
Não dá mais para seguirmos no
carrossel de decisões desconexas e controversas de um jogo para o
outro, de um juiz para o outro, de um estádio para o outro em lances
absolutamente iguais
A decisão da CBF de mudar a gestão
da comissão de arbitragem, anunciada nesta quinta-feira, dia 13, é
um sopro de esperança para a melhora do nível técnico do apito do
futebol brasileiro. É também, e antes de tudo, um mea-culpa da
entidade, que neste processo de alteração reconhece as deficiências
do serviço prestado pelo quadro nacional de árbitros em todas as
instâncias do futebol profissional.
Não havia mais como a CBF fingir
que estava tudo bem, fechando os olhos para os graves erros de
arbitragem que vinham comprometendo, inclusive, a lisura dos
resultados de campo.
A administração de Wilson Luiz
Seneme, demitido nesta semana, foi um fracasso. Do ponto de vista
técnico, os árbitros de campo cometeram erros imperdoáveis e os
profissionais escalados para atuar nas cabines do VAR foram além, na
medida em que brigaram com a imagem e insistiram no erro em várias
partidas.
Sem dinheiro nada vai mudar
Há uma infinidade de exemplos que
justificam as reclamações de técnicos, dirigentes, jogadores e
torcedores, contra decisões que prejudicaram um time aqui e acolá.
Tomara que essa mudança de agora
não seja mais uma perfumaria, posto que a CBF já mexeu bastante
nessa estrutura e nunca conseguiu chegar a um resultado de
excelência. Principalmente porque a entidade, rica, de cofres
recheados, jamais decidiu investir em uma política de
profissionalização dos juízes de futebol.
Na teoria, todos os que trabalham
na arbitragem não podem depender economicamente do dinheiro ganho
nas escalas e precisam comprovar outra profissão.
O apito, então, é tratado como um
bico, uma atividade paralela, o que acaba prejudicando a formação
dos árbitros, que precisam achar tempo livre em suas atividades
outras para cuidar da parte física, por exemplo, e estudar as
atualizações das regras e as nuances da aplicação das leis do jogo
para cada lance.
Falta padrão para tudo na
arbitragem
Parece que caminhar para a tão
sonhada profissionalização está no plano de metas da renovação
proposta pela CBF. Que bom se isso se confirmar. Só isso, no
entanto, não será o bastante. Sejam profissionais ou ainda amadores,
os árbitros brasileiros precisam, historicamente, de uma política
efetiva de padronização dos critérios de arbitragem.
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Mudança na arbitragem tem como objetivo,
segundo o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues,
profissionalizar árbitros / CBF |
Não dá mais para seguirmos no
carrossel de decisões desconexas e controversas de um jogo para o
outro, de um juiz para o outro, de um estádio para o outro em lances
absolutamente iguais.
Para não ir muito longe, fiquemos
apenas na questão sempre polêmica dos pênaltis marcados e não
marcados pelo toque de mão na bola dentro da área. Cada semana vemos
uma interpretação diferente para lances absolutamente iguais.
Tudo bem que a regra dá ao árbitro
esse salvo conduto da interpretação pessoal da jogada, mas não é
possível que isso leve a tantas decisões diferentes em espaços de
tempo tão curtos. No mesmo jogo o juiz pode marcar um pênalti e
ignorar outro em situações muito parecidas de mão na bola.
E o VAR, ajuda ou atrapalha?
Ampliando o leque, isso vale para
falta grave, aplicação de cartão amarelo, cartão vermelho, jogo de
ombro, carrinho…
Fora isso resta uma esperança de
que o VAR trabalhe para o bem da lisura do jogo e para a eficiência
das marcações de acordo com o que estabelecem as regras.
Infelizmente no Brasil, o VAR tem atrapalhado mais do que ajudado,
até por conta de um sistema intervencionista do modelo aplicado por
aqui.
Hoje o árbitro de campo é quase um
mensageiro das orientações que recebe da cabine através do ponto
eletrônico.
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Sede da CBF, na Barra da Tijuca, Rio:
entidade demite Seneme da arbitragem e contrata
especialistas estrangeiros / CBF |
O que leva ao problema de termos
um jogo apitado em campo e outro apitado na tela do VAR, com
sobreposições de câmeras, slowmotion e imagens repetidas diversas
vezes por vários ângulos. Mas que não levam em conta o timing da
bola rolando numa disputa real. O jogo visto na TV não é o mesmo
jogo que se vê dentro de campo.
Há tecnologia mais modernos
Em relação ao VAR, chegou a hora
de um investimento pesado em tecnologias mais avançadas, em
substituição ao grafismo, já anacrônico, do sistema de checagem de
impedimento. Esse modelo de linhas traçadas pelo árbitro de cabine é
ultrapassado e nunca foi preciso.
Quem entende de edição de vídeo
sabe que milésimos de segundo influenciam na tomada do frame
perfeito. Isso faz toda a diferença na marcação de impedimento que
os árbitros convencionaram chamar de “lance ajustado”. Já há
tecnologia disponível mais moderna. Basta a CBF ter o interesse de
pagar por ela.
Por Nelson Nunes - The Football