O futebol alagoano
não se cansa de proporcionar cenas lamentáveis no esporte brasileiro
e os árbitros, a engrenagem mais frágil da maquina futebol, sofre
com todo tipo de mazelas, se bem que, boa parte da culpa pelos
acontecimentos advém de atitudes, ou falta dela, deles mesmos.
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Quarteto de
arbitragem agredido em Coruripe momento antes do jogo
começar - Foto: Divulgação |
Não é fácil a vida
dos homens de preto na terra dos marechais. O
Apitonacional é testemunha ao longo dos anos das
péssimas condições de trabalhos que são submetidos como nos
treinamentos e testes físicos realizados em pistas mais apropriadas
para pastagens de animais como aqui (Leia)
já denunciado. Isso sem mencionar a baixa remuneração que recebem
para atuarem num campeonato violento onde enfrentam todo tipo de
adversidades apitando jogos de times comandados por coronéis
cercados de capangas em verdadeiros ‘currais’ esquecido pelo tempo e
pelo resto do país. Para piorar a situação, muitas vezes sequer as
taxas de arbitragem são pagas previamente como estipula o estatuto
do torcedor.
Não bastassem o
acima citado, ainda estão sujeitos a todo tipo de violência como a
ocorrida no ultimo sábado (19) na partida da volta entre Cururipe e
Santa Cruz valida pela semifinal do campeonato alagoano sub-20,
disputado em Cururipe. O time da casa venceu por 1 a 0, mas ficou
fora da decisão em virtude de ter perdido o primeiro jogo por 2 a 0
no Estádio Rei Pelé, em Maceió.
A vitória com sabor
de derrota levou a selvageria relatada em boletim de ocorrência pela
equipe de arbitragem da partida formado pelo árbitro Júlio César
Ferreira Farias (CBF), pelos assistentes Ana Paula dos Santos (CBF)
e Francisco Raimundo Cunha de Freitas Junior e pelo quarto árbitro
Márcio dos Santos Oliveira, ambos FAF, que passaram maus bocados ao
serem agredidos com requintes de crueldades.
Aos 44 minutos do
segundo tempo, Júlio César expulsou dois jogadores do Coruripe e a
partir deste momento, praticamente, todos os jogadores e comissão
técnica da equipe local partiram para agressões contra arbitragem e
jogadores da equipe visitante, forçando o árbitro a encerrar a
partida.
Segundo relatou o
árbitro via telefone à redação do
Apitonacional, ele e seus companheiros da arbitragem
foram encurralados no vestiário e agredidos com murros, tapas, socos
e pontapés por jogadores e membros da comissão técnica da equipe
local após a porta ser arrombada com uso de anilha (objeto usada
para musculação) de 5kg.
A violência foi
tamanha que o vaso sanitário foi destruído assim como as demais
dependências do vestiário da arbitragem como mostra as fotos abaixo.
Temendo maiores
conseqüências caso continuassem em Cururipe, a equipe de arbitragem
decidiu fazer BO (boletim de ocorrência) em Maceió onde relatou a
falta de policiamento no Estádio Gerson Amaral, onde foi realizada a
partida, como causa principal das agressões.
Em sua rede social,
o jovem árbitro de 26 anos relatou o ocorrido e criticou a comissão
de arbitragem, a quem acusa de ter, uma rodada antes, feito pressão
para que realizasse uma partida sem policiamento.
Segundo Júlio Cesar (foto abaixo), após recusar fazer a partida Sete
de Setembro e CSA por falta de policiamento, recebeu dentro do
vestiário uma ligação via celular do delegado da partida (Bebeto),
presenciado pelo delegado e pelos assistentes, de George Feitosa
onde foi pressionado a realizar o jogo mesmo sem a presença de
policiais.
