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O crime perfeito do papão

PRIMEIRO JOGO - Em Natal, o ABC abriu vantagem ao vencer por 1x0, um gol de Silvinho

Tribuna do Norte 16/11/2003 - O crime perfeito do Papão - Em 1991, o ABC foi eliminado pelo Paysandu num jogo cheio de irregularidades, em Belém/PA, na Curuzu.  Prescrito o crime (12 anos depois), vem à tona a verdade. Mas agora é tarde. Juristas e policiais afirmam que não existe "crime perfeito". Enganam-se. Quando  se unem autoridades corruptas e corruptores competentes, esse crime pode aparecer.

Podem passar mil anos, mas a torcida do ABC jamais irá esquecer a derrota sofrida para o Paysandu nas quartas-de-final da segunda divisão de 1991 e do juiz baiano Manoel Serapião Filho, acusado de ter prejudicado o time natalense na ocasião. Mas o tempo se encarregou de

repor a verdade sobre a podridão existente nos bastidores do futebol brasileiro, doze anos depois daquele fatídico cinco de maio, o ex-presidente do Papão, Miguel Pinho, veio a público e confirmou que o seu clube foi beneficiado por esquema com a arbitragem, do qual Serapião era o principal envolvido

As declarações de Miguel Pinho dadas ao jornal "O Liberal" caíram como uma bomba e, além de comprovar que o honesto geralmente sai perdendo dentro do futebol, deu a certeza da má vontade com que os membros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tratam as reivindicações e os protestos dos clubes potiguares. O ABC, historicamente, tem sido a principal vítima da "madrasta" CBF, mostrando que na hora da queda de braços, o lado mais fraco nunca vence.

De nada valeram os protestos da diretoria abecedista que, na época, era comandada pelo empresário Eudo Larajeiras. Mesmo com as imagens de TV e fotos mostrando as precárias condições de segurança no estádio da Curuzu, o alçapão do Papão, que teve uma parte do alambrado derrubada pela torcida e dos grosseiros "erros" de arbitragem cometidos por Serapião, o Tribunal Especial da CBF, na época presidido por César Pinto Palhares fez vistas grossas ao protesto dos potiguares e tratou de ir cozinhando o ABC em banho-maria. A casa do futebol tinha como presidente em exercício, Alfredo Nunes, que viu o jogo no alçapão da Curuzu.

Apesar do restante dos jogos do Paysandu terem sido realizados sub-judice, o final da história mostrou que os trabalhos de bastidores foram bem realizados. Pois nem o Papão foi punido e o árbitro Manoel Serapião também ganhou como prêmio da comissão de arbitragem, o direito de apitar a final realizada entre Paysandu x Guarani.

Na ocasião, Givanildo Oliveira que treinava o ABC, protestava dizendo uma frase que mais parecia uma premunição do que ainda estava por vir. "Ai mais uma aberração daquelas cometida pelo árbitro que não será punida. Amanhã ele estará novamente apitando, cometendo suas barbaridades e prejudicando o trabalho honesto dos outros."

Com as declarações do ex-presidente Miguel Pinho, o que parecia ser apenas mais uma daquelas coincidências do futebol, hoje faz muita gente pensar na montagem de um esquema de bastidores bem maior, até porque algumas perguntas são difíceis de responder. Como um árbitro que teve um trabalho contestado num jogo de quartas de final, é escalado para apitar uma final de campeonato? Se o fato de Manoel Serapião ter expulsado cinco jogadores do Guarani no jogo final, gerava apenas alguma desconfiança, uma vez que "errar é humano", o que dizer agora depois do desmascaramento do esquema?

A reportagem da Tribuna do Norte tentou, sem sucesso, um contato com o árbitro Manoel Serapião, que hoje é juiz da Junta de Conciliação da 5ª Sessão do Tribunal Regional do Trabalho na Bahia. Já o árbitro carioca Wagner Tardelli, outro citado pelo dirigente do Papão como integrante do esquema, disse que vai processar o ex-presidente do Paysandu, Miguel Pinho, por calúnia e difamação.

O responsável pelo departamento jurídico do ABC atualmente, José Wilson Gomes Netto, ao saber da revelação, disse que não existe mais qualquer possibilidade do clube correr atrás do prejuízo, já que o tempo foi suficiente para prescrever o crime. "Ninguém pode fazer mais nada, só temos a lamentar que fatos desses ocorram dentro do futebol. Mas o que antes, para os abecedistas, não passava de uma mera desconfiança, depois das declarações passaram a ser certeza. Nosso time realmente perdeu a vaga porque foi prejudicado pela arbitragem na época", disse José Wilson.

Se não pode recorrer quanto ao passado, José Wilson lembra que o ABC continua travando uma briga na Justiça com a CBF, por um caso que ele julga ter sido novamente prejudicado. O fato envolve o Sampaio Corrêa, acusado de ter utilizado um jogador de forma irregular nas partidas contra América e Náutico, mas que escapou de perder os dez pontos previstos no Código Brasileiro Disciplinar do Futebol (CBDF), por ter alegado falta de citação sobre o julgamento do atleta, dizendo que o fax expedido pela secretaria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), informando sobre o julgamento do atleta, teria chegado à Federação Maranhense de Futebol, após o período das 18 horas de uma sexta-feira. Apesar da infração ter sido cometida numa terça e no sábado, dias posteriores ao julgamento.

