Entrevista

 

Arbitragem no futebol: Um mercado que desperta o interesse das mulheres

20% dos interessados em curso de arbitragem são mulheres

 
16/07/2010 - O que leva uma pessoa a querer ser árbitro ou juiz de futebol? Por que alguém escolheria uma profissão na qual teria de conviver com enorme pressão, suspeita, insultos e ainda assim ter que agilidade de raciocínio, julgamento e ação.

Não bastassem esses aspectos, além do conhecimento da regra e preparo físico adequado, um árbitro de futebol precisa ter preparo psicológico para manter o desempenho digno para acompanhar os grandes clássicos do futebol brasileiro. O processo de superação é diário nessa que é uma das atividades mais questionadas no país do futebol.

Um ditado popular reza que o árbitro de futebol seria um atleta que não deu certo, mas que conseguiu, de outra forma, permanecer dentro das quatro linhas (termo usado para designar um campo de futebol).
O árbitro de futebol é o indivíduo responsável por fazer cumprir as regras, o regulamento e o espírito do jogo além de intervir quando uma regra é violada ou algo incomum acontece.

A figura do árbitro está prevista na regra número cinco das leis do jogo sendo que uma partida de futebol conta com mais dois árbitros assistentes, também conhecidos como bandeirinhas, e com um quarto árbitro ou árbitro reserva.

O jornalista Flávio Iazzetti ajudou a criar a Escola de Arbitragem na década de 40

O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo entre os homens e, como era de se esperar, a partir de 1990, com a criação de campeonatos oficiais internacionais para mulheres, o esporte se popularizou também entre o público feminino.

A reação em cadeia foi imediata e, com o aprimoramento da técnica por parte das atletas, algumas mulheres decidiram encarar também a empreitada de comandarem uma partida oficial. O público feminino se interessou por cursos de arbitragem e em pouco tempo a carioca Márcia Guedes se tornou a primeira mulher a atuar como árbitra principal na decisão do terceiro lugar no Mundial da China entre Alemanha e Suécia. Este fato aconteceu em 1991. Márcia também foi a única árbitra da América do Sul convocada para a Olimpíada de Atlanta (EUA) em 1996.

A boa performance da arbitragem feminina motivou muitas mulheres e o interesse pelo tema só aumentou. Em pouco tempo, o futebol brasileiro viu desfilar em campo a ex-árbitra Silvia Regina de Oliveira que é diretora da escola de árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF), e a assistente Ana Paula Oliveira, que se formou também em jornalismo mas que atualmente está investindo mais na carreira artística. Outras “musas” como a professora de educação física Maria Eliza Correia Barboza e a administradora de empresas Aline Lopes Lambert também decidiram encarar os marmanjos e os palavrões disparados pelos torcedores na busca por um espaço maior no mundo do futebol que, até há pouco tempo era estritamente masculino.

Um dos problemas enfrentados por árbitras e assistentes foi com relação ao preconceito masculino. Se por um lado, o respeito era total ao atuarem em partidas de futebol feminino, por outro lado, alguns jogadores famosos ou técnicos renomados entendiam que poderiam intimidar o trio de arbitragem ,especialmente se um dos componentes do trio fosse uma mulher.

A diretora da escola de árbitros da FPF, Silvia Regina, conta que o interesse feminino surgiu mesmo a partir de 2003, mas que em 1985 ela era a única mulher durante o curso. De acordo com a diretora, atualmente 20% dos interessados em cursos para árbitros são mulheres e no curso atual 14 mulheres estão se formando.
Escolinha

Na FPF, o processo de criação de uma Escola de Arbitragem teve início na década de 40, quando o professor Leopoldo Santana e o jornalista Flávio Iazzetti ministravam cursos para árbitros de futebol. Em 1949, em Assembléia Geral da entidade, foi oficialmente criada a escola de árbitros e o primeiro curso regular se iniciou em 1953.
Atualmente o curso tem duração de 2 anos e, ao término do período de aulas teóricas e práticas, o aluno faz um estágio supervisionado de 1 ano atuando em partidas das categorias de base, especialmente Sub-11 e Sub-13. Atualmente está em andamento um curso de arbitragem que se iniciou em abril de 2009 e que deve terminar em abril do ano que vem. A idade mínima para freqüentar o curso é de 18 anos para estagiários e árbitros regionais e a máxima é de 45 anos, limite estipulado pela Fédération Internacionale de Football Association (Fifa).