O
Apitonacional conversou via
Whatsapp com George Alves Feitosa sobre as acusações do árbitro. O
dirigente confirmou a ligação, mas disse que ligou para saber o que
estava ocorrendo e que em momento algum pediu pra ele fazer jogo sem
policiamento como afirmou no facebook. George disse ainda que
entende por ele ter passado por momentos terríveis, mas por
imaturidade foi leviano em fazer tal afirmação.
por fim, George
insinuou que o comportamento do árbitro pode ter sido motivado pelas
mudanças ocorridas recentemente na comissão de arbitragem e que ele
pode ter sido orientado a agir dessa forma. Como exemplo usa o fato
de que no campeonato alagoano o árbitro quase foi agredido, teve os
quatro pneus do carro furado e não acusou ninguém.
"Sei que
mudanças em comando de ceafs gera desconforto em quem recebia certo
tipo de de tratamento... e de repente o árbitro foi orientado a
tomar essa atitude" - disse Feitoza.
Sabendo que a
pressão para apitar sem policiamento fora desmentida e chamado de
‘leviano’ pelo vice-presidente, Júlio César disse estar com a
consciência tranqüila e reafirmou a acusação.
“Eu falei com o
vice-presidente da Comissão de arbitragem George, se ele esta
dizendo que estou mentindo... ai só de frente com ele né, que nem
todo mundo é homem pra admitir. Mas é aquilo mesmo que foi escrito
lá no facebook, não retiro nada não! Estou com minha cabeça
tranqüila, com a consciência tranqüila. Independente se vai haver
justiça ou não, eu coloquei o que aconteceu pra que isso não venha
acontecer com mais ninguém!" - disse o árbitro.
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Dia da posse: George Alves Feitoza, Charles Hebert
Cavalcante Ferreira e Felipe Feijó |
Nota da redação:
O Apitonacional apurou com
uma fonte dentro da federação alagoana de futebol que realmente
houve a ligação com a pressão relatada pelo arbitro por parte do
vice-presidente da CEAF e teria sido a pedido do presidente da FAF,
Felipe Feijó.
Apesar da
juventude, apenas 26 anos, Julio Cesar com bastante tranqüilidade e
firmeza nas palavras deixa bem claro estar consciente que acabou sua
carreira na arbitragem onde caso permaneça será perseguido por
tornar publico o ocorrido e por também questionar os métodos da
atual comissão de arbitragem. Em entrevista à Rádio Gazeta disse que
pensa em desistir da carreira e não teme perder o escudo CBF.
"Isso não pode ficar impune. Estou aqui em casa, meu pé está
inchado, estou com a coxa cortada. Vai ficar por isso mesmo? Eu
tenho que ser agredido? Isso tem que acabar! Eu penso hoje
sinceramente em abandonar a arbitragem, não quero saber se perco o
escudo. Ontem foi muito lamentável o que aconteceu, e penso em
abandonar sim” – encerrou o árbitro.
Procurado, Charles Hebert, presidente da comissão de arbitragem
alagoana não se pronunciou. O dirigente apenas fez um comentário no
facebook onde raivosamente manda o árbitro provar a acusação (veja
abaixo).
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Atitude
bem diferente dos tempos quando era árbitro e cobrava
prontamente posicionamento da CEAF em situações como
essa. Vale lembrar que Hebert vivia em atritos com a
presidência da CEAF e seu atual vice, a quem acusava de
ser favorecido pela antiga comissão, especialmente nos
testes físicos que supostamente seriam burlados para
aprovações indevidas. A quem diga que o ex-árbitro
supostamente financiava matérias e fofocas nos
bastidores fomentando a discórdia na tentativa de
derrubar seu antecessor para assumir o cargo que hoje
ocupa conquistado sorrateiramente graças a ingenuidade
de aliados que confiavam nas suas boas intenções, que na
verdade eram boas só para ele.
Também procurado, o Sindicato dos Árbitros de Alagoas
(Sindafal), através de seu presidente Pedro Jorge, disse
que assim que foi informado dos acontecimentos tomou
providencias para o fato não ser abafado e que foi
procurado pela assistente Ana Paula que relatou o
acorrido. Informou também que esta marcado reunião
amanha (terça-feira) com o quarteto na sede da entidade
para tratar das providencias a serem tomadas.
Paralelamente disse que o sindicato contratou advogado
para entrar com ação cível e no TJD-AL contra os
agressores.
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