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Árbitras do Paulistão lidam com cusparada, ameaça de cartola e assédio
da Playboy |
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18/01/2011 - Maria Elisa não entra em
campo sem maquiagem. Tatiane não esquece o gel do cabelo e Regildênia
limpa as chuteiras até com água mineral. Mais que a vaidade, essas
mulheres têm em comum uma profissão bem masculina e, em campo,
precisam esquecer o lado ‘mulherzinha’ para se impor como árbitra de
futebol.Além de conciliar duas
profissões, elas convivem com as adversidades do jogo: xingamentos
constantes da torcida, cobrança da imprensa diante de erros e
situações mais complicadas como cusparadas e ameaças de dirigentes.
Árbitra assistente há dez anos, Maria
Elisa Correia aprendeu a conviver com os percalços e ainda foi alçada
ao posto de musa. A assistente foi convidada para posar nua na
Playboy, em 2008, após a mais famosa das colegas, Ana Paula de
Oliveira, trilhar o caminho e sair na capa da revista. Mas Maria Elisa
manteve o foco no trabalho e não aceitou o convite, apesar de admitir
ter ficado lisonjeada.
“Um dia te colocam como musa, um dia
não vão colocar. Eu já achava que poderia acontecer por causa da Ana
Paula, mas nem pensei em estudar a proposta. Não é minha linha de
trabalho. Fiquei envaidecida, é bom te acharem bonita, mas não me
iludo com isso”, disse ela, que reconhece a vaidade e não dispensa
salto alto e maquiagem no dia-a-dia.
Maria Elisa concilia a carreira com a
de professora de Educação Física em
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Tatiane passa batom no
vestiário dos árbitros da Federação Paulista de Futebol |
Ituverava, no interior de São Paulo.
A assistente tem chancela da Fifa e está acostumada à pressão
dos clássicos paulistas. É com perfeccionismo que procura
crescer. Ela grava todos os seus jogos para observar
posteriormente e se orgulha das poucas falhas na carreira.
Porém, já foi vítima da linha tênue
que separa acertos e erros. Na final do Paulista de 2010 entre
Santos e Santo André, Maria Elisa assinalou impedimento num gol
legal do time do ABC. “Eu errei, me cobro muito, mas bola pra
frente. Em dez anos de carreira, talvez tenha três erros de que
as pessoas se lembram. Por ser um meio masculino, acho que dão
mais ênfase aos erros das mulheres”, ponderou. |
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ÁRBITRA RECEBEU
CANTADA DO SUB-20 |
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Tatiane Saciloti ainda vai entender
essa pressão. Em 2011, fará sua estréia na Série A1 do Paulistão
como assistente, mas já com a bagagem adquirida ao longo dos
sete anos que passou nas divisões inferiores.
Na Série A2, em uma partida do Velo
Clube, ela teve de sair de campo com a camisa toda molhada por
causa das cusparadas da torcida, mas manteve a concentração e
terminou o jogo normalmente. O momento mais tenso da carreira,
no entanto, foi ser ameaçada pelo dirigente de um clube do
interior, que chutou a porta do vestiário após a partida e
ameaçou: “você não sai daqui viva”.
Apesar de ter apenas 24 anos, ela
fala com naturalidade e admite que interferir no resultado é o
pavor de qualquer árbitro, além de jamais rever um lance no
intervalo e de, muitas vezes, faltar convicção nas marcações de
impedimento. “Bate a dúvida, mas não dá para pensar em nada.
Tenho que decidir e pronto. Em três segundos”.
Quem fatalmente irá passar por
esse tipo de polêmica no Paulistão-2011 é Regildênia de Holanda
Moura. A central trabalhará como árbitra adicional atrás do gol
na nova função criada para ajudar em lances polêmicos na grande
área.
Mas ela não se intimida, ao
contrário, gosta do desafio. Prova disso é que está entre as
três únicas árbitras centrais do quadro da Federação Paulista de
Futebol para apitar o estadual. Para se impor diante dos homens,
ela deixa o alegre jeito nordestino de lado e incorpora a cara
sisuda.
“Acho que as mulheres preferem
bandeirar porque se intimidam no centro do campo. Não vou me
achar a menininha do jogo, não fico melindrada. O cara vai
testar e preciso ser forte. Mas é gostoso quebrar tabus, vencer
algo mais difícil. Parece droga, veneno na veia”, afirmou. |
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Fernanda dos
Santos interrompeu a carreira para ter seu segundo filho e
agora concilia a vida de mãe com a de árbitra central. Por
ter ficado afastada, ela recomeçou nos torneios das
categorias de base como Copa São Paulo de futebol júnior,
sub-20 e até sub-11 e sub-12.
A assistente usa instinto maternal para lidar com os garotos
do infantil e até ensinar, mas quem dá trabalho mesmo são
os atletas do juvenil. Segundo Fernanda, eles são abusados
nas cantadas. |
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Regildênia escolheu ser central
justamente por causa de um homem, o ex-marido, que a aconselhou
dizendo que era mandona e autoritária demais. Ela leva a profissão
tão a sério que decidiu não ter filhos, tampouco outra atividade.
Agora, terá um ganho financeiro
importante, já que um árbitro central da Série A1 ganha cerca de R$2
mil por jogo, enquanto o assistente recebe R$1 mil. Na Série A2, os
valores caem praticamente pela metade e diminuem proporcionalmente
de acordo com as divisões. Compensação para quem tem a difícil
tarefa de aliar a vaidade feminina à firmeza para conter atletas,
torcedores e dirigentes raivosos.
Por: Luiza Oliveira - Uol São Paulo -
Fotos: Fernando Donasci
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