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Andreza, Maíra e Luiza durante
pré-temporada do Gauchão 2018 (Foto: Reprodução/Instagram) |
A bola já esta rolando no Rio Grande Sul. O Campeonato Gaúcho
começou com cinco jogos. Logo na primeira rodada, uma presença
feminina se destaca na comissão de arbitragem: Luiza Reis foi
assistente na partida entre Caxias e Novo Hamburgo, em Caxias.
Luiza tem 29 anos e já participou de cinco edições do Gauchão. Ela é
formada em Educação Física pela UFRGS (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul) e pós-graduada em Jornalismo Esportivo. Entrou na
Federação Gaúcha de Futebol em 2009, depois de uma experiência com
arbitragem na universidade, e passou a fazer parte do quadro da CBF
em 2016. Além dela, Maíra Mastella e Andreza Mocelin também fazem
parte da delegação da federação, que conta com 62 nomes.
Maíra se interessou pela arbitragem durante a graduação e fez o seu
trabalho de conclusão de curso sobre arbitragem feminina no futebol
masculino. Em 2013, ingressou na FGF e começou a trabalhar na
várzea, em Santa Maria. Com apenas 25 anos, foi indicada para o
quadro da CBF em 2017. Já Andreza começou em 2010 após ser
incentivada pelo irmão, também árbitro.
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Maíra Mastella estreou no Gauchão em
2017 (Foto: Acervo Pessoal) |
As três atuaram na temporada passada, na qual o Novo Hamburgo saiu
campeão. A VAVEL Brasil conversou com elas. Questionada sobre
machismo dentro das federações, Luiza relatou o contrário.
"As comissões de arbitragem, tanto aqui do Sul quanto da CBF,
defendem muito as mulheres. Não tem essa frescura de se o clube não
quer mulher, eles não vão botar. Eles colocam, eles defendem,dizem
que a gente passa pelas mesma coisas, faz os mesmos testes, então a
gente pode fazer o mesmo jogo sendo homem ou sendo mulher",
contou.
A CBF e a FGF argumentam a presença delas no campo, mas não é
suficiente para livrá-las do machismo naturalizado no futebol.
“No inicio, tu vê a fisionomia dos jogadores meio ‘o que que ela
ta fazendo aqui?’ Mas o pior vem das torcidas. A torcida não perdoa.
Tua marcação pode estar correta, mas eles vão xingar e te mandar ir
para casa ou falar ‘só podia ser mulher!’”, relatou Andreza.
"A gente aprende a não dar mais bola".
Não é uma jornada fácil
para as mulheres
Para participar do Gauchão, a Federação Gaúcha permite que as
mulheres realizem testes físicos com os índices femininos, mas o
mesmo não acontece na CBF. Em nível nacional, elas devem conquistar
os mesmos índices que os homens para estarem aptas a realizarem
jogos.
"A gente sempre tem que se preparar o dobro que os homens” -
desabafou Andreza.
Maíra, Luiza e Andreza treinam cinco ou seis vezes por semana, de
forma bastante intensa. Como a profissão de arbitro não é
regularizada no país e elas recebem por jogo, as meninas não recebem
nenhum auxilio das federações para se prepararem e bancarem os
gastos que isso envolve. Perto dos testes, Luiza chega a treinar
duas vezes ao dia com personal trainer próprio, ao passo que Andreza
usa seu horário de almoço.
"É bem complicada essa questão de apoio porque não temos salário
fixo. Por conta da CBF, nós temos apoio psicológico e orientações
para os treinos físicos. Fisiologicamente é mais difícil para as
mulheres, eu chego a treinar dois turnos em alguns dias e como não é
considerado profissão, eu trabalho em outro lugar" - pontuou
Luiza.
Testes masculinos: percorrer 5 vezes a distância de 30m em
4.9s, 40 tiros de 75m em 15s e um intervalo de 24s.
Testes femininos: percorrer 5 vezes a distância de 30m em
5.3s, 40 tiros de 75m em 17s e um intervalo de 26s.
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Luiza Reis em jogo pela FGF (Foto:
Fernando Gomes/Acervo Pessoal) |
Erros não são
perdoados
Ana Paula Oliveira e Fernanda Colombo são dois exemplos de mulheres
que tiveram suas carreiras destruídas por conta de algum erro. A
primeira anulou erroneamente dois gols do Botafogo na Copa do Brasil
de 2007, e a segunda foi crucificada em 2014 ao marcar um
impedimento inexistente do Cruzeiro diante do Atlético-MG. Alexandre
Mattos, dirigente do celeste na época, chegou a mandar Fernanda ir
posar "para a (revista) Playboy" porque "não tinha preparo".
Árbitros masculinos também cometem erros, mas dificilmente vêem suas
carreiras afundadas por eles. Para Maíra, os equívocos das mulheres
são mais comentados pela mídia, em qualquer área do futebol.
“Quem chega à elite tem que cuidar muito porque a visibilidade
aumenta. Os erros femininos são muito mais exaltados pela mídia.
Como a gente está em menor número, nossos nomes e rostos ficam
facilmente conhecidos por um erro” - detalhou.
Andreza concorda e pontua a necessidade de as mulheres precisarem
comprovar seu valor e conhecimento dentro de campo.
"A gente não
pode estar na mesma média que os homens. A gente tem que estar
acima"
- Andreza
“Nós, mulheres, sempre temos que provar que podemos estar ali.
Não era uma coisa natural. Hoje já está sendo encarado de uma forma
diferente, eles já estão mais acostumados a nos ver ali, mas há
alguns anos não era. Então, a gente sempre tem que provar um 'Q' a
mais. A gente não pode estar na mesma média que os homens. A gente
tem que estar acima" - destacou.
No primeiro Gauchão que arbitrou, em 2015, Andreza fez parte de um
lance polêmico. Ela anulou um gol decisivo do São Paulo de Rio
Grande no finalzinho do jogo. A torcida e os jogadores questionaram
a marcação da assistente, mas ela estava correta. Horas depois do
jogo, membros da comissão apoiaram e reforçaram o conhecimento da
profissional.
“A gente tem que estar muito mais focado que os homens. A gente
tem que errar muito menos que um homem” - findou.
Fonte: vavel.com.br