Árbitros trilham longo
caminho |
para chegar à elite |
Juízes têm de dividir o tempo com
emprego próprio e reclamam da falta de apoio |
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09/05/2010 - Que a vida de árbitro não é fácil, todo torcedor
sabe. Para apitar na Série A do Campeonato Brasileiro, e estar à mercê de
críticas, ofensas e, na pior das hipóteses, agressões, é preciso trilhar um
longo caminho e batalhar por alguns anos em jogos de garotos e campos de várzea.
Tudo isso, é claro, cuidando por conta própria da forma física, aproveitando
para isso o tempo livre, já que a profissão de árbitro de futebol não existe na
legislação trabalhista brasileira. E são poucos os que conseguem viver
exclusivamente do pagamento recebido nos jogos.
O paulista Guilherme Ceretta de Lima estreou na Série A em 2008. Ele divide o
tempo de árbitro com a função de professor de futebol no Grêmio União
Sanroquense, clube de São Roque, no interior paulista. E diz que só consegue
continuar apitando porque conta com a compreensão dos patrões.
- É impossível viver apenas do dinheiro da arbitragem. Agradeço a
Deus por hoje estar num clube em que
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Ceretta num Corinthians x Santos em
2009: árbitro divide tempo com emprego em escolinha e sonha em ser
técnico de futebol quando parar de apitar. |
todos entendem e me ajudam quando tenho que viajar
para apitar, ir a reuniões e participar de testes físicos. Não
gosto muito de largar o emprego, mas é assim que funciona hoje o
sistema e temos que nos adequar.
Ceretta apitou sete jogos no último Campeonato Paulista, e na
última sexta-feira (7) foi o quarto árbitro no jogo entre
Portuguesa e Vila Nova, pela Série B. Ele começou cedo no apito,
apitando jogos de veteranos na Associação Atlética Alumínio, na
cidade de Alumínio, onde seu pai jogava (e ainda joga), e aos 17
anos já estava matriculado no curso da Federação Paulista de
Futebol.- Sempre gostei de futebol, mas não era muito bom,
então procurei algo que eu pudesse ficar dentro de campo. Não
sendo jogador nem a bola, só poderia ser árbitro. Mas não sou
frustrado, acho que apitar é uma arte e só pessoas com capacidade
de liderança e de suportar pressões, que saibam lidar com
situações de conflito, é que podem desempenhar uma boa arbitragem.
Maratona
Há vários cursos de arbitragem, mas para apitar em jogos de
campeonatos oficiais é preciso se matricular numa das escolas
ligadas às federações estaduais. Em São Paulo, o curso tem dois
anos de duração, com aulas teóricas e práticas, e depois de
formado o juiz precisa atuar em jogos de campeonatos amadores e de
categorias de base.
Depois de alguns anos, os que se destacam são escalados para os
quadros oficiais das federações e podem apitar nos Estaduais,
começando geralmente em divisões inferiores. Um bom desempenho
rende a indicação para o quadro da CBF, que permite ao juiz apitar
nas quatro divisões do Brasileiro e na Copa do Brasil.
O topo da carreira de árbitro é chegar ao quadro da Fifa e estar
numa Copa do Mundo, privilégio que daqui a cerca de um mês, na
África do Sul, caberá pela terceira vez seguida ao gaúcho Carlos
Eugênio Simon. Ceretta diz que, como qualquer árbitro, sonha em
apitar jogos internacionais e, um dia, participar de uma Copa do
Mundo, mas lamenta que apenas um juiz brasileiro possa ir de cada
vez ao Mundial.
- Eu sonho, mas tento manter os pés no chão e não me preocupar com
isso. Infelizmente vão à Copa árbitros de países que não tem
expressão alguma, e nós, que temos o futebol como paixão nacional,
temos apenas um árbitro de quatro em quatro anos.
E depois?
Uma das queixas dos árbitros é a falta de assistência da CBF.
Neste ano, por exemplo, a entidade se absterá até mesmo de ouvir
diretamente dos clubes as queixas por erros de arbitragem – a
entidade disse que tais reclamações devem ser feitas às federações
estaduais, que são as responsáveis pela formação dos juízes.
Além disso, os árbitros não têm vínculo empregatício com as
entidades e são considerados prestadores de serviço. Assim, não
contam com nenhum direito trabalhista, como férias, 13º salário,
licença médica ou FGTS, tampouco conseguem planejar a
aposentadoria.
Não que o pagamento seja ruim - a cota para um árbitro Fifa no
Brasileiro de 2009, por exemplo, era de R$ 2.500 por partida,
livre de despesas. O problema é que, sem um acordo de trabalho, o
dinheiro só sai quando o juiz entra em campo, o que pode acontecer
de uma a seis vezes num mês, dependendo dos sorteios usados para
determinar quem trabalha em qual jogo.
Ceretta hoje tem 26 anos e poderá ser árbitro até os 45. Depois
disso, já projeta o que vai fazer: continuar no futebol, mas do
outro lado da linha lateral.
- Já estou me dedicando a isso e estudando bastante. Quero partir
para a carreira de treinador de futebol e trabalhar em equipes
profissionais.
Fonte: R7.com |
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