A mãe mais
maltratada de todas, com certeza, é a mãe do árbitro. A torcida não
perdoa. Na hora de xingar o filho dela, acaba sobrando também para a
pobre coitada. E é covardia, pois ela não pode nem se defender. Ouve
em silêncio e torce sozinha para aquela pessoa que está com o apito
na boca ou com a bandeira na mão.
Ser mãe de árbitro
não é nada fácil. Minha mãe, Vera Lucia, que o diga.
Ela é apaixonada
por futebol. Assiste aos jogos pela TV e vai ao estádio até para
acompanhar jogo sub-15. Quando decidi virar árbitra, ela superapoiou.
Mal sabia o que vinha pela frente.
Eu morava em outra
cidade e só poderia visitá-la nos finais de semana, justamente
quando os jogos acontecem. Ou seja, eu quase nunca ia para casa.
Datas comemorativas, como o Dia das Mães? Nem pensar. Tinha de
trabalhar. Deixava de ver minha minha mãe para ouvir a torcida
xingando ela. Triste realidade.
No começo da
arbitragem, os jogos são amadores. Mal tem torcida. Transmissão de
TV, então, nem pensar. Ela era xingada, mas nem precisava saber.
Quando comecei a trabalhar em partidas maiores, televisionadas, aí
sim deu para ouvir a voz do torcedor. E mais do que isso, ver o
trabalho da filha exposto para o país inteiro. Quando as coisas vão
bem, ótimo. Mas, quando acontece um erro, é o inferno para uma mãe.
Ela sofreu junto, ficou com raiva junto e, como toda boa mãe, me deu
colo.
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Fernanda ao lado da mãe Vera Lúcia e
com o cachorrinho Bonner - Credito: Lucas Colombo |
O engraçado é que,
por ela acompanhar futebol, passou a torcer também pela arbitragem.
E fica solidária com os outros profissionais e as mães deles.
Afinal, ela sabe bem o que é passar por isso.
Uma vez, ela se
sentou em meio aos torcedores para ver um jogo meu. Claro, a torcida
não se conteve. Assim que começaram a me xingar, ela chamava
torcedor por torcedor e falava: “Sabia que ela é minha filha? Não
fala assim com ela!”. Eles ficavam envergonhados e paravam com as
ofensas. Imagina, arrumar briga com centenas de torcedores? Só sendo
mãe mesmo, uma leoa.
Quando decidi parar
com a arbitragem, minha mãe ficou preocupada se era mesmo essa
decisão que eu queria tomar. Ao mesmo tempo, senti que ela ficou
aliviada. Tirou todo aquele peso das costas. Agora é mãe de uma
ex-árbitra, com ex-xingamentos. Só tenho de agradecer a essa mãezona
que eu tenho e amo tanto.
Por Fernanda
Colombo -
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