08/06/2015    15:56hs

Policia suspeitava que procurador do STJD revendia ingressos durante a Copa do Mundo

Paulo Schmitt foi grampeado durante os 15 dias finais da operação Jules Rimet, mas apesar das suspeitas, não foi denunciado por falta de provas

Na semana passada, a ESPN noticiou que o procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt (foto) foi grampeado durante a Copa do Mundo de 2014. De acordo com a reportagem, a policia suspeitava que o procurador estivesse revendendo os ingressos recebidos da CBF durante o evento realizado no Brasil.

Escutas telefônicas às quais a emissora teve acesso, Schmitt manteve diversos diálogos com uma funcionária da CBF chamada Luciana. As conversas foram gravadas com autorização da Justiça, por ocasião da operação Jules Rimet, realizada pela 18ª DP (Praça da Bandeira) que desbaratou uma quadrilha de cambistas que atuava em Copas do Mundo. Paulo Schmitt não foi denunciado. Os policiais não conseguiram avançar nas investigações sobre ele e outros suspeitos relacionados à CBF. À reportagem, o procurador negou estas acusações.

Entre os pontos que chamaram a atenção da Polícia estão as diversas conversas de Paulo Schmitt com a funcionária da CBF. Era ela a responsável por distribuir os ingressos entre os agraciados pela entidade.

"Oi, Lu, a Joyce pega com você amanhã que horas e onde?", pergunta o procurador, que recebe como resposta: "Fala pra ela amanhã ao meio-dia aqui na sede da CBF", diz a funcionária da entidade.

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Em outras conversas, Schmitt foi perguntado sobre os valores e a disponibilidade de ingressos para jogos, entre eles, a final entre Alemanha e Argentina. Num dos trechos, com um homem não-identificado pela Polícia, trava-se o seguinte diálogo:

"Fala presidente, o valor da final é aquele ali que eles estão praticando?", pergunta o homem, que recebe como resposta do procurador: "É, esse era o que eu tinha categoria 1, mas daí os procuradores já quiseram ficar, eu não posso... Não sei qual vou ter, se vou ter. A uma da tarde vou ter uma resposta. De qual categoria e o quê que eles vão me disponibilizar. Aí te aviso se for alguma coisa razoável, né".

Havia trechos em que o procurador era questionado sobre como fazer o "pagamento". E em outros dizia já ter esgotado bilhetes para determinadas partidas. As investigações mostram que em alguns jogos Schmitt chegou a receber seis entradas.

Ouça abaixo o áudio do Procurador na investigação da Operação Jules Rimet.

 

Em entrevista, o procurador confirmou que recebeu doação de ingressos da CBF, mas que não os revendeu. Segundo ele, a entidade criou um sistema para que membros dos tribunais e de federações comprassem entradas para a Copa.

"Isso não procede, porque eu cheguei a comprar, inclusive, R$ 17 mil em ingressos na Copa do Mundo, como torcedor normal. Entrei no site, comprei os ingressos por um sistema que a própria CBF facultou a membros de tribunal, membros de federações. Eu adquiri ingressos, eu adquiri, comprei ingressos", disse Paulo Schmitt.

Questionado sobre o envolvimento com a quadrilha investigada, o procurador foi taxativo: "Fiquei absolutamente tranqüilo porque não tenho nada a ver com isso, não faço parte de nenhuma quadrilha de ingressos. A operação se destinava àqueles operadores que faziam venda de ingresso em camarote, etc. Não tenho nada a ver com isso".

Paulo Schmitt foi grampeado durante os 15 dias finais da operação. Apesar das suspeitas da polícia, ele não foi relacionado entre os envolvidos no esquema. Os agentes planejavam dividir a investigação sobre ele e outros suspeitos numa segunda etapa da operação, que acabou não sendo executada por falta de tempo para produção de provas durante o Mundial.

Falta de provas

O procurador só escapou de uma investigação mais funda sobre a possível venda de ingressos porque a polícia estava correndo contra o tempo para fechar o inquérito e prender a quadrilha enquanto estava no Brasil e não houve tempo para colher provas que o incriminassem. A polícia notou que, após o grampo, Schmitt passou a falar menos.

