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Quando
a árbitra Ruthyanna Medeiros Camila da Silva (foto) trilou o apito
pela primeira vez, na noite dessa quarta-feira, na partida entre
Botafogo-PB e São Francisco-BA pela Copa do Brasil de Futebol
Feminino, ela iniciou duas histórias: uma que se resolveria em 90
minutos e outra que passou a ficar na eternidade. Isso porque aquele
sopro de esperança para dois times que se enfrentavam no Estádio
Almeidão, em João Pessoa, também era o som de esperança para muitas
mulheres que buscam espaço no futebol. Ruthyanna, aos 21 anos de
idade, foi a primeira árbitra da Paraíba a comandar um jogo
organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O momento
histórico, por sinal, não parou por aí. Além da estréia de uma árbitra
no futebol do estado, essa também foi a primeira vez que um trio
paraibano de arbitragem, formado apenas por mulheres, foi colocado à
disposição para uma partida de futebol em qualquer categoria. A
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experiente Adriana Basílio (CBF-1), de 38 anos, e a também estreante
em jogos CBF, Flavia Renally Costa (CBF-3), de 24 anos, foram as
auxiliares do duelo vencido pelo São Francisco-BA por 1 a 0.
- A
partida foi muito bem disputada, como eu já esperava. Sei que dei o
meu melhor e isso é o que importa para mim. Essa estréia significa
um grande passo para a arbitragem paraibana, pois isso vai abrir as
portas para que outras mulheres possam chegar a esse patamar também.
Espero que incentive as mulheres. O fato de termos um trio agora só
de mulheres engrandece o futebol do estado para que mais mulheres
possam se interessar na arbitragem. Nós treinamos e estudamos igual
aos homens – analisou a árbitra.
Ruthyanna
nasceu em 1995, em Natal, no Rio Grande do Norte, mas aos oito anos
foi morar em Várzea, no Seridó paraibano. Aos 15 se mudou para Patos
para estudar e acabou fixando residência até hoje na Morada do Sol.
Amante do futebol desde pequena, foi justamente na terra de Nairon
Barreto que Ruthyanna, aos 17 anos de idade, ingressou na Liga
Patoense de Futebol. Em 2014, aproveitou um curso de arbitragem
realizado no Sertão pela Federação Paraibana de Futebol (FPF) e se
formou como árbitra.
- Meu gosto pela arbitragem teve muita
influência do meu marido Julio César, que trabalha atualmente como
auxiliar no quadro local. Tive minhas primeiras oportunidades com a
Liga Patoense. Um dia eu acompanhei meu marido em uma partida de um
campeonato local e o árbitro dessa partida faltou. E fui eu que
trabalhei em seu lugar. Depois disso nunca mais deixei a arbitragem.
Tive a chance de fazer um curso de arbitragem aqui em Patos. Antes
os cursos da FPF eram apenas em João Pessoa, mas Miguel Félix
(presidente da Comissão de Arbitragem da Paraíba em 2014) organizou
um aqui no Sertão e eu fiz. Me formei e no ano passado fui indicada
para entrar no quadro nacional para o futebol feminino. Agora quero
me aprimorar cada vez mais e honrar essa confiança que a atual
comissão tem em mim – comentou Ruthyanna.
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Flavia Renally Costa Faustino
da Silva, Ruthyanna Camila Medeiros da Silva, Clizaldo L M
Di Pace França e Adriana Basílio Soares Baracho |
Bastante jovem, Ruthyanna, que é estudante de Educação Física e
Medicina Veterinária, tem vários sonhos a perseguir ainda na
arbitragem. Um deles é conseguir ficar apta para apitar jogos também
do futebol profissional masculino, tanto no Campeonato Paraibano,
quanto nas competições nacionais. Para isso, ela precisa passar nos
testes físicos que a CBF realiza nos mesmos padrões da FIFA. Como as
provas exigem preparo e nível físico semelhante a de atletas de alto
rendimento do futebol mundial masculino, a dificuldade para as
mulheres atingirem a aprovação é flagrante.
Atualmente, no Brasil, apenas a pernambucana Deborah Cecília
Correia, que fez história esse ano ao comandar o confronto Murici x
Campinense pela Série D do Brasileiro, pode apitar jogos dos homens.
Desde 2007, quando Silvia Regina se aposentou, nenhuma mulher
apitava em competições profissionais nacionais masculinas.
-
Realmente o teste físico para o futebol masculino é bem complicado
para nós mulheres. Ano passado fiz o feminino e passei, mas o dos
homens eu reprovei. Estou treinando e me preparando para os testes
deste ano. No que depender de mim quero bastante participar de jogos
do futebol masculino tanto no meu estado, quanto em competições
nacionais - comentou a árbitra.
Aos 21
anos, Ruthyana Medeiros Camila da Silva é mais uma mulher a fazer
história e a fazer soar o apito de aviso de que as mulheres querem e
vão galgar espaços no futebol e em qualquer lugar.
Veja abaixo a
escala histórica.
Mulheres no apito
Apesar do
ineditismo no futebol paraibano, a arbitragem feminina não chega a
ser tão recente no país. Em 1967 Léa Campos se formou árbitra de
futebol pela Federação Mineira de Futebol. Seu diploma, no entanto,
foi bloqueado pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD)
que seguia o decreto-lei nº 3.199, em seu art. 54, de 1941, que
dispunha que “às mulheres não se permitirão a prática de desportos
incompatíveis com as condições de sua natureza”. Com o país estando
em plena Ditadura Militar, Léa foi acusada de subversão e, segundo
ela, chegou a ser levada por 15 vezes ao Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS).
Após
muita luta e bastante insistência em busca do seu sonho, Léa
conseguiu, em 1971, uma audiência com o ditador da época, Emílio
Garrastazu Médici, que pediu para que João Havelange, presidente da
CBD e antigo algoz da árbitra, autorizasse a sua participação num
torneio mundial de futebol feminino no México. Com a liberação, Léa
pôde seguir sua carreira e apitou vários jogos no Brasil e no Mundo.
Na
Paraíba, a arbitragem feminina não é das mais raras. Pelo menos em
outro futebol. O de salão. Atualmente duas paraibanas integram o
quadro da FIFA: Renata Leite e Alane Jussara. Já no futebol de
campo, Ruthyana é a única da Paraíba a integrar os quadros estadual
e nacional.
Com
informações:
vozdatorcida
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