|
Presidente da FPF, Amadeu
Rodrigues, está entre os indiciados - Foto: Cisco
Nobre/GloboEsporte.com |
Depois de mais de 70 dias da deflagração da 'Operação Cartola', o
Ministério Público da Paraíba (MPPB) apresentou, na ultima
quarta-feira (20), denuncia, à 4ª Vara Criminal de João Pessoa,
contra 17 pessoas. O MP acusa o grupo de integrar um esquema de
manipulação de resultados no futebol profissional da Paraíba.
Segundo a denúncia, a manipulação beneficiaria dirigentes de times,
funcionários, Comissão de Árbitros e do Tribunal de Justiça
Desportiva, todos eles ligados a Federação Paraibana de Futebol
(FPF). Nas 87 paginas da denuncia com farto material comprobatório,
o Ministério Público também pediu a destituição de todos os réus que
ocuparem cargos nas entidades, FPF, Comissão de Árbitros e TJD.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado
(Gaeco), do MPPB, o controle e a manipulação de jogos e resultados
se dava há pelo menos 10 anos por parte de dirigentes da FPF, de
integrantes da Comissão de Árbitros, além da participação da
presidência e da procuradoria do TJD. Nesse período, várias
denúncias foram arquivadas, sem que tivessem sido apuradas.
O objetivo principal da organização, segundo a denuncia, era obter
vantagens econômica, política e associativa. As denúncias oferecidas
aos 17 acusados foram pelos crimes de organização criminosa,
falsidade ideológica e crimes contra o futebol (Estatuto do
Torcedor).
As investigações apontam que a organização criminosa se dividiu em
núcleos (gestores/líderes; supervisores e logística), com
atribuições distintas que, após praticar os crimes principais (a
manipulação dos resultados das partidas de futebol), utilizavam-se
de influência política e social, para praticar diversos outros
delitos subsidiários, que eram imprescindíveis para o sucesso da
empreitada criminosa, como a utilização de documentos falsos, a
intimidação de testemunhas, a ocultação e destruição de provas,
entre outros.
|
Ornograma da organização criminosa |
Segundo o MPPB, os resultados dessas ações geravam elevados desvios
econômicos, prejuízos financeiros e prejuízos que também atingiam a
esfera moral da sociedade, com o descrédito no futebol paraibano.
As 87 paginas da denuncia esmiúça com riqueza de detalhes toda a
investigação. O Apitonacional
teve acesso aos autos da denuncia que teve sua origem por meio da
instauração do Inquérito 196/2017, posteriormente tombado
judicialmente sob o no 0008300-72.2017.815.2002, oriundo da
Delegacia de Defraudações de João Pessoa/PB. Com o desencadeamento
das investigações se clarificaram diversos fatos além dos indicados
na referida queixa-crime, e que apontavam para a existência de uma
Organização Criminosa que agia há pelo menos há 10 (dez) anos sem
que os órgãos responsáveis por ele tomassem qualquer medida cabível
no caso em concreto.
Segundo a denuncia, o principal meio utilizado para as alterações
dos resultados dos jogos quanto às manipulações dos resultados, eram
feitas, de início, por fraudes nos sorteios dos árbitros a serem
escalados. Dessa forma, a partir do direcionamento de árbitros que
integravam a organização criminosa, para atuarem em partidas de
futebol cujos resultados interessavam ao grupo criminoso. As
manipulações se dariam, sobretudo, com a parcialidade dos referidos
profissionais durante as arbitragens.
Sobre tais premissas, os árbitros atuavam de maneira a facilitar os
resultados almejados pela organização. Para tanto, se utilizavam de
impedimentos, pênaltis, faltas, escanteios, acréscimos, entre tantas
outras normas do esporte, para que, na medida do possível, pudessem
favorecer o interesse do grupo criminoso ora denunciado.
Como descrito acima, 17 pessoas foram denunciadas, abaixo breve
descrição da participação de algumas delas diretamente ligada a
arbitragem que, segundo o MP, pertencem a organização criminosa
investigada e denunciada à justiça.
Amadeu
Rodrigues da Silva Junior
Durante as averiguações foi comprovado que Amadeu Rodrigues,
presidente da FPF, desempenhava um papel crucial na ORCRIM. Neste
sentido, apontado como líder do esquema, gerenciava acordos
diretamente com dirigentes de diversos clubes de futebol,
adulterando súmulas de jogos, participando de manipulações de
resultados, entre outros fatos criminosos devidamente comprovados
nos autos.
Degravação (abaixo) de áudio constatou a influência de Amadeu nos
sorteios dos árbitros a serem escalados nos jogos. No diálogo,
Varela indaga Amadeu a respeito da realização de sorteio, momento em
que este não autoriza a realização do evento. Os fatos, portanto,
demonstram que Amadeu detinha o poder sobre os referidos sorteios.
José Renato
Albuquerque Soares
Principal nome na CEAF - Comissão Estadual de Árbitros de Futebol -
José Renato (Zé Renato), durante todos os eventos já mencionados,
foi de algum modo citado no circuito criminoso, sendo, segundo a
denuncia, um dos principais lideres da ORCRIM.
