Policia suspeitava que procurador do STJD revendia ingressos durante a
Copa do Mundo
Paulo Schmitt foi
grampeado durante os 15 dias finais da operação Jules Rimet, mas apesar
das suspeitas, não foi denunciado por falta de provas
Na semana passada, a ESPN
noticiou que o procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva
(STJD), Paulo Schmitt (foto) foi
grampeado durante a Copa do Mundo de 2014. De acordo com a
reportagem, a policia suspeitava que o procurador estivesse
revendendo os ingressos recebidos da CBF durante o evento realizado
no Brasil.
Escutas telefônicas às quais a
emissora teve acesso, Schmitt manteve diversos diálogos com uma
funcionária da CBF chamada Luciana. As conversas foram gravadas com
autorização da Justiça, por ocasião da operação Jules Rimet,
realizada pela 18ª DP (Praça da Bandeira) que desbaratou uma
quadrilha de cambistas que atuava em Copas do Mundo. Paulo Schmitt
não foi denunciado. Os policiais não conseguiram avançar nas
investigações sobre ele e outros suspeitos relacionados à CBF. À
reportagem, o procurador negou estas acusações.
Entre os pontos que chamaram a
atenção da Polícia estão as diversas conversas de Paulo Schmitt com
a funcionária da CBF. Era ela a responsável por distribuir os
ingressos entre os agraciados pela entidade.
"Oi, Lu, a Joyce pega com você
amanhã que horas e onde?", pergunta o procurador, que recebe como
resposta: "Fala pra ela amanhã ao meio-dia aqui na sede da CBF", diz
a funcionária da entidade.
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Em outras conversas, Schmitt
foi perguntado sobre os valores e a disponibilidade de ingressos
para jogos, entre eles, a final entre Alemanha e Argentina. Num dos
trechos, com um homem não-identificado pela Polícia, trava-se o
seguinte diálogo:
"Fala presidente, o valor da
final é aquele ali que eles estão praticando?", pergunta o homem,
que recebe como resposta do procurador: "É, esse era o que eu tinha
categoria 1, mas daí os procuradores já quiseram ficar, eu não
posso... Não sei qual vou ter, se vou ter. A uma da tarde vou ter
uma resposta. De qual categoria e o quê que eles vão me
disponibilizar. Aí te aviso se for alguma coisa razoável, né".
Havia trechos em que o
procurador era questionado sobre como fazer o "pagamento". E em
outros dizia já ter esgotado bilhetes para determinadas partidas. As
investigações mostram que em alguns jogos Schmitt chegou a receber
seis entradas.
Ouça abaixo o áudio
do Procurador na
investigação da Operação Jules Rimet.
Em entrevista, o procurador
confirmou que recebeu doação de ingressos da CBF, mas que não os
revendeu. Segundo ele, a entidade criou um sistema para que membros
dos tribunais e de federações comprassem entradas para a Copa.
"Isso não procede, porque eu
cheguei a comprar, inclusive, R$ 17 mil em ingressos na Copa do
Mundo, como torcedor normal. Entrei no site, comprei os ingressos
por um sistema que a própria CBF facultou a membros de tribunal,
membros de federações. Eu adquiri ingressos, eu adquiri, comprei
ingressos", disse Paulo Schmitt.
Questionado sobre o
envolvimento com a quadrilha investigada, o procurador foi taxativo:
"Fiquei absolutamente tranqüilo porque não tenho nada a ver com
isso, não faço parte de nenhuma quadrilha de ingressos. A operação
se destinava àqueles operadores que faziam venda de ingresso em
camarote, etc. Não tenho nada a ver com isso".
Paulo Schmitt foi grampeado
durante os 15 dias finais da operação. Apesar das suspeitas da
polícia, ele não foi relacionado entre os envolvidos no esquema. Os
agentes planejavam dividir a investigação sobre ele e outros
suspeitos numa segunda etapa da operação, que acabou não sendo
executada por falta de tempo para produção de provas durante o
Mundial.
Falta de
provas
O procurador só escapou de uma
investigação mais funda sobre a possível venda de ingressos porque a
polícia estava correndo contra o tempo para fechar o inquérito e
prender a quadrilha enquanto estava no Brasil e não houve tempo para
colher provas que o incriminassem. A polícia notou que, após o
grampo, Schmitt passou a falar menos.
