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    São Paulo - 17/07/2023    07:54hs

Profissionalização é apontada como solução para a crise na arbitragem brasileira

Ex-árbitros criticam 'geladeira' imposta pela comissão da CBF aos profissionais do apito e fragilidade do profissional preocupa

Decisões da arbitragem são alvo de protestos entre os times - Crédito: César Greco / Palmeiras
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Por Gabriel Herbelha, do R7

A arbitragem brasileira passa por um momento de crise. Árbitros estão sendo afastados após erros crassos, dirigentes se esbravejam em coletivas, e o alto comando da CBF tenta se explicar.

A frase acima é atemporal, mas representa bem as últimas semanas no futebol do país. As discussões sobre apito tomaram conta das pautas dos programas esportivos e nas mesas de bar pelo país.

Sálvio Spinola e Renato Marsiglia, ex-árbitros que acompanham de perto as questões envolvendo as suas antigas ocupações, concordam que a arbitragem brasileira vive um momento de crise.

“O momento é crítico por conta do investimento pesado que a CBF fala que faz na arbitragem. A estrutura da arbitragem brasileira, hoje, é muito pesada: são 11 instrutores, com uma estrutura bem recheada, com muito treinamento, investimento e capacitação dos árbitros. Erros de arbitragem há no mundo inteiro, até em Copa do Mundo. A relação investimento e o momento de crise é desproporcional” - opina Salvio, que se aposentou em 2011, após 15 anos de atuação também como árbitro da Fifa.

Marsiglia, que apitou ae Copa do Mundo de 1994, e foi comentarista de arbitragem da RecordTV no Paulistão, concorda que o momento dos árbitros não é bom, mas acredita que falta uma blindagem por parte da CBF.

Wilton Pereira Sampaio - Crédito: César Greco / Palmeiras

“Quando acontece uma sucessão de erros, as reclamações aumentam, e evidentemente não tem como não influenciar no rendimento do árbitro dentro de campo. Ele é humano, ouve rádio, lê jornal, sofre pressões, principalmente dos clubes que estão disputando títulos e vagas de libertadores” - comenta.

Apesar das críticas, a CBF, representada pelo presidente da Comissão de Arbitragem, Wilson Seneme, defende a atuação do quadro, e pede para que o público “enxergue o copo meio cheio”.

Segundo avaliação da entidade, nas 140 partidas da série A do Campeonato Brasileiro, houve sete erros graves da equipe de arbitragem.

Em uma tentativa de justificar erros envolvendo a arbitragem brasileira, a CBF criou o “Papo de Arbitragem”, em que Seneme comenta alguns lances capitais do futebol brasileiro.

Sálvio defende que haja uma “posição didática” da entidade, mas ressalta que os comentários expõem a figura do árbitro ainda mais.

“Eu acho necessário, mas acho que não pode ter exagero. Entendo que esse modelo implantado atualmente pela CBF tem um exagero. É um show business, que tem colocado a arbitragem muito mais em exposição. Isso é desnecessário. Acho melhor o modelo mais didático, mas instrutivo do que esse modelo”.

“Reciclagem” proposta pela CBF ajuda?

Jean Pierre Goncalves Lima foi afastado após erro em jogo do Palmeiras - Crédito: César Greco / Palmeiras

Após um árbitro do quadro da CBF cometer um erro grave em uma partida de futebol, ele é incluído PADA (Programa de Assistência ao Desenvolvimento da Arbitragem), que no dialeto popular, é chamado de reciclagem, ou até mesmo de geladeira.

Para árbitros que normalmente apitam jogos da elite do futebol nacional, o retorno é em partidas da série B e C do Brasileiro.

“Não acho uma medida inteligente simplesmente afastar o árbitro. Se ele ficar de fora da escala por três semanas, vai voltar pior, ele perde ritmo de jogo, igual o jogador” - opina Marsiglia.

“Não existe treinamento técnico do árbitro que não seja apitando. Então, o coloquem em jogos da Série B e entra nesse processo de capacitação. Nesses jogos, ele vai ganhar menos, vai doer no bolso, e pagar um castigo. Isso vai fazer com que ele fiquei mais focado, e procure errar menos” - sugere o ex-árbitro.

Um dos árbitros que passara pelo PADA é Jean Pierre Gonçalves, que apitou Athletico Paranaense e Palmeiras, pelo Brasileirão. Mesmo após a consulta do VAR, não expulsou o zagueiro Zé Ivaldo, que deu uma cotovelada em Endrick durante uma disputa dentro da área athleticana.

“Ele [Jean Pierre] sempre teve esse posicionamento equivocado e nunca foi corrigido pela Comissão de Arbitragem. Só foi punido porque o lance teve repercussão porque conta da cotovelada. Se não tivesse aquela cotovelada, ele estaria sendo escalado e apitando. A ida para a capacitação é uma resposta política ao clube que reclamou, não para qualificar a arbitragem” - garante Sálvio.

Caminho é a profissionalização

Um fator a ser analisado quando o assunto é arbitragem é que no Brasil os árbitros não são profissionais, não possuem carteira assinada ou contrato de trabalho com a CBF ou federações estaduais.

Ou seja, apesar de trabalhar em arenas de Copa do Mundo e ser o responsável por delegar partidas que movimentam bilhões de reais, a equipe de arbitragem inteira não tem nenhuma garantia de renda fixa no futebol.

Na Premier League, considerada por muitos como a principal liga de futebol do mundo, os árbitros fazem parte de uma entidade chamada Professional Game Match Officials Limited (PGMOL), grupo afiliado às organizações que regem o futebol inglês.

Entre árbitros e assistentes, mais de 300 profissionais se dividem em jogos da primeira e segunda divisão do futebol inglês. Tratado como profissão, os árbitros realizam treinos, possuem um robusto sistema de análise de desempenho, e um salário fixo, além da bonificação por jogo apitado.

Segundo dados obtidos pela Goal, um árbitro no futebol inglês recebe um salário anual entre 38, 5 mil (R$ 241 mil, na conversão) e 42 mil libras (R$ 263 mil, na conversão), de acordo com a sua experiência. Além disso, há um bônus de 1.150 libras (R$ 7.213, na conversão de valores) por partida trabalhada.

Já no futebol brasileiro, não há um valor fixo e o árbitro só recebe se apitar um jogo. Na Série A, o valor varia entre R$ 4.700 e R$ 6.500 por partida. A remuneração é maior no caso de árbitro do quadro da Fifa.

“No Brasil, o árbitro ganha por jogo, ele depende de uma escala. Se o diretor de árbitros não gosta dele, e ele fica um mês sem apitar e não ganha nada. Se ele se lesiona, não recebe. Como fica a família dele? Imagina a cabeça do árbitro, a pressão que sente” - questiona Marsiglia.

Embora algumas pessoas afirmem que a realidade do futebol brasileiro seja infinitamente diferente do inglês, e que a profissionalização da arbitragem seja uma utopia no país, o balanço financeiro da CBF mostra que se há um momento para propor essa discussão, é agora.

Em 2022, a entidade teve um faturamento de R$ 1,2 bilhão, com um lucro de R$ 143 milhões.

Há de se pensar que um investimento nas pessoas que regem o espetáculo deve trazer um retorno grande ao futebol brasileiro, elevar o nível do jogo, e, com isso, diminuir o número de polêmicas desnecessárias.

As informações são do https://www.r7.com

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