"O
verdadeiro pesadelo de um árbitro de futebol" |
O árbitro toma entre
250 e 300 decisões por jogo na Copa do Mundo. Urs Meier, chefe dos juízes
de futebol da Suíça e observador de arbitragem da Uefa, vai comentar o
desempenho de seus colegas na televisão alemã. |
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02/06/2010 - Em entrevista à swissinfo.ch,
ele explica a escolha dos árbitros do Mundial, a definição da equipe de
arbitragem de cada partida e a pressão exercida sobre a Fifa. E garante
que não haverá manipulação de jogos na Copa.
swissinfo.ch: Senhor Meier, como a Fifa seleciona os juízes da Copa?
Urs Meier: Primeiro, eles foram nomeados pelas confederações, como por
exemplo a Uefa, de acordo com um sistema próprio de classificação. Isso
foi há três anos. Eram 54 equipes de arbitragem que, passo a passo, foram
reduzidas a 30 juízes. Destes, 23 ou 24 vão apitar jogos na África do Sul.
Os restantes serão auxiliares e substitutos.
swissinfo.ch: Como os árbitros são escalados para cada partida?
U.M.: Há partidas muito importantes, como o jogo de abertura, em que o
árbitro
indica a linha como deve ser apitado um Mundial de futebol. Aí é preciso
ter um homem experiente e bom. Além disso, por exemplo, num jogo entre uma
seleção sul-americana e uma europeia, não deve necessariamente apitar um
sul- |
Urs Meier (à esq.), o apresentador Johannes B.
Kerner e o técnico Jürgen Klopp comentaram os jogos da Copa 2006 na ZDF.
No Mundial 2010, Klopp será substituído pelo ex-goleiro Oliver Kahn. (Keystone) |
americano
ou europeu. Mas, nas partidas pelas semifinais e na final, se abandona
essas considerações. Daí se procura escalar o melhor ou os melhores.
swissinfo.ch: Há pressão externa sobre a Fifa neste caso?
U.M.: Naturalmente ocorre que não se quer um árbitro que talvez tenha
atuado de forma infeliz em uma partida das eliminatórias. Então se tenta
influenciar a comissão de arbitragem neste sentido. Precisa-se de uma
comissão forte – e a Fifa a tem – que resista a esta pressão e nomeie
realmente o melhor. Isso ocorre na Fifa, mas também no nosso campeonato
nacional. Daí se precisa de pessoas que apoiem os árbitros e não se curvem
aos clubes, caso contrário estaríamos no caminho errado. Então nós, a
comissão de arbitragem seríamos manipuláveis.
swissinfo.ch: Há rumores de que foram manipulados jogos da Copa 2006. O
senhor descarta qualquer manipulação pela máfia das apostas com
envolvimento de juízes no Mundial na África do Sul?
U.M.: Sim, penso que podemos descartar isso porque o evento está tão no
foco da opinião pública mundial que aí uma manipulação seria descoberta.
Não acredito que alguém tente chegar nesses árbitros. Os juízes foram
escolhidos com muita precaução pela Fifa. São todos personalidades que
estão acima disso. Eu diria também que, com certeza, não houve manipulação
na Copa do Mundo de 2006.
swissinfo.ch: Os jogadores devem se precaver para algo novo em termos de
arbitragem nesta Copa?
U.M.: Não. Desde 2006, não tivemos grande mudança de regras do jogo.
Pretende-se deixar jogar futebol, deixar o jogo correr o máximo possível,
exigir dos jogadores o fair play. Quer-se que eles tenham um bom caráter
esportivo e que tenhamos jogos maravilhosos. Eu estou convencido de que
este será o caso nesta Copa do Mundo.
swissinfo.ch: A Fifa anunciou em meados de maio, que o quarto assistente
terá mais poder na Copa 2010. O que o senhor acha disso?