Segundo a diretora da escola de árbitros da FPF, Silvia Regina, a Federação Paulista detém o recorde de alunos por turma num total de 120. Ela conta que o acompanhamento de cada aluno é individual e que os instrutores passam por treinamento feito sob supervisão da própria Fifa.

Silvia Regina observa ainda que uma grande novidade implantada em maio deste ano foi a unificação de um currículo mínimo básico. “O Encontro Nacional de Escolas de Arbitragem realizado pela FPF trará um padrão na formação dos árbitros de futebol”, completou a diretora.

O EPTV.Com entrevistou a assistente de arbitragem Aline Lambert e você confere agora os principais trechos desta entrevista.

Ponto.Com - Como você se interessou pela arbitragem?

Aline Lambert - Iniciei mesmo procurando um ganho extra para ajudar a custear meus estudos. Como estudante de Educação Física e estagiaria num banco, precisava entrar na área e ao mesmo tempo

ganhar um pouco por isso.

Ponto.Com - Você é assistente Fifa? Quais os requisitos para ser uma assistente Fifa?

Aline - Não, ainda não sou assistente Fifa. Funciona assim: é uma hierarquia; você inicia no quadro básico do Estado, precisa ser relacionado para o quadro nacional Confederação Brasileira de Futebol (CBF) preencher uma série de requisitos e depois ser indicado pela CBF ao quadro internacional Fifa.

Ponto.Com - A quais testes físicos você teve de ser submetida?

Aline - O teste físico é padrão Fifa e são separados conforme sua função, arbitro central ou arbitro assistente, feminino ou masculino.Os meus testes (árbitro assistente feminino) são divididos em duas etapas, a primeira são 6 tiros (piques) de 40 metros que devem ser feitos no tempo 6,6 segundos e a segunda são 20 tiros de 150 metros,  que devem ser completados em 35 segundos, com um intervalo para recuperação de 50 segundos.

Ponto.Com - Que outra atividade profissional você desempenha?

Aline - Sou bancária, formada em Educação Física e em Administração de Empresas.

Ponto.Com - Como sua família reagiu quando você chegou em casa e disse que pretendia trabalhar no futebol?

Aline - Minha mãe agiu normalmente, afinal eu estaria inicialmente fazendo um curso de arbitragem de um ano. Meu pai demorou um pouco pra saber. Acho que ninguém imaginou que eu chegaria tão longe!

Ponto.Com - Trabalhando no meio de tantos homens, rola algum preconceito?

Aline - O preconceito existe e sempre vai existir, mas já foi bem pior. Entre os próprios árbitros inclusive já tive experiências, mas hoje o respeito é maior.

Ponto.Com - E as famosas cantadas, Aline, você se prepara para encarar isso ou elas não acontecem?

Aline - Sempre tem. Levamos de maneira natural e dentro do limite levamos na brincadeira. Tive experiências engraçadíssimas, e acabam fazendo parte de toda essa história.

Ponto.Com - O jogador respeita uma assistente mulher mais do que a um assistente homem?

Aline - São dois extremos. Ou respeita muito mais, ou somos testadas durante todo jogo ate conquistarmos confiança. Mas quando eles percebem que não estamos para brincadeira, que o trabalho e sério tudo muda. Um erro de uma mulher pode ser totalmente ignorado ou extremamente valorizado simplesmente por ser mulher!

Ponto.Com - Na arbitragem, do que você tem mais medo ou o que mais preocupa você antes de uma clássico, por exemplo Palmeiras x Corinthians?

Aline - Já trabalhei em todos clássicos de São Paulo e em muitos outros pelo Brasil e posso te garantir que nunca tive medo. A preocupação maior é desempenhar um bom trabalho sem interferir no resultado do jogo. Quando informada das escalas vem primeiro um sentimento de cobrança pessoal e da responsabilidade, a sensação de orgulho e felicidade só vem depois do jogo. 

Fonte: Especial para EPTV.com - Edison Souza

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