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Charly Wendy fará
sua estréia na serie A do Catarinense neste domingo -
Reprodução/OCP |
Durante abertura do 16º seminário da arbitragem catarinense, Lédio
Dal Toé, Superintendente da Federação Catarinense de Futebol (FCF),
disse que seu maior sonho era ver um trio feminino apitando uma
partida do estadual. Sugestão aceita pela comissão estadual de
arbitragem comandada pelo Diretor do Departamento de Arbitragem
Marco Antônio Martins que escalou um trio feminino no confronto
entre Avaí e Chapecoense pela Taça Angeloni 60 Anos (Campeonato
Catarinense 2018).
Charly Wendy apita a partida, Maíra Americano e Elen Sieglitz serão
as assistentes com Adriano Roberto de Souza de quarto árbitro e
Érica Gonçalves de avaliadora. A partida será disputada no próximo
domingo (1/04), às 16h, no Estádio Dr. Aderbal Ramos da Silva,
popularmente conhecido como Ressacada, em Florianópolis.
A política de incentivo à arbitragem feminina é um dos objetivos do
Departamento de Arbitragem da FCF. Há 14 anos um trio feminino não
atuava numa partida oficial da Série A. A ultima escala foi em 28 de
janeiro de 2004, a árbitra Lucimar Lauxen conduziu a partida Tubarão
2X1 Lages, no Estádio Domingos Silveira Gonzáles, em Tubarão, válida
pela 3ª rodada do Campeonato Catarinense da Série A1 daquele ano,
tendo Érica Gonçalves Klaus e Nívea Márcia Velho como assistentes
(veja escala completa abaixo).
Amistoso
No inicio deste
ano, a Federação Catarinense de Futebol escalou só mulheres para o
amistoso entre Chapecoense e Tubarão, na Arena Condá. A árbitra foi
Charly Straub Deretti e as assistentes foram Neuza Inês Back (FIFA)
e Gizeli Casaril(CBF) com Tamiris Rodrigues Marmentini (FCF) de
quarto árbitro.
Avaliadora em
campo
Outra curiosidade da arbitragem feminina de Santa Catarina a ser
registrada na partida é a presença de Érica Gonçalves Klaus como
avaliadora do confronto designada pela Comissão de Arbitragem da
FCF, tendo sido uma das protagonistas do trio feminino em 2004.
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Érica Klaus com Roberto Perassi |
Conheça Charly
Charly Wendy Straub Deretti nasceu no dia 25/05/1987 (30 anos) em
Joinville-SC, mas ela faz questão de dizer que é de Jaraguá do Sul
onde sempre residiu com a família.
"Nasci em
Joinville porque o hospital de Jaraguá estava de greve" - frisa
Charly.
Dona de uma técnica e controle de jogo invejável dentro de campo a
ponto de ser a esperança da arbitragem feminina catarinense estando
aprovada com sobra no índice masculino nos testes físicos da CBF.
Iniciou a carreira de atleta de futsal e futebol com 11 anos de
idade tendo jogado em varias equipes do país. Representou a Seleção
Brasileira Universitária em duas ocasiões, (2007 na Universíade na
Tailândia e em 2011 na mesma competição na China).
No ano seguinte, em 2012, iniciou a carreira de arbitra apitando por
uma Liga Amadora em Osasco/SP. Em 2013 voltou a Jaraguá do Sul, e
continuou com a arbitragem amadora. Em 2015 filiou-se a Liga
Joinvillense e em 2016 formou-se oficialmente arbitra de futebol
pela Federação Catarinense de Futebol.
É filiada como árbitra à Liga Joinvillense de Futebol. É educadora
física e trabalha no SESI Jaraguá com ginástica laboral.
O que ela disse
Nesse momento de
quebrar barreiras e de afirmação, falamos com Charly que não
escondeu a alegria pela escala, pela confiança depositada nela pela
comissão de arbitragem da FCF e afirmando que entende a
responsabilidade que tem na partida.
"Em 2017 tive
minha primeira escala como 4°árbitra na série A do Campeonato
Catarinense. As oportunidades não pararam por ai, vieram às
categorias maiores e a cada jogo ganhava mais respeito dos atletas e
das comissões técnicas. Em Setembro veio a escala tão esperada,
apitar um jogo de competição profissional. Foi designado um trio
feminino para aquele jogo (Fluminense x Operário), pela série B do
Catarinense. A sensação de comandar um jogo assim é indescritível,
passa um filme na sua cabeça e lembrar que a anos atrás estava
apitando em campos que nem grama tinha e naquele momento você
comandava uma partida de tanta importância. Todo suor e trabalho ali
eram recompensados.
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Charly tem índices
masculino nos testes físicos da CBF - (arquivo pessoal) |
Início do ano veio
mais uma surpresa boa, participei pela primeira vez da pré temporada
do Catarinense da série A, estava junto com a elite do Estado e mais
uma vez o sonho parecia continuar a caminhar. Durantes esses meses
de Catarinense foram várias escalas de 4°árbitro, aprendendo e
adquirindo muita experiência ao lado de grandes árbitros. E hoje
recebo essa escala, última rodada do campeonato e se pra mim já
tinha sido um campeonato de grande aprendizado e de muita satisfação
hoje ele encerra pra mim com um sabor especial. Novamente um trio
feminino, o que muda muito pra nós mulheres. Buscamos diariamente um
espaço e oportunidade para trabalhar e hoje com essa nova diretoria
da Federação Catarinense, estamos ganhando essas oportunidades.
Gratidão é a palavra a todos da comissão de arbitragem.
É claro que devemos pensar que é sempre mais um jogo, mas esse não
podemos pensar assim. Mais de 14 anos que uma mulher não comanda um
jogo de série A e é claro que isso pesa um pouco, a responsabilidade
é ainda maior, mas eu gosto de desafios e farei nesse jogo o que
faço em todos, darei o melhor de mim!
A arbitragem me trouxe vários sentimentos, todos eu já senti ali
dentro. Não são apenas dias de sorrisos e glórias, os dias de dores,
tristezas e de incertezas são comuns, mas se você tem um sonho e
deseja muito isso, tudo vai te fazer evoluir e quando realizar o
objetivo, tudo valerá a pena, como até hoje está valendo pra mim.
Não sei o que ainda me reserva nesse 2018 mas até agora eu só posso
agradecer a Deus e principalmente a minha família que sempre me
apoiou em tudo, inclusive minha mãe que mesmo sendo várias vezes
"lembrada" pela torcida, sempre gostou de ir ao estádio e torcer por
mim.
Ter eles ao meu
lado é a força que muitas vezes acho não ter mais".
Tensão
"Teve um episódio ruim pela liga de Joinville. O jogo estava
empatado e, aos 44 minutos do segundo tempo, marquei um pênalti. O
jogador já tinha amarelo e iria receber o segundo. Ele veio em minha
direção e ia me dar um soco, quando, talvez por um detalhe, ele
lembrou que era mulher e baixou o braço, mas deu um “peitaço ” me
empurrando para trás".
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Charly (azul)
quando ainda jogava futebol - Reprodução/acekurdana |