Daiane Madeira: Contra todos os prognósticos!

Apesar dos esforços, problemas de saúde impede de se firmar na arbitragem. Mesmo assim, segue na batalha pelo seu sonho

21/08/2012 - Daiane Madeira nasceu e vive em Lages, município de 160 mil habitantes encravado na região serrana do estado catarinense e distante cerca de 220 km da capital Florianópolis.

Esta Lageana de 28 anos que convive com sérios problemas de saúde, busca nos campos de futebol seguir carreira na arbitragem, sua grande paixão. Seu pai, Jairo Madeira, mais conhecido como Zaga, foi jogador de futebol e hoje é um dos árbitros mais antigos e conhecido da região. Foi por incentivo deste pai zeloso e do irmão que começou a arbitrar jogos de futebol de campo. “Comecei faz oito anos”, diz ela toda orgulhosa.

Segundo Daiane, ela começou em 2004 junto com seu irmão na Associação de Arbitragem que trabalhava no Jocol (Jogos Comunitários de Lages – maior competição do Sul do estado de Santa Catarina). Com isso se tornei a primeira mulher árbitra assistente em Lages.

O começo

A jovem árbitra revela que quando seu pai deixou de jogar futebol e passou a estudar para se tornar um árbitro, ela o ajudava com as lições e lia os livros com junto com ele.

“Sempre achei as técnicas do esporte muito interessantes. As súmulas das expulsões, a técnica dentro de campo, tudo foi me encantando de tal forma que me apaixonei pela profissão. Eu nasci para ser Árbitra”, conta Daiane.

Desde muito nova, já freqüentava os campos com seu pai, mas revela que nunca gostou de jogar futebol, pois quando a bola chegava perto, ela preferia pegar com as mãos e devolver para o jogador do que tentar um chute.

Formação

Daiane é formada em Óptica, está concluindo Processos Gerenciais e trabalha no SENAC como assistente administrativa e bombeiro comunitária.

Formou-se na arbitragem em 2010 pela escola de arbitragem Gilberto Nahas, (curso da Federação Catarinense de Futebol). Desde então, tem trabalhado nos campeonatos da Liga Serrana de Futebol (LSF), em São Joaquim, Urubici, Curitibanos e no Jocol, entre outros. As opções são grandes, a Liga tem dois campeonatos que envolvem o Amador e o sênior. Já o Jocol possui mais de 100 equipes, divididas em três séries (A, B e C).

Finais
1ª: Final Sênior (2008). 2ª: Final do Amador 2009. 3ª: Final feminino- FCF (2009). 4ª: Final Jocol – Série B (2010). 5ª: Final São Joaquim – (2010). 6ª: Final Jocol - Séria A (2011). 7ª: Final em Urubici (2011). 8ª: Final Amador (2011). 9ª: Final Curitibanos - 1ª divisão (2012). 10ª: Final Curitibanos - 2ª divisão (2012). 11ª: Final Curitibanos - 3ª divisão (2012).

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Ser a única mulher em Lages e região

Daiane Madeira é a única mulher árbitra da cidade.

“Eu tentei trazer outras, mas ninguém quis. Tem que saber que de um jogo você pode esperar tudo, sei que quando eu marcar um impedimento poderá até receber vaias e xingamentos, porque afinal de contas, vou acabar com a diversão do cara que está assistindo e torcendo e até para o jogador que está quase na linha do gol. Tem que ter jogo de cintura e segurar tudo que você vai ouvir”. Diz a assistente.

Acompanhe abaixo um resumo do bate papo com Daiane Madeira

Família:

Minha mãe, sempre foi a que menos gostou de tudo isso, eu entendo ela, quantos finais de semana ficou sem me ver. Meu pai sempre apoiou, até por ser sua função. Meu irmão iniciou comigo, por imprevistos, não trabalha mais na arbitragem.
Muitos me perguntam por que não vou me divertir sendo eu uma moça solteira. Eu sempre respondo que para mim, estar dentro de campo já é uma diversão, uma satisfação.

Momentos de folga

Eu tenho o Negão e a Loirinha, meus latidores, que tenho o maior carinho, um casal de Dauschaund (Cofap), trato eles como filhos, já que não tenho intenção de ter filhos em breve.

Arbitragem na sua vida

Eu digo que nasci para ser árbitra, não me vejo longe desta atividade, faço por paixão, o lado financeiro poderia não existir e continuaria fazendo. Dizem que filho de peixe, peixinho é, então tive em casa um exemplo, meu pai.