O atual presidente do ABC, Judas Tadeu, também fez questão de mostrar a revolta com a situação. "Esta é outra prova do desrespeito que eles têm com o nosso futebol. Por isso estamos nessa situação", comentou.
Leonardo Arruda, ex-presidente do clube tem uma opinião incisiva sobre o problema. Segundo ele, faltou determinação aos dirigentes alvinegros e ao representante da FNF na partida, Pio Marinheiro. "Alguém deveria ter tirado o time de campo e levar a decisão para o tapetão. Faltou comando", fala. Leonardo afirma, inclusive, que o técnico Givanildo, por ter origens no Pará, teria se acomodado ante a situação e subestimado a pressão sobre os jogadores.

SEGUNDO JOGO - Em Belém, a polícia interviu para o jogo continuar

Mas a revelação mais importante feita por Leonardo Arruda e que prova o despreparo do clube para evitar cair nessas "armadilhas" foi a de que às 13h, quatro horas antes do jogo, recebeu uma ligação de Bruno Corte Real, que estava no Pará. "Ele me perguntou o que deveria fazer pois o jogo teria sido mudado do Mangueirão para a Curuzu. Disse que se na tabela constasse o jogo no Mangueirão eles deveriam ir para lá e enviar um protesto para CBF, ou deveriam fazer um protesto antes do jogo na Curuzu e jogar sob-protesto", disse.

Vale salientar que a CBF, já sob o comando de Ricardo Teixeira, fez vistas grossas para a liminar conseguida pelo Alvinegro na Justiça potiguar, pedindo a paralisação do Brasileiro. A competição prosseguiu e o time potiguar não conseguiu evitar o rebaixamento para série C, em 2001. A multa estabelecida pelo descumprimento da sentença por parte da CBF, hoje está orçada em R$ 15 milhões, mas o processo se encontra parado. "A ação se encontra parada aguardando o julgamento de um agravo de instrumento apresentado pelo ABC, que deseja que a Justiça potiguar seja o fórum do julgamento da ação, não o do Rio de Janeiro, como quer a CBF. De qualquer forma

a briga continua e o julgamento do mérito da questão ainda pode favorecer ao ABC", informou o responsável pelo departamento jurídico do clube que promete brigar até o fim das instâncias.

Alvinegro já foi vítima em outras ocasiões
Ninguém pode negar que duas coisas a CBF sabe fazer bem: prejudicar o ABC e empurrar, quando existem outros interesses, julgamentos com a barriga. O clube potiguar que já foi vítima de uma dura suspensão de um ano por ter usado um atleta em condições irregulares, não conseguiu convencer ao Superior Tribunal de Justiça punir o Sampaio Corrêa, num julgamento, que a exemplo do que ocorreu contra o Paysandu, foi adiado várias vezes até o desfecho da competição.

Representando pelo advogado Walderedo Nunes, o Alvinegro entrou com uma ação solicitando a suspensão do confronto entre Paysandu x Americano, quatro dias depois o triste espetáculo da Curuzu, dia 9 de maio de 1991. Mas, César Palhares (assim com Luís Szeiviter, em 2001) negou o pedido do ABC estabelecendo um prazo de 48 horas para o Paysandu se defender. Se isso ocorreu ou não, a história não registra, mas a CBF liberou as realizaçõesdas partidas dos paraenses com o Americano.

O novo julgamento foi remarcado para o dia 16 de maio, ou seja dois dias após a semifinal, com Paysandu classificado para final contra o Guarani. Porém, mas uma vez a turma do tribunal especial resolveu adiar a análise do mérito da questão, que passou para o dia 18, depois para o dia 21 de maio, 28, até que, mais tarde, o protesto acabou arquivado.

A turma do Tribunal Especial da CBF encarregada em apreciar o caso tinha a seguinte formação: César Roberto Pinto (presidente), Antônio Carlos Coelho (representante do Sindicato dos Atletas) Alcides Nunes (economista) e mais Mário Alberto Pucheu e José Albuquerque Sampaio.

No ano em que a moralidade no futebol brasileiro mais uma vez foi obrigada a sair pela portados fundos, o ABC que vinha de uma jornada invicta na competição, viu a chance de disputar a semifinal da segundona, ir embora, justamente, numa partida em que poderia perder até por um gol de diferença. Já que possuía a vantagem de dois resultados iguais pelo fato de possuir melhor campanha que os paraenses.
 

O Alvinegro, que vencerá a partida de Natal com gol de Silvinho, chegou a largar na frente, mas permitiu que os donos da casa virassem o placar. Serapião deu uma mão ao Papão anulando um gol licito de Rildon. O Paysandu conseguiu o gol da classificação aos 43 minutos do segundo tempo (3 a 1), uma vez que necessitava de dois gols de diferença.

"Ele continuará cometendo suas barbaridades e prejudicando o trabalho honesto". Givanildo Técnico do ABC, em 1991

"Ninguém pode fazer mais nada, só temos a lamentar que fatos desses ocorram dentro do futebol".  José Wilson atual Diretor Jurídico do ABC

"Esta é outra prova do desrespeito que eles têm com o nosso futebol. Por isso estamos nessa situação".  Judas Tadeu atual Presidente do ABC.

"Alguém deveria ter tirado o time de campo e levar a decisão para o tapetão. Faltou comando".   Leonardo Arruda Ex-presidente do ABC.

Fonte: www.abcnatal.com.br - Link da noticia: http://www.abcnatal.com.br/REPORTAGEM/REPORTAGEM_HTM/reportagem_049.htm

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