Por outro lado, se no Brasil os atletas
cometem mais pênaltis e faltas, a Espanha, detentora do título mundial
na África do Sul e que acolhe Messi e os mais galácticos do planeta,
apesar de ter apenas 110 jogos nas 11 rodadas de seu campeonato, é a
campeã de cartões amarelos: são 646, o que dá média de 5,87, contra
5,32 do vice, o Brasil. O "título" das "tarjetas" vermelhas é da
Argentina: por 57 vezes nas 140 partidas em 14 rodadas do Apertura,
alguém foi mais cedo para o chuveiro. Média de 0,40. Em segundo lugar,
ali, no fotochart, aparece a Espanha, com 0,39.
Curioso é que países com futebol
considerado mais pragmático, com ênfase na marcação e postura tática,
como Alemanha, Inglaterra e Itália, aparecem mais abaixo na lista em
todos os quesitos disciplinares. Para Zico, ídolo maior do Flamengo,
que nos anos 80 atuou no Udinese, da Itália, e nas últimas temporadas
treinou equipes - como o Fenerbahçe, da Turquia, e o Olimpiakos, da
Grécia - que jogaram a Liga dos Campeões, enfrentando as principais
forças e lidando com várias escolas de arbitragem, os números têm
motivos técnicos e históricos.
- Nesses países o juiz deixa o jogo
correr mais, não se marca falta toda hora. É uma questão cultural. O
número alto de cartões amarelos na Espanha ocorre, acredito, mais por
excesso de reclamação. Os vermelhos na Argentina são por violência
mesmo. E os pênaltis no Brasil se devem mais à habilidade do jogador
brasileiro dentro da área. Muitas vezes, o atacante faz a jogada nem
com o objetivo do gol, mas de sofrer o pênalti. E acaba sofrendo.
Zico cita como exemplo um dos lances
polêmicos de Corinthians 1 x 0 Cruzeiro, em que o atacante Thiago
Ribeiro arrancou na área, tentou passar por Julio Cesar mas se chocou
com o goleiro - o árbitro Sandro Meira Ricci não considerou pênalti.
- Para mim, o Julio Cesar derrubou o
Thiago, com o ombro. E o pênalti do Gil no Ronaldo para mim não
existiu. Ele não teve a intenção de derrubá-lo - afirmou, colocando
mais lenha na fogueira, mas reconhecendo dificuldade na marcação dos
lances.
Muitas vezes, o brasileiro faz a
jogada na área nem com o objetivo do gol, mas de sofrer o pênalti.
E acaba sofrendo."
Zico
Desde 2006 no Arsenal, na Inglaterra, o
volante Denilson, cria das divisões de base do São Paulo, faz coro com
o Galinho com relação ao futebol inglês.
- A diferença é cultural. Na Inglaterra, o jogo é mais pegado, sempre
foi assim. É claro que existem algumas faltas mais duras, violentas.
Mas são sempre punidas quando acontece algum tipo de exagero. O jogo
fica mais corrido, os árbitros não marcam qualquer coisa. Não é
qualquer empurrão ou choque que o juiz apita..
O volante afirma ter se adaptado bem ao estilo inventores do futebol e
se diz satisfeito com a arbitragem.
- Não tenho nenhuma reclamação. Aqui existe um critério de faltas, e
todo jogador que atua na Premier League sabe como funciona. O quadro
de arbitragem não deixa a desejar.
Zico credita média alta de
pênaltis marcados no Brasileirão à habilidade do jogador brasileiro.
Denilson e Ewerthon veem arbitragens inglesa e alemã mais rigorosas
para marcar uma falta; e Montillo acha que idioma é o seu maior
problema com os juízes daqui (Foto: Globoesporte.com / Reuters / AE /
AE)
Com duas passagens pelo futebol alemão
- Borussia Dortmund e VfB Sttutgart - e uma pelo espanhol - Real
Zaragoza -, o atacante Ewerthon, de volta ao Brasil, agora no
Palmeiras, aponta as diferenças de critérios. E daí pode vir a
explicação dos altos números da Espanha, ao contrário dos outros
países europeus.
- Na Alemanha, o estilo de arbitragem é
totalmente diferente do brasileiro. Lá o futebol é mais força, os
árbitros já estão acostumados com encontrões e entradas mais duras,
por isso não marcam qualquer falta. Eles só são rigorosos realmente
quando há deslealdade. Já na Espanha é mais parecido. O futebol lá é
um dos mais técnicos da Europa. Mesmo assim, não são marcadas tantas
faltas quanto no Brasil, deixam o jogo rolar mais.
Um dos destaques do Campeonato Brasileiro, o argentino Montillo,
camisa 10 do Cruzeiro e candidato ao título, chegou ao Brasil no
segundo semestre. Diplomático, jura que viu pouca diferença nos
estilos. O maior problema, segundo o meio-campo celeste, é na
comunicação com o trio de arbitragem, na diferença do idioma.
- Em todo lugar o critério é parecido,
muda pouco. Quando comecei a jogar aqui, vi que na Argentina os
árbitros tinham muito boa visão de jogo. Aqui também, mas é mais
difícil conversar com eles, reclamar de alguma falta ou algo que
fizeram, não me compreendem. Há profissionais bons por todos os lados.
Eles têm de ter vocação, como nós, jogadores de futebol - afirmou,
absolvendo, por ora, os homens de preto (ou amarelo, basicamente)
tantas vezes criticados.
Fonte: Globo Esporte.com - * Colaborou
Thiago Dias