Apitei: após 32 anos, Wright não vê erros no polêmico Fla x Galo de 1981

 

Ex-árbitro diz que presidente atleticano da época, pai de Alexandre Kalil, inflamou seus jogadores, criando um clima altamente bélico para o jogo

 

03/08/2013 - Campeã da Libertadores em 2013, a torcida do Galo crê que o título chegou com 32 anos de atraso. Não engole a eliminação para o Flamengo em 1981, ocorrida após cinco atleticanos terem sido expulsos no jogo de desempate entre os clubes válido pela primeira fase da competição. O próprio presidente atleticano, Alexandre Kalil, na festa do título conquistado no último dia 24, lembrou a polêmica partida como um "roubo". Protagonista, o ex-árbitro José Roberto Wright (foto) é massacrado até hoje pela "Massa" devido ao primeiro cartão vermelho do duelo, mostrado a Reinaldo. Esse provocou a revolta dos jogadores do Atlético-MG, que, segundo Wright, passaram a ofendê-lo constantemente. Perguntado se o carrinho de Reinaldo em Zico não era lance para amarelo, ele se justificou e garantiu ter tomado a decisão correta.

- Todo mundo tinha a imagem do Reinaldo de ser disciplinado, e ele realmente era. Mas antes de isso acontecer, o jogo estava muito violento. Chamei os capitães do Flamengo e do Galo e disse: "O primeiro que der (bater) por trás ou na passagem sai." O Reinaldo esperou o Zico passar e pegou. Foi a caracterização daquilo que eu alertei. Se eu não tivesse tomado pulso forte, o jogo ia descambar para uma pancadaria, o pau ia quebrar. Então, prefiro ser lembrado como o árbitro que cumpriu a regra

do jogo do que como o árbitro do jogo em que o pau cantou, independentemente se a torcida do Galo gostou ou não - afirmou o árbitro.

 

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Wright sustenta que a violência observada nos minutos iniciais do duelo - já eram cinco cartões amarelos antes da expulsão, quatro para o Galo - se deu devido à postura do então presidente atleticano Elias Kalil, pai do atual mandatário:

- Naquela ocasião de 81, o Flamengo x Atlético de Goiânia foi a continuação do Brasileiro do ano anterior, em que o Flamengo venceu por 3 a 2 e o Atlético reclamou muito. Infelizmente o presidente do Galo, que era uma pessoa de muito boa índole e caráter, inflamou a equipe dele, criando um clima bélico totalmente desnecessário. Os jogadores do Galo queriam ganhar de qualquer jeito e acabou acontecendo aquilo - disse Wright.

 
"Não, nada. Não tem aliviada nenhuma. Não sou torcedor do Galo, respeito a torcida do Atlético. Essa vitória se deve especificamente ao Cuca e aos jogadores, que souberam superar momentos difíceis. Tomei a decisão certa".
José Roberto Wright, perguntado se ficou aliviado com o título do Galo de 2013

A partida foi encerrada após longa paralisação. Reinaldo foi expulso aos 32 do primeiro tempo. Pouco menos de dois minutos depois, após encontrão no árbitro e reclamações, Éder também foi para a rua. A partir daí a confusão se formou, e Chicão e Palhinha também receberam o vermelho. Os atleticanos começaram a planejar um cai-cai para pôr fim ao duelo e conseguiram. Reiniciada a partida diante do término de longas negociações, o goleiro João Leite repôs a bola em jogo, chutando-a para a lateral. Na seqüência, jogou-se no gramado. Irritado, Wright dispensou o trabalho do massagista e mandou o atleticano se levantar. Como não foi atendido, o juiz não titubeou e tirou o cartão vermelho do bolso, o quinto do Galo:

- No fim do jogo, o João Leite fez cai-cai e eu lhe disse: "Levanta que você não tem nada." Ele respondeu, dizendo que o jogo ia descambar para a pancadaria. Como ele não quis levantar, eu disse: "Quer saber de um negócio, então sai!". Mas o João foi um jogador extremamente disciplinado. Foi um fato episódico - frisou o árbitro.