Fases na arbitragem

Todos os desafios que passei e to passando, vejo como um teste da vida para testar minha vocação, muitas vezes já me perguntei por que tanto desafio, mas nunca pensei em abandonar. Desde o meu egresso, entrei em um quadro terceirizado, quadro de árbitros que já haviam encerrado a carreira na federação ou que faziam disso uma forma de sustento, então alguns me apoiavam e ouros me viam como intrusa, isso em 2004.

Depois de três anos e meio a Liga Serrana, um árbitro me indicou para integrar, o presidente Lauremir Savedra (Láli), modificou minhas escalas, checou que eu tinha potencial e no mesmo ano (2008), fiz grandes partidas e fui habilitada para fazer o teste da Federação. Passei no teste em 2009, recebi minha primeira oportunidade em agosto, em um jogo feminino, logo depois já fui escalada na divisão especial e no mesmo ano fiz a final do feminino. Decidi então fazer o curso da Federação, pois assim teria mais oportunidades. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu, reduziu a quantidade de jogos e não obtive o retorno esperado. Enquanto no cenário estadual eu não ia bem, no cenário local as coisas eram diferentes, onde fiz final de amador, sênior e jocol.

 

Prêmio melhores do Jocol - 2009

Conclui o curso, mas não obtive êxito a nível estadual, pois a arbitragem lageana não passava por um bom momento naquela ocasião. Fizeram uma seleção de assistentes para compor o quadro feminino, chamaram todas as meninas, até as que tinham menos de um ano de Federação, mas faltou um controle maior. Em 2011, graças ao professor Espíndola, participamos do Jasc, onde tivemos a oportunidade de mostrar nosso trabalho para um observador, mas a Federação mudou a comissão de arbitragem e não tivemos oportunidades.

Meu colega de turma, Alisson Furtado, foi para Palmas (TO) buscar a tão almejada oportunidade e pelas ultimas informações ele conseguiu, em breve teremos novidades dele. Eu permaneci aqui e fiquei fora do quadro, não passei no teste, não recebi nenhum tipo de apoio ou acompanhamento da FCF, mesmo pertencendo a quatro anos do quadro. Mas eu estou treinando muito, me dedicando ao extremo e no ano que vem se deus quiser, certamente estarei lá, sabendo que terei que iniciar tudo de novo e contando com o apoio da minha Federação.

Decepção na arbitragem

Quando entrei na arbitragem, acreditava que a vocação e desempenho contavam muito. Para o cenário nacional nem tudo é assim. No nosso país, a arbitragem não é reconhecida. Em Lages é mais complicado ainda. Mas eu não desisto, gosto do que faço e sou persistente.

Saúde

Nunca usei isso como desculpas, ou melhor, poucos sabem, sou celíaca*, mantenho a dieta, porém mesmo assim tenho reações e no ano passado tive um choque, desenvolvi a intolerância a lactose também, com isso afetou muito meu desempenho e conseqüentemente meu psicológico.

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Nesta época descobrimos também que meu pai estava com câncer e que a fase não seria fácil. Então, fiz em dezembro a prova teórica e adiei para fevereiro a prova física, até para ganhar mais tempo e me recuperar, mas infelizmente não consegui. Refiz o teste em abril e novamente não deu.

Quando isso aconteceu, nossa, me culpei muito, com todas as dificuldades que já enfrentava, mais essa tinha que aparecer. Recebi o apoio dos colegas da arbitragem e do meu trabalho, todos que sabem da minha dedicação, vi então que poderia me reconstituir e foi o que fiz. Fui à busca, renovei as forças, estou treinando direto, arbitrando muito e correndo atrás do que gosto. Hoje tenho a ciência que se não der certo o que quero, não será por culpa minha, eu fiz e faço a minha parte, investi muito, mas talvez falte um apoio maior. Tem uma frase de Roger Crawford que me motiva muito, ela diz: "Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional”.

Apoio na carreira

Na Federação sempre contei com a ajuda do Junior Moresco e do professor Espíndola, no Sinafesc com o apoio do Fabiano e da Erika. Aqui em Lages o Láli, nosso presidente da Liga sempre me apoio.

