"Todos os domingos, 100, 150, 200 mil pessoas o chamam de ladrão [o
árbitro]. Seja ele um Abraham Lincoln, um Robespierre, um Marat, uma
Maria Quitéria. Não importa. Tacham-no de gatuno e de tudo o mais".
O tom dramático desse trecho de "Rigoletto de lança-perfume", uma
crônica de 1956 de Nelson Rodrigues (1912-1980), é repetido -em
outros termos- por Sérgio Corrêa, presidente da Comissão de
Arbitragem da CBF, para falar do mesmo tema: as críticas aos juízes
de futebol.
Ao longo do ano, eles foram duramente criticados por torcedores,
jogadores e presidentes de clubes. Em setembro, Levir Culpi, então
técnico do Atlético-MG, disse que o Brasileiro estava "manchado" por
supostos erros de arbitragem. Modesto Roma Júnior, presidente do
Santos, pediu o afastamento de Corrêa de sua função, atitude
replicada por Daniel Nepomuceno, do Atlético-MG.
Obs. As fotos abaixo apontam alguns erros
cometidos pelos homens do apito durante o Brasileião de 2015.
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Erro 1: Após cuzamento, a bola sobra
para Ricardo Oliveira, que impedido, abre o placar para
o Santos |
Em entrevista à Folha, Corrêa lamenta a pressão que ele e os
árbitros receberam de presidentes e torcedores, faz um balanço
positivo de 2015, destaca números favoráveis e torce pela aprovação
do uso de vídeos para auxiliar os juízes a partir de 2016.
Qual o balanço da arbitragem brasileira que o senhor faz em 2015?
Nos principais torneios do mundo, há poucas equipes na briga pelo
título. Aqui, no Brasileiro, temos cerca de 12, o que faz com que
quase todos os jogos ganhem importância e torne o campeonato muito
difícil para os árbitros. Mas temos dados concretos que comprovam
que o ano foi positivo.
Estamos reduzindo o número de faltas marcadas a níveis próximos aos
dos principais polos europeus, exceto a Inglaterra. Acertamos 90%
dos impedimentos marcados no Brasileiro. Mas isso para a imprensa
passa batido.
Em setembro, a Folha fez um levantamento que apontava ao menos um
erro grave por rodada. Qual a sua avaliação?
Não concordo. Vi a reportagem, e vocês colocam como erros alguns
lances em que o árbitro acertou. A Fox Sports fez uma matéria sobre
20 lances de bola na mão. Nós acertamos 16 dos que foram mostrados.
É um número expressivo de acertos. As pessoas, de modo geral, não
têm conhecimento e transformam os lances em polêmica, que então é
tratada como erro, o que nem sempre está correto.
As pessoas cobram que o árbitro se explique após as partidas, mas
não adianta nada porque as opiniões deles são desconsideradas. As
pessoas não querem ouvi-los. Em relação à arbitragem, o Brasil é uma
torre de Babel: não tem análise de dados nem aprofundamento. As
pessoas querem uma cabeça na bandeja. Há uma ânsia por sangue.
Presidentes de clube chegaram a pedir seu
afastamento. Como o senhor recebe isso?
Em 2005, fomos convidados para a CBF para reestruturar a arbitragem
nacional após o que ficou conhecido como Máfia do Apito, com o
envolvimento do Edilson Pereira de Carvalho.
Os planos quadrienais que elaboramos foram todos cumpridos com
sucesso desde então, e começaremos um novo em 2016. Se alguém
decidir no futuro que deve trocar a Comissão de Arbitragem, deve
fazê-lo. Os nomes que estão lá não importam.
Quando eu assumi, o Corinthians caiu de divisão e a arbitragem foi
acusada de prejudicar o time. Em 2008, aconteceu a mesma coisa com o
Vasco.
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Erro 2: O
atacante Willian, do Cruzeiro, ajeita com a mão antes de
finalizar e marcar com a mão |
A gente respeita a opinião dos dirigentes. Nunca houve uma
participação tão grande dos clubes na CBF. Alguns deles entendem que
deve haver mudança na comissão. Historicamente, não é a mudança que
altera a classificação dos clubes.
Agora, se o dirigente não gosta de receber pressão no seu trabalho,
por que ele joga pressão para cima dos outros? Isso também não é
certo. Ninguém tem um rendimento maravilhoso sob pressão.
A pressão que os dirigentes recebem é grande, e muitas vezes eles
tomam atitudes [contra a arbitragem] mais para dar a segurança ao
torcedor de que está brigando pelo clube do que para seguir o que
ele mesmo pensa.
Só não aguenta quem é fraco. Os dirigentes são valentes, pois
aguentam pressão dos torcedores. Nós também somos valentes.
A forma que as pessoas esperam o juiz de futebol não tem como
realizar na Terra. Não tem como impedir um ser humano de errar às
vezes.
