“Sempre achei as técnicas do esporte
muito interessantes. As súmulas das expulsões, a técnica dentro de
campo, tudo foi me encantando de tal forma que me apaixonei pela
profissão. Eu nasci para ser Árbitra”, conta Daiane.
Desde muito nova, já freqüentava os
campos com seu pai, mas revela que nunca gostou de jogar futebol, pois
quando a bola chegava perto, ela preferia pegar com as mãos e devolver
para o jogador do que tentar um chute.
Formação
Daiane é formada em Óptica, está
concluindo Processos Gerenciais e trabalha no SENAC como assistente
administrativa e bombeiro comunitária.
Formou-se na arbitragem em 2010 pela
escola de arbitragem Gilberto Nahas, (curso da Federação Catarinense
de Futebol). Desde então, tem trabalhado nos campeonatos da Liga
Serrana de Futebol (LSF), em São Joaquim, Urubici, Curitibanos e no
Jocol, entre outros. As opções são grandes, a Liga tem dois
campeonatos que envolvem o Amador e o sênior. Já o Jocol possui mais
de 100 equipes, divididas em três séries (A, B e C).
Finais
1ª: Final Sênior (2008). 2ª: Final do Amador 2009. 3ª: Final feminino-
FCF (2009). 4ª: Final Jocol – Série B (2010). 5ª: Final São Joaquim –
(2010). 6ª: Final Jocol - Séria A (2011). 7ª: Final em Urubici (2011).
8ª: Final Amador (2011). 9ª: Final Curitibanos - 1ª divisão (2012).
10ª: Final Curitibanos - 2ª divisão (2012). 11ª: Final Curitibanos -
3ª divisão (2012).
Ser a única mulher
em Lages e região
Daiane
Madeira é a única mulher árbitra da cidade.
“Eu tentei trazer outras, mas ninguém
quis. Tem que saber que de um jogo você pode esperar tudo, sei que
quando eu marcar um impedimento poderá até receber vaias e
xingamentos, porque afinal de contas, vou acabar com a diversão do
cara que está assistindo e torcendo e até para o jogador que está
quase na linha do gol. Tem que ter jogo de cintura e segurar tudo que
você vai ouvir”. Diz a assistente.
Acompanhe abaixo um resumo do bate papo
com Daiane Madeira
Família:
Minha mãe, sempre foi a que menos gostou
de tudo isso, eu entendo ela, quantos finais de semana ficou sem me
ver. Meu pai sempre apoiou, até por ser sua função. Meu irmão iniciou
comigo, por imprevistos, não trabalha mais na arbitragem.
Muitos me perguntam por que não vou me divertir sendo eu uma moça
solteira. Eu sempre respondo que para mim, estar dentro de campo já é
uma diversão, uma satisfação.
Momentos de folga
Eu tenho o Negão e a Loirinha, meus
latidores, que tenho o maior carinho, um casal de Dauschaund (Cofap),
trato eles como filhos, já que não tenho intenção de ter filhos em
breve.
Arbitragem na sua vida
Eu
digo que nasci para ser árbitra, não me vejo longe desta atividade,
faço por paixão, o lado financeiro poderia não existir e continuaria
fazendo. Dizem que filho de peixe, peixinho é, então tive em casa um
exemplo, meu pai.
Fases na arbitragem
Todos os desafios que passei e to
passando, vejo como um teste da vida para testar minha vocação, muitas
vezes já me perguntei por que tanto desafio, mas nunca pensei em
abandonar. Desde o meu egresso, entrei em um quadro terceirizado,
quadro de árbitros que já haviam encerrado a carreira na federação ou
que faziam disso uma forma de sustento, então alguns me apoiavam e
ouros me viam como intrusa, isso em 2004.
Depois de três anos e meio a Liga
Serrana, um árbitro me indicou para integrar, o presidente Lauremir
Savedra (Láli), modificou minhas escalas, checou que eu tinha
potencial e no mesmo ano (2008), fiz grandes partidas e fui habilitada
para fazer o teste da Federação. Passei no teste em 2009, recebi minha
primeira oportunidade em agosto, em um jogo feminino, logo depois já
fui escalada na divisão especial e no mesmo ano fiz a final do
feminino. Decidi então fazer o curso da Federação, pois assim teria
mais oportunidades. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu,
reduziu a quantidade de jogos e não obtive o retorno esperado.