Segundo o delegado Fábio Barucke, que comandou a operação de prisão da máfia dos ingressos, Paulo Schmitt diminuiu o volume de conversas porque ficou sabendo pela imprensa que o escândalo tinha estourado. Em uma das conversas, diz Barucke, Schmitt chegou a soltar a frase: “Que tragédia o que está acontecendo”, referindo-se às prisões.

O STJD tem um código de ética. Ainda que houvesse provas contra Schmitt, o texto não se aplicaria a ele porque foi feito para os auditores, segundo o presidente do Tribunal, Caio Rocha. "Foi facultado aos auditores do STJD, integrantes do Pleno e das Comissões, adquirir, mediante pagamento em cartão de crédito, a quantia máxima de 2 (dois) ingressos para cada um dos jogos do Brasil na Copa do Mundo, em categoria comum, de acesso igual e irrestrito ao público. Os auditores que assim optaram, adquiriram, mediante pagamento, o máximo de 2 ingressos para cada partida. Os que não pagaram, não adquiriram ingressos. Não houve "distribuição de ingressos" para auditores. Não tenho conhecimento da 'existência de portal na internet para venda exclusiva de ingressos a autoridades'. Como não houve benefício, não vejo como a imparcialidade do STJD possa ter sido afetada", disse o presidente do STJD, Caio Rocha.

Paulo Schmtt: Sisudo, arrogante e acima de qualquer suspeita

Já a CBF, não respondeu aos questionamentos sobre como funcionou o sistema de doação e venda de ingressos. A entidade limitou-se a dizer: "A CBF tem convicção de que nenhuma ação ou providência que adote ou venha a adotar possa prejudicar em algum momento os preceitos de imparcialidade e independência dos tribunais".

Veja abaixo a entrevista com Paulo Schmitt

Repórter: Doutor, o senhor recebeu ingressos da CBF durante a Copa?

Schmitt: Recebi, sim. Por quê?

Porque eu estou fazendo uma matéria que mostra isso. O senhor não acha que compromete a sua a isenção e autonomia em relação à CBF sendo o Tribunal responsável por denunciar ou deixar de denunciar a instituição tendo recebido os ingressos?

Em nenhum momento deixei de denunciar a instituição quando houve qualquer tipo de cometimento de infração. Eu sou indicado pela CBF, inclusive.

Agora, doutor, as investigações mostram as suspeitas de que o senhor teria revendido os ingressos a partir do recebimento da CBF e o senhor teria revendido. O que o senhor diz a respeito?

Isso não procede, porque eu cheguei a comprar, inclusive, R$ 17 mil em ingressos.

Não entendi.

Diretamente do site. Isso não procede porque eu cheguei a comprar, inclusive, R$ 17 mil em ingressos na Copa do Mundo, como torcedor normal. Entrei no site, comprei os ingressos por um sistema que a própria CBF facultou a membros de tribunal, membros de federações. Eu adquiri ingressos, eu adquiri, comprei ingressos.

A suspeita da polícia era de que você revendia esses ingressos, então não procede e essa é a sua explicação?

Não tem o menor sentido, não tem o menor fundamento. Embasamento algum, zero.

 

O senhor sabia que estava sendo grampeado durante as investigações da Operação Jules Rimet, doutor?

Não... eu sabia por cima, assim. Alguém falou alguma coisa que tinha uma série de grampos. Fiquei absolutamente tranqüilo porque não tenho nada a ver com isso, não faço parte de nenhuma quadrilha de ingressos. A operação se destinava àqueles operadores que faziam venda de ingresso em camarote (inaudível), etc ... E conheço essas pessoas, não tenho nada a ver com isso.

Então só para encerrar: o senhor não acha que há aí um conflito de interesses em o senhor receber estes ingressos...

Não. Todos os membros de tribunais do Brasil inteiro, pelas federações, pelo próprio STJD tiveram acesso aos ingressos...

É, eles foram doados...

Inclusive alguns doados e a maior parte, como no meu caso, né. Alguns doados, especificamente, e a maior parte aqueles que eu adquiri. Na época, acho que foram 17, 16 mil reais que eu adquiri ingressos, porque a gente tinha esse direito franqueado pela CBF.

Fonte: ESPN

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