Segundo o delegado Fábio Barucke, que comandou a operação de prisão
da máfia dos ingressos, Paulo Schmitt diminuiu o volume de conversas
porque ficou sabendo pela imprensa que o escândalo tinha estourado.
Em uma das conversas, diz Barucke, Schmitt chegou a soltar a frase:
“Que tragédia o que está acontecendo”, referindo-se às prisões.
O STJD tem um código de ética.
Ainda que houvesse provas contra Schmitt, o texto não se aplicaria a
ele porque foi feito para os auditores, segundo o presidente do
Tribunal, Caio Rocha. "Foi facultado aos auditores
do STJD, integrantes do Pleno e das Comissões, adquirir, mediante
pagamento em cartão de crédito, a quantia máxima de 2 (dois)
ingressos para cada um dos jogos do Brasil na Copa do Mundo, em
categoria comum, de acesso igual e irrestrito ao público. Os
auditores que assim optaram, adquiriram, mediante pagamento, o
máximo de 2 ingressos para cada partida. Os que não pagaram, não
adquiriram ingressos. Não houve "distribuição de ingressos" para
auditores. Não tenho conhecimento da 'existência de portal na
internet para venda exclusiva de ingressos a autoridades'. Como não
houve benefício, não vejo como a imparcialidade do STJD possa ter
sido afetada", disse o presidente do STJD, Caio Rocha.
Paulo
Schmtt: Sisudo, arrogante e acima de qualquer suspeita
Já a CBF, não respondeu aos
questionamentos sobre como funcionou o sistema de doação e venda de
ingressos. A entidade limitou-se a dizer: "A CBF tem convicção de
que nenhuma ação ou providência que adote ou venha a adotar possa
prejudicar em algum momento os preceitos de imparcialidade e
independência dos tribunais".
Veja abaixo a entrevista com
Paulo Schmitt
Repórter:
Doutor, o senhor recebeu ingressos da CBF durante a Copa?
Schmitt: Recebi, sim. Por quê?
Porque eu
estou fazendo uma matéria que mostra isso. O senhor não acha que
compromete a sua a isenção e autonomia em relação à CBF sendo o
Tribunal responsável por denunciar ou deixar de denunciar a
instituição tendo recebido os ingressos?
Em nenhum momento deixei de
denunciar a instituição quando houve qualquer tipo de cometimento de
infração. Eu sou indicado pela CBF, inclusive.
Agora,
doutor, as investigações mostram as suspeitas de que o senhor teria
revendido os ingressos a partir do recebimento da CBF e o senhor
teria revendido. O que o senhor diz a respeito?
Isso não procede, porque eu
cheguei a comprar, inclusive, R$ 17 mil em ingressos.
Não
entendi.
Diretamente do site. Isso não
procede porque eu cheguei a comprar, inclusive, R$ 17 mil em
ingressos na Copa do Mundo, como torcedor normal. Entrei no site,
comprei os ingressos por um sistema que a própria CBF facultou a
membros de tribunal, membros de federações. Eu adquiri ingressos, eu
adquiri, comprei ingressos.
A suspeita
da polícia era de que você revendia esses ingressos, então não
procede e essa é a sua explicação?
Não tem o menor sentido, não
tem o menor fundamento. Embasamento algum, zero.
O senhor
sabia que estava sendo grampeado durante as investigações da
Operação Jules Rimet, doutor?
Não... eu sabia por cima,
assim. Alguém falou alguma coisa que tinha uma série de grampos.
Fiquei absolutamente tranqüilo porque não tenho nada a ver com isso,
não faço parte de nenhuma quadrilha de ingressos. A operação se
destinava àqueles operadores que faziam venda de ingresso em
camarote (inaudível), etc ... E conheço essas pessoas, não tenho
nada a ver com isso.
Então só
para encerrar: o senhor não acha que há aí um conflito de interesses
em o senhor receber estes ingressos...
Não. Todos os membros de
tribunais do Brasil inteiro, pelas federações, pelo próprio STJD
tiveram acesso aos ingressos...
É, eles
foram doados...
Inclusive alguns doados e a
maior parte, como no meu caso, né. Alguns doados, especificamente, e
a maior parte aqueles que eu adquiri. Na época, acho que foram 17,
16 mil reais que eu adquiri ingressos, porque a gente tinha esse
direito franqueado pela CBF.