Como não temos os aspira, reproduziremos
abaixo a entrevista de Horacio Elizondo concedida ao site da Fifa durante
a Copa da África. Confira:
Sábado, 10 de Julho de 2010
No dia 09 de
julho de 2006, em Berlim, Horacio Elizondo tornou-se o primeiro árbitro da
história a apitar tanto a partida de abertura como a final da Copa do
Mundo da FIFA. O argentino, que também é professor de educação física, fez
história, mas logo em seguida se dedicou a outras atividades.
Elizondo
trabalha atualmente como instrutor do Programa de Assistência à Arbitragem
da FIFA, função que lhe exigiu dedicação em diversas tarefas durante a
África do Sul 2010. Na vésperas da grande final entre Espanha e Holanda,
ele compartilhou um pouco da sua experiência comentando a importância de
arbitrar um jogo decisivo, a repercussão de semelhante responsabilidade e
deixando um conselho para o inglês Howard Webb, que irá apitar o duelo
deste domingo: que se divirta ao máximo.
Já se passaram quatro anos desde aquela final em Berlim. O
que significou essa final para você a nível pessoal e profissionalmente?
Representou no fruto de 25 anos de trabalho, durante os
quais passei por várias etapas de aprendizado. Vivi momentos bons, outros
regulares, e tive a oportunidade de me preparar e aperfeiçoar. Arbitrar
França x Itália foi a realização de um sonho.
Assim como participar da final de um Mundial é o auge da
carreira de um jogador, para um árbitro deve significar o mesmo.
Claro! Qualquer árbitro sonha em trabalhar num Mundial e
consegui-lo já é uma grande conquista. Agora, se ele ainda tem a
oportunidade de apitar a decisão, é como ser campeão mundial.
Que momento de França x Itália ficou mais marcado na sua
memória?
Lembro-me do apoio de meus superiores e colegas e também da
presença da minha esposa no estádio. Foi muito importante poder
compartilhar semelhante experiência com a família. Também recordo os
cumprimentos e as demonstrações de carinho vindas da Argentina. Como podem
ver, são todas questões relacionadas ao autocontrole e ao lado emocional.
Isso ajudou-nos a encarar a partida com tranqüilidade.
E o jogo em si?
Lembro-me de estar muito concentrado, tanto que para mim
ele passou de forma rápida. Pode parecer estranho, mas encarei como se
fosse apenas mais um jogo. A vida inteira me preparei para apitar finais,
por isso estava pronto para assumir o desafio e conduzi-lo com
responsabilidade.
Chegou a rever a partida alguma vez?
Tenho o vídeo bem guardado em casa! Mas não, assisti a
apenas alguns minutos. Daqui a alguns anos verei mais, principalmente com
os meus filhos, que ainda são muito pequenos. Quero que vejam que o pai
deles esteve lá.
Quando percebeu que haviam mudanças quando voltou à
Argentina depois daquela decisão?
A vida mudou. A minha família contou-me algumas coisas, mas
quando cheguei ao aeroporto tinha 300 pessoas a minha espera. A mim, um
árbitro! Acho que ninguém está preparado para esse tipo de situação.
Depois, arbitrei mais três meses e os adeptos aplaudiam-me quando eu saía
de campo, como se fosse uma equipe. Foi uma grande aprendizagem. É
necessário fazer um trabalho psicológico muito importante para manter os
pés no chão. Toda pessoa queria falar comigo, o presidente do país
chamou-me para me dar os parabéns, fui nomearam cidadão ilustre de várias
cidades. Em dezembro daquele ano, decidi-me aposentar, encerrar aquela
etapa e preparar-me para a seguinte.
Vamos falar sobre tudo o que diz respeito ao lado pessoal
do árbitro. Antes de uma final, os jogadores sonham em marcar um golo ou
defender um pênalti. O árbitro sonha com o quê?
Em acertar todas as decisões que influenciem no resultado
do jogo. Cada lance bem decidido nesse tipo de situações são como um gol
para os árbitros.
E o que faz alguém querer se dedicar à arbitragem? Não é a
função mais popular do mundo do futebol...
Ser árbitro não passa pela cabeça de nenhum garoto! E é
algo lógico, o meio social e cultural em que crescem não os encaminham a
isso. Eles não têm nenhuma motivação nesse sentido e preferem se
relacionar com o lúdico, que é o que desperta prazer. Pessoalmente, joguei
futebol até os 15 anos, quando percebi que seria difícil realizar o meu
sonho de jogar profissionalmente. Aos 20, arbitrei um jogo de andebol e um
professor me elogiou. Fiquei rapidamente animado com a profissão, porque
adorava ensinar e tudo o que estivesse relacionado com a justiça. Combinei
isso com o meu esporte favorito e encontrei o meu lugar no mundo.
Que conselho daria a Howard Webb para arbitrar a decisão da
África do Sul 2010?
Que se divirta. Estará diante daquilo que sempre sonhou,
terá a sorte de realizá-lo. Eu diria a ele para trabalhar tranqüilo e sem
medo, porque no final das contas, apenas se trata de mais um jogo. À
medida que for tomando boas decisões, começará a se sentir melhor e a
curtir a experiência.
E pessoalmente, que tipo de sentimento terá quando vir Webb
entrando em campo com as seleções?
Admito
que não haverá nenhuma sensação de nostalgia. Tenho consciência que isso
pertence ao passado e que representou uma linda etapa na minha vida. Não
me imagino mais nenhuma vez em campo.
A final irá
trazer-me uma lembrança passageira e muito bonita, mas nada mais que isso.
É uma etapa linda, mas que está encerrada.
Fonte:
FIFA |