Em outubro de 2005, o Paysandu venceu o Fortaleza
por 2 x 1, pela Série A do Campeonato Brasileiro. O que realmente
importa desse jogo é a ficha técnica. Está lá: “Arbitragem de Sílvia
Regina de Oliveira.” Essa foi a última vez que uma mulher esteve com
o apito em uma partida da elite nacional. Lá se vão nove anos de
ausência feminina no centro da arbitragem — elas são frequentemente
vistas do lado de fora do campo, como assistentes.
As razões para essa ausência são várias, na
avaliação das próprias árbitras. Desde 2006, quando a FIFA alterou a
avaliação física, as chances diminuíram. Há oito anos, as mulheres
precisam passar pela mesma avaliação dos homens. As seguidas
reprovações levam ao desânimo. Assim, elas muitas vezes preferem
concentrar as forças na carreira de assistente. E ainda há o
machismo, mesmo que não seja unanimidade entre as mulheres.
No Campeonato Brasileiro de 2013, elas apareceram em 78 dos 380
jogos disputados, nas funções de assistente, assessora e quinta
árbitra. Neste ano, a participação tem sido menor. Até a 14ª rodada,
cinco partidas tiveram ajuda delas — em 2013, haviam sido 14
participações. O espaço parece ficar cada vez menor. Das sete
profissionais identificadas como árbitras no quadro da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), apenas uma atingiu o índice masculino.
Mas ela não cumpre o requisito de experiência de dois anos na
principal divisão do estado.
Sílvia Regina ainda trabalha na Série A, mas como assessora.
Experiente no assunto, reconhece a diminuição dessas aparições, mas
rechaça haver falta de oportunidade. “É necessário ter
características de atleta aliadas ao bom perfil para conduzir um
jogo”, explica. Sílvia também presta serviços para a Federação
Paulista de Futebol (FPF), onde há bom espaço para as mulheres. “As
meninas reconhecem que as oportunidades são muitas, e as portas
estão abertas para quem cumpre as diretrizes que o futebol moderno
exige”, jura.
Mas, na própria federação de São Paulo, o sentimento não é bem esse.
Regildenia de Holanda Moura tentou, na que ela diz ter sido a última
vez, completar o teste físico para apitar a Série A. Não conseguiu.
Além da dificuldade física, ela teve outro problema. “O psicológico
pesou”, reconhece. Regildenia foi aprovada na avaliação anual de
2012, mas nunca teve o nome levado a um sorteio. “Não apitei nem
Série D”, lembra.
Na avaliação das
assistentes com as quais o Correio conversou, é justo
exigir das mulheres o teste físico masculino. No
entendimento delas, os direitos e deveres se equiparam.
“Esse teste ficou mais próximo da realidade do jogo”,
admite Regildenia. “Sempre achei que deveria ser assim”,
corrobora Sílvia Regina. O pensamento delas é
compartilhado pelo presidente da Comissão de Arbitragem
da CBF, Sérgio Corrêa, para quem uma mulher não seria
capaz de acompanhar uma partida masculina da Série A
somente com o índice feminino no teste físico. “Em minha
opinião, pelas exigências físicas do futebol moderno,
não.”
Ausência vai se prolongar
As assistente de
hoje não se animam muito quando falam sobre o futuro.
Pode ser que o Brasil tenha de esperar outros anos para
ver uma mulher apitar um jogo da primeira divisão
nacional. Considerado “desumano” por Regildenia de
Holanda Moura, o teste físico continuará a ser uma
barreira. “Sinceramente, não tenho nenhuma esperança,
nenhuma expectativa de que vejamos uma mulher no apito
daqui a alguns anos”, lamenta.
Essa prolongada
ausência desestimulou Larissa Gabrielly. A assistente de
22 anos fez o curso de arbitragem em 2009 e, desde
então, trabalhou em diversos jogos, inclusive
internacionais. Ela foi assistente no Torneio
Internacional Feminino, no Mané Garrincha, em dezembro
passado. |
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A
dificuldade enfrentada pelas mulheres a
levou a se concentrar no trabalho com a
bandeira. “Por mais que falem que não tem
machismo, tem sim. A mulher é mais atenta
que o homem”, provoca. “Há 0% de machismo”,
rebate Sílvia Regina, ex-árbitra que presta
serviços a CBF e FPF. |
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Protagonista do
último caso de ataque masculino, Fernanda Colombo, da
Federação Catarinense, não cita o preconceito dos homens
ao falar sobre a falta de arbitragem feminina na
primeira divisão brasileira. Fernanda considera o teste
físico uma das razões da quase década de ausência, mas
surpreende ao citar o motivo principal. “A falta de
incentivo e da própria iniciativa das mulheres em
quererem apitar fazem diferença”, considera.
A projeção feita por Fernanda é a única a destoar. Mesmo
depois de sofrer uma agressão verbal por um diretor do
Cruzeiro após o clássico com o Atlético-MG, a
catarinense acredita em uma mudança. “Com certeza é
possível. Tudo indica que isso vai acontecer”, imagina.
Falta definir como.
Na Playboy
Em maio, Fernanda assinalou
impedimento inexistente no clássico entre Atlético-MG e
Cruzeiro, pela Série A do Brasileiro, e virou assunto
nacional. “Se ela é bonitinha, que vá posar na Playboy”,
disse, à época, Alexandre Mattos, diretor de Futebol do
Cruzeiro.
Fonte: Superesportes |
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