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Dentre as metas de Luiza também está
a participação em jogos da Série A do Brasileiro -
Imagem: gaz.com.br |
Uma santa-cruzense foi personagem
importante na decisão do Campeonato Gaúcho Feminino de 2019, no
último domingo. Na partida em que as gurias do Internacional
venceram o rival tricolor por 4 a 2, Luiza Naujorks Reis calçou as
chuteiras com meias longas, prendeu o cabelo e entrou em campo.
A missão da jovem de 31 anos foi atuar como assistente no trio de
arbitragem formado somente por mulheres. Ao lado de Andressa
Hartmann e Maíra Mastella, ela realizou o sonho do protagonismo
feminino em funções que, na maioria das vezes, estão a cargo de
homens. “Por ter sido na final, em um Gre-Nal, foi mais marcante e
histórico ainda”, comemora a profissional.
O gosto pelo futebol acompanha Luiza desde a infância. Ela sempre
quis cursar Educação Física e em 2006 mudou-se para Porto Alegre,
onde iniciou a graduação na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (Ufrgs).
Enquanto estudava, o curso fez uma parceria com a Federação Gaúcha
de Futebol (FGF) para que as meninas trabalhassem como gandulas.
Desafio aceito, o próximo passo foi entrar no curso de arbitragem,
em 2008. No ano seguinte, já conseguiu ingressar no quadro da FGF
nas categorias de base. Com trabalho duro desde então, em 2016
entrou no quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Na bagagem como bandeirinha em nível estadual, Luiza já vai para o
sétimo campeonato gaúcho pela série A em 2020. Pela CBF, só não atua
em jogos pela primeira divisão, mas está nas próximas metas da
jovem.
Outro objetivo é integrar o quadro de arbitragem da Federação
Internacional de Futebol (Fifa). Neste ano, participou do processo e
ficou em primeiro na reserva. “Nos próximos anos, esse vai ser o
objetivo que vou buscar porque tenho o sonho de entrar no quadro da
Fifa e um dia trabalhar em uma Copa do Mundo”, projeta.
A história da modalidade esportiva mais amada pelos brasileiros
evidencia mais um exemplo da necessidade da luta contra o machismo.
Há 40 anos, a prática do futebol feminino foi liberada por lei, em
1979. Antes disso, em 1941, o decreto-lei 3199, de Getúlio Vargas,
proibia a “prática de esportes incompatíveis com a natureza
feminina”, como era considerado, pelo governo, o futebol.
Quatro décadas após a legislação permitir a prática, os 20 clubes
participantes da Série A do Brasileirão precisam – desde o início do
ano – manter times femininos. “É um processo lento, ainda está no
começo, mas o fato de a Federação Gaúcha estar junto nessa investida
da CBF e Conmebol é um passo muito grande para que a visibilidade
aumente”, analisa a bandeirinha santa-cruzense.
Sem estranheza
No dia a dia do trabalho, Luiza afirma que os colegas de arbitragem
não estranham mais o fato de mulheres ocuparem o mesmo posto e as
oportunidades surgem de forma igualitária entre os gêneros. Já sobre
o comportamento do torcedor, não é possível esperar simpatia.
“O torcedor nunca vai elogiar a arbitragem, sempre vai xingar. A
gente percebe mais xingamentos machistas, infelizmente, vindo das
mulheres torcedoras. Isso é uma coisa que nos deixa muito
chateadas.” De qualquer maneira, na arbitragem a regra é clara: “Tem
que ignorar o que vem de fora e focar na partida.”
Já entre os jogadores homens, a conduta com a arbitragem feminina,
segundo a jovem, costuma ser menos agressiva do que com homens.
Apaixonada pela profissão, Luiza destaca as características que
entende serem mais importantes para o sucesso: foco, concentração,
dedicação e regularidade.
“Precisamos entender que vamos ter que abrir mão de algumas coisas
para conseguir alcançar o objetivo que a gente quer.” Dentre as
renúncias em nome do futebol está a menor frequência de visitas aos
pais, que moram em Santa Cruz do Sul. Afinal, os fins de semana na
vida da jovem são de bola em campo.
Luiza Naujorks Reis é especialista em jornalismo esportivo, mestre
em Promoção da Saúde e doutoranda em Ciências do Movimento Humano.
Por: Maria Regina Eichenberg
*Colaborou Leandro Porto.
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