U.M.: Ele já tinha muito poder antes. Ele é um membro integral da equipe
de arbitragem. O quarto homem deve cobrir exatamente os pontos negros que
existem no campo e que nem sempre são vistos pelo árbitro e os
assistentes. E deve ter a coragem de tomar decisões. Por exemplo, no caso
de uma falta violenta, pedir um cartão vermelho ao juiz através do sistema
de comunicação. Trata-se de uma mudança do texto da regra, mas na prática
não muda nada.
swissinfo.ch: A paradinha na cobrança de pênalti deve ser punida com
cartão amarelo, segundo a Fifa. Isso também é só uma correção do texto?
U.M.: Até agora, quando determinados jogadores faziam a paradinha, não se
sabia se isso era correto ou não. Agora a Fifa esclareceu isso, o que acho
bom. Isto significa: enquanto corre em direção à bola, o jogador pode
parar, mas não quando está perto da bola. Aí ele tem de chutar. Ele não
pode ameaçar um chute, fazer a paradinha e daí chutar. Isso agora está
claro no texto da regra e ajuda o árbitro.
swissinfo.ch: A Fifa é contra o uso de meios técnicos pelos juízes. Qual é
a sua opinião sobre esse assunto
U.M.: O chip na bola é a alternativa que eu defenderia. Se ele funcionar
100%, e esta é a condição, poderia ajudar o árbitro e o assistente. Sem
interromper o jogo, ele sabe imediatamente se a bola cruzou a linha do gol
ou não. Isso seria uma melhora. Mas duvido que o investimento compense.
São poucos os casos que geram dúvida.
Vamos ver o que acontece nesta Copa do Mundo. Se tivermos um novo "gol de
Wembley" num jogo importante, talvez até na final, certamente as
discussões novamente vão esquentar e pode ser que essa inovação do chip na
bola venha. Considero absolutamente correto que a Fifa não aceite outros
meios, como prova de vídeo. Futebol deve continuar sendo futebol e não
virar um jogo de xadrez, embora eu não tenha nada contra o xadrez. Emoções
e também erros fazem parte do futebol.
swissinfo.ch: Qual é o pior erro que um árbitro pode cometer?
U.M.: Em princípio, o pior erro seria apitar algo por pressão dos
jogadores, da torcida etc., portanto, fazer uma concessão. Meu pesadelo
sempre foi não ver algo. Que eu não visse uma mão e daí resultasse um gol
de mão. Em princípio, o “caso Henry” no jogo da França contra a Irlanda*
(veja observação abaixo). Isso realmente é um pesadelo para um árbitro.
swissinfo.ch: O senhor arbitrou quase mil jogos e pendurou o apito há
cinco anos. Agora comenta na TV o desempenho de seus colegas na Copa. O
senhor às vezes sente vontade de voltar ao campo?
Não, o tempo das calças curtas passou, agora uso calças compridas. Eu
nunca tive a sensação de que devesse voltar ao gramado. Como chefe dos
juízes suíços, estou realmente feliz por termos o melhor árbitro do mundo
– Massimo Busacca. Simplesmente me alegro com esta Copa e com boas
arbitragens. E depois me contento também com campeonato suíço, com o
trabalho com meus árbitros. Esta é a minha vocação no momento.
swissinfo.ch: Seu palpite para a Copa: até onde vai a Suíça e quem será
campeão?
Para mim, o Brasil é o favorito este ano. Olhando a constelação, o Brasil
provavelmente vai disputar a oitava de final contra a Suíça. Penso que a
Suíça passará da primeira fase e enfrentará o Brasil. E, então, o Brasil
quase com certeza vai vencer.
Geraldo Hofffmann, swissinfo.ch
* Observação sobre o "caso Henry": Em 18 de novembro de 2009, no jogo de
volta das eliminatórias em Paris, William Gallas marcou aos 8 minutos do
segundo tempo da prorrogação o gol que garantiu a classificação da França
para a Copa do Mundo 2010. Gallas aproveitou um lance de mão cometido na
área por Henry, que admitiu a falta após o jogo.
Fonte: http://www.swissinfo.ch/por |
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