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'Valério' de dia, 'Laleska' à noite: conheça a história do árbitro de
Beberibe no Ceará |
Homossexual
assumido, árbitro de 32 anos sonha em virar profissional e apitar na
Primeira Divisão do futebol cearense |
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27/01/2011 - No fim da década de 80, no
Rio de Janeiro, um árbitro passou a se destacar no futebol carioca.
Jorge José Emiliano dos Santos ficou conhecido por conta de seu
comportamento irreverente ao apitar as partidas – tanto ao marcar
faltas e distribuir cartões, geralmente com gestos exagerados, quanto
por um andar espalhafatoso pelo gramado. Apelidado de ‘Margarida’ e
homossexual assumido, era considerado um árbitro de bom nível técnico.
Faleceu em 1995, aos 41 anos, vítima de complicações provocadas pela
Aids, mas já estava no imaginário do futebol carioca. Quinze anos mais
tarde, em Beberibe, município de aproximadamente 49 mil habitantes e a
75 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, um outro homem do apito vem
dando o que falar.Valério
Fernandes Gama (foto), de 32 anos, não esconde de ninguém a sua opção
sexual e é a atração da Liga Municipal Beberibense. Natural de uma
família de oito irmãos, é o único a morar com seus pais. A mãe aceita
a condição do filho, mas seu pai desaprova. No entanto, o árbitro
garante que a relação em casa é amistosa.
- Quem nasce homossexual, nasce
homossexual, não é
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incentivado por ninguém. Com 15 anos
assumi definitivamente minha opção sexual.
Se durante o dia cumpre seus afazeres e
ajuda nas despesas da casa, à noite ele se transforma. Como se
exorcizasse todos os fantasmas, se veste como se sente bem e conta
como gosta de ser chamado ao sair para a balada.
- É um espírito que baixa. Eu me visto
de mulher mesmo. Todos aqui me reconhecem à noite também. Gosto de ser
chamado de 'Laleska Valéria'. Sou o único que não faço programa, tenho
minha vida normal. Alguns travestis, meus amigos, até me aconselharam
a mudar de vida, fazer programa, ir para a Espanha, mas sou contra
isso. Tenho amizade com eles, mas não concordo. Quero ter minha vida
normal, respeitando opinião de todos.
O árbitro garante que, no campo, jamais
foi desrespeitado pelos jogadores.
- No futebol, por incrível que pareça,
nunca sofri nenhum caso de preconceito. Fora que, todos que não me
conhecem, acham que sou mulher. Depois que descobrem que sou homem,
ficam ainda mais espantados - revelou.
Entretanto, Valério não esconde que a
cada jogo sofre com provocações de torcedores e que, inclusive, já
deixou dirigentes irritados.
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- Eu não ligo, pois
são milhares de torcedores. Acontece sim, mas não pode nem dar
ideia. Quanto a dirigentes, apenas discussão, pois eles acham
que o time deles foi prejudicado, então discutem, acham que a
gente errou. Mas depois, com a cabeça mais fria, até elogiam. Se
não quiser encarar, não vai para o campo. Encaro, de qualquer
forma, de todo o jeito. Em
uma oportunidade, para Valério, sobrou até um puxão de cabelo...
- Uma vez aconteceu de um
torcedor puxar meu cabelo, mas depois, no dia seguinte,
encontrei-o na rua, fazendo compras aqui em Beberibe. Fui
conversar com ele, que se arrependeu e pediu desculpas. Mas tem
vezes que dá vontade de dar uns cascudos sim, revidar.
Aos 16 anos, Valério tomou gosto
pelo futebol ao acompanhar a Seleção Brasileira na |
conquista do tetracampeonato mundial, em 1994, nos Estados
Unidos. No entanto, se tornou árbitro graças à sua baixa
estatura. |
- Entrei no futebol para ser goleiro.
Comecei no Abec (Associação Beberibense Esporte Clube), mas era muito
baixo. Um dia teve um jogo entre a minha equipe e um time que se chama
Caetano, pelo Campeonato Municipal de Beberibe, e eu era o terceiro
goleiro. Mas o árbitro faltou. Então o treinador do meu time, Jorge
Farias, pediu para que eu apitasse. Não sabia regra nenhuma, mas ele
foi me orientando. A partir daí me interessei por arbitragem e passei
a aprender as regras, inclusive com amigos árbitros formados.
Grato ao prefeito de Beberibe, Odivar
Facó, de quem recebeu a primeira oportunidade de apitar, Valério sonha
em entrar para o quadro profissional da Federação Cearense de Futebol
e arbitrar na Primeira Divisão estadual.
- Sou da Federação de Beberibe. No
momento, só apito partidas amadoras, ainda não fiz o curso de
arbitragem, pois a verba é alta, mas pretendo conseguir este ano. É
mais ou menos uns dois mil reais, aqui no Ceará.
Coordenador de projeto social
fora dos gramados
Fora das quatro linhas, Valério é
funcionário da prefeitura local. Vestido a caráter, como faz questão
de ressaltar, coordena projeto social voltado para o turismo, uma vez
que Beberibe é uma cidade litorânea com belas praias e dunas.
- Todos conhecem minha vida, minha
história, e me respeitam. Não há preconceito. Coordeno jovens guias
turísticos mirins. O nome é ‘Projeto Jovem Guia’. Durante meu
trabalho na prefeitura, me comporto e me visto como homem.
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