Um dos maiores ídolos da história atleticana, Reinaldo não aceita as explicações de Wright, insistindo que o árbitro chegou ao Serra Dourada predisposto a eliminar o Atlético-MG.

- O Wright já entrou em campo disposto a expulsar alguns jogadores do Galo. Na primeira falta que fiz na intermediária do Flamengo, ele me deu vermelho. O Wright estava com a intenção de colaborar com o Flamengo, ele entrou disposto a ajudar o Flamengo, ameaçando o time do Galo. Criou um clima para expulsar os jogadores - disparou o craque.

 

Embora acuse o ex-árbitro, Reinaldo é incapaz de dizer que o título rubro-negro não foi merecido. Entretanto, considera o jogo em questão uma mancha na vitoriosa campanha do Flamengo, campeão após final com o Cobreloa, do Chile - depois a equipe sagrou-se campeã mundial interclubes, ao bater o Liverpool.

 

- Acho que se vencesse o Flamengo, o Galo seria campeão. A Libertadores foi decidida naquele jogo. Eram os dois melhores times da América, base da Seleção. Mas o Flamengo teve todos os méritos, tinha um time espetacular, o melhor da história do Flamengo. O Flamengo não teve culpa, não. O Flamengo tinha um grande time, não precisava que o Wright tivesse maculado a faixa - completou Reinaldo.

 
"Fico tranqüilo, porque anos depois fui eleito o melhor árbitro do mundo. Era considerado um árbitro disciplinador, expulsei seis jogadores do Wilstermann (da Bolívia) em outra Libertadores, se não me engano em 82 ou 83. E o Wilstermann era mandante e o jogo acabou"
José Roberto Wright, seguro de sua imagem

 

Também centroavante e tão herói para os rubro-negros quanto Reinaldo é para os atleticanos, o ex-atacante Nunes dá versão muito semelhante à sustentada por Wright. Ele ainda relata um deboche de Reinaldo às orientações do árbitro.

 

- Após uma falta, o Wright chamou os dois capitães para perto dele. Eu me aproximei e fiquei ouvindo o que ele estava falando com o Zico e com o capitão do Atlético, não lembro se era o Chicão. Ele disse: "O primeiro que der por trás ou fizer uma falta eu vou colocar para fora. O Reinaldo deu uma risadinha e não acreditou. Ele e o Éder. Aí o Reinaldo fez a falta no Zico e ele botou o Reinaldo para fora. Todos os jogadores do Atlético que passavam por ele o chamavam de filho da..., ladrão. Tudo isso na nossa frente. Se ele não tomasse a decisão, perderia a moral com a gente. Diziam para ele que o dele estava guardado na tesouraria do Flamengo. Então, sempre que dou entrevista sobre esse jogo dou razão ao Wright. Ele fez tudo corretamente, não fez para sacanear o Atlético. O jogo estava violento e ele tinha que tomar conta do jogo. Além de xingarem, eles também inventaram de cair para acabar o jogo - disse o Artilheiro das Decisões.

 

Na transmissão do jogo pela TV Globo, o então técnico da seleção brasileira, Telê Santana, comentarista convidado, repetiu por várias vezes que José Roberto Wright estragou o jogo, vendo no juiz um nervosismo exacerbado. O ex-árbitro se defendeu mais uma vez.

 

- O primeiro jogo que apitei foi um Flamengo x Botafogo em 1974, com 100 mil pessoas. Nunca entrei em campo sentindo rigorosamente nada. Apitei finais de Copa do Mundo Sub-17, Sub-20, acho que sou o cara que mais apitou decisão de Brasileiro, não tem essa de ficar nervoso - encerrou José Roberto Wright.

Por Fred Gomes - Globo.com







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