Final do amador - 2011

Curso de arbitragem

Ingressei no quadro da Federação em 2008, iniciei o curso em 2009 e finalizei em 2010. Sou formada pela escola de arbitragem Gilberto Nahas, curso da Federação Catarinense de Futebol. Então eu fiz de tudo um pouco pela minha escolha, neste curso, convidei um amigo meu de Liga, Alisson Furtado, viajávamos todo sábado, de madrugada, durante 4hs de ida e mais 4hs de retorno, encaramos muitas dificuldades juntos, chuva, frio, mal tempo, pistas em reforma, sem falar o cansaço, porque tínhamos uma rotina de trabalho, saia de Lages para Balneário Camboriú, gastos com o transporte, com a alimentação, foi um alto investimento nosso.

Assédio

Desde o início da minha carreira adotei uma postura séria, o assédio surge de forma natural, mais priorizo a seriedade. Quero ser reconhecida pelo meu trabalho, muitos acham que a mulher no esporte é atração, não quero ser apenas uma atração, as atrações são temporárias, sou alguém desenvolvendo uma atividade normal, diferente para quem não quer ver o espaço conquistado pela mulher.

Preconceito

Tem preconceito sim, imagina uma cidade predominante com as origens gaúchas, que a mulher deve ficar em casa, desenvolver uma atividade predominante masculina, detalhe: quando surgi, não havia muitas mulheres na arbitragem, com isso até em casa sofria, com a pressão, minha mãe dizia “eu não criei filha para isso”.

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Hoje, conquistei meu espaço, como assistente, sou reconhecida na cidade, agora busco meu reconhecimento como árbitra principal, mas nesta função ainda sofro preconceito, por ser novata, tive sete anos da carreira como assistente e apenas um como árbitra principal. Vejo que a maior resistência ainda pertence com as mulheres na torcida, independente do que esteja fazendo.

Ídolo na arbitragem

Considero meu pai como meu ídolo, a nível nacional meu ídolo na arbitragem é o assistente aspirante FIFA Kleber Lucio Gil, que ministrou meu primeiro curso de arbitragem e que me presenteou com um par de cartões – quem diria, na primeira partida usei e lembrei-me do início. Também sou apaixonada pela forma de trabalho do Sandro Meira Ricci e do paraguaio Carlos Amarilla, na classe feminina admiro a Silvia Regina a Ana Paula de Oliveira (no início todos me chamavam de Ana Paula) e Graziele Crizol.

Ponto negativo na arbitragem feminina

Penso que é a forma que a mulher é vista em um jogo, como atração. Não havendo valorização do seu trabalho e com cobrança excessiva.

 

Na foto com a aspirante FIFA Nadine Schram Câmara Bastos e Maíra Americano Labes

Precisa melhorar

A forma de se preparar fisicamente. Descobrir uma maneira de atrair novas árbitras para que a mulher conquiste seu espaço como arbitra central (é o que almejo).

*Celíatica: A doença celíaca (também conhecida como enteropatia glúten-induzida) é uma patologia autoimune que afeta o intestino delgado de adultos e crianças geneticamente predispostos, precipitada pela ingestão de alimentos que contêm glúten. A doença causa atrofia das vilosidades da mucosa do intestino delgado, causando prejuízo na absorção dos nutrientes, vitaminas, sais minerais e água.

Os sintomas podem incluir diarréia, dificuldades no crescimento e desenvolvimento (em crianças) e fadiga, embora possam estar ausentes. Além disso, diversos sintomas associados em todos os sistemas do corpo humano já foram descritos.

É uma doença muito comum, afetando aproximadamente 1% das populações indo-européias, embora seja significativamente não diagnosticada, já que na maioria dos portadores ela causa sintomas mínimos ou ausentes. Ocorre mais comumente em mulheres, na proporção de 2:1, e é mais comum em parentes de primeiro grau de portadores.

O único tratamento efetivo da doença é uma dieta estritamente sem glúten, por toda a vida.

Nota do apito: Pelo relato de Daiane Madeira, o prognostico é amplamente desfavorável para a simpática árbitra lageana. Em primeiro lugar é mulher e todos nós sabemos que o campo é bem menor para a arbitragem feminina. Em segundo lugar tem sérios problemas de saúde que a impossibilite de obter uma forma física capaz de suportar os temidos testes físicos da arbitragem. E por ultimo, não tem nenhum apoio de sua Federação local. Mas como a frase que ela frisou acima já diz tudo "Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional”. Então que ela tire forças nessa frase para continuar na árdua batalha pelos seus sonhos. Agradeço a entrevista e desejo boa sorte, pois você vai precisar e muita!

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