Qual o saldo da recomendação aos árbitros serem menos coniventes com
reclamações de jogadores e técnicos?
Muito positivo. A reclamação tem que ser posterior à partida de
futebol. Alguns presidentes de clubes disseram que somos ditadores,
mas tivemos resultados expressivos. Com reclamação, o jogo para
mais, e você não consegue atingir a meta da Fifa de 60 minutos de
bola rolando por partida. Demos 153 cartões amarelos a mais que em
2014. Em compensação, passamos de 25 para 60 jogos dentro dessa
meta. Não é uma vitória da arbitragem, mas do futebol. Tivemos
jogadores extenuados de tanto jogar futebol no Brasileiro.
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Erro 3:
Zagueiro Wallace, do Flamengo, desvia com a mão e a bola
sobra para Emerson macar na vitória sobre o Fluminense |
E temos uma agenda muito positiva para 2016, que é desvalorizada
porque no Brasil é mais fácil depreciar que reconhecer.
Em setembro, a CBF pediu para usar vídeo em
lances duvidosos, mas a Fifa negou. Em que pé está essa negociação?
A Ifab (International Football Association Board) fará uma reunião
agora em janeiro [dia 7] e eles vão deliberar a questão. Nosso
projeto não contempla o "desafio" [quando o jogo é parado para o
lance ser revisto e reavaliado]. Nós não queremos parar o jogo. Eu
gosto de futebol jogado, com a bola rolando. Vou dar um exemplo: os
assistentes marcariam os impedimentos claros, que não têm dúvida. Os
ajustados [difíceis] seriam marcados pelo árbitro de vídeo. Se a
bola entra e aconteceu uma infração, o árbitro de vídeo avisa o que
está no campo de sua decisão. Se foi gol, bola no centro; em outro
caso, tiro de meta –em todo caso, o jogo já está parado. Se a bola
bate na mão, o árbitro de vídeo pode ajudar a falar se foi dentro ou
fora da área. Em nosso projeto, tudo que o árbitro de vídeo falar
será gravado, pois não queremos que ele apite da cabine. Ele não
será uma muleta.
Com o vídeo, os jogadores vão parar de agredir fora do lance, de
simular faltas... A ideia é implantar na Série A de 2016, talvez na
Série B também. Estamos trabalhando com essa perspectiva.
A Uefa lançou a proposta do cartão branco, em que o jogador ficaria
dez minutos fora de campo, voltando depois. O que o senhor acha?
Vai ter problema. Imagine um cenário em que faltam dez minutos para
acabar uma partida decisiva e o árbitro mostra o cartão branco. Vão
dizer que ele agiu deliberadamente para prejudicar.
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Erro 4:
Na terceira rodada, o Avaí fez um gol sobre Flamengo
após a bola ter saido; a equipe catarinense venceu por 2
a 1 |
Se for algo para melhorar o futebol, vamos acatar, é claro. Não
posso dizer que daria errado. Mas acho que não será uma proposta
aprovada pela Ifab. Caso seja, vamos aguentar mais uma polemicazinha
sobre a cor do cartão aplicado.
O Anderson Daronco esteve em mais de 70% dos jogos em 2016. É o
melhor árbitro?
Como o jogador, o árbitro passa por fases boas e ruins. O Pelé, que
eu vi jogar, também tinha momentos ruins, mas era tão bom que as
pessoas até esqueciam disso. No ano passado, o Ricardo Marques foi o
que mais atuou. Em 2015, o Daronco encaixou, teve uma sequência sem
grandes polêmicas. Foi o melhor, sim, merecidamente. Ele alcançou um
patamar de regularidade que deve ser seguido pelos demais árbitros.
Quanto mais regular, mais aparecerá na escala.
A crise na CBF afeta o trabalho da comissão de arbitragem?
Continuamos trabalhando. Sempre tivemos liberdade de ação, desde que
entramos, e nada mudou nesse ponto. A relação com o presidente em
exercício, Marcus Vicente, tem sido cordial, respeitosa.
Recebemos apoio para cursos, treinamentos... A cada ano, a CBF
investe cada vez mais em arbitragem. Atesto que não há interferência
externa nenhuma na definição da arbitragem.
O presidente Marco Polo tem o direito de se defender [das acusações
feitas pela Justiça dos EUA. Lembro da Escola Base, quando todos
tinham certeza da culpa e no fim eram inocentes. Claro que, se
comprovado o malfeito, os que assim agiram devem ser punidos. É
compreensível que a mídia diga que estão sendo investigados, mas
condenar não é algo razoável.
As coisas têm que ser esclarecidas. Mas as pessoas que não
acompanham o mundo do futebol não têm ideia da dimensão da CBF,
acham que é um bando de criminosos reunidos para fazer o mal. Isso
não é verdade.
