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 30/01/2018    17:01hs

'Só podia ser mulher': conheça as três árbitras que atuam no Gauchão

Em entrevista para a VAVEL Brasil, Andreza Mocelin, Luiza Reis e Maíra Mastella falam sobre as dificuldades de ser mulher no futebol e do mercado de arbitragem

Andreza, Maíra e Luiza durante pré-temporada do Gauchão 2018 (Foto: Reprodução/Instagram)
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A bola já esta rolando no Rio Grande Sul. O Campeonato Gaúcho começou com cinco jogos. Logo na primeira rodada, uma presença feminina se destaca na comissão de arbitragem: Luiza Reis foi assistente na partida entre Caxias e Novo Hamburgo, em Caxias.

Luiza tem 29 anos e já participou de cinco edições do Gauchão. Ela é formada em Educação Física pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e pós-graduada em Jornalismo Esportivo. Entrou na Federação Gaúcha de Futebol em 2009, depois de uma experiência com arbitragem na universidade, e passou a fazer parte do quadro da CBF em 2016. Além dela, Maíra Mastella e Andreza Mocelin também fazem parte da delegação da federação, que conta com 62 nomes.

Maíra se interessou pela arbitragem durante a graduação e fez o seu trabalho de conclusão de curso sobre arbitragem feminina no futebol masculino. Em 2013, ingressou na FGF e começou a trabalhar na várzea, em Santa Maria. Com apenas 25 anos, foi indicada para o quadro da CBF em 2017. Já Andreza começou em 2010 após ser incentivada pelo irmão, também árbitro.

Maíra Mastella estreou no Gauchão em 2017 (Foto: Acervo Pessoal)

As três atuaram na temporada passada, na qual o Novo Hamburgo saiu campeão. A VAVEL Brasil conversou com elas. Questionada sobre machismo dentro das federações, Luiza relatou o contrário.

"As comissões de arbitragem, tanto aqui do Sul quanto da CBF, defendem muito as mulheres. Não tem essa frescura de se o clube não quer mulher, eles não vão botar. Eles colocam, eles defendem,dizem que a gente passa pelas mesma coisas, faz os mesmos testes, então a gente pode fazer o mesmo jogo sendo homem ou sendo mulher", contou.

A CBF e a FGF argumentam a presença delas no campo, mas não é suficiente para livrá-las do machismo naturalizado no futebol.

“No inicio, tu vê a fisionomia dos jogadores meio ‘o que que ela ta fazendo aqui?’ Mas o pior vem das torcidas. A torcida não perdoa. Tua marcação pode estar correta, mas eles vão xingar e te mandar ir para casa ou falar ‘só podia ser mulher!’”, relatou Andreza. "A gente aprende a não dar mais bola".

Não é uma jornada fácil para as mulheres

Para participar do Gauchão, a Federação Gaúcha permite que as mulheres realizem testes físicos com os índices femininos, mas o mesmo não acontece na CBF. Em nível nacional, elas devem conquistar os mesmos índices que os homens para estarem aptas a realizarem jogos.

"A gente sempre tem que se preparar o dobro que os homens” - desabafou Andreza.

Maíra, Luiza e Andreza treinam cinco ou seis vezes por semana, de forma bastante intensa. Como a profissão de arbitro não é regularizada no país e elas recebem por jogo, as meninas não recebem nenhum auxilio das federações para se prepararem e bancarem os gastos que isso envolve. Perto dos testes, Luiza chega a treinar duas vezes ao dia com personal trainer próprio, ao passo que Andreza usa seu horário de almoço.

"É bem complicada essa questão de apoio porque não temos salário fixo. Por conta da CBF, nós temos apoio psicológico e orientações para os treinos físicos. Fisiologicamente é mais difícil para as mulheres, eu chego a treinar dois turnos em alguns dias e como não é considerado profissão, eu trabalho em outro lugar" - pontuou Luiza.

Testes masculinos: percorrer 5 vezes a distância de 30m em 4.9s, 40 tiros de 75m em 15s e um intervalo de 24s.

Testes femininos: percorrer 5 vezes a distância de 30m em 5.3s, 40 tiros de 75m em 17s e um intervalo de 26s.

Luiza Reis em jogo pela FGF (Foto: Fernando Gomes/Acervo Pessoal)

Erros não são perdoados

Ana Paula Oliveira e Fernanda Colombo são dois exemplos de mulheres que tiveram suas carreiras destruídas por conta de algum erro. A primeira anulou erroneamente dois gols do Botafogo na Copa do Brasil de 2007, e a segunda foi crucificada em 2014 ao marcar um impedimento inexistente do Cruzeiro diante do Atlético-MG. Alexandre Mattos, dirigente do celeste na época, chegou a mandar Fernanda ir posar "para a (revista) Playboy" porque "não tinha preparo".

Árbitros masculinos também cometem erros, mas dificilmente vêem suas carreiras afundadas por eles. Para Maíra, os equívocos das mulheres são mais comentados pela mídia, em qualquer área do futebol.

“Quem chega à elite tem que cuidar muito porque a visibilidade aumenta. Os erros femininos são muito mais exaltados pela mídia. Como a gente está em menor número, nossos nomes e rostos ficam facilmente conhecidos por um erro” - detalhou.

Andreza concorda e pontua a necessidade de as mulheres precisarem comprovar seu valor e conhecimento dentro de campo.

"A gente não pode estar na mesma média que os homens. A gente tem que estar acima" - Andreza

“Nós, mulheres, sempre temos que provar que podemos estar ali. Não era uma coisa natural. Hoje já está sendo encarado de uma forma diferente, eles já estão mais acostumados a nos ver ali, mas há alguns anos não era. Então, a gente sempre tem que provar um 'Q' a mais. A gente não pode estar na mesma média que os homens. A gente tem que estar acima" - destacou.

No primeiro Gauchão que arbitrou, em 2015, Andreza fez parte de um lance polêmico. Ela anulou um gol decisivo do São Paulo de Rio Grande no finalzinho do jogo. A torcida e os jogadores questionaram a marcação da assistente, mas ela estava correta. Horas depois do jogo, membros da comissão apoiaram e reforçaram o conhecimento da profissional.

“A gente tem que estar muito mais focado que os homens. A gente tem que errar muito menos que um homem” - findou.

Fonte: vavel.com.br

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