Entrevista

Marinaldo Silvério o dono do apito final

O jundiaiense Marinaldo Silvério teve o prazer de comandar finais de campeonato e não perdeu a concentração sequer ao ser xingado por milhares

 
24/10/2010 - Tirando os políticos, o ex-arbitro  Marinaldo Silvério, 47 anos, deve ter sido o jundiaiense mais xingado do Brasil.  “Com o tempo a gente até se acostuma”, brinca.

Marinaldo rodou o país como arbitro ou bandeirinha por mais de 23 anos, trabalhando em grandes jogos do futebol nacional, como finais de campeonatos importantes.

O jundiaiense foi na contramão da maioria dos apaixonados pelo  futebol, que querem se tornar estrelas do mundo da bola. “Sempre me interessei  por arbitragem, mas também dei lá meus chutes.”

Marinaldo  tentou a vida com  a bola nos pés em times amadores da cidade. Segundo ele, era um habilidoso zagueiro. “Joguei alguns campeonatos com a Ponte Preta, da Agapeama”, lembra.

Isso mudou quando,  aos 18 anos, foi fazer um curso de arbitragem na Liga Jundiaiense de futebol, mais para

Marinaldo mostra cartão vermelho que usava nas partidas pelo Brasil afora: boas lembranças sobre jogos especialmente no Morumbi lotado

conhecer as regras do esperto. “Gostei tanto que vivi a minha vida inteira como árbitro”, explica  Marinaldo, que foi o primeiro colocado na turma que se formou em 1981.

O recém-formado já foi logo para a batalha. Marinaldo foi árbitro do Campeonato Amador por quatro anos.

“Foi uma grande experiência, os jogos do Amador são complicados”, afirma o árbitro que só viu a sua paixão pela arbitragem aumentar, tanto que fez o curso da Federação Paulista de Futebol e se tornou árbitro profissional.

Marinaldo lembra com carinho do primeiro jogo em que trabalhou como profissional, em Araçatuba. “Já me colocaram para apitar logo de cara, mas foi tranquilo. O time da casa venceu”, lembra.

Momentos marcantes
São poucos árbitros que tiveram o privilégio de trabalhar em jogos importantes como finais de Copa do Brasil, Torneio Rio-São Paulo ou em clássicos nacionais. “Esses jogos me marcaram, estádio cheio, não sai da minha memória”, diz.

Mas Marinaldo coloca como o jogo mais difícil da sua carreira a partida entre Santos e Corinthians no Brasileirão de 2005.  Era o jogo remarcado após os escândalos da máfia do apito envolvendo o ex-arbitro Edilson Pereira de Carvalho. Na oportunidade, o Corinthians venceu e saiu briga na Vila Belmiro. “O clima era muito tenso. A Vila virou uma praça de guerra, mas a polícia agiu bem.”

Quem é e o que faz:
Nome_
Marinaldo Silvério
Idade_ 47 anos
Profissão_ ex-árbitro de futebol
Atuações_ Dedicou 27 anos para a arbitragem, sendo 4 anos apitando no futebol amador de Jundiaí e região e
outros 23 nas mais diversas competições profissionais do Brasil

Marinaldo pede profissionalização da classe
Volta e meia a discussão da profissionalização dos árbitros ganha mesas redondas de debate de futebol. Marinaldo acredita que essa é uma medida fundamental para a melhora do nível da arbitragem no país.

“Assim o árbitro poderá se preparar melhor para as partidas. Ver os jogos de determinado time para cometer menos erros”, defende o jundiaiense.

Atualmente a profissão de árbitro é remunerada pelas partidas que o árbitro trabalha. Não há um salário fixo, justamente por isso ele acredita que a demanda de novos árbitros é pequena.

“É complicado conciliar o trabalho fora de campo com a vida de arbitro”, afirma ele, que também é professor de educação física na cidade.

Esse problema da profissionalização ganhou novamente destaque nessa semana, pois o árbitro Cleber Welington  Abade deixou o campo lesionado durante uma partida da Série B do Campeonato Brasileiro . Segundo Marinaldo, ele não terá nenhum respaldo da Federação Paulista de Futebol nem da CBF e terá de se tratar sozinho.

“Quando me aposentei não ganhei nada da Federação, sai literalmente de mãos abanando. Não tem FGTS, por exemplo”, aponta.

O atual professor de educação física disse que já recebeu alguns convites para trabalhar na FPF na formação de novos árbitros. Mas o fator financeiro pesou na sua decisão de não aceitar.

“Eles não iam me pagar. Não dá para fazer trabalho voluntário nesse mundo do futebol”, diz. Para reforçar o salário, ele faz palestras.

“Trabalho com os árbitros mais jovens. Dou dicas sobre a profissão. Quero também valorizar a nossa classe.”

Marinaldo pretende voltar a estudar, para conciliar os conhecimentos adquiridos durante os vários anos pelos campos do Brasil e para começar a atuar nos bastidores das competições. Basicamente virar um dirigente de esportes.

“Quero começar a trabalhar nessa área. Organizar campeonatos para as crianças é um bom começo.”

Torcedores normalmente acham que árbitros e assistente estão sempre tentando prejudicar seu time, por isso nenhum deles revela para quem torce. Agora aposentado do apito, Marinaldo garante que seu time do coração é o Paulista.  “Torço para o Paulista e estou direto no Jayme Cintra, vendo os jogos do Galo”, diz. “Sempre gostei do nosso tricolor, bem antes de começar a trabalhar com futebol.”

grandes jogos
Marinaldo se orgulhosa por ter participado de grandes jogos do futebol nacional nos últimos anos.

“Trabalhei em várias finas de campeonatos estaduais. Um jogo em especial foi a final do Campeonato Paulista de 2003, entre Corinthians e São Paulo”, conta. Na oportunidade, o time de Parque São Jorge venceu por 3 a 2 e sagrou-se campeão estadual. “O Morumbi estava lindo, com 80 mil pessoas. Jamais me esquecerei dessa partida.”

Os xingamentos vindo das arquibancadas, ele diz que nem ligava mais. “Eu ouvia tudo, mas não tinham o poder de tirar a minha concentração. E isso faz diferença na vida de um bom árbitro”.

Fonte: Agência BOM DIA

Publicidade

 

Copyright © 2009 - www.apitonacional.com.br ® Todos os direitos reservados