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 01/01/2020    13:36hs

Anderson Daronco: o “juiz fortão” é boa-praça

Árbitro Fifa esteve em Linha Nova para conduzir a final do Municipal e concedeu entrevista exclusiva para a Gazeta do Sul

Sempre rígido dentro de campo, Daronco mostra-se uma pessoa tranqüila fora dele - Crédito: Lula Helfer
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Por: CRISTIANO SILVA - Gazeta do Sul

Considerado um dos melhores árbitros do futebol brasileiro, o gaúcho Anderson Daronco é conhecido pela sua rigidez em campo. A seriedade demonstrada nas partidas fez dele um dos juízes mais respeitados pelos jogadores. A alta estatura, o porte físico avantajado e a cara de mau também ajudam a dar uma “intimada” nos boleiros. Mas a verdade é que essa austeridade dentro das quatro linhas não se mostra fora delas.

O santa-mariense, que completa 39 anos no próximo domingo, é boa-praça, gente boa. Veio para Linha Nova, interior de Santa Cruz do Sul, no domingo passado, para apitar a decisão do Municipal entre São Martinho e Pinheiral porque gosta de estar no ambiente de futebol, seja do amador, do Gauchão, Copa do Brasil, Brasileirão, Libertadores, Copa América ou mesmo das Eliminatórias da Copa do Mundo.

Antes da decisão, que rendeu o título de campeão ao São Martinho, Daronco concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta do Sul. Contou que se tornou árbitro de futebol por acaso. Também falou sobre o polêmico VAR, possibilidade de ir ao Mundial do Catar, em 2022, fim de carreira e sobre a fama de “juiz fortão”, apelido que ganhou na grande mídia esportiva e algo que, segundo o próprio, ajudouo no início da carreira.

Gazeta do Sul – Como teve início a sua carreira de árbitro?

Anderson Daronco – Joguei handebol dos 10 aos 21 anos e nunca tive a pretensão de ser árbitro de futebol. Fiz um curso sobre isso em 1999, quando ainda estudava Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria, somente para cumprir uma carga horária que era obrigatória em atividades extras. Só que depois comecei a apitar jogos de crianças, veteranos, um que outro amador, para tirar um troco. Como era estudante, mal tinha dinheiro para almoçar no restaurante universitário, então, a partir desses jogos que apitava, comecei a almoçar melhor, comprar um que outro livro que faltava, um tênis melhor, pude ir para as festas sem ter que pedir dinheiro para o pai ou a mãe, podia tomar minha cerveja sem ter que ficar pedindo gole para os outros, então segui. Larguei a carreira de professor para me dedicar exclusivamente à arbitragem.

GS – Qual o seu objetivo na carreira?

AD – Procuro criar objetivos pequenos que podem ser alcançados logo ali na frente. Pouco a pouco busco conseguir ultrapassar esses objetivos e, à medida que a gente vai conseguindo alcançar, vai se apaixonando pela função. As pessoas que estão no meio sabem e comentam que a arbitragem é uma verdadeira cachaça, que depois que tu prova, não larga mais. E a prova disso é hoje (domingo) estar aqui, quando, depois de um ano bastante cheio, eu poderia estar com os pés para cima, bem tranquilo tomando uma gelada, mas estou aqui porque gosto desse meio. Se não tenho jogo para apitar no domingo de tarde eu fico doente, louco em casa.

GS – Qual sua ligação com o futebol amador?

AD – Tenho um carinho muito grande em virtude das primeiras partidas que apitei terem sido no futebol amador. A gente não cai de paraquedas em um Maracanã, um Morumbi, uma Bombonera. A gente começa aqui, e esse é o principal ponto de formação de um bom árbitro de futebol. Então, sempre que eu tenho oportunidade, retorno para buscar mais aperfeiçoamento. Aqui em Santa Cruz é sempre bom. Tenho só boas histórias, mesmo porque até hoje não precisei correr de ninguém, pular o alambrado e ir para o milharal. Sempre fui muito bem recebido e é difícil ter um campo aqui em que eu não tenha apitado.

GS – E essa fama de “juiz fortão” que te colocaram?

AD – Essa fama de fortão só engana. Deu pra ver que sou normal, não tenho nada de mais. Quando os jogadores vêm reclamar eu dou uma segurada, estufo o peito, prendo a respiração, abro as asas e surte um efeito. Brincadeiras à parte, isso me ajudou muito no início da carreira. Justamente por ser algo diferente da grande maioria dos árbitros, acabou chamando a atenção. A imprensa também tratou isso de maneira positiva e essa mídia ajudou com os próprios jogadores. Mas essa não é a fórmula para obter respeito dos atletas, senão qualquer pessoa poderia fazer uma musculação na academia e sair apitando os jogos.

GS – Qual o jogo mais marcante que apitou?

AD – São muitos jogos e é difícil elencar. Para a minha felicidade, apitei todos os grandes clássicos do futebol brasileiro, o que me envaidece muito. Também apitei alguns clássicos em nível sul-americano. Mas se fosse para escolher um, seria a partida entre Equador e Argentina pelas últimas Eliminatórias da Copa do Mundo. Era um jogo decisivo para a Argentina: se não vencesse, o Messi não iria para a Copa, e era o mundo inteiro assistindo a essa partida. Os argentinos venceram por 3 a 1, com três gols do Messi. Esse jogo foi muito marcante para mim.

Gaúcho apitou partida que garantiu a Argentina, de Messi, na Copa do Mundo de 2018 - Crédito: Getty Images

GS – Ainda pretende apitar uma Copa do Mundo?

AD – Para a Copa do Mundo existe um processo de disputa. Não é algo que coloco como última coisa da carreira, mas será excelente se acontecer. Assim como tenho esse sonho, outros colegas de qualidade também têm. É um processo de quatro em quatro anos e há muitos fatores determinantes para levar um árbitro a uma Copa do Mundo, assim como o gosto pessoal de quem, no momento, tem a caneta para definir, o que é algo que a gente precisa entender e respeitar.

GS – Qual a sua opinião sobre o VAR? Em uma das partidas que você apitou no Brasileiro deste ano, entre Avaí e CSA, um lance gerou polêmica e causou até um pedido de anulação do jogo.

AD – Tem lances no futebol em que é muito claro se é ou não é infração. E lances intermediários, que se você marcar para qualquer lado, um vai reclamar. Nesse jogo específico, um dos lados não achou que a marcação do pênalti através do VAR foi correta, e reclamou. Mas, se não tivesse marcado, seria o outro lado que protestaria. Muitas vezes a gente fica na mão de quem forma a opinião e, a partir daí, nasce toda a polêmica. Creio que o VAR veio para corrigir muitos dos erros grosseiros que acontecem no futebol, mas existem coisas que, mesmo com o VAR, vão continuar levantando polêmicas. Penso eu que a grande maioria desses erros, como impedimentos, cartões vermelhos para agressões e outros, vêm diminuindo drasticamente, o que vem tornar o futebol mais limpo.

GS – Hoje você tem 38 anos e chega aos 39 no domingo que vem. Até quando pretende apitar?

AD – Vou apitar até meu corpo aguentar e nem sei se está aguentando tanto assim. Antes havia um limite de 45 anos para apitar profissionalmente. Hoje não existe mais esse, mas há o limite do corpo. A gente vem atuando em alto nível desde os 32 anos e haverá um momento, quando chegar aos 40 e poucos anos, que o corpo vai apresentar sinais de cansaço. Nossa baliza é a resposta em campo, nas provas físicas que precisamos passar e em que, em algum momento, o corpo vai acabar falhando. Vamos torcer para que a minha durabilidade se estenda um pouco mais
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