Enquanto no cenário estadual eu não ia bem, no cenário local as coisas
eram diferentes, onde fiz final de amador, sênior e jocol.
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Prêmio melhores
do Jocol - 2009 |
Conclui o curso, mas não
obtive êxito a nível estadual, pois a arbitragem lageana não passava
por um bom momento naquela ocasião. Fizeram uma seleção de assistentes
para compor o quadro feminino, chamaram todas as meninas, até as que
tinham menos de um ano de Federação, mas faltou um controle maior. Em
2011, graças ao professor Espíndola, participamos do Jasc, onde
tivemos a oportunidade de mostrar nosso trabalho para um observador,
mas a Federação mudou a comissão de arbitragem e não tivemos
oportunidades.
Meu colega de
turma, Alisson Furtado, foi para Palmas (TO) buscar a tão almejada
oportunidade e pelas ultimas informações ele conseguiu, em breve
teremos novidades dele. Eu permaneci aqui e fiquei fora do quadro, não
passei no teste, não recebi nenhum tipo de apoio ou acompanhamento da
FCF, mesmo pertencendo a quatro anos do quadro. Mas eu estou treinando
muito, me dedicando ao extremo e no ano que vem se deus quiser,
certamente estarei lá, sabendo que terei que iniciar tudo de novo e
contando com o apoio da minha Federação.
Decepção na arbitragem
Quando entrei na arbitragem, acreditava
que a vocação e desempenho contavam muito. Para o cenário nacional nem
tudo é assim. No nosso país, a arbitragem não é reconhecida. Em Lages
é mais complicado ainda. Mas eu não desisto, gosto do que faço e sou
persistente.
Saúde
Nunca usei isso como
desculpas, ou melhor, poucos sabem, sou celíaca*, mantenho a dieta,
porém mesmo assim tenho reações e no ano passado tive um choque,
desenvolvi a intolerância a lactose também, com isso afetou muito meu
desempenho e conseqüentemente meu psicológico.
Nesta época descobrimos também que meu
pai estava com câncer e que a fase não seria fácil. Então, fiz em
dezembro a prova teórica e adiei para fevereiro a prova física, até
para ganhar mais tempo e me recuperar, mas infelizmente não consegui.
Refiz o teste em abril e novamente não deu.
Quando isso aconteceu, nossa, me culpei
muito, com todas as dificuldades que já enfrentava, mais essa tinha
que aparecer. Recebi o apoio dos colegas da arbitragem e do meu
trabalho, todos que sabem da minha dedicação, vi então que poderia me
reconstituir e foi o que fiz. Fui à busca, renovei as forças, estou
treinando direto, arbitrando muito e correndo atrás do que gosto. Hoje
tenho a ciência que se não der certo o que quero, não será por culpa
minha, eu fiz e faço a minha parte, investi muito, mas talvez falte um
apoio maior. Tem uma frase de Roger Crawford que me motiva muito, ela
diz: "Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é
opcional”.
Apoio na carreira
Na
Federação sempre contei com a ajuda do Junior Moresco e do professor
Espíndola, no Sinafesc com o apoio do Fabiano e da Erika. Aqui em
Lages o Láli, nosso presidente da Liga sempre me apoio.
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Final do amador
- 2011 |
Curso de arbitragem
Ingressei no quadro da Federação em 2008,
iniciei o curso em 2009 e finalizei em 2010. Sou formada pela escola
de arbitragem Gilberto Nahas, curso da Federação Catarinense de
Futebol. Então eu fiz de tudo um pouco pela minha escolha, neste
curso, convidei um amigo meu de Liga, Alisson Furtado, viajávamos todo
sábado, de madrugada, durante 4hs de ida e mais 4hs de retorno,
encaramos muitas dificuldades juntos, chuva, frio, mal tempo, pistas
em reforma, sem falar o cansaço, porque tínhamos uma rotina de
trabalho, saia de Lages para Balneário Camboriú, gastos com o
transporte, com a alimentação, foi um alto investimento nosso.
