento. Sérgio Corrêa
ressaltou que as imagens usadas para a análise dos lances não serão
as mesmas das transmissões dos jogos. Serão retiradas de câmeras
próprias da CBF.
A preocupação da FIFA e das demais entidades
que administram o futebol é não alongar ainda mais o tempo das
partidas. A CBF ainda estuda como fará a escala e a remuneração dos
árbitros de vídeo. Mas prevê menos reclamações.
Como é
em outros esportes
O recurso do vídeo já é usado há muito tempo
em outros esportes. Na NBA, os árbitros são aconselhados a revisar
em vídeo lances duvidosos, sobretudo quando o relógio está zerando.
Desde 2006, o tênis recorre ao recurso do vídeo para ajudar a
esclarecer dúvidas em lances polêmicos. O sistema é o de desafio.
Quando o jogador discorda da marcação do árbitro, ele pode pedir a
revisão da jogada no vídeo.
O próprio árbitro principal também pode
solicitar o auxílio do vídeo quando ficar com dúvida. O vôlei se
inspirou no tênis para, a partir de 2012, gradativamente implementar
o uso do Hawk-Eye (olho de águia). Cada equipe pode desafiar pelo
menos duas vezes por set a decisão da arbitragem.
A NFL (National Football League, liga de
futebol americano) é uma das mais antigas a adotar o uso do vídeo
para tirar dúvidas. O primeiro teste foi realizado em um jogo
isolado em 1976, quando os organizadores do campeonato começaram a
estudar o tempo que a revisão de jogadas poderia levar. O sistema
utilizado é o de desafio. Pelas regras atuais, cada time tem direito
a dois por jogo, que devem ser feitos pelo técnico, que atira uma
toalha vermelha no campo. Em 2012, a Federação Internacional de Judô
implementou o uso de vídeos. Em vez de três árbitros no tatame,
passou a ter apenas um, com outros dois analisando a luta em um
monitor.
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