Segundo a denuncia,
o nível de atuação de Zé Renato no que tange às manipulações de
resultados, chega ao patamar de toda e qualquer falta de respeito,
ética e profissionalismo em relação ao seu cargo de Presidente da
CEAF, sendo que o mesmo foi flagrado por diversas vezes e formas
manobrando os sorteios de árbitros para atuarem nos jogos. Nesse
sentido, as escalações sempre atendiam interesses da ORCRIM.
Em diálogo ocorrido
no dia 15/02/2018, às 08h 41min, Zé Renato e Breno tratam a respeito
de um acordo, cujo escopo era beneficiar o Botafogo em troca de
vantagens financeiras. A conversa demonstra ainda, DE FORMA DIRETA,
o modo como os árbitros seriam escalados com a função de fazer o
time do Botafogo se beneficiar, comprovando, assim, a manipulação do
resultado.
Genildo
Januário
Surpresa na denuncia, sendo que não apareceu em nenhum momento nas
investigações a não ser como testemunha, Genildo Januário é
apresentado pelo MP como um dos principais líderes da ORCRIM.
Segundo a denuncia, na condição de Vice-Presidente do Sindicato dos
Árbitros, além de membro de confiança de dirigentes da FPF e da
CEAF, mantinha vínculo direto com Zé Renato, bem como, Amadeu
Rodrigues - Presidente da FPE - e por esse ângulo que suas ações
teriam íntima ligação com os direcionamentos feitos por ambos.
O relatório aponta
Genildo como traíra, pois segundo as investigações, teria desfeito
da lealdade à Rosilene para fins de atuar em detrimento da ORCRIM.
Nesse sentido, conversa entre Rosilene e HNI (abaixo), em
11/02/2018, às 12h53min, revelou que GJS se utilizava de seu cargo
para repassar informações privilegiadas a Amadeus Rodrigues.
As investigações
apontaram de forma mais clara a comprovação da participação de
Genildo na ORCRIM na conversa interceptada entre João Bosco e Zé
Renato. Na ocasião, os interlocutores avisam que Genildo teria
enviado mensagem de whatsapp para vários membros da ORCRIM, os
alertando acerca de investigação do GAECO e da Policia Federal. Em
outra conversa (abaixo) Rosilene diz a Zé Renato que Genildo não
seria de confiança e que estaria ganhando muito dinheiro.
O MP descreve que
por sua liderança e prestigio com os árbitros investigados, aliada a
sua influência na FPF e na CEAF, demonstrava ser de grande valia a
atuação de GJS para o pleno funcionamento do sistema criminoso
apresentado na peça acusatória.
Eder Caxias Meneses
A denuncia aponta o
árbitro Eder Caxias com função a serviço da organização criminosa,
com supostos manipulação de diversos resultados em torno das
partidas de futebol investigadas. Desta feita, além das
interceptações telefônicas, alguns depoimentos enfatizam sua
participação direta na ORCRIM.
O MP destaca o
depoimento (abaixo) de Griseildo de Sousa Dantas que disse ter sido
interpelado por Amadeu Rodrigues para que criasse uma falsa doença
que o impossibilitasse de apitar um jogo decisivo entre Campinense e
Auto Esporte pelo campeonato paraibano de 2017. Segundo Sousa
Júnior, o motivo seria substituí-l0 por Éder para que este atuasse
no sentido de beneficiar o grupo criminoso.
Segundo ainda o
depoimento de Sousa Júnior, as quantias financeiras utilizadas nas
negociatas fraudulentas chegavam às cifras exorbitantes, de modo a
inferirmos alta lucratividade da ORCRIM.
Ainda foram
denunciados as seguintes pessoas: Breno Morais Almeida, Leonaldo dos
Santos Silva, Marinaldo Roberto de Barros, Severino José de Lemos,
Adeilson Carmo Sales de Souza, Antônio Carlos da Rocha, Antônio
Umbelino de Santana, Francisco de Assis da Costa Santiago, João
Bosco Sátiro da Nóbrega, José Maria de Lucena Netto, Tarcísio José
de Souza, Josiel Ferreira da Silva e José Araújo da Penha.
Os árbitros Renan
Roberto de Souza, Francisco Carlos do Nascimento (Chicão), Claudio
Francisco Lima e Silva e Pablo dos Santos Alves, todos eles do
quadro da CBF consta da denuncia como declarantes ou testemunhas e
contra eles não há qualquer acusação.
Conversamos com uma
pessoa ligada ao MP que não quis se identificar e segundo essa
pessoa, as 17 denuncias é referente a um único processo. Segundo
ainda essa pessoa, a 'Operação Cartola' foi desmembrada em seis
processos pela quantidade de crimes cometidos pela ORCRIM.
O relatório foi
encaminhado a 4ª Vara Criminal de João Pessoa que decide se aceita
ou não as denuncias contra os acusados.