Assédio
Desde o início da minha carreira adotei
uma postura séria, o assédio surge de forma natural, mais priorizo a
seriedade. Quero ser reconhecida pelo meu trabalho, muitos acham que a
mulher no esporte é atração, não quero ser apenas uma atração, as
atrações são temporárias, sou alguém desenvolvendo uma atividade
normal, diferente para quem não quer ver o espaço conquistado pela
mulher.
Preconceito
Tem preconceito
sim, imagina uma cidade predominante com as origens gaúchas, que a
mulher deve ficar em casa, desenvolver uma atividade predominante
masculina, detalhe: quando surgi, não havia muitas mulheres na
arbitragem, com isso até em casa sofria, com a pressão, minha mãe
dizia “eu não criei filha para isso”.
Hoje, conquistei meu espaço, como
assistente, sou reconhecida na cidade, agora busco meu reconhecimento
como árbitra principal, mas nesta função ainda sofro preconceito, por
ser novata, tive sete anos da carreira como assistente e apenas um
como árbitra principal. Vejo que a maior resistência ainda pertence
com as mulheres na torcida, independente do que esteja fazendo.
Ídolo na
arbitragem
Considero meu pai
como meu ídolo, a nível nacional meu ídolo na arbitragem é o
assistente aspirante FIFA Kleber Lucio Gil, que ministrou meu primeiro
curso de arbitragem e que me presenteou com um par de cartões – quem
diria, na primeira partida usei e lembrei-me do início. Também sou
apaixonada pela forma de trabalho do Sandro Meira Ricci e do paraguaio
Carlos Amarilla, na classe feminina admiro a Silvia Regina a Ana Paula
de Oliveira (no início todos me chamavam de Ana Paula) e Graziele
Crizol.
Ponto
negativo na arbitragem feminina
Penso que é a forma que a mulher é vista
em um jogo, como atração. Não havendo valorização do seu trabalho e
com cobrança excessiva.
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Na foto com a
aspirante FIFA Nadine Schram Câmara Bastos e Maíra Americano
Labes |
Precisa melhorar
A forma de se preparar fisicamente.
Descobrir uma maneira de atrair novas árbitras para que a mulher
conquiste seu espaço como arbitra central (é o que almejo).
*Celíatica:
A doença celíaca (também conhecida como enteropatia glúten-induzida) é
uma patologia autoimune que afeta o intestino delgado de adultos e
crianças geneticamente predispostos, precipitada pela ingestão de
alimentos que contêm glúten. A doença causa atrofia das vilosidades da
mucosa do intestino delgado, causando prejuízo na absorção dos
nutrientes, vitaminas, sais minerais e água.
Os sintomas podem incluir diarréia,
dificuldades no crescimento e desenvolvimento (em crianças) e fadiga,
embora possam estar ausentes. Além disso, diversos sintomas associados
em todos os sistemas do corpo humano já foram descritos.
É uma doença muito comum, afetando
aproximadamente 1% das populações indo-européias, embora seja
significativamente não diagnosticada, já que na maioria dos portadores
ela causa sintomas mínimos ou ausentes. Ocorre mais comumente em
mulheres, na proporção de 2:1, e é mais comum em parentes de primeiro
grau de portadores.
O único
tratamento efetivo da doença é uma dieta estritamente sem glúten, por
toda a vida.
Nota do apito:
Pelo relato de Daiane Madeira, o prognostico é amplamente
desfavorável para a simpática árbitra lageana. Em primeiro lugar é
mulher e todos nós sabemos que o campo é bem menor para a arbitragem
feminina. Em segundo lugar tem sérios problemas de saúde que a
impossibilite de obter uma forma física capaz de suportar os temidos
testes físicos da arbitragem. E por ultimo, não tem nenhum apoio de
sua Federação local. Mas como a frase que ela frisou acima já diz tudo
"Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é
opcional”. Então que ela tire forças nessa frase para continuar na
árdua batalha pelos seus sonhos. Agradeço a entrevista e desejo boa
sorte, pois você vai precisar e muita!