25/09/2010 - Há algum tempo, os árbitros de futebol de
Brasília são reconhecidos no cenário nacional pela regularidade das partidas
apitadas. Com boas atuações em todas as competições da Confederação Brasileira
de Futebol (CBF), eles conseguiram um feito inédito em 2010: três trios
brasilienses estão apitando freqüentemente jogos da série A. Dois desses
árbitros, Sandro Ricci e Wilton Sampaio, estão na lista dos dez melhores da CBF,
sendo que Ricci é o atual número 1 dos chamados “aspirantes Fifa”. O terceiro
árbitro, José de Caldas, também tem sido elogiado nos relatórios dos
observadores. De acordo com os homens do apito, o segredo do sucesso pode girar
em torno de algo muito simples: paixão pelo esporte e pela atividade.
Sandro Ricci, 35 anos, é o melhor ranqueado no quadro de
árbitros da CBF. Profissional desde 2003, ingressou na CBF em 2006 e se tornou
aspirante a árbitro da Fifa no ano passado. Ele conta que já tinha interesse na
atividade quando passou no vestibular de economia da UnB, em 1994. Mas preferiu
seguir a carreira acadêmica, deixando de lado o desejo de atuar no mundo das
quatro linhas para ser analista de comércio exterior. Em 2003, a paixão falou
mais alto, e Ricci resolveu fazer o curso de arbitragem. “Sempre tive muito
interesse por futebol, e esse foi um caminho que encontrei para participar
ativamente do futebol”, explica.
Não é raro ver um árbitro ser motivo de discórdia no futebol.
Uma marcação equivocada ou um mau posicionamento pode render ofensas diversas,
por parte dos torcedores, técnicos e jogadores. Mas Ricci não acredita que a
arbitragem seja uma atividade injustiçada, apenas um pouco ingrata. “Por mais
que tenhamos isonomia e imparcialidade na nossa atividade, o futebol mexe com a
paixão dos torcedores”, observa. Mas, para ele, a arbitragem deve ser uma
atividade paralela na vida de quem resolve seguir o caminho do apito. “Eu acho
que quem decide ingressar na carreira pelo aspecto financeiro tende a
fracassar.”
Pensamento semelhante é o do árbitro José de Caldas, 42. “No
aspecto financeiro, (o árbitro) é quem menos ganha. Mas não há futebol sem ele”,
analisa. Para caldas, o árbitro de futebol deve saber que seu trabalho é
essencial ao esporte. “A gente tem de ter a percepção da grandeza que envolve o
árbitro”, sustenta.
Caldas, que também é pedagogo com especialização em esporte
escolar, é o árbitro há mais tempo em atividade no quadro da CBF. Ele acredita
que o histórico de Brasília na arbitragem é um dos motivos da boa safra de
juízes. “Brasília sempre foi uma referência, pois temos um trabalho organizado
há algum tempo”, defende. Atualmente, o DF conta com 15 árbitros no quadro da
CBF, sendo seis árbitros principais e nove árbitros assistentes.
É comum que os árbitros de futebol tenham um pouco mais de 30
anos. Uma exceção é o gerente administrativo Wilton Sampaio, 28. No ano 2000,
ele fez o curso de arbitragem, mas já apitava jogos amadores em Planaltina antes
de completar 18 anos. Para Sampaio, o sucesso dos árbitros candangos é explicado
pela atuação da Federação de Árbitros candanga. “No ano passado, fomos a
terceira federação que mais arbitrou jogos no Campeonato Brasileiro. Isso é
prova do nosso prestígio e respeito".
As
classificações:
Os árbitros da CBF possuem
quatro classificações distintas
» CBF 2 -
Iniciantes. Apitam jogos menos expressivos das séries C e D.
» CBF 1 - Árbitros já com alguma experiência, normalmente
escalados para apitar jogos das séries B, C, e D. Em alguns casos, comandam
jogos da série A também.
» Aspirantes FIFA - Árbitros da elite do futebol
nacional, normalmente escalados para apitar a Série A.
» Fifa - Árbitros que integram o quadro da entidade
máxima do futebol. Podem ser convocados para apitar jogos internacionais. No
momento, Carlos Eugênio Simon é o árbitro brasileiro da Fifa e deve se aposentar
no fim do ano.
Força nas bandeirinhas
Sandro Ricci acredita em uma máxima dos homens de apito. “Não
existe um bom árbitro sem um bom assistente”, diz. “A qualidade deles nos dá
segurança”, emenda, lembrando que a atuação do assistente pode ser decisiva em
uma peleja mais disputada. Além dos árbitros principais, Brasília conta também
com bons auxiliares.
O paramédico e professor de educação física Luciano Benevides,
35, é um dos principais árbitros auxiliares do DF. Fez o curso de arbitragem no
ano de 2000, mas só integrou o quadro da CBF no ano passado. Benevides não sabe
o motivo certo do sucesso da arbitragem candanga, mas exalta o comprometimento
dos árbitros da cidade. “Não temos recurso, fazemos tudo por conta própria”,
lembra. Segundo ele, o preparo dos árbitros é o mesmo nos aspectos de
treinamento, de alimentação e de psicologia.
Ênio de Carvalho, 40, tem licenciatura em educação física. Ele
é árbitro auxiliar há 12 anos e integra o quadro da CBF há 11. Carvalho destaca
ser importante que os árbitros estejam preparados para trabalharem onde for. “Em
alguns casos, jogos da Série B ou da Série C têm mais importância que jogos da
Série A, então temos de estar preparados para tudo.”
Os três pilares da arbitragem candanga
Sandro Ricci
explica quais são os principais motivos da qualidade dos árbitros surgidos no
Distrito Federal.
1. Histórico - "O trabalho
desenvolvidos por outros árbitros foi fundamental", reconhece Sandro Ricci. O
momento máximo de um árbitro candango foi vivido por Jorge Paulo Gomes, que
trabalhou como árbitro auxiliar nos jogos Inglaterra 1x1 Suécia e Alemanha 2x0
Camarões, ambas as partidas disputadas na copa de 2002.
2. Trabalho técnico - A atuação da comissão de árbitros da cidade, com
foco na instrução e na observação, também merece destaque. "O trabalho de
aprimoramento técnico - comandado por Raimundo Lobo - somado aos relatórios dos
observadores, que ajudam a corrigir as carências dos árbitros nos auxiliam
bastante.
3. Proximidade geográfica - "Todos os
árbitros do quadro da CBF estão a 3 kilômetros de distancia no DF. Então, é
muito fácil reunir o pessoal para treinar e discutir os lances mais polêmicos.
Temos lealdade e intimidade para fazer elogios e criticas construtivas. Isso faz
com que nossa arbitragem seja bem-sucedida".
Fonte:
Matéria e foto publicada no jornal impresso Correio Braziliense do dia
21/09/2010