Entrevista

Horacio Elizondo, "Apitar uma final é como ser campeão"

  22/08/2010 - O apitonacional gostaria de estar dando seqüência as entrevistas com os árbitros aspirante Fifa neste espaço, assim como as que foram realizadas com sucesso de audiência com o carioca Gutemberg de Paula Fonseca e o goiano André Luiz de Freitas Castro.

Lamentavelmente, os demais aspirantes Fifas preferiram não participar e a não participação só demonstra o comprometimento de todos em relação as suas carreiras, reclamam de só aparecer nos momentos ruins, quando são xingados e pressionados por mas arbitragem, porém, quando se abre um espaço para que todos demonstre quem são e o seu lado humano, preferem o anonimato.

O apitonacional tem a sua opinião, mais acima de tudo respeita as do que preferiram não participar, talvez seguindo suas convicções ou até mesmo sendo guiados por terceiros, o que é bastante comum neste estágio da carreira onde o árbitro não formou ainda o seu perfil e procurando estar bem com todos, procura passar despercebido em ato de sobrevivência.

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Como não temos os aspira, reproduziremos abaixo a entrevista de Horacio Elizondo concedida ao site da Fifa durante a Copa da África.

Confira:

Sábado, 10 de Julho de 2010

No dia 09 de julho de 2006, em Berlim, Horacio Elizondo tornou-se o primeiro árbitro da história a apitar tanto a partida de abertura como a final da Copa do Mundo da FIFA. O argentino, que também é professor de educação física, fez história, mas logo em seguida se dedicou a outras atividades.

Elizondo trabalha atualmente como instrutor do Programa de Assistência à Arbitragem da FIFA, função que lhe exigiu dedicação em diversas tarefas durante a África do Sul 2010. Na vésperas da grande final entre Espanha e Holanda, ele compartilhou um pouco da sua experiência comentando a importância de arbitrar um jogo decisivo, a repercussão de semelhante responsabilidade e deixando um conselho para o inglês Howard Webb, que irá apitar o duelo deste domingo: que se divirta ao máximo.

Já se passaram quatro anos desde aquela final em Berlim. O que significou essa final para você a nível pessoal e profissionalmente?  

Representou no fruto de 25 anos de trabalho, durante os quais passei por várias etapas de aprendizado. Vivi momentos bons, outros regulares, e tive a oportunidade de me preparar e aperfeiçoar. Arbitrar França x Itália foi a realização de um sonho.

Assim como participar da final de um Mundial é o auge da carreira de um jogador, para um árbitro deve significar o mesmo.

Claro! Qualquer árbitro sonha em trabalhar num Mundial e consegui-lo já é uma grande conquista. Agora, se ele ainda tem a oportunidade de apitar a decisão, é como ser campeão mundial.

Que momento de França x Itália ficou mais marcado na sua memória?

Lembro-me do apoio de meus superiores e colegas e também da presença da minha esposa no estádio. Foi muito importante poder compartilhar semelhante experiência com a família. Também recordo os cumprimentos e as demonstrações de carinho vindas da Argentina. Como podem ver, são todas questões relacionadas ao autocontrole e ao lado emocional. Isso ajudou-nos a encarar a partida com tranqüilidade.

E o jogo em si? 

Lembro-me de estar muito concentrado, tanto que para mim ele passou de forma rápida. Pode parecer estranho, mas encarei como se fosse apenas mais um jogo. A vida inteira me preparei para apitar finais, por isso estava pronto para assumir o desafio e conduzi-lo com responsabilidade.

Chegou a rever a partida alguma vez?

Tenho o vídeo bem guardado em casa! Mas não, assisti a apenas alguns minutos. Daqui a alguns anos verei mais, principalmente com os meus filhos, que ainda são muito pequenos. Quero que vejam que o pai deles esteve lá.

Quando percebeu que haviam mudanças quando voltou à Argentina depois daquela decisão?

A vida mudou. A minha família contou-me algumas coisas, mas quando cheguei ao aeroporto tinha 300 pessoas a minha espera. A mim, um árbitro! Acho que ninguém está preparado para esse tipo de situação. Depois, arbitrei mais três meses e os adeptos aplaudiam-me quando eu saía de campo, como se fosse uma equipe. Foi uma grande aprendizagem. É necessário fazer um trabalho psicológico muito importante para manter os pés no chão. Toda pessoa queria falar comigo, o presidente do país chamou-me para me dar os parabéns, fui nomearam cidadão ilustre de várias cidades. Em dezembro daquele ano, decidi-me aposentar, encerrar aquela etapa e preparar-me para a seguinte.

Vamos falar sobre tudo o que diz respeito ao lado pessoal do árbitro. Antes de uma final, os jogadores sonham em marcar um golo ou defender um pênalti. O árbitro sonha com o quê? 

Em acertar todas as decisões que influenciem no resultado do jogo. Cada lance bem decidido nesse tipo de situações são como um gol para os árbitros.

E o que faz alguém querer se dedicar à arbitragem? Não é a função mais popular do mundo do futebol... 

Ser árbitro não passa pela cabeça de nenhum garoto! E é algo lógico, o meio social e cultural em que crescem não os encaminham a isso. Eles não têm nenhuma motivação nesse sentido e preferem se relacionar com o lúdico, que é o que desperta prazer. Pessoalmente, joguei futebol até os 15 anos, quando percebi que seria difícil realizar o meu sonho de jogar profissionalmente. Aos 20, arbitrei um jogo de andebol e um professor me elogiou. Fiquei rapidamente animado com a profissão, porque adorava ensinar e tudo o que estivesse relacionado com a justiça. Combinei isso com o meu esporte favorito e encontrei o meu lugar no mundo.

Que conselho daria a Howard Webb para arbitrar a decisão da África do Sul 2010?

Que se divirta. Estará diante daquilo que sempre sonhou, terá a sorte de realizá-lo. Eu diria a ele para trabalhar tranqüilo e sem medo, porque no final das contas, apenas se trata de mais um jogo. À medida que for tomando boas decisões, começará a se sentir melhor e a curtir a experiência.

E pessoalmente, que tipo de sentimento terá quando vir Webb entrando em campo com as seleções?

  Admito que não haverá nenhuma sensação de nostalgia. Tenho consciência que isso pertence ao passado e que representou uma linda etapa na minha vida. Não me imagino mais nenhuma vez em campo. A final irá trazer-me uma lembrança passageira e muito bonita, mas nada mais que isso. É uma etapa linda, mas que está encerrada.

Fonte: FIFA

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