RAIO-X
Sérgio Corrêa da Silva
IDADE
56 (nasceu em 30.05.1959)
CARGO E CARREIRA
Presidente da Comissão de Arbitragem da CBF desde 2014 (antes
dirigiu o órgão de 2007 a 2012). Foi árbitro da CBF entre 1989 e
2000
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Erro 5:
Na quarta rodada, o Santos marcou um gol impedido em
partida que terminou em 2 a 2 contra o Sport |
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Erro 6: Na quarta rodada,
em partida contra o Flamengo, o Fluminense fez gol de
penalti que não existiu; a equipe venceu os rivais
cariocas por 3 a 2 |
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Erro 07:
Na oitava rodada, em parrtida contra o Avaí, o São Paulo
teve um gol de Pato mal anulado, e a equipe paulista
acabou prejudicada com empate de 1 a 1 |
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Erro 08: Na oitava rodada,
o árbitro deixou de marcar penalti em toque de mão na
bola de Daniel Guedes, do Santos, e a partida contra o
Corinthians terminou com a vitoia santista por 1 a 0 |
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Erro 09:
Na nona rodada, o juiz não viu impedimento no gol da
Chapecoense; o jogo terminou com empate em 1 a 1 contra
o Sport |
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Erro 10: Na mesma partida,
o juiz marcou falta em Diego Souza, que fez gol na
cobrança; mas o meia fez falta, e não sofreu |
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Erro 11: Na 12ª rodada, em
partida vencida pelo Internacional sobre o Flamengo por
2 a 1, Guerreiro fez gol após receber passe de Canteros,
que estava impedido |
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Erro 12: Na 12ª rodada, o
árbitro não validou gol do Palmeiras por não ver que a
bola cruzou a linha; A equipe venceu o Avaí por 3 a 0 |
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Erro 13: Na 13ª rodada, em
partida contra o Corinthians, o Flamengo teve gol mal
anulado por marcação de impedimento de Jonas; o jogo
terminou com vitoria da equipe paulista por 3 a 0 |
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Erro 14: Na 13ª rodada, em
vitória do Fluminense por 2 a 1 contra o Atlético-PR, a
equipe carioca teve penalti não marcado por mão na bola |
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Erro 15: Na 13ª rodada, em
jogo contra o Joinville vencida por 2 a 0, um penalti
inexistente foi marcado contra o Internacional |
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Erro 16: Na 14ª rodada, em
vitória do Sport sobre o São Paulo, o juiz marcou
coretamente penalti a favor do Sport, mas voltou atras e
sinalizou falta fora da area |
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Erro 17: Na 15ª rodada, em
jogo contra a Chapecoense, o Fluminense teve gol mal
anulado por toque de mão na bola de Marcos Junior; os
catarinenses ganharam por 2 a 1 |
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Erro 18: Na 15ª rodada, no
empate por 1 a 1 entre São Paulo e Corinthians, Uendel
desviou a bola com o braço, mas o árbitro não marcou o
penalti |
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Erro 19: Na 18ª rodada, em
vitória de 2 a 0 do Gremio sobre o Atlétcio-MG, os
mineiros foram prejudicados quando o árbitro não marcou
toque de mão na bola dentro da area de Erazo |
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Erro 20: Na mesma patida,
os gauchos também foram prejudicados; o árbitro não
assinalou empurrão de Thiago Ribeiro em Galhardo, dentro
da area |
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Erro 21: Na 19ª rodada, em
vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-MG, Apodi, da
Chapecoense, ajeitou a bola com o braço antes de fazer o
gol que fechou o placar |
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Erro 22: Na 19ª rodada, em
derrota por 2 a 1 contra o Corinthians, o Avaí teve gol
anulado por impedimento marcado erroneamente |
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Erro 23: Na 21ª rodada, o
Internacional teve penalti não marcado após empurrão em
Eduardo Sasha, na derrota por 3 a 0 contra o Avaí |
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Erro 24: Na 22ª rodada, em
partida que terminou 1 a 0 para o Goias, o Palmeias
poderia ter alcançado o empate, se não fosse um gol
anulado para a equipe paulista; Também houve toque de
mão de jogador do Goias dentro da aea não marcado |
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Erro 25: Na 22ª rodada, em
derrota por 2 a 0 contra o Corinthians, o Fluminense
teve gol mal anulado por impedimento |
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Erro 26: Na 22ª rodada, em
vitória por 1 a 0 contra o Atlético-MG, o Atlético-PR
teve penalti marcado incorretamente |
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Erro 27: Na 22ª rodada, a
Ponte Preta teve gol mal anulado por impedimento, além
de penalti não marcado em Borges; a equipe campineira
perdeu a partida contra o Cruzeiro por 2 a 1 |
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Erro 28: Na 22ª rodada, a
Ponte Preta teve gol mal anulado por impedimento, além
de penalti não marcado em Borges; a equipe campineira
perdeu a partida contra o Cruzeiro por 2 a 1 |
Fonte: Folha de S.
Paulo
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